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Harry Potter e o Enigma do Príncipe. O que esperar?

Harry Potter e o Enigma do Príncipe. O que esperar?Harry Potter e o Enigma do Príncipe. O que esperar?
Muitos fãs ficaram indignados e, outros, decepcionados após lerem o artigo do tabloide The Sun, onde foram exibidas algumas opiniões desgostosas a respeito de uma suposta segunda exibição de teste do filme Harry Potter e o Enigma do Príncipe na terça-feira, em Chicago.
Mais tarde, o Daily Mail também publicou um artigo, novamente citando quase em sua totalidade apenas opiniões negativas acerca do sexto longametragem. O curioso é perceber que praticamente todas as citações presentes em ambos os artigos foram retiradas de dois relatos publicado pelo Ain’t It Cool em setembro, após seus críticos assistirem ao primeiro test screening.

Diante de toda essa confusão, o nosso crítico de cinema Arthur Melo escreveu uma análise sobre o caso, iniciando com uma rápida retrospectiva dos diretores e roteiristas da série Potter, e finalizando com Enigma do Príncipe, onde deve reinar o equilíbrio entre os tons romântico e obscuro presentes no livro.

O texto pode ser lido na extensão!

HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE
Harry Potter e o Enigma do Príncipe. O que esperar?

Potterish.com ~ Arthur Melo
12 de março de 2009

Desde Pedra Filosofal, fãs da série literária, assim como assíduos integrantes do clubinho da sétima arte, vem brigando, a título de defesa de suas idéias, para provar quem está com a maior razão sobre o que os filmes Potter são em sua essência. Pelo menos em um ponto há um consenso: trata-se, obviamente, de uma adaptação. O que parece produzir tanta divergência é no real papel de uma adaptação ou no que ela deve ser, se basear ou ater.

De ontem para hoje, o tablóide britânico The Sun, que possui tanta credibilidade quanto um participante do Big Brother Brasil no confessionário, publicou uma notícia com relatos de fãs que estiveram no segundo test screening de Harry Potter e o Enigma do Príncipe. Algo que veio a ser “confirmado” pelo tão coerente Daily Mail. Para quem não sabe, esses testes são exibições que a Warner Bros. realiza com seus filmes mais badalados antes deles serem finalizados. Muitas vezes sem nem terem terminado de criar os efeitos visuais (o que proporciona algumas cenas que parecem terem saído do seu Nintendo 64). Há um bom tempo o estúdio faz isso com a série Potter, mas, pelo o que consta nos cálculos, nunca foi feita mais do que uma exibição de teste. Mas um boato, por mais irreal que ele possa ser, deixa as orelhas e cabelos de muitos fãs em pé. Então tomemos como verdade o fato desta exibição ter ocorrido. Até porque, se for verdade mesmo, não é algo que prove a qualidade das observações feitas.

Quando Harry Potter e a Ordem da Fênix estreou, muitos se disseram decepcionados com o que viram. O motivo era o mesmo: os cortes. O alvo se repetiu: a mãe do diretor, a pessoa mais alheia à situação, progenitora de uma figura que, na realidade, não deve ser culpada. Pelo o que consta, os filmes possuem um roteirista. Meio fraco, é bem verdade, mas ele está lá. Steve Kloves (que por um acaso não foi o responsável pelo roteiro do quinto filme) vem arrancando a ira de muitos fãs da série, mas sempre sai ileso pelo simples fato de todos voltarem os arcos e flechas para a direção. O que, no final, gerou uma grande confusão.

De fato, os roteiros de Pedra Filosofal e Câmara Secreta são os mais coerentes com os seus respectivos livros. O que não faz dos filmes os melhores. Longe disso. Chris Columbus criou uma atmosfera colorida, infantil, fantasiosa e falha, que só desperta o interesse dos que querem ver na tela uma ilustração do que já conhecem, mas incapaz de chamar a atenção dos mais velhos. Ponto para Kloves, pedras para Columbus. O resultado foram dois filmes fracos que ganharam o amor dos fãs obcecados pelos livros e o repúdio da crítica especializada e dos amantes do cinema (tenham eles lido ou não os livros – pois é, muitos pensam o contrário, mas a crítica lê os livros sim, para não falar besteira).

Em seguida, surge o mexicano Alfonso Cuarón e seu Prisioneiro de Azkaban. Passagens lúdicas, cenários sombrios, personagens mais bem delineados, fotografia realista e enquadramentos e tomadas surreais. Cuarón ganhou o aplauso da crítica e fez com que esta, pela primeira vez, voltasse os olhos à série Harry Potter. Uma transformação absoluta na série que deixou os filmes muito mais maduros e adultos. Uma mudança de postura que ainda vemos hoje graças a ele. No entanto, a grande parte dos seguidores da obra de J.K. Rowling o apedrejou. A resposta é bem simples: o roteiro é falho, incompleto, confuso e mal estruturado. Uma série de buracos e cortes mal pensados que só não fizeram do longa uma grande catástrofe graças a Cuarón. Mas no final, quem pagou a duras penas foi o diretor. Kloves mais uma vez saiu sem nenhuma rachadura das mãos dos fãs. Interessante como o mesmo roteirista que fez os dois primeiros filmes, aclamados pelos fãs, conseguiu destruir a história no terceiro. Mas isso poucos perceberam. Como mudou o diretor, a culpa é dele.

