Gay e solitário: o que esperar de Dumbledore no novo Animais Fantásticos
Por Marina AnderiNo Cabeça de Javali, um bar mal cuidado no vilarejo de Hogsmeade do qual seu irmão é proprietário, Alvo Dumbledore explica ao auror Teseu Scamander o efeito que o Pacto de Sangue – feito com Gerardo Grindewald, décadas atrás – tem sob ele. Enquanto a corda do colar enrola nas mãos e no pescoço de Dumbledore, sufocando-o, ele diz, “ele sente a traição no meu coração.” Ele está em conflito consigo mesmo.
É isso que retrata Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas brasileiros, os fãs de Harry Potter poderão ver nas telas o que eles só tinham até então lido nos livros.
A primeira coisa é a sexualidade de Dumbledore. Ela é implícita nos livros, quando sabemos de sua forte conecção com Grindelwald na juventude, e depois confirmada por J.K. Rowling após a pergunta de um fã em uma sessão de autógrafos. Sem dar spoilers, é possível dizer que ela é retratada no filme de forma explícita e é um ponto importante da narrativa. Dá para entender melhor a natureza de sua relação com Grindelwald.
“Eu sempre pensei no Dumbledore como uma pessoa solitária, porque ele era brilhante desde muito novo, então, quando ele conhece esse outro rapaz, igualmente inteligente, isso cria uma conexão poderosa. Até que eles percebem que são pessoas diferentes, o que não apaga os bons momentos que eles compartilharam… Na verdade, torna tudo mais difícil”, disse o diretor David Yates, na coletiva de imprensa global de Os Segredos de Dumbledore. “É sobre escolher sobre um amor do passado, talvez amor atual, e o que é certo”, acrescentou o produtor David Heyman.
A segunda coisa é a relação da família Dumbledore. Aberforth, o dono do Cabeça de Javali, não é muito próximo do irmão mais velho, e o motivo disso foi a morte da caçula da família, Ariana. O filme revela o que os fãs já sabem através de As Relíquias da Morte e acaba também por dar mais nuances à questão. Afinal, o que é relatado no livro de Rita Skeeter, A Vida e as Mentiras de Alvo Dumbledore, é uma história contada por terceiros, e nem sempre 100% verdadeira; é muito interessante acompanhar os fatos vindo direto da fonte.
A terceira coisa é a representação de um Dumbledore imperfeito. Não que ele seja sem falhas em Harry Potter, mas seu papel é o de mentor, de guia, e portanto ele parece ser uma figura inatingível. Neste terceiro Animais Fantásticos, nos deparamos com o Dumbledore do passado que, por ter menos experiência e tempo de vida, se depara com muito mais questões e aflições.
“É um processo de regressão. Uma das alegrias que David permitiu que eu explorasse foi que, ao invés de sentir o peso das brilhantes atuações de Michael Gambon e Richard Harris, eu pude voltar e entender que ele não o Dumbledore completamente formado dos livros e filmes de Harry Potter, ele é um homem ainda achando seu caminho, ainda confrontando e resolvendo seus demônios. E é a isso que me refiro quando falo em ‘regressão’, suponho – nesse filme em particular ele está encarando o passado, encarando a si mesmo e sua própria culpa”, disse Jude Law, intérprete do jovem Dumbledore.
Talvez Dumbledore não seja o protagonista dessa franquia, mas certamente a história é sobre ele. E é gratificante poder desvendar mais lados de um personagem que já parecíamos conhecer tanto.
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Marina Anderi é bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Pernambuco.