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[ATL] Em entrevista à BBC, Rowling revela que poderá escrever mais livros envolvendo o mundo bruxo

Hoje, dia 26, foi transmitido no canal britânico BBC News a entrevista de J.K. Rowling ao editor artístico da BBC, Will Gompertz, concedida para divulgar o novo livro da autora, “The Casual Vacancy”, que será lançado no dia 27, amanhã.

Confira exclusivamente a entrevista legendada logo abaixo:

Na entrevista feita no escritório da escritora na cidade de Edimburgo, na Escócia, Rowling confessou que poderá escrever mais histórias envolvendo o mundo bruxo, talvez sobre um casal da família Potter, mas não forçará para criar tais livros apenas para vendê-los, só os escreverá caso tenha uma grande ideia.

A autora também revelou achar que seu próximo livro será para crianças menores do que os leitores da série “Harry Potter”. E que está tentada a criar uma “versão do diretor” (edições reformuladas) de dois livros da série “Harry Potter”, que seriam editados pela mesma.

Além disso, a conversa entre Joanne e Gompertz também contou com outros assuntos, como seu livro “The Casual Vacancy”, a série “Breaking Bad” e o escritor Charles Dickens e as semelhanças do novo romance de Rowling com as suas obras.

A transcrição em inglês do vídeo está disponível no site da BBC News, neste link, assim como um artigo escrito por Will Gompertz falando sobre Rowling e a entrevista, que pode ser lida através deste link.

E você pode ler a tradução na íntegra da transcrição publicada no site da BBC News em notícia completa.

THE CASUAL VACANCY
Transcrição da entrevista com J.K. Rowling

BBC
26 de setembro de 2012
Tradução: Juliana Torres
Revisão: Marina Anderi

A autora de Harry Potter, J.K. Rowling, foi entrevistada pelo editor de arte da BBC, Will Gompertz, sobre The Casual Vacancy, seu primeiro romance desde que sua série de sucesso fenomenal, Harry Potter, acabou em 2007.

Aqui está a transcrição dessa entrevista sobre seu livro com temática adulta que ela descreve como um “corte através” da sociedade de uma comunidade de vilarejo.

Quando eu recebi o livro, nas primeiras 30 páginas eu estava pensando “essa é J.K. Rowling, a mulher que escreveu os livros do Harry Potter” e me levou um tempo até atravessar esse processo. Talvez fosse eu e o jeito como eu estava conduzindo isso, mas eu senti que havia certo nervosismo na sua voz autoral no comecinho.
Eu não quero ser arrogante, mas eu não me sentei para escrever esse romance pensando “devo provar algo”. Eu não tinha nada para provar. E eu não quis ser arrogante mesmo, eu não quis dizer que, você sabe, eu não posso melhorar como escritora. Eu certamente não quis dizer que estou num lugar onde me auto-satisfaço.

Mas Harry Potter realmente me liberou no sentido de que só há um motivo para escrever, para mim: se eu genuinamente tenho algo que eu quero dizer e quero publicá-lo. Posso pagar minhas contas, sabe, todos os dias. Sou grata por esse fato e estou ciente disso. Não preciso lançar livros para me bancar.

Nós dois sabemos o que é preciso para escrever um romance, o quanto de esforço, suor e lágrimas são investidos ao escrever um, e eu não poderia gastar essa quantidade de energia em algo simplesmente para provar que posso escrever um livro com alguns palavrões. Então não, não havia nervosismo – e, novamente, não quero soar arrogante. Eu me senti feliz escrevendo-o, era o que eu precisava fazer.

Já me perguntaram tantas vezes, isso de “você sente que precisa escrever um livro para adultos?” Não, eu não preciso escrever um livro para adultos. Acho que é muito provável que a próxima coisa que eu vá publicar seja para crianças. Tenho um livro infantil que eu realmente gosto, é para crianças um pouco mais novas do que os livros Potter, e penso que provavelmente o próximo vá ser para crianças.

Eu amei escrever para crianças, amei conversar com crianças sobre o que eu escrevi, eu não quero deixar isso para trás. Mas eu também queria escrever isso.

