Vendo Além

Em sua quarta coluna, Eduardo escreve sobre a vidente Sibila e discute: charlatã ou não? Leia e discuta com ele!

Você pode conferir a coluna completa aqui.

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Bom, primeiro queria pedir desculpas pela demora dessa coluna, que foi totalmente reescrita e tomou um rumo completamente diferente. Vamos a ela:
Sibila Trelawney. Charlatã, fraude, uma comédia. São essas as palavras que geralmente vêem à cabeça ao se falar na mais excêntrica das professoras de Hogwarts. Mas será mesmo?
A professora de Adivinhação é nosso primeiro contato com o lado duvidoso da magia. Em um mundo onde antes tudo era certo (vire sua varinha assim, mexa o caldeirão tantas vezes, etc.), agora somos apresentados a uma matéria em que “os livros só podem leva-los até certo ponto”, para desespero de Hermione.
E é justamente Hermione e a sua aliada no ceticismo, Minerva McGonagall, que representam o lado totalmente oposto da magia. Para Hermione e McGonagall, com suas mentes “desesperançosamente mundanas”, os feitiços são claros, as instruções devem ser seguidas e tudo depende apenas de concentração e da capacidade de entender as ordens. Ou seja, para elas, magia se aprende em livro. Esse é obviamente um ponto de vista não compartilhado por Trelawney, que acredita que ser descendente de uma Vidente também a faz uma.
Na primeira aula ela causa uma enorme impressão ao acertar várias predições, mas aos poucos vamos todos nos acostumando com o que nos habituamos a chamar de fraudes. Após tantas fraudes, chutes e apenas duas profecias verdadeiras, é preciso entender os tipos de profecia da Trelawney. Existem as típicas profecias de charlatãs que encontramos hoje, por pressão psicológica (“Ela me disse que a bola de cristal contou pra ela que se, eu falar pra vocês, eu vou sofrer um acidente horrível!”, diz Neville após os exames), puros chutes ao acaso (“A propósito, aquilo que você teme – irá acontecer na sexta-feira dezesseis de Outubro.”), predições por observação (“Se quer saber, Minerva, eu vi que o pobre Professor Lupin não estará conosco por muito tempo. Ele parece consciente que seu próprio tempo é curto. Ele positivamente fugiu quando eu ofereci para consultar a bola de cristal para ele…”) e as profecias verdadeiras.
Profecias por pressão psicológica, que geralmente funcionam com mentalidades mais fracas, inseguras e impressionáveis (Neville é a grande presa) são o que as videntes são conhecidas por fazer. Ao dizer que Neville vai derrubar a xícara, Sibila faz com que ele fique tão nervoso na hora de pegar a xícara e tão cheio de cuidados para não derruba-la que a acaba derrubando. Parece confuso, mas na verdade é bem simples. Quando você diz pra alguém inseguro que o que ele está fazendo não vai dar certo, a pessoa fica tão preocupada com a possibilidade de errar que acaba errando.
É mais ou menos assim que funcionam os chutes ao acaso. Sibila diz que algo acontecerá com Lilá em 16 de outubro, o que fez a garota criar expectativas terríveis com relação a esse dia. Qualquer coisa de ruim que acontecesse com ela iria se encaixar nas palavras de Trelawney. E ela estava tão preocupada que era quase certo passar por algum problema. (Você pode não acreditar que pensamentos negativos criam situações negativas, mas eu, como eterno otimista, acredito).
Nas predições por observação, Sibila faz o que qualquer um poderia fazer, mas num to ligeiramente melodramático. Ela repara que Hermione é terrivelmente mundana e não tem nenhuma aura, que Lupin parece extremamente doente e que seu tempo de vida não parece longo, e, é claro, sabe da incrível história de Harry Potter e seu passado cheio de mortes, brigas e inimigos mortais.
E tem também, não podemos esquecer, as profecias verdadeiras, o motivo pelo qual Dumbledore contratou Sibila. São esses os únicos momentos em que Trelawney é levada a sério, mas será que isso é certo? Não é sempre que vemos um personagem entrando em transe e fazendo profecias. Alguém consegue visualizar Minerva McGonagall engrossando a voz e virando uma antena pra sinais do destino? Ou Snape, quem sabe? Filch fazendo uma profecia? Sr.Weasley? Pois é, apesar de ninguém dar bola para Trelawney, ela é a ÚNICA personagem que recebe vibrações do futuro. Ou seja, o fato de ela ser descendente de Vidente faz com que ela tenha certo “sangue Vidente” nela. Sibila é, sim, uma VERDADEIRA Vidente, e não só uma charlatã. Sendo capaz de fazer profecias, ela se torna Vidente.
“Tudo bem, mas ela só faz profecias de vez em quando. A maioria das coisas que ela diz não viram verdade.” Mas é aqui que eu gostaria de citar J. K. Rowling. Em entrevista ao Mugglenet e ao Leaky Cauldron, ela disse que, se Voldemort e Harry simplesmente apertassem as mãos e cuidassem das suas vidas, nenhum dos dois morreria. Segundo ela, eles não estão predestinados a fazer nada. As pessoas têm livre-arbítrio. E que se Harry nunca tivesse ouvido a profecia, ele continuaria querendo matar Voldemort. Ou seja, a profecia só vai virar verdade porque é isso que Harry e Voldemort escolheram. Muitas profecias “verdadeiras”, do Hall das Profecias, faladas com voz grossa, em transe e tudo mais, nunca viraram verdade.
Por isso, apesar de profecias por pressão, como a xícara de Neville, parecerem extremamente falsas, elas se realizaram. São, então, tão válidas quanto profecias feitas em estado de transe. Isso sem falar na habilidade de Trelawney com o tarô, o que praticamente fez ela perceber a morte de Dumbledore (o título do capítulo em que ele morre é uma referência à carta que Sibila tira).
E são essas as razões pelas quais a pobre Sibila Trelawney, tanto dentro dos livros quanto no universo dos fãs, merece ser mais respeitada. Da próxima vez que a julgarem uma farsa, pensem que ela pode estar mais certa do que um Vidente que faz predições o tempo todo (e que, portanto, tem mais chances de predizer algo que nem vai acontecer). Além da professora de Adivinhação ser um excelente alívio cômico, ela é uma boa pista para o que o futuro nos aguarda. Quem sabe aquela predição, feita para irritar Umbridge, de que Harry vai viver até a velhice, virar Ministro da Magia e ter 12 filhos (alguns ruivinhos, quem sabe), não vire verdade?