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Katie Leung sobre a vida após Harry Potter

A atriz Katie Leung, que interpretou Cho Chang nos filmes de Harry Potter, concedeu uma entrevista interessante ao Jornal The Herald Scotland . Dentre os temas abordados pela atriz está sua vida após Harry Potter e como o contato com os fãs a fortaleceu muito. Além disso, Katie discutiu sobre seus outros trabalhos em séries, como Run do Canal 4 além de possuir, agora, duas graduações:e em drama e fotografia. Katie Leung relembra como foi entrar nos sets de Harry Potter e de como se sente nos dias de hoje em relação a isso.

“Eu era tão inocente e ingênua,” diz ela, refletindo sobre seu papel importante com seu companheiro de Hogwarts, Radcliffe. “Acho que eu me dei permissão para apreciar o momento de ser uma adolescente, parte dessa grande franquia e não ter uma preocupação de verdade no mundo. Se eu tivesse a oportunidade de voltar e reviver tudo, eu provavelmente tentaria absorver tudo ao meu redor um pouco mais.”

Uma década depois e Leung se mostra grata pelo contato que possui com os fãs mesmo em eventos que não são relacionados a Harry Potter:

“Eles vêm ver minhas peças e entram em contato através das redes sociais. Quando eles vão a algo que não é relacionado a Potter eu fico muito animada. Eles me dão tanto suporte e eu sou grata por isso.”

No entanto, apesar de estar bem, Katie Leung afirma que nem sempre é assim. Muitos a apoiam e demonstram carinho, porém, há uma parcela de fãs que, inclusive, criou a campanha “Eu Odeio Kate” tudo por conta de seu papel das telas de Harry Potter, ou seja, seu contato amoroso com Radcliffe.

“Eu não pensava muito nisso. Eu não sei se era o melhor método de lidar com isso, mas foi o que eu fiz naturalmente para seguir em frente e ser uma boa atriz.”

Você pode conferir a entrevista completa, traduzida pela nossa equipe, no modo notícia completa.

Katie Leung sobre a vida após Harry Potter a batalha contra estereótipos racistas
The Herald Scotland – Por Susan Swarbrick
Traduzido por Morgana dos Santos e Rodrigo Cavalheiro em 18/02/2016
Revisado por Anna Constantino em 21/02/2016

Vamos fazer uma pausa para relembrar icônicos beijos cinematográficos: Burt Lancaster e Deborah Kerr, com seus membros entrelaçados em “A um Passo da Eternidade”. Uma Audrey Hepburn molhada de chuva e George Peppard em “Bonequinha de Luxo”. A beijo de espaguete em “A Dama e o Vagabundo”. O beijo de ponta-cabeça arrepiante em “O Homem-Aranha”. Um beijo adolescente entre Daniel Radcliffe e Katie Leung de “Harry Potter”.

Leung tinha apenas 16 anos quando ela aterrissou no papel de Cho Chang na franquia de filmes quebradores de recordes baseados nos livros de JK Rowling. A adolescente de Motherwell foi escalada após seu pai ver o anúncio para a escalação de elenco de Harry Potter e o Cálice de Fogo. Leung foi selecionada em mais de 3.000 aspirantes e atiradoras de estrelado.

Avançando para o dia de hoje, Leung está sentada em um hotel em Glasgow parecendo adoravelmente com um filhote de veado em frente a um farol de carro. O que fosse que eu estivesse esperando de uma jovem mulher que ficou mundialmente famosa em sua adolescência, certamente não era isso. Estrelismo, talvez. Ostentação. Até mesmo estúpida. Leung não é nenhuma das alternativas anteriores.

Ela entrou timidamente na sala alguns momentos mais cedo, pedindo desculpas por seu traje simples para um ambiente tão requintado como o Hotel “du Vin at One Devonshire Gardens”. Linda como uma flor, Leung aparenta ser muito mais jovem que 28 anos. Ela tinha um rosto aberto e expressivo e sobrancelhas animadas que se erguiam como pontos de exclamação enquanto ela falava.

“Eu era tão inocente e ingênua,” diz ela, refletindo sobre seu papel importante com seu companheiro de Hogwarts, Radcliffe. “Acho que eu me dei permissão para apreciar o momento de ser uma adolescente, parte dessa grande franquia e não ter uma preocupação de verdade no mundo. Se eu tivesse a oportunidade de voltar e reviver tudo, eu provavelmente tentaria absorver tudo ao meu redor um pouco mais.”

