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Ele é maluco, mas quem não é?

Todo mundo conhece – ou tem alguém que o conhece como – uma pessoa problemática. E todo mundo tem um talento, uma missão, algo a fazer; mesmo que não reconheça a melhor forma de fazê-lo. Conheça Pat, um homem que acredita que tornar-se fisicamente apto e emocionalmente alfabetizado fará Deus realizar seu final feliz — a volta de sua ex-esposa e maior obsessão, Nikki. Mas nada é tão simples de se ajeitar, e ser perseguido por uma mulher tão – ou mais – conturbada quanto ele pode ser a forma ideal de levá-lo a uma vida melhor.

O Lado Bom da Vida é o livro que inspirou o filme (em cartaz nos cinemas) estrelado por Bradley Cooper e Jennifer Lawrence e candidato a 8 Oscars. Leia a resenha de estreia de Desi Gusson e não deixe de expressar sua opinião sobre essa louca comédia nos comentários!

“O Lado Bom Da Vida”, de Matthew Quick

Ele é maluco, mas quem não é? Tempo: para ler de um tiro só no final de semana.
Ele é maluco, mas quem não é? Finalidade: para pensar.
Ele é maluco, mas quem não é? Restrição: para quem tem dificuldade com pontos de vista alternativos.
Ele é maluco, mas quem não é? Princípios ativos: otimismo, amnésia, distúrbio comportamental, aposta, felicidade.

Ele é maluco, mas quem não é?
Pat Peoples, um ex-professor de história na casa dos 30 anos, acaba de sair de uma instituição psiquiátrica. Convencido de que passou apenas alguns meses naquele “lugar ruim”, Pat não se lembra do que o fez ir para lá. O que sabe é que Nikki, sua esposa, quis que ficassem um “tempo separados”. Tentando recompor o quebra-cabeças de sua memória, agora repleta de lapsos, ele ainda precisa enfrentar uma realidade que não parece muito promissora. Com seu pai se recusando a falar com ele sobre Nikki, ela negando-se a aceitar revê-lo e seus amigos evitando comentar o que aconteceu antes de sua internação, Pat, agora um viciado em exercícios físicos, está determinado a reorganizar as coisas e reconquistar sua mulher, porque acredita em finais felizes e no lado bom da vida. Tendo a seu lado o excêntrico (mas competente) psiquiatra Dr. Patel e Tiffany, a cunhada viúva de seu melhor amigo, Pat descobrirá que nem todos os finais são felizes, mas que sempre vale a pena tentar mais uma vez.

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Então, hoje vou contar como me apaixonei por um cara 14 anos mais velho que eu, que divide uma ordem de restrição com a esposa, berra ‘ahhhhhhhhhhhhhh’ de maneira aleatória e faz cooper usando um sanito.

É sério.

Acontece que Pat tem um fator aderente que poucos caras tem hoje em dia: delicadeza. Não que ele seja uma flor de formosura, ele nem é lá muito sutil, mas munido do pensamento “é melhor ser gentil do que ter razão” Pat é tão inocente quanto uma criança, meio bobo feito um adolescente e completamente sensível às outras pessoas e ao mundo à sua volta. Um mundo terrivelmente confuso e grande, a bem da verdade, mas um mundo que está disposto a encarar.

Porque ele é um novo homem.

E a Nikki vai ficar feliz quando souber disso.

E aí vai acabar com o “tempo separados”.

Ah, esse “tempo separados”. Sempre entre aspas para deixar bem claro o absurdo daquela ideia, sempre presente na mente de Pat. Chego a pensar que a sua obsessão na verdade não era com a esposa, mas sim com o tal tempo e tudo o que ele perdeu nesse processo. Diferente do filme, nós só sabemos o que realmente aconteceu antes do manicômio no final, porém as atitudes da família e de Tiffany dão pequenas pistas.

O coração do leitor chega a apertar ao ver a mãe de Pat se desdobrar para tirar qualquer vestígio de Nikki da sua casa. Ao mesmo tempo, são engraçadas todas as desculpas malucas que ela bola para mascarar a situação. É comovente assistir a família se esforçando para encarar que o filho e irmão que tiveram havia ido embora, que dali para frente deveriam aprender a aceitar uma nova pessoa com o mesmo amor e respeito de antes.

E, é claro, há a Tiffany. Ela é uma das personagens de assinatura mais fortes que já conheci. Melancólica, misteriosa, manipuladora e desequilibrada. Pode-se pensar que ela é completamente doida de pedra, mas ela é só uma mulher. Quebrada e com intensidades variantes? Sim. Precisando desesperadamente de um abraço e que parem de olhá-la como se fosse maluca? Com certeza! Mas ainda só uma mulher. De qualquer forma, é bom sairmos dos estereótipos fakes das mocinhas feitas em linha de produção!

A histeria só não é maior porque tudo o que é demais cansa, até amor. Demorei um pouco para pegar o ritmo da coisa, me acostumar com a infantilidade do Pat em relação, principalmente, à sua família. No início foi como ver a história pelos olhos de um pré-adolescente, que deixa tudo para os pais fazerem por ele, e acabei demorando para aceitar que aquele era o nosso protagonista tentando se reajustar.

Enfim, “O Lado Bom da Vida” é um livro que não se espera ler. Ele trata de vários tipos de amor sem ser romântico e transforma situações que normalmente despertariam pena em comédia pura. Vale a pena enxergar as coisas de um jeito mais brilhante e otimista, mesmo que seja só para ter opção e não ser tragado pelo pessimismo logo de cara.

Aprendi com Pat que o lado bom da vida não é, acontece. E somos nós que fazemos acontecer.

Resenhado por Desi Gusson.

256 páginas, Editora Intrínseca, publicado em 2013.
Título original: “Silver Linings Playbook”. Publicado originalmente em 2008.

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