As Relíquias da Morte ︎◆ Filmes e peças ︎◆ Parte 1

Roteiro HP7.1 Parte 1: Tradução das cenas 1 ~ 13

Há alguns dias caiu na internet uma versão oficial, porém não definitiva, do roteiro do filme Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1, e assim como fizemos com Enigma do Príncipe, trazemos as cenas traduzidas para vocês.

Sendo assim, hoje damos início a um periódico especial do site que trará todos os sábado 13 cenas desse roteiro totalmente em português, finalizando portanto todas as 161 cenas no dia 9 de abril deste ano.

As cenas de hoje trazem o começo do filme, e já então podemos perceber várias diferenças em relação ao que foi visto nas telonas – no roteiro a cena da Hermione na casa dos pais era muito mais longa, com um dialógo entre ela e o Sr. e a Sra. Granger. Também temos uma cena em que Rony conversa com seu pai no galpão da Toca, ocasião na qual Arthur explica sobre a funcionalidade do rádio para a Ordem.

Quanto à sequência da Mansão Malfoy, há muito mais semelhanças com o conteúdo do livro do que já vimos no cinema, incluindo o pavão e um diálogo bem maior entre Voldemort, Lúcio e Snape. As cenas de hoje terminam tingido de vermelho-sangue cobrindo a rua dos alfeneiros, dando-nos um gostinho do que vem a seguir.

Vocês podem conferir a tradução dessas cenas na extensão – onde se encontram links das traduções anteriores -, ou fazer o seu download em pdf clicando aqui!

HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE: PARTE 1
Roteiro original ~ Cenas 1 à 13
Warner Brothers
Tradução: Virág Venekey
Revisão: Isadora Moraes

APARECE GRADATIVAMENTE:

1. TÍTULO – WARNER BROS. APRESENTA

Nós PASSAMOS PELA LOGOMARCA PARA um PROFETA DIÁRIO vivo e em movimento. MANCHETES DESAGRADÁVEIS DESLIZAM POR NÓS: Morte. Paranóia. Um mundo em guerra. Nós FOCAMOS EM UMA FOTOGRAFIA EM MOVIMENTO do Ministro da Magia, RUFO SCRIMGEOUR, em pé no…

2. INT. MINISTÉRIO DA MAGIA – ÁTRIO – DIA

… átrio do Ministério da Magia, se dirigindo a uma multidão de FUNCIONÁRIOS DO MINISTÉRIO enquanto REPÓRTERES rabiscam atentamente.

SCRIMGEOUR
Estes são tempos sombrios, não há como
negar. Nosso mundo talvez nunca enfrentou
uma ameaça tão grande quanto hoje.
Mas eu afirmo para nossos cidadãos: nós,
desde sempre seus servidores, continuamos
a defender sua liberdade e repelir as
forças que procuram tirá-la de vocês.
Seu Ministério permanece forte…

CÂMERA FOCA dois bruxos, YAXLEY e PIO THICKNESSE, que se viram enquanto NOS AFASTAMOS da FOTOGRAFIA e DESLIZAMOS novamente PELAS páginas viradas, as manchetes ficando cada vez mais desagradáveis, os rostos mais ASSOMBRADOS, até, finalmente, emergirmos do Profeta e encontrá-lo nas mãos de…

3.INT. CASA DOS GRANGER – QUARTO DE HERMIONE – FIM DE TARDE (CHOVENDO)

… HERMIONE. Ela encara firme uma TERRÍVEL MANCHETE – FAMÍLIA TROUXA ASSASSINADA – A VIOLÊNCIA SE ESPALHA.

SRA. GRANGER (FORA DE QUADRO)
Hermione. Seu chá está pronto,
querida.

Hermione olha de relance pelo vão da porta para além das escadas. A SOMBRA DE SUA MÃE se projeta na parede, tremulando em outra SOMBRA, a de uma ÁRVORE INCLINADA PELO VENTO. É estranhamente bonito e Hermione parece paralisada…

HERMIONE
Estou indo, mãe.

A SOMBRA de sua mãe se afasta, deixando apenas a árvore tremulante. Hermione olha mais uma vez para a manchete perturbadora do Profeta, então o enfia dentro de uma PEQUENA BOLSA DE CONTAS.

4. INT. SALA DE VISITAS – FIM DE TARDE (MOMENTOS DEPOIS, CHOVENDO)

Enquanto Hermione desce as escadas, a SRA. GRANGER sai da cozinha carregando um bule de chá.

SRA. GRANGER
Você está encantadora. Malas prontas?

Hermione acena com a cabeça e observa sua mãe colocar o bule na mesa em frente à televisão. Nesse momento o SR. GRANGER entra segurando uma lata de biscoitos.