Uma década se passou desde que Cho Chang beijou Harry. Nos anos que se passaram, Leung completou duas graduações (em fotografia e drama) e acumulou uma série de papeis envolventes como uma imigrante chinesa ilegal na série Run do Canal 4 e mais recentemente interpretando uma defensora Norte Coreana na peça “You for Me for You” [Você para Mim para Você, em tradução livre] no Royal Court Theatre em Londres.

Leung aparecerá em nossas telas no drama da BCC, “One Child” [Filho Único, em tradução livre], que estreia essa semana. Em três episódios de uma hora,

ela interpreta a protagonista, Mei Ashley, uma estudante de astrofísica que mora em Londres que foi adotada enquanto bebê em um orfanato chinês por um casal Britânico-Americano.

Um dia, Mei recebe uma mensagem de sua mãe biológica, que ela nunca conheceu, pedindo ajuda urgente. O irmão de Mei foi injustamente acusado de assassinato e está encarará a pena de morte. O conto poderoso se passa em Guangzhou nas sobras da política controversa de filho único da China.

O bruto método de controle populacional foi introduzido em 1978 e terminou apenas no ano passado. As histórias de quem foi afetado, diz Leung, é uma leitura sombria: “Eu lembro de ouvir muito sobre isso quando era mais nova e pensar: ‘Que bosta, isso é injusto,’ mas não foi até eu começar a pesquisar para a série que eu descobri o quão horrível era,” diz ela. “É incrível que isso foi retirado agora”.

One Child foi gravado no Reino Unido e em Hong Kong, o último onde Leung tem grandes laços. Seu pai Peter nasceu na cidade e é onde sua mãe, Lar Wai Li, vive ainda hoje. “Eu conheço bem Hong Kong, especialmente onde filmamos Tai Po,” diz ela. “Eu me sinto nostálgica estar aqui. Eu vou e volto para lá desde que nasci. Minha avó tem um apartamento lá também. É quase como um lar”.

“Durante minha adolescência eu gostava muito de fazer festa. Hong Kong é um ótimo lugar para festa. Eu gostava do clima e era movimentado, com muita cultura. Eu fui quatro vezes em um ano o que é uma loucura já que é um vôo de 16 horas da Escócia”.

Embora muitas vezes tachada como uma garota nascida e criada em Motherwell, Leung teve um crescimento mais nômade. “Eu nasci em Dundee, vivi em Ayr, então Hong Kong por uns 6 meses, depois Hamilton e Motherwell,” ela diz, contando todos nos dedos. “Eu estava onde o trabalho do meu pai o levava, na maior parte dos casos. Eu estudei fotografia na Universidade de Arte de Edimburgo, então me mudei para Glasgow para estudar teatro no Conservatório Real da Escócia.”

Leung ainda chama Glasgow de casa, dividindo um apartamento no centro da cidade com seu namorado Eric, de 26 anos, que é um bom amigo de seu irmão mais novo, Jonathan. Seus pais se divorciaram muitos anos atrás, e seu pai, que é dono de uma empresa de venda atacada de comida chinesa, se casou novamente. Leung tem três meio irmãos, Nichole, de 16 anos, Darren, de 14 e Will, de sete (“o bebê da família”, ela diz, com um sorriso afeiçoado).

Ela mantém seguidores leais desde que estrelou nos filmes de Harry Potter (ou “Potter”, como Leung se refere à franquia). “Tem sido incrível por causa dos fãs que eu tive a oportunidade de conhecer e amar desde o início e que estão comigo durante toda minha carreira”, ela diz. “Eles vêm ver minhas peças e entram em contato através das redes sociais. Quando eles vão a algo que não é relacionado a Potter eu fico muito animada. Eles me dão tanto suporte e eu sou grata por isso.”

Não que toda a base de “Potterheads” tenha aceitado Leung. Há um contingente fervoroso que, com inveja de sua interpretação do interesse amoroso de Radcliffe em Harry Potter e a Ordem da Fênix, criaram uma cruel campanha de ódio que incluiu criar um site de “Eu Odeio Katie” para postar comentários sarcásticos e geralmente racistas.

Eu fiquei curiosa sobre como Leung lidou com isso: ela precisou se acostumar rapidamente? “Olhando para trás, eu não lembro muito bem sobre isso pois eu estava em negação sobre o que estava acontecendo” ela admite. “Eu não pensava muito nisso. Eu não sei se era o melhor método de lidar com isso, mas foi o que eu fiz naturalmente para seguir em frente e ser uma boa atriz.”

