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Os Hallows e o Graal

Nossa colunista, Camila Galvez, continua nossa área de Crônicas com uma viagem pela história antiga para provar a ligação entre os Hallows propostos por J.K.Rowling e a lenda do Santo Graal.

Essa coluna contém spoilers, portanto, só clique no link abaixo se realmente estiver disposto a saber uma parte importante da história de Harry Potter and The Deathly Hallows.

Você pode conferir a coluna completa aqui.

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SPOILER – Os Hallows e o Graal

Por Camila Galvez

Nas muitas lendas que a história abriga, homens e mulheres se perderam nas buscas pelo suposto cálice que Jesus teria utilizado para dividir o vinho com seus discípulos na última ceia, e que ficou conhecido como o Santo Graal, ou simplesmente Graal.
Lancelot, um dos cavaleiros da Távola Redonda, teria sido um dos que sucumbiram à tentação e saíram em busca da glória, poder e vida eterna que as lendas sobre o Graal prometiam. Lancelot acreditava que, se encontrasse o Graal, poderia, enfim, conquistar o amor de Guinevere, a esposa do rei e melhor amigo do cavaleiro, Artur. Mas a lenda do Graal começou antes das lendas arturianas, com o encontro entre o cavaleiro Percival e o eremita Trevrizent, que ensinou a ele os segredos do cálice.

“É uma coisa que conheço muito bem; valentes cavaleiros residem no castelo de Montsalvage, onde está guardado o Graal. Quero dizer-vos que tudo de que eles se alimentam lhes vem de uma pedra preciosa, que na sua essência é toda pureza. Se não a conheceis, eu vos direi o seu nome: é chamada de “a pedra caída do céu”. Não há homem tão doente que, posto na presença dessa pedra, não fique garantido de que ele vai escapar da morte durante a semana seguinte ao dia em que a viu. Quem a vê pára de envelhecer. Essa pedra dá ao homem tamanho vigor que os seus ossos e carne reencontram logo a juventude. Também tem o nome de Graal. (…) É pela virtude dessa pedra que a Fênix se consome e se torna cinzas; mas dessas cinzas renasce a vida; é graças a essa pedra que a Fênix realiza sua troca de plumas para reaparecer em seguida em todo o seu brilho, tão bela quanto nunca. (…)”

Extraído de Dicionário Templário, de Jean-Paul Bourre

Pela promessa de poderes e vida eterna, em toda a história o Graal teve o poder de inflamar vaidades, provocar conflitos e até mesmo causar a morte daqueles que o procuravam. A busca cega pelo Graal nada mais é do que a busca pelo maior dos poderes, impulsionada pela ganância e egoísmo do homem. E, acima de tudo, pelo medo de encarar a morte.

Mas, com o passar do tempo, muitas associações religiosas mudaram a concepção e o significado original do Graal. De um objeto material de grande poder, o Graal passou a ser associado a uma busca pessoal de cada um, uma forma de alcançar o divino e dar significado à vida. Só assim o viajante que o procurava poderia tornar imortal também a alma, e não apenas o corpo.

Com uma rápida pesquisa pela internet, quero destacar o significado que a associação universal dos Cavaleiros Templários dá para o Graal. Um aviso: não sou iniciada e nem mesmo fiz estudos aprofundados sobre os Templários, por isso, pode haver algum erro nas informações, embora eu tenha procurado fontes confiáveis. Vocês sabem como são as informações que caem na Internet, nem sempre elas são exatamente a verdade. Mas vamos lá:

Os Cavaleiros Templários eram os responsáveis por cuidar do fluxo de peregrinos cristãos à Terra Santa de Jerusalém. O local da sede dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, ou simplesmente Cavaleiros Templários, era exatamente o Templo de Salomão, onde supostamente o cálice do Santo Graal teria sido guardado por muito tempo. Com a condenação dos Templários durante a inquisição, o segredo do Graal se perdeu para sempre, mas muitos ainda o buscam e fazem dessa busca um objetivo de vida.

