Filmes e peças ︎◆ O Enigma do Príncipe

Críticas de EdP: The Guardian e The Shiznit

Agora faltando exatos 10 dias para a estréia da sexta adaptação cinematográfica da franquia, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, está se tornando comum a divulgação de críticas sobre ele. Após o extenso set report, o The Guardian publicou uma crítica.

Eles falam da mudança na data inicial de lançamento do filme e do auge da rivalidade entre Harry Potter e Draco Malfoy, sem esquecer da importância de uma memória do professor Slughorn e o forte “ar de romance”.

Muitos irão corar, balbuciar ou beijar. Harry irá beijar Gina Weasley? Rony, é esperto o suficiente para entender que… bem, não se trata somente de cérebro. As mãos…

Já o The Shiznit publicou a primeira crítica negativa do novo longa, classificando-o com três estrelas em uma escala que vai até cinco. O texto na íntegra possui inúmeros spoilers, mas confiram um trecho limpo abaixo:

Se você é um fã, com certeza encontrará algo para reclamar; o mesmo se você é um crítico; mas para a escassa quantidade de pessoas que querem apenas ir ao cinema para assistir a um filme divertido e interessante, você poderia arranjar um bem pior do que “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”.

Confira a tradução na íntegra de ambas resenhas clicando em Notícia Completa.

HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE
The Guardian ~ Andrew Pulver
04 de junho de 2009
Tradução: Iago Sales

Como em James Bond, os filmes de Harry Potter continuam explodindo imune ao mundo exterior cinematográfico e seguros em um universo de quadribol, trouxas, inferi e comensais da morte. Eles possuem sua fonte material perfeitamente equipada, desde o primeiro dia, cada um chega regularmente como um “baque” em cada ano, ou alguma coisa assim, desde 2001, atingindo quase um estatuto institucional que tem escapado das adaptações de Nárnia.

No entanto, houveram mudanças nesta sexta etapa da série, começando pelos transtornos em relação à data de estréia, que foi adiada de sua data original, que anteriormente seria em novembro do ano passado. Todos acham que algo não está bem. Harry Potter e o Enigma do Príncipe foi adaptado do penúltimo livro da série de Harry Potter, escrita por JK Rowling, mas os produtores estão desesperados para não comprometer o seu fluxo de informações, assim como o do último livro, Relíquias da Morte, que será dividido em duas partes.

No entanto, há poucos argumentos para sugerirmos que eles deixaram algo para trás na franquia Potter. O estudante – que freqüentará Hogwarts até seus 17 anos – e lutará com o loiro esquelético Draco Malfoy contra uma missão cuja Voldemort indicou a ele. O maior trunfo de Hogwarts contra ele é Horácio Slughorn, interpretado por Jim Broadment. A mente de Slughorn possui uma memória de Voldemort dos tempos de escola, e Harry precisa extraí-la.

Muitos irão corar, balbuciar ou beijar. Harry irá beijar Gina Weasley? Rony, é esperto o suficiente para entender que… bem, não se trata somente de cérebro. As mãos, ficam acima da cintura o tempo todo.

Por mais insinuante que tudo isso possa ser, o que ele realmente faz é deixar as fraquezas maiores em alto relevo: a maquiagem do filme pode (e faz) controlar tudo – exceto como o bonitinho juvenil que irá crescer. Ainda assim, o diretor David Yates sabe exatamente como jogar todas as cartas. Embora um pouco desajeitado, o seu filme é solidamente construído, com muitos efeitos especiais. Como Potter se aproxima cada vez mais da sua luta final com Voldemort, as batalhas começarem a transparecer muito “O Senhor dos Anéis”, será uma desvantagem; isso já foi testado e experimentado na linguagem cinematográfica, e faz tudo o que precisa.