SR. GRANGER
Tem certeza de que esses biscoitos
têm zero açúcar?

SRA. GRANGER
Certeza absoluta, querido. Está vendo as
letras maiúsculas em negrito dizendo ‘Zero
Açúcar’? Não tem erro.

SR. GRANGER
Hum. Sim.
(passando por Hermione)
Olá, gatinha. Você está encantadora.

Hermione sorri palidamente enquanto seu pai lhe dá um beijinho na cabeça, e então se junta à sua mãe no sofá oposto à televisão. Um PROGRAMA SOBRE A VIDA SELVAGEM AUSTRALIANA ESTÁ PASSANDO.

TELEVISÃO (NARRAÇÃO EM OFF)
… o rato marsupial tem pequenas orelhas
pontudas e um longo focinho com o qual emite
um distinto som de trombeta quando agitado…

SRA. GRANGER
Querido, não seja desconfiado, os biscoitos
são deliciosos, agradeça pela empresa ser
tão esperta de…

Hermione desvia o olhar da tela, observa sua mãe e seu pai. Lentamente ela vasculha a pequena bolsa e retira sua varinha. Dando dois passos à frente, ela aponta o objeto por detrás das cabeças deles. Mão tremendo, ela FALA, sua VOZ apenas um SUSSURRO:

HERMIONE
Obliviate.

O rosto da Sra. Granger se torna brevemente vago e ela estica o braço, como se para prevenir uma queda, mas então lentamente sua mão despenca, indo se repousar na de seu marido. Ele pisca uma vez, inexpressivo, e então… entrelaça os dedos da esposa nos seus. Hermione abaixa o braço e, os olhos ardendo com lágrimas, observa as FOTOGRAFIAS colocadas na sala começarem a MUDAR. Uma a uma, Hermione DESAPARECE de todas.

HERMIONE
Adeus.

5. EXT. RUA – FIM DE TARDE (MOMENTOS DEPOIS, CHOVENDO)

Agarrando-se à bolsa de contas, Hermione desce pela rua varrida pelo vento em direção à luz do anoitecer. Nós NOS LANÇAMOS ACIMA PARA o céu, PARAMOS brevemente, depois NOS LANÇAMOS ABAIXO PARA…

6. EXT. JARDIM DA FRENTE (A TOCA) – ANOITECER

… RONY, encarando as estrelas. Ele baixa a vista para a casa, observa GINA e a SRA. WEASLEY, iluminadas pela luz da cozinha, de maneira afetuosa, como se as guardando na memória. Seu olhar se desvia para o GALPÃO ao lado. Lá dentro, ARTHUR WEASLEY está curvado sob sua mesa de trabalho.

7. INT. GALPÃO – ANOITECER (MOMENTOS DEPOIS)

O Sr. Weasley brinca com um RÁDIO PEQUENO. Outra meia dúzia deles – em vários estágios de conserto – encontram-se alinhados à sua frente.

RONY
O que são esses?

O Sr. Weasley se vira, vê Rony em pé no vão da porta.

ARTHUR WEASLEY
Feche a porta.

Rony entra sossegado e se aproxima da bancada. O Sr. Weasley gira o botão do rádio em sua frente. Surge um som ESTÁTICO, depois uma VOZ se torna clara:

RÁDIO (NARRAÇÃO EM OFF)
… chega até nós esta noite do norte da
Inglaterra, onde uma família de bruxos com o
nome de Westinburgh foi encontrada morta em seu
porão. Embora não fossem membros da Ordem, o
Sr. Westinburgh e a sua esposa forneceram, em
inúmeras ocasiões, esconderijo a seus membros…

Arthur desliga o rádio. Gesticula para os outros.

ARTHUR WEASLEY
São para a Ordem. Há tantos fugindo agora,
isso os ajuda a se manterem conectados com
o resto de nós. A saber que não estão sozinhos…

Rony observa o rosto fatigado do pai enquanto o homem mais velho encara sua obra. Coloca a mão sobre seu ombro.

RONY
Vamos. Mamãe terminou de preparar a janta.

Arthur assente, se afasta da mesa e sai pela porta. Rony hesita brevemente, estudando o rádio, então segue seu pai em direção à noite. Nós ESCURECEMOS GRADATIVAMENTE. O TÍTULO aparece… e nós –

DISSOLVEMOS PARA:

8. EXT. CÉU NOTURNO

Uma lua escarlate. Uma mancha –- uma ave noturna, ou um morcego -– emoldurada na superfície da lua, se aproxima rapidamente, e então -– VOOSH! –- passa por debaixo. Bem abaixo, um mar de topos de árvores balança assustadoramente.

