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J.K. Rowling e a teoria sobre seu modo de escrita

Você obviamente já se perguntou o que J.K. Rowling tem de especial em seu modo de escrever, que a fez prender milhões de leitores diante de uma série de livros durante anos – e ainda faz. Vários críticos literários já se debruçaram sobre essa questão, e as conclusões às quais chegaram foram várias.

Nosso colunista Arthur de Lima aproveitou as outras duas obras já lançadas pela autora no pós-Harry Potter, distantes da saga, para fazer uma breve comparação sobre esse estilo de escrita tão cativante. Confira a análise deste domingo e reflita com o nosso colunista. Você já leu as outras obras? Também notou esses elementos? Não deixe de nos contar!

Por Arthur de Lima

Um dos acontecimentos mais interessantes que ocorrem quando você lê vários livros do mesmo autor é notar as abordagens em comum das histórias secundárias ou os fatos de formação da personalidade das personagens, ou seja, o estilo de escrita, em qualquer história sempre traz o mesmo tema, o mesmo assunto, ainda que abordado de forma diferente.

Com nossa querida Joanne não podia ser diferente. Sua narrativa envolvente segue sempre o mesmo ritmo (fato observado em toda a saga Harry Potter, em Morte Súbita e em O Chamado do Cuco): a história começa leve, com poucos acontecimentos, focando na formação dos fatos, na descrição física dos cenários, na apresentação das personagens, interessante em toda a série Harry Potter, que a cada primeiro capítulo, Harry era apresentado ao público cada vez de maneira mais sucinta obviamente, poderíamos inclusive afirmar que os primeiros capítulos tendem a ser monótonos em alguns momentos.

Conforme a história avança, seu ritmo acelera, tomando proporções que tiram o fôlego, trazendo reviravoltas e finais sempre surpreendentes e transformam toda a calmaria numa explosão de adrenalina que te faz tremer dos pés a cabeça e devorar cada página para finalmente chegar ao desfecho e soltar a respiração.

Esta fórmula vem prendendo seus ávidos leitores desde 1997, com um belo funcionamento, amplamente aprovado e bem criticado. Contudo, uma característica, fortemente presente em “Morte Súbita”, se encontra em todas as histórias de Rowling: a família.

O papel dado ao grupo social mais antigo da humanidade, é sempre marcante e nos traz um claro raio-x das personagens. O contexto familiar para a criação da personalidade de cada um ser criado por J. K. nos permite ter uma visão completa e um entendimento mais abrangente da forma de agir, das escolhas, das ações e da forma de ver o mundo de cada personagem.

Em Harry Potter, por exemplo, ela nos traz um garoto órfão, que por conta dos maus tratos sofrido nas mãos de sua família adotiva, precisou aprender a ser adulto antes do tempo e a encarar as situações da forma que elas são. Sua criação também formou uma personalidade forte, instável, com uma tendência a explosões de raiva e entrega as emoções.

Em Morte Súbita, o conceito família esta presente em toda obra, criando jovens revoltados, filhos mimados, esposas submissas, pais e filhos sendo vítimas de preconceito e ao mesmo tempo de assédio; cria-se também uma ilusão de poder, em confronto com aqueles que desprezam o mesmo; a abordagem de drogas e o amadurecimento precoce misturado a vestígios de infância. Todos com seu histórico baseado em sua convivência familiar.

E por fim, podemos observar em O Chamado do Cuco, que Cormoran Strike, machucado pela vida, transformou-se num ser frio e que corresponde aos seus sentimentos pouquíssimas vezes, age pela razão, e tomou decisões incomuns da vida comum, na fuga de seu passado de uma mãe com alma cigana e realidade drogada, de um pai famoso e que só o é porque assinou na certidão de nascimento.

J. K. Rowling consegue, falando com a mesma voz, sobre o mesmo tema, contar histórias igualmente surpreendentes, fortes e com tramas completamente diferentes, com lições que poderemos levar para toda vida.

O que foi mostrado, simplesmente se remete ao eixo principal de cada história. Mais isso não muda nas vertentes das personagens secundárias. Isso só faz deixar claro o quanto nossa Tia Jô sabe e quer mostrar a importância que o histórico familiar tem na vida de qualquer um, inclusive na vida da mesma.

A fórmula de escrita, já percebemos, funciona e muito bem. Afinal de contas, ao menos para mim, faz 15 anos que Jo é companhia certa na minha mesa de cabeceira.

Arthur de Lima tem um segredo: ele também tenta aplicar uma fórmula de escrita às suas colunas.