“Eu estava sendo julgada somente pela minha aparência pois ela, [Cho Chang], deve ser uma garota muito bonita. Isso tudo aconteceu antes mesmo dos filmes serem lançados. Eu pensei: ‘Bem, eu não posso fazer nada sobre minha aparência, então eu precisarei atuar muito bem para compensar.’”

Isso não pode ter sido fácil. Meros mortais teriam deitado em posição fetal e chorado. “Especialmente aos 16 anos”, ela admite, “mas eu olho para trás e fico muito impressionada em como eu lidei com isso”.

One Child é um drama enérgico em que Leung parece ter prosperado em combater um papel pesado. “Eu tenho sido sortuda o bastante para estar em projetos em que eu consigo sensibilizar as pessoas,” ela diz. “Parece que eu interpretei vários personagens cujas histórias não foram contadas na imprensa, gente que é um pouco invisível demais na sociedade, quase como fantasmas.”

Ela admite que o nicho pode ser uma faca de dois gumes. Depois de interpretar um monte de personagens marginalizados nos anos recentes, Leung teme ser rotulada. “Eu acho que qualquer ator quer se desafiar e fazer quantos papéis diferentes quanto possível,” ela diz. “Embora tudo o que eu tenha feito até agora tenha sido específico à raça, cada personagem tem sido completamente diferente.”

“Eu realmente tenho aproveitado tudo o que eu fiz, mas seria legal interpretar um personagem que não tem a ver com a cor da minha pele porque eu acho que é o único jeito em que as pessoas em que as pessoas vão assistir uma pessoa chinesa na televisão e ver que eu não sou uma imigrante ou alguém que fala com um sotaque engraçado. Se eu pudesse ser apenas quem eu sou, interpretar uma versão de mim, isso ajudaria a sumir com a ignorância.”

É um assunto que ecoa com o discurso de Lenny Henry nos prêmios Bafta de 2014, onde ele falou sobre a “apavorante” falta de diversidade na televisão. Esse é um assunto sobre a qual Leung se sente completamente igual. “Se nós não estamos representando o que é a vida real em nossas telas, então as pessoas continuarão na ignorância, serão preconceituosas e manterão os estereótipos”, ela diz. “Sempre pode melhorar e nós definitivamente não estamos nem perto do ideal.”

A recente algazarra em alguns cantos das mídias sociais sobre a Noma Dumezweni, uma atriz de linhagem sul-africana, ser escalada para interpretar Hermione Granger na produção teatral de Harry Potter and the Cursed Child [Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, em tradução livre] – com estreia prevista para Julho no Palace Theatre, em Londres – é um exemplo.

Leung está ansiosa para ver Dumezweni no papel. Como se verifica, ambas tiveram temporadas juntas no Royal Court Theatre quando Leung fazia “You for Me for You” e Dumezweni estava na peça Linda, tendo entrado no lugar de Kim Cattrall quando a estrela de “Sex and the City” foi forçada a sair devido à razões médicas apenas quinze dias antes da estreia da peça;

“Essa era a peça na parte de baixo e nós estávamos na parte de cima”, diz Leung. “Eu ouvi tantas coisas maravilhosas sobre Noma e sobre como ela maravilhosamente entrou nos últimos segundos. Eu a vi nos corredores algumas vezes. Eu fiquei estática quando eu fiquei sabendo que ela interpretaria Hermione.”

Leung diz que ficou encantada ao ver o suporte que Dumezweni recebeu de JK Rowling, que se mexeu rapidamente para acabar com qualquer debate, postando no Twitter: “Canon: olhos castanhos, cabelo crespo e muito esperta. Pele branca nunca foi especificada. Rowling ama a Hermione negra.”

O que é exatamente o que deveria ser. Leung dá os ombros quando eu menciono o caso da comediante escocesa Janette Tough, famosa pelo The Krankies, ser escalada para interpretar uma estilista japonesa, fazendo um yellowface em Absolutely Fabulous: the Movie [Absolutamente Fabulosa: o Filme, em tradução livre].

“É errado”, ela diz, suas sobrancelhas se apertando. “Eu não sei exatamente a razão pela qual é pior para as pessoas fazerem um blackface do que um yellowface – são exatamente a mesma coisa. Estamos no século XXI e isso não deveria acontecer agora.”