9. EXT. MANSÃO MALFOY – NOITE (MOMENTOS DEPOIS)

Nós MERGULHAMOS EM MEIO às árvores que balançam PARA um caminho estreito iluminado pelo luar. Uma SOMBRA atravessa o chão como uma pipa feita de água. Uma BOTA toca o chão sob o caminho de cascalho, depois outra. Uma capa esvoaça lentamente sob os ombros de um bruxo, cabelo liso dividido pela gola levantada pelo vento. Ele vira o rosto. O luar atinge seu rosto pálido. SNAPE.

Movendo-se. Subindo uma rua larga até um par de portões de ferro bem trabalhados. Adiante, uma enorme mansão que já viu dias melhores. Um FARFALHAR é ouvido. Snape se vira, saca sua varinha.

Um PAVÃO, branco como um fantasma, emerge do teixo. Snape encara-o cauteloso, então ergue a mão. Os portões de ferro viram fumaça.

10. INT. MANSÃO MALFOY – CAMINHO DE ENTRADA – NOITE (MOMENTOS DEPOIS)

Refletido no prisma de uma janela com vidraça de diamante, Snape se aproxima. A porta da frente se abre deslizando. Ao entrar, olhos escuros dos retratos iluminados por tochas o seguem de cima.

11. INT. CORREDOR DE ENTRADA – NOITE (MOMENTOS DEPOIS)

Uma porta começa a surgir ao fim de um corredor. Alcançando-a, Snape hesita por um ínfimo momento, e depois entra.

12. INT. SALA DE VISITAS – MESMA HORA – NOITE

Duas dúzias de pessoas estão sentadas silenciosamente ao longo de uma larga mesa ornamentada, iluminada pela luz tremulante da lareira. Snape observa a cena, depois seu olhar se eleva. Girando lentamente próxima ao teto, como se suspensa por uma corda invisível, encontra-se uma MULHER inconsciente (CARIDADE BURBAGE).

VOLDEMORT
Severo. Estava começando a pensar que
você tinha se perdido. Venha. Guardei
um lugar pra você.

VOLDEMORT sorri, silhueta projetada pelo fogo, e gesticula para a poltrona mais próxima da sua. Todos os olhares seguem Snape, todos exceto os de DRACO MALFOY, que encara nervosamente o corpo acima, e um abatido LÚCIO MALFOY, que meramente olha de forma vaga para a sua varinha enquanto sua esposa NARCISA olha diretamente para frente.

VOLDEMORT
Você conhece nossos anfitriões, obviamente,
Severo. Narcisa tem sido particularmente muito
hospitaleira. Lúcio, por outro lado, se sente,
eu temo, oprimido pela minha presença.
Não é isso, Lúcio?

LÚCIO
Milorde?

VOLDEMORT
Sente-se oprimido?

NARCISA MALFOY
Milorde é sempre bem-vindo aqui.

Voldemort sorri, seus olhos passando para Snape, que observa a enorme cobra NAGINI enquanto esta desliza lentamente sobre os pés dos presentes, amedrontando a todos.

VOLDEMORT
Presumo que traga novidades, Severo?

SNAPE
Acontecerá no próximo sábado.
Ao anoitecer.

VOLDEMORT
E essa informação vem —

SNAPE
— da fonte que discutimos.

Yaxley, o bruxo visto no Ministério, inclina-se da extremidade oposta da mesa em direção à luz tremulante.

YAXLEY
Eu ouvi diferente, Milorde. Dawlish, o Auror,
deixou escapar que o garoto Potter não vai ser
movido até o trigésimo dia deste mês, na véspera
de completar dezessete anos.

SNAPE
Essa é uma pista falsa. O quartel-general
dos Aurores não participa mais de nenhuma
forma da proteção de Harry Potter. Os mais
próximos a ele crêem que nos infiltramos no
Ministério.

HOMEM ATARRACADO
Bem, nisso eles estão certos,
não estão?

À medida que o Homem Atarracado gargalha animadamente, outros se juntam a ele. Voldemort levanta uma mão. Todos se calam.

VOLDEMORT
Pio, o que você diz?

PIO THICKNESSE levanta os olhos, seu olhar sereno.

THICKNESSE
Ouve-se muitas coisas, Milorde. Não fica
claro se a verdade está ou não entre elas.

VOLDEMORT
Falou como um verdadeiro político. Você
vai se provar, acredito eu, muito útil, Pio.
Aonde ele vai ser levado? O garoto?