Críticas de EdP: The Guardian e The Shiznit

HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE
The Shiznit ~ Ali
03 de junho de 2009
Tradução: Sylvia Souza

Primeiro, uma confissão: eu não li os livros da série Harry Potter. Vamos lá: me levem lá para fora e atirem em mim. Eu assisti aos filmes e os aproveitei como passatempos, mas nunca me senti obrigado a comentar, sendo que eles são tão obviamente direcionados para os fãs mais radicais – tentar fazer uma resenha deles seria como fingir torcer por um time de futebol cujos jogos não acompanho. No entanto, nós estamos no sexto filme de uma franquia gigantesca que englobou a totalidade da indústria de filmes britânica, então talvez seja hora de dar a “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” seus devidos créditos. Apenas não me cace e mate se discordar de mim; ainda estou lutando contra os nerds de Crepúsculo.

Encontrar seu meio-termo no universo Potter é complicado; É bastante óbvio que os livros de JK Rowling estão cheios de detalhes e tramas complexas, subtramas e sub-subtramas, as quais nem todas podem ser espremidas dentro dos filmes. É uma situação “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” – estufar cada sentença dos livros e se arriscar a romper as bexigas dos espectadores; pular as partes não essenciais e se arriscar a ser esfaqueado até a morte por um gorducho revoltado de uns trinta-e-uns anos vestido em vestes de bruxo e chapéu pontudo. Perde-se sempre.

Por conseqüência, “Enigma do Príncipe” sofre com os mesmos problemas dos filmes anteriores – há muita coisa acontecendo mas ao mesmo tempo parece um pouco vazio. Há muito a ser apreciado, certamente, mas exige uma vontade de ferro para aguentar até o fim. A primeira hora é uma experiência de energia concentrada, para dizer o mínimo. Depois de um morno ataque de Comensais da Morte na Millennium Bridge (o jornal sugere uma grande quantidade de mortes, embora não haja ninguém nela no momento), o filme se encaminha para um rastejar, tentando arranjar humor nas confusões amorosas dos alunos de Hogwarts. Harry ama Gina; Rony ama Hermione; Dumbledore ama Harry (eu espero não ter sido o único a detectar um aterrorizante clima de “padre e coroinha” em seu relacionamento). É como um episódio de Hollyoaks, mas com magia. Você poderia cortar 20 minutos da primeira seção do filme – a partida de Quadribol incluída – que ninguém, a não ser o gorducho virgem já citado acima, iria sequer notar.

As coisas se ajeitam assim que a história de verdade toma um tranco e volta à vida com a aparição de um Tom Riddle (Voldemort Jr) com 16 anos, cuja simples presença dá a Enigma do Príncipe um clima real de suspense. Embora esse evento ocorra somente após mais ou menos 1h30m de filme, dá início a uma série de excelentes seqüências, as que mais se destacam sendo uma anormal cena de possessão e a visita de Harry e Dumbledore a uma escura e encardida caverna na procura de uma Horcrux. É muito assustador, mas sempre em contato com o mantra “deveria-ser-mais-sombrio” da franquia, que consegue uma classificação para maiores de 12 anos a cada filme da série – uma cena rápida de chute no rosto provocou uma arfada na jovem platéia da qual eu fazia parte.

Os Comensais da Morte trazem uma ameaça genuína quando estão em cena (Helena Bonham-Carter está novamente impecável como Belatriz Lestrange) e seus movimentos quando em vôo, como tinta negra na água, são bem fascinantes. Você vai desejar que todo o filme tivesse sido feito com cenas assim; o diretor David Yates adequadamente traz as criativas cenas de Rowling à vida, mas você não pode deixar de se perguntar o que Alfonso Cuaron – ou até mesmo alguém como Guillermo Del Toro – poderia ter feito com o mesmo material.