“Eu não sei o motivo de ser engraçado – eu não acho engraçado. É algo que eu gostaria que desaparecesse. Eu lembro de assistir Bonequinha de Luxo quando criança e ver o personagem de Mickey Rooney [Sr. Yunioshi]. Ele me fazia sentir vergonha de ser chinesa, vendo basicamente fazer graça dos chineses.”

“Eu odiaria que outras crianças vissem algo como isso na televisão e sentissem vergonha de sua própria cultura ou de quem são. Eu não acho que é algo que deveria estar acontecendo.”

Leung fala francamente sobre sofrer racismo casual em sua vida. “Há pessoas que são racistas subconscientemente e não percebem”, ela diz. “Se eu estou num táxi e me perguntam: ‘Para onde?’ e eu digo: ‘Eu vou para o aeroporto’, eu já tive que ouvir o motorista dizer: ‘Oh, seu inglês é muito bom…’”

Ela concorda enquanto minha boca cai. “Esse tipo de coisa ainda acontece”, ela diz. “Não aconteceu muito tempo atrás. Você tem que aguentar estranhos vindo e dizendo a única palavra em japonês ou chinês que eles sabem, tipo ‘ni hao’ ou ‘konnichiwa’.”

“Acontece na rua ou numa noite fora num bar. É sexista e racista, na verdade. É algo que precisa ser abordado, mas poderia ser consertado através de mais diversidade em nossas telas.”

Leung, no entanto, não foi imune de deixar o veneno de um estereótipo tão negativo ser absorvido em sua vida, relembrando de sua ansiedade em ser primeiro papel de Shakespeare, interpretando Portia em O Mercado de Veneza no Conservatório Real da Escócia.

“Eu me lembro de falar para um dos meus colegas na escola de teatro que eu não achava que seria capaz de fazer nada de Shakespeare, porque eu era chinesa”, ela diz. “Eu achava que eu não conseguiria fazer num papel shakespeariano simplesmente por causa da cor da minha pele”.

“Mas meu colega ficou tipo: “Fica quieta’. Isso me deu o empurrão de que eu precisava. Eu percebi que eu estava me limitando quando era capaz de fazer muito mais”.

Um tempo após os filmes de Harry Potter, Leung não estava certa sobre continuar uma carreira de atuação e considerou uma carreira como fotógrafa. “Eu amo fotografia mas eu estou grata de atuar”, ela diz. “Prova que se você se focar e trabalhar duro, algo vai dar certo – as vezes só precisa de um empurrão dos amigos e da família.”

Discutindo seus hobbies fora do trabalho faz com que Leung – uma fã confessa de vídeo games – solte uma gargalhada envergonhada. “Meu Deus, eu sou tão entediante”, ela diz, com um revirar de olhos de desculpas. “Eu gasto a maior parte do meu tempo jogando Call of Duty”.

“Eu costumava ter um headset quando eu jogava contra meu irmão e seus amigos [online], mas agora um de seus amigos [Eric] é meu namorado, então nós moramos juntos e jogamos juntos – não precisamos mais dos headsets”.

Ela pinta um feliz retrato da vida em casal. “Nós assistimos muito a Netflix e a Amazon Prime, bebemos vinho tinto e comemos queijo em nossos pijamas. Há muito chocolate envolvido”, diz Leung. “Nós queremos um cachorro, mas estamos esperando até conseguir um lugar legal com um bom parque por perto”.

E o que Katie fará a seguir? Tendo falado animadamente sobre seu amor por atuar nos palcos e um papel num filme (ainda sem nome), o rosto de Leung se torna nebuloso quando perguntada se há algo que ela recusaria totalmente. “Cada vez mais quando eu vejo um roteiro que precisa de um sotaque chinês de qualquer tipo, eu hesito um pouco”, ela diz. “Obviamente eu não posso recusar apenas por isso, mas eu estou hesitante”.

Leung exala uma resiliência de aço e um otimismo ensolarado – uma combinação provavelmente incompatível, mas aparentemente vencedora. “Perseverança é importante. Rejeição é a maior coisa a ser superada, mas acontece a todos os atores”, ela diz. “Não fica mais fácil, mas você aprende a apreciar todas as negativas – e os trabalhos quando chegam. Eu estou aprendendo a apreciar tudo que vem até a mim”.

One Child estreia na BBC Two nesta quarta-feira às 9h. Obrigada ao Hotel Du Vin no One Devonshire Gardens, Glasgow (hotelduvin.com).