Toda essa introdução que fiz nos traz ao que quero apresentar nesta coluna: os Hallows propostos por J.K.Rowling em Harry Potter and the Deathly Hallows são inspirados na lenda do Santo Graal. A promessa de poder e a possibilidade de vencer a morte, espalhados pela lenda dos três irmãos, faz uma clara alusão à história e às lendas antigas do Santo Graal. Basta observarmos o exemplo dos jovens Dumbledore e Grindelwald, que se deixaram, cada um à sua forma, se levar pela ganância de encontrar a Varinha Anciã (Elder Wand), a Capa da Invisibilidade e a Pedra da Ressureição. Juntos, os Hallows davam ao bruxo que os possuísse o poder de tripudiar a morte, assim como o Graal prometia àqueles que o procuravam.

Grindelwald e Dumbledore justificavam suas buscas como um bem maior, “the greater good”, como é descrito no livro. Eles alegavam que era a vontade de mudar o mundo bruxo e fazer com que eles tivessem mais poder sobre os trouxas que impulsionava ambos na busca pelos Hallows. Mas o homem é essencialmente egoísta, e na verdade, era esse sentimento que movia tanto Grindelwald quanto Dumbledore. O último chegou, em seu momento mais cego, a duelar com seu irmão Aberforth, logo após a perda da mãe, pois este achava que Dumbledore só se importava com os poderes que os Hallows poderiam oferecer para benefício próprio. O irmão mais novo reprovava as atitudes dos dois amigos, pois enxergava a maldade de Grindelwald, e até onde ele estava disposto a ir para encontrar o que queria. A briga acabou mal: o duelo causou a morte da irmã de Dumbledore, Ariana.

A partida da frágil garota chamou Dumbledore para a realidade, mas não o fez desistir de buscar pelos Hallows. Apesar de perceber que Grindelwald havia se desviado do caminho por causa deles, Dumbledore queria, acima de tudo, encontrar a Pedra da Ressurreição, como uma forma de se redimir de seus erros para com seus entes queridos já mortos. Desejava tanto, que chegou à loucura de se arriscar para recuperá-la do anel dos Pevereel, transformado em uma Horcrux por Voldemort. E assim, a busca pelos Hallows foi a sua própria ruína, exatamente como aconteceu a muitos que buscaram o Graal nas lendas.

Outro ponto interessante que podemos destacar, e que reforça ainda mais a idéia de Hallows = Graal, é o símbolo formado pela união da Capa, da Varinha e da Pedra. Descrito por J.K.Rowling como um triângulo com um olho dentro, o símbolo é muito mais antigo do que as histórias de Harry Potter. Há muito tempo é utilizado para representar “O olho que tudo vê” ou “Olho da Providência”, com a idéia de que os seres humanos são assistidos pelo Grande Arquiteto do Universo (the Great Good?), um ser divino onipresente e onipotente. Portanto, os Hallows são, da mesma forma que o Graal, uma maneira de atingir a imortalidade da alma e se aproximar de Deus. Além disso, o “Olho da Providência” é um dos grandes símbolos utilizados pelos Templários para representar o divino.

J.K. Rowling também é fã confessa de Tolkien, e podemos extrair de “Senhor dos Anéis” novamente o símbolo do triângulo com o olho dentro, dessa vez associado a Sauron. Outra coisa que me chamou muito a atenção foi a forma como ela fez com que o medalhão-horcrux dominasse aqueles que o usavam. Acredito que, daqueles que leram “O Senhor dos Anéis”, não fui a única a notar a semelhança do medalhão com o Um Anel, e a forma como ele dominava aqueles que o usavam. Mas isso já é assunto para uma outra coluna, que vou desenvolver mais para frente.

Com essa, quis demonstrar como é mágica a forma com que J.K.Rowling nos brinda com elementos e lendas muito mais antigas do que podemos imaginar. E ela faz tudo ser tão bem amarrado e novo que quase chegamos a acreditar que esse mundo pode realmente ser real.

Para Harry, o Hallow mais importante é a Pedra, pela possibilidade de trazer aqueles que ele ama de volta. Para Rony, o mais poderoso é a Varinha, pois ela pode vencer qualquer batalha. E, para a Hermione, o Hallow mais importante é mesmo a Capa, que tem o poder de esconder o bruxo da morte.

E para você? Qual o Hallow mais importante? Qual é a força que te move? Você já encontrou o caminho para o seu Graal?

Camila Galvez é jornalista e autora de fanfics.