Seção Granger

Seção Granger: “Os Pilares da Terra”, de Ken Follet

No último domingo de agosto, nossa tradutora Caroline Calzolari estreia na Seção Granger com a crítica de Os Pilares da Terra, romance histórico medieval escrito pelo britânico Ken Follet, que marcou gerações e foi relançado pela Editora Rocco em 2012.

Para ler a crítica na íntegra, acesse a extensão deste post.

“Os Pilares da Terra “, de Ken Follet
Resenha crítica por Caroline Calzolari

Sabemos que não devemos julgar um livro pela capa. Mas como não se atrair por uma edição capa dura com letras douradas e ilustrações de cavaleiros? Não pude resistir. Comprei Os Pilares da Terra sem qualquer expectativa, e tive uma excelente jornada.

O romance histórico medieval escrito por Ken Follett faz você se sentir no meio de um vilarejo inglês do século XII. Mas esqueça batalhas épicas, banquetes luxuosos e princesas. O que conhecerá é o modo de vida do plebeu comum, seus problemas, sonhos e alegrias – o que é tão fascinante quanto uma luta de justa.

O romance traz como personagem principal uma igreja, por mais estranho que possa parecer. A catedral que será construída ao longo de toda a história é o elemento que une os vários personagens da trama. Follett organiza sua história de modo que cada trecho seja contado do ponto de vista de uma pessoa diferente.

Para aqueles que gostam de ricas descrições de cenários, essa é uma obra de ouro. O modo como as catedrais e construções são descritas fará você sentir que já visitou tais igreja dezenas de vezes. O pano de fundo histórico é bastante presente, e não é difícil reconhecer diversas figuras famosas da realeza e clero.

Tom Construtor sonha em construir a mais bela catedral de todas. Ao chegar em Kingsbridge, um pequeno priorado, decide ficar e realizar seu sonho ajudando Philip a construir a nova catedral. O prior Philip é um dos personagens por quem você mais irá torcer ao longo da aventura devido a sua ética, moral e compaixão. Tudo o que ele quer é terminar a construção da nova igreja e fazer o priorado prosperar, garantindo uma vida digna a todos que ali residem. No entanto, o padre não consegue de modo algum terminar sua construção graças a William.

William Hamleigh é o vilão da história. Por mais simplista que essa descrição seja, ele não pode ser definido de outro modo, já que é um personagem quase caricato e sem nuances. Ele quer se tornar conde, mas há aqueles que farão de tudo para não tornar isso possível. Uma dessas pessoas é Aliena, uma das personagens que mais crescem durante o romance. Sua vida de nobreza e conforto é transformada da noite para o dia com a morte de seu pai e, apesar da posição desvantajosa na qual se encontra, não irá descansar até ver seu irmão como conde legítimo.

Todos esse personagens, mais inúmeros outros – como Ellen, Jack, Waleran, Alfred e Jonathan – entram e saem da vida um do outro inesperadamente todo o tempo. As reviravoltas são tantas, que você não irá querer largar o livro esperando a próxima curva. Quando podemos jurar que tudo está caminhando para a concretização da catedral, algo dá errado. É impossível prever o desfecho até o último instante.

Antes de deixar você partir nessa jornada de quase mil páginas, preciso alertá-lo: as cenas de violência e sexo são muito detalhadas e explícitas. “Ah, mas todos os livros medievais são assim!”, você pode estar pensando, e eu concordo. No entanto – e aqui vai um spoiler – algumas das cenas retratam estupro. Embora elas sirvam ao propósito final de mostrar o quão sádico o personagem em questão é, e torná-lo desprezível aos leitores, tais cenas podem causar mal estar.

Por muitas vezes achei o excesso de descrição gratuito e certamente é o motivo pelo qual não considero o livro perfeito.

944 páginas, Editora Rocco, publicado em 2012.
Título original: “The Pillars of the Earth”.
Tradução: Paulo Azevedo.

Caroline Calzolari é professora de inglês, tradutora do Potterish e escritora nas horas vagas.