Casual Vacancy tem muitos palavrões e temas adultos, você se preocupa que seus fãs crianças podem entrar num site na internet onde poderão facilmente baixar livros em apenas um clique, e que de repente vão encontrar uma linguagem bem vívida?
Bem, eu espero que tenhamos deixado claro que esse não é um livro infantil.

Eu estive bem aberta sobre os temas, nós conversamos sobre o que são as histórias. Eu imaginaria que os pais têm uma escolha muito clara… Eu teria que perguntar por que seus filhos têm um acesso tão ilimitado à internet sobre os assuntos que estão baixando… Bem, eu estaria mais preocupada com outras coisas que eles poderiam baixar se eles estivessem surfando na internet sem nenhuma supervisão.

Tem algo que lembra Dickens nesse livro.
Eu me sinto muito elogiada! Quando comecei a escrever o livro eu estava ciente que estava fazendo uma versão contemporânea do que eu amo, que seria um romance do século XIX que se passa numa pequena comunidade. Então até um ponto, palavrões a parte, é isso que The Casual Vacancy é. É um romance paroquial – literalmente – atravessando uma sociedade e tudo que isso implica. Era isso que eu queria fazer.

Você aspira a ser o Dickens dessa geração?
Não (risos). Novamente, eu acho que é algo curioso ser eu mesma, porque foi tudo um acidente e então, quando você começa a fazer muito sucesso, as pessoas supõem que foi tudo planejado. Então, não há nenhum pôster motivacional na minha parede dizendo “Seja o próximo Dickens” – bem, porque ele é Dickens. Seria escandalosamente presunçoso dizer isso. Você pode admirá-lo e seguir em frente.

Ao que você aspira como escritora?
Melhorar. Acho que você trabalha e aprende até morrer. Posso fazer com a minha mão o que meu coração diz, eu nunca vou escrever por outra razão além de querer escrever um livro. Raramente eu penso para quem estou escrevendo, exceto que há claramente uma divisão adulto/criança e com certeza meu próximo livro será infantil, se isso for o que eu irei publicar em seguida – ela disse, tentando cobrir tudo.

A única coisa que Potter me deixou foi um pavor enorme de compromisso porque isso veio me corroer frequentemente.

Esse foi seu primeiro romance publicado. Inevitavelmente, ele será vendido aos montes. Vai receber críticas boas, más e indiferentes. As pessoas à sua volta dirão coisas legais sobre ele. Como você vai julgar se foi um sucesso ou um fracasso?
A resposta mais simples é: falando com os leitores. Eu tenho que confessar que, próximo ao final dos livros de Harry Potter, quando a sensação estava quase insana, parecia um monstro fora de controle. Conversar com os leitores realmente traz você de volta para o que deveria ser.

Então ultimamente, as pessoas que têm o livro, que não são pagas para ter uma opinião, são geralmente as melhores referências se você conseguiu ou não fazer aquilo que tentou. Mas você está certo que houve consideração por mim, principalmente sendo publicada outra vez.

Foi muito importante para mim me conduzir à publicação do livro de certa maneira. Eu não quis ter um leilão, eu não queria anunciar que tinha um novo livro e assistir a um frenesi, então foi importante sair de fininho, e encontrar a pessoa certa.

Eu tive uma ótima conversa com David Shelley (da Little, Brown & Co) e eu simplesmente sabia que ele havia entendido o que eu estava fazendo e que estava preparado para não se arriscar, no sentido de que claramente o nome venderia alguns livros, nós todos sabíamos disso. Mas igualmente, se você cair de cara no chão, é uma experiência pública muito maior.

Era importante para mim simplesmente ter um editor que entendesse o que eu estava fazendo e ter uma conversa calma sobre isso antes de me comprometer com quaisquer acordos. E eu encontrei a pessoa certa. David é essa pessoa.

Qual foi estratégia? O que ele disse, como você disse, que fez você sentir, “sim, esse é o cara?”
Eu não posso reproduzir isso. Foi uma conversa muito interessante porque ele não sabia que eu tinha um livro e foram coisas que ele simplesmente disse para mim, não quero ser muito específica porque não quero instruir ninguém mais a dizê-las. Foram coisas que ele disse que eu sabia que mostravam que ele entendia exatamente porque eu estava escrevendo aquilo e o que eu estava fazendo.

