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O Pasquim: imprensa livre também acerta.

Nossa colunista, Camila Galvez, continua nossa área de Crônicas, tratando agora a respeito de um assunto não muito discutido, porém importante, sobre o papel da imprensa em Harry Potter.

Análise sobre o Pasquim, veículo de divulgação não tão grande quanto o Projeta Diário, mas crucial para a trama da série. Não percam!!!

Você pode conferir a coluna completa aqui.

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O Pasquim: imprensa livre também acerta
Por Camila Mediotti

Prometi voltar em uma outra coluna para uma análise de O Pasquim, revista meio alternativa do mundo bruxo, cujo pai de Luna Lovegood é o editor. Muitos criticaram a outra coluna em relação ao abordado sobre este veículo, e eu agradeço os valiosos comentários. Para esclarecer, O Pasquim vendeu (e não roubou, como escrevi) a entrevista concedida por Harry Potter para o Profeta Diário. Luna e o pai viajaram para a Suécia para tentar encontrar um bufador de chifre enrrugado, conforme constatei nas pesquisas de OdF para escrever essa coluna. Mesmo assim, a atitude do Profeta Diário em publicá-la como exclusiva mostra o quanto o jornal se preocupa com a quantidade de exemplares que vende, não com a verdade. Afinal, a entrevista não era exclusiva, pois fora publicada meses antes pela revista do pai de Luna.

Mas estou aqui para escrever sobre O Pasquim. É fácil criticar um veículo como este, que publica assuntos que são muitas vezes fantasiosos para a grande maioria do público leitor. Mas tenho que ressaltar: quem lê O Pasquim no mundo bruxo não costuma acompanhar o Profeta Diário e vice versa. São tipos de leitores diferentes que se interessam por estes veículos. No nosso mundo, O Pasquim seria chamado de imprensa livre. Sua principal característica é a compra de artigos. Sabemos disso quando, em OdF, Hermione obriga Rita Skeeter a escrever a entrevista com o Harry. Luna explica que os colaboradores do Pasquim escrevem os artigos e seu pai os compra, sem no entanto pagar nada por eles. Ela diz que é apenas pelo prestígio de verem seus textos publicados na revista.

Vale esclarecer que artigo e notícia são dois tipos diferentes de escrever, de acordo com a teoria do Jornalismo. Um artigo é um texto que exprime a opinião do autor e é assinado por ele. Portanto, todo o conteúdo é de responsabilidade de quem escreve, sem refletir a opinião do veículo que publica. Claro que, na prática, veículos jornalísticos só publicam artigos que batam com a opinião do dono. É uma questão de lógica. E um detalhe: o autor do artigo não precisa necessariamente ser um jornalista, há vários artigos científicos como exemplo. Agora, notícia é um texto escrito por um repórter, autônomo ou não, que recebe para isso e se submete ao jornal onde trabalha. Rita, apesar de ter sido demitida do Profeta Diário, não queria escrever para O Pasquim porque, primeiro, era um veículo que ela julgava ruim. E segundo porque ela era uma repórter, queria ganhar pelo serviço prestado à revista.

Com a chantagem de Hermione, no entanto, Rita acaba por escrever o artigo em que Harry conta a verdade sobre a volta do Lorde das Trevas. A entrevista acaba por se tornar uma notícia, pois traz a tona a realidade que a imprensa oficial (leia-se Profeta Diário) tentava esconder do mundo bruxo. Mas outros artigos, como o dos Chifres Bufadores e o do Sirius Black (que afirmava que ele era Toquinho Boardman), são em sua maioria baseados em informações de uma única fonte, no caso o próprio autor do texto. Como um veículo jornalístico, O Pasquim pode apresentar problemas na qualidade da informação. Mas como veículo de entretenimento, para o público ao qual é voltado, ele é bastante apreciado.

Apenas um veículo como O Pasquim daria a Harry a oportunidade de se manifestar e expor ao mundo bruxo o que realmente aconteceu no fim do Torneio Tribruxo e durante o período que a ele se seguiu. Com o controle do Ministério da Magia sobre o Profeta Diário, sobra espaço para a atuação da imprensa livre na obra de J.K. Rowling. O Pasquim, que faz parte desse tipo de imprensa que valoriza a liberdade de expressão, pode falhar muitas vezes. Mas o senhor Lovegood não é bobo. Como editor, ele sabia que as informações referentes a Harry Potter dariam ibope e fariam sua revista vender mais. Mas acredito que o pai de Luna não fez isso por dinheiro, pois apesar de esperar um aumento nas vendas, ele não tinha como prever que a edição esgotaria. Acho que por mais estranhos que os Lovegood possam ser, eles acreditavam na história de Harry. Tanto que Luna lutou com ele no Ministério e fazia parte da AD não apenas porque era amiga de Gina, mas porque queria aprender a se defender. E por acreditar na história de Harry é que o senhor Lovegood preteriu outros artigos que poderiam interessar mais o público leitor da sua revista para publicar a entrevista sobre o retorno de Voldemort.

É cada vez mais comum no mercado editorial do mundo que veículos pequenos sejam responsáveis por grandes denúncias. E destaco principalmente o fenômeno eletrônico de blogs como fonte de notícias. Muitos acontecimentos, investigações e denúncias chegam hoje para nós por meio da internet. Basta citar o Potterish como um exemplo, em sua recente entrevista exclusiva com a tradutora Lia Wyler. Só que é necessário aprender ainda a separar o que é verdade do que é apenas divulgado para causar polêmica. Como isso só se aprende com o tempo, a tendência é de que os veículos de imprensa livre, tanto online quanto impressos, se especializem cada vez mais e melhorem a qualidade daquilo que publicam. Talvez isso se aplique algum dia também ao Pasquim, que de uma forma ou de outra, prestou um grande serviço a comunidade mágica.