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Profeta Diário: Imprensa marrom e censura

Nossa nova colunista, Camila Galvez, continua nossa área de Crônicas, tratando agora a respeito de um tema que gera muita polêmico na atualidade: O papel da imprensa no mundo Moderno.

Análise crítica e de modo ordenado do papel do Profeta Diário no Mundo Bruxo. Não percam a coluna de estréia de nossa futura jornalista.

Você pode conferir a coluna completa aqui.

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Profeta Diário: Imprensa marrom e censura
Por Camila Galvez

Para começar esta coluna, acredito que é necessário esclarecer o termo imprensa marrom, muito utilizado no meio jornalístico. Um grande exemplo de imprensa marrom próximo de nós, aqui no Brasil, são revistas de fofocas. Para ficar mais perto do mundo de J.K. Rowling, há um tipo de jornal na Inglaterra chamado de tablóide. Este veículo é especializado em notícias escandalosas. Imprensa marrom nada mais é do que um determinado veículo jornalístico que utiliza notícias sobre a intimidade dos outros para vender exemplares. Quanto mais escusos, chocantes e secretos forem os fatos, tanto melhor. Mesmo que às vezes seja necessário omitir ou aumentar um pouco (ou muito) os acontecimentos que viram notícia nas páginas deste tipo de imprensa.

O Profeta Diário é apresentado aos leitores ainda em PF, quando Harry Potter está apenas descobrindo o mundo bruxo. Harry não costuma ler o jornal, como grande parte dos jovens não o faz. No PF podemos observar que o trabalho do veículo ainda passa a impressão de ser sério. A primeira notícia que conhecemos é contada por Rony no Expresso de Hogwarts: a tentativa de roubo ao Gringotes. É por meio desta notícia que Harry começa a desconfiar que Hagrid retirou algo importante do banco dos bruxos quando passou com ele por lá antes de vir para Hogwarts. Ele vem a saber depois que se tratava da própria pedra filosofal.

Para os olhares atentos, já é possível notar no primeiro livro que o Profeta Diário tem um mau hábito jornalístico, apesar de ainda muito usado no meio, principalmente pela imprensa marrom: a omissão de fontes. Nas notícias mais importantes sempre há entrevistados em off (off the records, termo em inglês para uma fonte que dá entrevista sem revelar seu verdadeiro nome). O problema de utilizar fontes em off num texto jornalístico é que não há como checar sua veracidade, já que não sabemos quem foi o autor da declaração.

Ao seguir a ordem dos livros, na Câmara Secreta vê-se que o jornal se interessa em mostrar os famosos. Harry é empurrado pelo fotógrafo do Profeta quando este não sabe quem ele é e prefere tirar uma foto de Gilderoy Lockhart na Floreios e Borrões. Mas quando Lockhart chama Harry para que ele também saia nas fotos, os flashes multiplicam-se aos milhares. Como diz o próprio Lockhart, ele e Harry numa foto dariam primeira página do jornal, mesmo que esta não fosse uma notícia de relevância para o mundo bruxo.

Posso citar muitas outras notícias, como o inquérito sofrido por Arthur Weasley por conta do Ford Anglia enfeitiçado, ou ainda as informações referentes à fuga de Sirius Black em PdA. Todas as citações sobre o Profeta ao longo dos três primeiros livros da série preparam o leitor para a verdadeira crítica que J.K. Rowling pretende fazer ao jornalismo em si, que tem início em CdF e toma proporções assustadoras em OdF.

É em CdF que conhecemos a repórter Rita Skeeter e sua pena de repetição rápida. Ao escrever o primeiro artigo sobre o Torneio Tribruxo, Rita mostra os métodos que utiliza para entrevistar sua principal fonte: arrasta Harry para um armário de vassouras e usa a pena de repetição rápida para aumentar cada murmúrio do entrevistado de forma a deixar a história bem mais dramática. Durante todo o Torneio, Rita publica notícias mentirosas no Profeta Diário, dando enfoque à participação de Harry e aos seus relacionamentos e sentimentos. Rita erra ao se meter com Hermione, publicando uma notícia que dizia que ela estaria brincando com os sentimentos de Potter e Vitor Krum. No fim de CdF, Hermione descobre que Rita é um animago ilegal, um besouro que consegue estar em Hogwarts mesmo depois de ser proibida por Dumbledore. Hermione faz chantagem com a repórter e ela se vê obrigada a parar de escrever artigos para o Profeta Diário para não ser denunciada ao Ministério da Magia.

Sem Rita o Profeta não melhora em OdF, como era de se esperar. Pelo contrário. O jornal encerra CdF sem publicar nada sobre a morte de Cedrico Diggory durante a última tarefa do Torneio Tribruxo. É aí que o jornal sai da era que chamo de imprensa marrom para a era de censura total promovida pelos interesses do Ministério da Magia. Como o colunista João Victor citou tão bem em sua coluna “A Política em Harry Potter”, o fato de Fudge querer desacreditar Dumbledore e o retorno de Voldemort fizeram com que ele instalasse no Ministério da Magia uma espécie de ditadura. Além da nomeação da Alta Inquisidora de Hogwarts, vemos claramente a influência do Ministério no jornal, que só noticia aquilo que é a favor do governo mágico e ainda manipula as notícias para tentar passar a impressão de que Harry é emocionalmente instável e Dumbledore um velho gagá. A imprensa é sempre a principal arma dos governos ditatoriais para manter o povo sob controle.

O Profeta Diário, como muitos jornais brasileiros também fizeram depois que o regime militar perdeu força por aqui, volta a noticiar os fatos depois da batalha da Ordem da Fênix contra os Comensais dentro do próprio Ministério. Afinal, é impossível tentar esconder o retorno de Voldemort. E ao invés de se retratar pelas más reportagens que publicou, o jornal mostra mais uma vez uma atitude digna de imprensa marrom: rouba a entrevista que Harry deu para o Pasquim e a publica meses depois, como se fosse exclusiva. Ou seja, o jornal não se redime nem depois de cometer tantos erros. Igualzinho a imprensa que a gente vê por aí no mundo dos trouxas. Qualquer semelhança NÃO É mera coincidência, pois J.K. Rowling foi brilhante ao criticar a mídia, que hoje é chamada em muitos países de o quarto poder (alusão aos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário).

Numa próxima coluna, volto para analisar a revista O Pasquim, que diferente do Profeta Diário, deu crédito a Harry Potter para que ele dissesse a verdade por trás dos fatos que a imprensa oficial tentava omitir.