SNAPE
Para um lugar seguro. Provavelmente a casa de
alguém da Ordem. Fui informado de que recebeu
todo tipo de proteção possível. Uma vez lá, será
impraticável atacá-lo. Podemos ter o Ministério
ao nosso lado, mas ainda há aqueles que permanecem
fiéis a ele. Enquanto o Ministério estiver de pé,
dentro dele seus aliados terão à disposição todos
os meios para garantir a segurança do garoto.

BELATRIZ
Milorde, se permitir, gostaria
de me voluntariar para essa tarefa.
Gostaria de matar o garoto.

Nesse momento um GEMIDO é ouvido, elevando-se pela tábua do assoalho. Um lampejo VERMELHO passa brevemente pelos olhos de Voldemort.

VOLDEMORT
Rabicho! Já não falei para manter
nosso convidado calado?

RABICHO
Sim, m-milorde. Agora mesmo,
milorde.

Enquanto RABICHO se retira, Voldemort volta seu olhar a BELATRIZ.

VOLDEMORT
Embora ache sua sede de sangue inspiradora,
Belatriz, eu devo ser aquele que matará
Harry Potter. Mas enfrento uma complicação
infeliz. Recentemente me chamou a atenção o
fato que minha varinha e a do Potter compartilham
o mesmo núcleo. Elas são, de certa forma, gêmeas.
Nós podemos ferir, mas não fatalmente injuriar
um ao outro. O que significa, se sou eu quem irá
matá-lo… que terei que fazê-lo com a varinha
de outra pessoa.

Os demais à mesa remexem-se nervosamente. Belatriz enrijece. Os olhos estreitos de Voldemort varrem a sala.

VOLDEMORT
Vamos lá. Certamente algum de vocês
gostaria de ter a honra? Que tal…
você, Lúcio?

Lúcio espreita acima, pálido e abatido.

VOLDEMORT
Eu requisito sua varinha.

Lúcio permanece mudo, paralisado pelo pedido, explorando os rostos dos demais, que evitam olhá-lo, todos menos Snape, que o encara com visível desprezo, e Draco, cujos olhos se encontram com os do pai brevemente, e logo desviam. Finalmente os dedos de Narcisa roçam de leve o pulso do marido, trazendo-o de volta à cena. Virando-se, ele a vê assentir quase que imperceptivelmente. Abaixando a cabeça, ele ESTENDE lentamente sua varinha, a qual vai parar nas mãos esqueléticas de Voldemort. Voldemort segura a varinha em direção à luz.

VOLDEMORT
É feita de olmo?

LÚCIO
Sim, milorde.

VOLDEMORT
E o núcleo?

LÚCIO
Dragão –- fibra de coração de dragão.

Voldemort assente, sentindo o peso da varinha, então seu olhar se desloca e pega Lúcio encarando a VARINHA na mesa – a do próprio Voldemort.

VOLDEMORT
Minha varinha? Não acredita realmente
que lhe daria minha varinha.

Os olhos de Lúcio encontram os de Voldemort. Por um momento ele perde a fala. Finalmente seu queixo cai.

LÚCIO
Não, milorde.

Voldemort estuda a cabeça abaixada de Lúcio, e então volta a atenção à varinha em sua mão. Levantando-a, ele a aponta para o corpo acima. Com um MOVIMENTO o corpo desperta, CONTRAINDO-SE contra as amarras invisíveis.

VOLDEMORT
Para aqueles que não sabem, nós estamos
acompanhados hoje pela Srta. Caridade Burbage, que
até recentemente ensinava na Escola de Magia e
Bruxaria de Hogwarts. Sua especialidade era Estudo
dos Trouxas. A Srta. Burbage acredita que os trouxas
não são tão diferentes de nós.
Se dependesse dela, nós casaríamos com eles.
Para ela, a mistura de sangue mágico e trouxa
não é uma abominação, mas algo a ser encorajado.
Eu, obviamente, tenho opinião contrária. Mas nós
aqui somos todos civilizados. Todos adultos.
Podemos concordar em discordar.

O rosto marejado de lágrimas de Caridade se vira mais uma vez para encarar Snape, sua voz rouca de medo.

CARIDADE
Severo, por favor. Somos amigos…

O rosto de Snape permanece impassível. Os olhos de Voldemort se estreitam em fendas escarlates… sua voz SIBILA. Draco observa uma lágrima atingir a mesa…

VOLDEMORT
Avada Kedavra!

LUZ VERDE envolve o aposento. Caridade despenca para a mesa, o corpo imóvel. Voldemort avalia a varinha, satisfeito.

VOLDEMORT
Nagini… Jantar.

13. EXT. RUA DOS ALFENEIROS – ANOITECER

Um céu vermelho-sangue cobre a vizinhança.