O ano-novo propõe reflexões sobre o que passou e o que deve acontecer no período que está para começar. É o momento no qual as pessoas aproveitam para traçar novos planos e riscar das lembranças tudo aquilo que, de um modo ou de outro, tenha sido considerado ruim.
Nesse ambiente de reflexão, Igor Ferreira nos traz uma coluna cuja temática é o mais comum dos questionamentos entre os fãs de Harry Potter: a qual Casa de Hogwarts eu pertenço? Leia o texto de hoje e não se esqueça de responder à pergunta do nosso colunista!
Por Igor Ferreira
Qual de nós nunca foi assaltado obcecadamente por aquela velha pergunta que todo potterhead é praticamente obrigado a fazer a outro que acaba de conhecer? Não, eu não estou falando coisas do tipo de “Voldemort ou Harry?”, “Comensais ou Armada?” ou ainda “Três Vassouras ou Cabeça de Javali?”. É algo muito mais simples e, ao mesmo tempo, remotamente mais complexo, uma coisa que eu tenho certeza que vários de vocês já precisaram pensar mais de dezenas de vezes. Trata-se da épica indagação que admite diversas formas, das quais escolho a seguinte inscrição: de que casa você é?
Cada uma das casas de Hogwarts representa muito mais do que a imagem que seus fundadores fizeram dela, elas traduzem genericamente a essência de seus integrantes e servem-lhe de cartão de visita para todo o restante da escola, quiçá de todo o mundo bruxo. Querendo ou não, a imagem do grupo sobressai à do indivíduo em particular, o que faz com que as exceções dentro de cada casa sejam caladas. Dessa forma, sua casa dá aos olhos de fora a primeira impressão, certa ou errada, sobre você e seus colegas.
Para os legítimos alunos de Hogwarts, entretanto, tudo se torna mais fácil. Além de poderem apreciar ao vivo toda a magia da escola (nós o fazemos pelas as palavras de Joanne Rowling), não precisam sequer escolher sua própria casa, uma vez que o magnífico Chapéu Seletor faz isso por eles. Nós, porém, trouxas… Trouxas? Eu disse trouxas? Risque esta frase! Risque! Risque! Droga de pena de repetição rápida! Nunca mais compro nada de Dunga. Retomando, nós, não iniciados devidamente em uma escola de bruxaria (Bem melhor assim, não?), no entanto, precisamos escolher, analisando da melhor forma a nossa consciência, aquela que um dia (Se Merlin quiser!) será nossa casa em Hogwarts.
Aí chega a hora do problema. São poucos os que têm imediata empatia por uma única casa e decidem-se rapidamente por qual fundador abraçar. Admiro esses raros casos, pois deles emanam os típicos e estreitos traços que os fundadores delinearam ao colocaram pedra sobre pedra para construir o castelo. Mas, confusos de plantão, não temam! O que acontece conosco, ousemos dizer, é tudo culpa de J.K. Rowling, que, mais uma vez trabalhando perfeitamente, não se escusou de traçar o ser humano dotado de diferentes valores e concepções. Traduzindo: ainda que tentemos buscar dentro de nós somente a coragem de Grifinória, a sabedoria de Corvinal, a generosidade de Lufa-Lufa ou a ambição de Sonserina, esses sentimentos hão de mesclar-se e morar dentro de nós, uns mais fortes e outros menos, confirmando a verdadeira confusão mental em que vivemos.
Como operador do Direito (é, sou estagiário no Departamento de Execução das Leis da Magia), sou obrigado a encontrar um caso concreto ao qual possa aplicar a teoria. Tomemos, pois, a minha própria experiência como exemplo. Sim, por mais que meus amigos conheçam um Igor decididamente corvino, meu lado ambicioso já falou muito mais alto do que qualquer outra coisa, fazendo o papel de parede do meu computador ficar permanentemente verde e prata. E quando percebi que meu ser jamais fora o de um bom sonserino e meu coração mole e a minha generosidade afloraram significativamente, estive a ponto de vestir amarelo e preto e seguir o caminho da sala comunal próxima à cozinha, quando o Pottermore chegou na minha vida e decidiu me por na Grifinória, a casa pela qual jamais houvera me interessado. Mas pensando bem, meus amigos eram, mais do que minha prioridade, quase a minha razão de viver. Cogitei seguir os leões, mas não tive coragem, e não me envergonho nem um pouco disso, pois foi desse modo, analisando todas as opções, que eu percebi qual das características dos fundadores eu mais prezava em meu ser: a sabedoria que dignifica os escolhidos por Rowena.