O jovem elenco é algo como uma pedra no sapato do filme – é fácil esquecer como são inexperientes: tudo que eles conhecem é Harry Potter. Daniel Radcliffe, aparentemente destinado a ser o Mark Hamill da série, tem um papel despreocupado como “O Menino que Sobreviveu”. Considerando que ele é o escolhido, ele parece flutuar bastante, movendo de cena a cena sem uma direção definida – em um determinado momento Dumbledore até exige “faça como eu digo sem questionar”, passando longe do que os heróis de verdade são feitos. As poucas e curtas ocasiões em que Harry mostra autoconfiança (“Mas EU SOU o escolhido!”) são os melhores momentos de Radcliffe.

Emma Watson tem menos com o que trabalhar como Hermione exceto estar atraente em um vestido de Gala. Ela seria mais tolerável se não sustentasse uma mortificada carranca do início ao fim – é o “Blue Steel” dela. Bizarramente, isto coloca o pálido Rupert Grint na posição de destaque entre o trio principal, encharcando as cenas cômicas com uma surpreendente facilidade, seu Rony sendo menos lerdo e mais encantador do que o esperado. (Uma nota breve sobre a Luna Lovegood, interpretada por Evanna Lynch: suas falas são desengonçadas e seu tempo em cena é mínimo, mas sua performance é absolutamente fantástica. Em determinado ponto, ela aparece do nada usando uma cabeça de leão gigante por aparentemente motivo algum, e ela fala como se estivesse completamente nas nuvens algumas vezes. Mais dela, por favor.)

Não estando familiarizado com os livros de Rowling, é difícil dizer se o entediante script é coisa dela, mas as piadas não-físicas de “Enigma do Príncipe” raramente convencem – uma cena mostra Watson rindo por uns bons 20 segundos de uma piada capenga sobre a idade de Dumbledore. Em outra parte, a sincronia não está perfeita – muito freqüentemente o elenco almeja uma “pausa dramática”, mas o resultado é mais parecido com um “peido ao vento”. E mais, “Enigma” contém uma quantidade de pontos estratégicos na trama que está destinada a ser desperdiçada em um trouxa como eu – ou isso ou Rowling apenas não consegue escrever um drama realmente bom. Muito freqüentemente, o filme usa “magia” como uma desculpa para sair do canto em que meteu a si mesmo – uma vez que você estabelece que qualquer coisa pode acontecer no universo, muito pouco espaço é deixado para o mistério. Exemplo: Rony sufoca após ingerir veneno acidentalmente. Harry procura dentro de uma gaveta, joga algo dentro da boca de Rony e o salva. “Graças a Deus você usou o bezoar,” entoa Dumbledore. Graças a Deus de fato. E é isso. Fim da crise.

O relacionamento de Harry com a magia me lembra o relacionamento de James Bond com Q: “Preste atenção, agente Potter – talvez você precise usar este feitiço para sair de uma situação complicada na cena quatro.” Estou certo de que há uma profundidade inerente que um íntimo conhecedor dos livros entenderia, mas hey – nem todos nós podemos ler. É um filme sombrio em cada aspecto – talvez um acidente de percurso na literatura Potter pudesse colorí-los um pouco mais.

Diferente dos filmes 4 e 5, no entanto, “Enigma do Príncipe” finalmente parece estar se encaminhando para algo grandioso. A ausência de Voldemort é lamentavelmente sentida, mas o clímax – o qual você fez bem em evitar saber antes de ver – aponta o que com certeza é um prelúdio de um último episódio (ou dois episódios, sendo que “Relíquias da Morte” será dividido em dois filmes). Quando você se acostumou com a prosa envolvente de Rowling e peneirou por entre o que parece ser cenas intermináveis de enfadonho sofrimento adolescente, o núcleo da história de Potter é na verdade bem cativante. Ao menos é bem mais do que uma chata analogia para abstinência.

Se você é um fã, com certeza encontrará algo para reclamar; o mesmo se você é um crítico; mas para a escassa quantidade de pessoas que querem apenas ir ao cinema para assistir a um filme divertido e interessante, você poderia arranjar um bem pior do que “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”. E isso, meus amigos, é o que você chama de uma embromação de 1,200 palavras.