O quê, exatamente?
Bem especificamente, ele conhecia os livros de Harry Potter muito bem. Nós tivemos certas conversas sobre caracterizações e temas políticos.

Eu não havia dito que tinha escrito um livro para adultos (mas) ele começou a falar sobre “por que você não está escrevendo?”, e então tivemos uma conversa inteira sobre o fato de eu, na verdade, estar fazendo isso.

Então ele acreditou em você como escritora?
Sim, mas foi mais que isso.

Vou colocar dessa maneira: quando ele leu o livro, ele apontou certas coisas sobre o livro que eram as que eu mais queria que alguém notasse. Eu simplesmente sabia que era a pessoa certa. É algo muito intangível. É como se apaixonar profissionalmente, sabe? E quando isso acontece, algo encaixa e você sabe que está em boas mãos.

Quão envolvido ele estava na edição do livro?
Certamente fizemos alguns cortes. Eu decidi mudar algumas coisas, ele fez ótimas sugestões. O livro é de forma geral o que era antes de eu entregá-lo a David. Eu não o mudei muito, mas o que foi mudado amarrou tudo, que é o que você quer.

Você o criou de uma maneira parecida com seus romances Potterianos – você fez muita pesquisa e descreveu seus romances por elas?
Sim, eu fiz isso. Eu sempre sei muito mais do que preciso. Eu tenho a história de todos os personagens que eu não precisava. E, de fato, uma parte disso estava no romance e tive que tirá-la. Simplesmente preciso saber muito mais do que o leitor.

Se ele se sair bem, vamos ouvir e ver mais das mesmas personagens?
Não – ela disse com enorme alívio – esse será definitivamente um livro só. Eu amei escrevê-lo, mas é uma história discreta. Não estou inclinada a transformá-lo numa série.

Parece-me incrível que você, como escritora, tenha criado um portfólio de personagens com quem milhões se identificaram, talvez até mesmo bilhões de pessoas. E essas personagens têm ainda mais história neles. Certamente a bondade, como escritora, seria não abandoná-los.
A despedida foi um assassinato. Mas realmente, no que a história de Harry diz respeito, eu estou satisfeita. Se eu fosse continuá-la seria algo arrastado e eu não tenho isso em mim.

Claramente havia um apetite por oito, nove, dez, e eu poderia tê-lo feito. Eu sei tanto sobre aquele mundo que sair e voltar para ele é como passar pela minha porta de casa. Mas eu tinha história suficiente para sete romances, e ir adiante seria só pelo dinheiro. Não podia fazer isso. E foi por isso que eu fiz aquele epílogo. Porque o epílogo diz que ele leva uma vida tranquila, e que ele mereceu isso. Para ele, chega.

Agora, tendo dito isso tudo, eu sempre deixei a porta entreaberta porque não sou tão cruel. Se eu tivesse uma ideia fabulosa que viesse daquele mundo, porque eu amei escrevê-lo, eu faria isso. Mas eu tenho que ter essa grande ideia, não quero entrar mecanicamente naquele mundo colando as chances e os finais juntos e dizendo “aqui vamos nós, podemos vender isso”. Seria uma piada do que aqueles livros foram para mim. E eles me ajudaram em tempos difíceis… Então não quero traí-los dessa forma.

Mas você está certo; quer saber, se eu tivesse uma grande ideia para algo mais, eu provavelmente o faria. Eu sou muito avessa à idéia de uma história que se passasse antes ou de uma sequência. Eu nunca vi isso funcionando bem nem na literatura ou no cinema. É uma preferência pessoal.

Eu não te conheço, mas você é claramente uma pessoa muito legal, e você diz que está maravilhada com a publicação desse romance. Mas você também está bem tímida e eu não acho que se sente completamente liberta.
Todo mundo está nervoso, é claro. Eu estava nervosa toda vez que publiquei um livro.

Relíquias da Morte, na época era o livro que vendia mais rápido – foi agora ultrapassado por 50 Tons de Cinza – mas as pessoas ao seu redor dizem, “isso é certeza de dar certo, blá, blá, blá,” mas não é. Eu ainda estava nervosa, porque eu sentia que devia algo imenso aos fãs.