Partindo do pressuposto do particular (eu) para o geral (nós), creio que para todos os que ainda não têm certeza de em qual sala comunal descansar após as aulas, a dica é analisar, priorizar e definir. Analisar quem você é em cada cubículo de existência. Priorizar e ressaltar a sua característica mais significativa. E só então, depois de tudo isso, poder definir em qual casa se abrigar. As demais características, entretanto, mesmo com brasão já bordado no peito, jamais o deixarão, pois “não só de pão vive o homem”. Cada um de nós é um agregado de fatores, impossível de ser composto por uma única vertente. O que digo é que um típico sonserino, corvino ou lufano poderá ser extremamente corajoso (Snape, Luna e Cedrico), e existirão sempre grifinórios geniais (Dumbledore, Minerva e Hermione) ou covardes (Pedro Pettigrew).
Só para dar uma noção ainda melhor de que casa escolher em caso de dúvida, vamos fazer uma analogia bem simples e concreta, já que às vezes a inteligência, a coragem, a obstinação e a generosidade tornam-se conceitos um tanto vagos e de difícil aplicação. Mais uma vez é hora de pulverizar. Não, pena idiota, eu disse pormenorizar! Não, não é parabenizar! Ah, droga, me dá esse pergaminho! Mais uma vez é hora de detalhar.
Imaginemo-nos num claríssimo ambiente de guerra, com canhões e tendas espalhados por todos os cantos, homens correndo de um lado para outro e tantos outros metidos em seus escritórios negociando a guerra e tentando, através der contratos e regalias, obter o melhor proveito da situação, mantendo-se sempre perseverantes no caminho que escolhem trilhar e nas palavras que optaram por proferir. Bem, esses seriam os sonserinos, homens e mulheres ambiciosos que enxergam em cada situação um modo de obter algum prestígio pessoal ou mesmo coletivo (não devemos nunca nos esquecer do enorme elo de união que os sonserinos estabelecem entre si!), e defendem até o fim as suas próprias convicções.
E ao lado dos “donos da guerra” estão aqueles que a projetam, arquitetam, dispõem os combatentes no campo de batalha e determinam a melhor forma para vencer. São obviamente os estrategistas da Corvinal, que se valem de toda a sua sabedoria para coordenar no cerne de cada batalha os que, sem qualquer receio ou temor, lançam-se contra seus inimigos, munidos de extrema coragem e protegendo com suas próprias vidas todos os outros. Ou seja, os legítimos grifinórios. Entretanto, até os mais valentes e destemidos sofrem os efeitos ferrenhos de uma guerra e necessitam, mais do que nunca, daqueles que lhes prestem asilo e auxílio, almas caridosas que zelem pelos doentes e feridos, que deem aos mortos um destino digno e apoiem suas famílias em momentos de dificuldade; são, obviamente, os generosos e caridosos lufanos.
Assim chega ao fim a guerra, e também essa coluna, tentando inserir no consciente de cada um a importância da diversidade de grupos e pessoas, de ações e funções, de qualidades e defeitos, para a constituição de uma forma consistente e sólida de caminhar e atingir um objetivo central, de vencer a batalha diária que travamos com o mundo. É o que aquele velho clichê insiste em afirmar: “a união faz a força”. Mas enfim, chegou a hora de decidir: qual o seu papel nessa guerra? Em que casa você está?
Igor Ferreira não sabe, mas eu já o enfeiticei muitas vezes na Torre da Corvinal.