Essa foi uma ocasião em que eu pensei para quem eu estava escrevendo, porque investi tanto nessas personagens e as pessoas cresceram com elas.

Então eu tinha feito exatamente o que eu queria fazer, mas nas semanas antes da publicação, claro, você fica pensando “ai meu Deus, será que eles vão gostar?”. Mas dessa vez, eu estou sendo absolutamente sincera: qualquer autor que não diz que sente um frisson quando a data da publicação está se aproximando, com certeza é um mentiroso maldito.

Esse livro, algumas pessoas vão odiá-lo, eu tenho certeza, porque é da natureza da literatura e da arte. É assim que é.

Eu sou muito insegura em algumas áreas da minha vida e, nessa área [da escrita], eu sou bizarramente… é o lugar onde estou mais segura, pois sinto que é como deveria ser. Existem livros, algumas pessoas os chamam de “livros maravilhosos”, que eu odeio e está tudo certo. É um livro, ninguém vai morrer por causa disso.

Estou orgulhosa desse livro, eu gosto dele, e se você pode dizer isso, mesmo ficando nervosa no dia da publicação, você está bem à frente do jogo. Porque publicar algo com que você não está feliz ou que faz você pensar “Deus, eu queria mais um ano para trabalhar nisso”, e eu estive nessa posição antes, é muito diferente.

Quando você esteve nessa posição?
Em dois livros de Harry Potter, e eu definitivamente sabia que eles precisavam de mais um ano. Tem um perto do começo e um perto do fim que eu definitivamente sinto isso. Eu tive que correr e em alguns momentos isso foi muito difícil. E eu os li e pensei “Ai meu Deus, vou voltar atrás e fazer uma versão do diretor”. Eu não sei.

Mas sabe de uma coisa? Estou orgulhosa por ter escrito sob as condições em que eu me econtrava. Ninguém nunca vai conseguir imaginar o quão difícil foi em algumas partes.

Algumas perguntas aleatórias – primeiro Leveson. Você deu uma descrição tocante sobre o que aconteceu na sua vida. Você acha que isso vai mudar alguma coisa?
Sabe, eu não sei. Estou fascinada. Estou seguindo isso de perto, não só porque eu participei, mas porque acho que é uma questão muito importante para nossa cultura. Nós temos que fazer isso certo.

Acredito apaixonadamente na liberdade da imprensa. Mas estando na ponta do comportamento duvidoso/ilegal, como lidar com isso? Eu não sei. Eu espero e rezo para que as coisas mudem porque acho tóxico, o que foi permitido acontecer.

Você acha que vai?
Se eu tivesse que apostar, eu diria que as coisas mudarão, mas eu acho que haverá muita resistência por parte de alguns aspectos da mídia.

Foi de grande importância dar evidência para Leveson, porque você está numa posição paradoxal de tentar proteger sua privacidade enquanto ao mesmo tempo a invade. Então eu tive que pensar extensa e duramente sobre o que foi afirmado e umas duas coisas que não foram porque, mesmo que elas representassem algumas das piores coisas que já aconteceram comigo nas mãos da mídia, ou com a minha família, eu estaria invadindo a minha própria privacidade de forma muito séria ao falar deles. É o que eu acho estranho numa entrevista assim.

Outra pergunta aleatória: em 2001, você recebeu o prêmio OBE. Você vendeu centenas de milhões de livros, já deu milhares de libras para a caridade. Eu estou pessoalmente bem surpreso que você não se tenha se tornado uma dama.
Sem comentários (risos).

Você acha que a literatura é negligenciada na nossa cultura?
Não posso falar sobre isso na gravação.

Numa entrevista recente, você disse que era a favor da União Escocesa. Por quê?
Eu acho que a restituição tem sido fantástica para a Escócia, eu realmente acho, e imagino, pragmaticamente… eu acho que nós temos um grande acordo, atualmente. Acho que a independência agora não é uma grande idéia. Estamos no meio de uma gigante, terrível e aterradora recessão mundial. Penso que agora é tempo para estabilidade. E a Escócia tem se saído muito bem com a restituição. Acho que economicamente nós estamos numa condição estável e sadia. Eu estaria avessa a qualquer coisa que mudasse isso nos próximos anos.

Jo Rowling, muito obrigado.