Daí veio Cálice de Fogo. De fato, Steve Kloves conseguiu aprimorar sua visão na hora de criar o roteiro. Apesar do tamanho do quarto livro, a trama possui coerência (bem limitada, diga-se de passagem), mas muitos, muitos erros. A direção do britânico Mike Newell foi o essencial para dar um calor a mais nas sequências de ação e extrair alguma coisa de uma parcela do elenco. A crítica mais uma vez gostou, os amantes do bom cinema também, e juntos mantiveram sua posição de apreciadores da série Potter.

Então surge Ordem da Fênix, David Yates e Michael Goldenberg. Um livro que, em sua versão brasileira, possui mais de 700 páginas para serem postas num longa cuja duração é a segunda menor. Mais uma vez, fãs acendem suas tochas e jogam qualquer objeto pontiagudo diretamente em David Yates. E, agora, como alguns já entenderam o papel do roteirista (porque notaram a alteração do nome nos créditos), começam a se enraivecer com ele que, até agora, fez o melhor trabalho na série. Claro, Ordem da Fênix é denso, não há como transportar tudo para o filme e, se não há algum engano, muitos leitores também acham que há boas páginas de enrolação na história. Ainda assim, Michael Goldenberg criou o roteiro mais coerente, fechado e com o menor número de falhas até o momento. Um trabalho apreciável que muitos não gostaram por haver cortes que são muito necessários. Yates? O diretor conseguiu extrair o melhor que pôde do elenco. Claro que Daniel Radcliffe e sua turma estão longe de possuir a melhor expressividade em cena (pedido de desculpas aqui às fãs que acham Daniel bonito, lindo, maravilhoso e confundem esta “beleza” e seu personagem com apuro artístico). David Yates ainda conseguiu manejar com primor as cenas de batalha e ação, além de dar pistas do que seria visto no próximo filme de maneiras elogiáveis. Algo que prendeu a atenção de vez da crítica, confirmando que Harry Potter já é aceito como uma boa série cinematográfica.

Mas, agora, estamos diante do lançamento de Enigma do Príncipe, adaptação deste que, para muitos (senão a maioria) é o melhor livro da série. Um momento de muita atenção e risco. Enigma do Príncipe é o que possui a maior carga sombria e amena ao mesmo tempo. E, de acordo com o que foi exposto nos comentários do test screening, a textura amena se manteve em alta com a carga emotiva dos romances. Mas Enigma do Príncipe não é isso mesmo? O livro perde consideráveis páginas e capítulos tratando do assunto e o que o torna mais complexo é que as passagens mais obscuras atraem mais atenção, evidentemente. Mas no filme, tudo tem de ser colocado, em tese. Curiosamente, se o romance e as confusões juvenis tivessem sido colocados de lado, provavelmente o desgosto destes fãs que assistiram ao filme seria bem superior. Mas é necessário saber o que está lá e como foi colocado.

Harry Potter e o Enigma do Príncipe dá margens para o romance e para o horror. E ambos devem estar presentes. O que ocorre é que, em vista de algumas passagens da vida de Voldemort terem sido cortadas para atender ao tempo de duração máximo do filme, as cenas de romance ganharam um maior destaque na hora de se criticar. Óbvio. Qual a importância destas partes no destino de Harry ou na vida de Tom Riddle? Nenhuma. Mas qual a importância disto no enredo de Enigma do Príncipe? Enorme, pois está no livro e faz parte de seu foco em muitos momentos, portanto, merece o seu lugar na obra cinematográfica. O que deve ser analisado é se estas cenas de romance foram alocadas em momentos certos do filme. Quando há uma sequência sombria e mais tarde temos uma passagem mais leve, o espectador relaxa e se desprepara para o que há a seguir. Ou seja, numa próxima cena de ação, suspense ou horror, o choque será maior, gerando um êxtase superior. E isto sim é um acerto. Equilibrar as duas tendências do filme mesclando o que há no livro. De fato, há cortes que podem doer aos fãs mais ávidos, mas são essenciais se houver uma preocupação em transportar para as telas todo o conteúdo do livro. Seja ele dramático, cômico, romântico ou dark. E isso, se feito com cuidado, é um ponto para Steve Kloves e David Yates (que pelo o que já foi comentado, mostrou no sexto filme o que uma boa técnica cinematográfica pode fazer; as sequências de horror e ação serão impecáveis).

O momento é de relaxar e se dispor a absorver tudo o que Enigma do Príncipe tem a oferecer, porque em Relíquias da Morte o foco sombrio ostentará. E isto é sim uma boa notícia.

Então, temos duas opções. Ou nos preocupamos com o que não está no filme e daremos espaço à decepção, ou nos atemos ao que o filme se propõe a mostrar com qualidade, e deixamos de uma vez por todas de exigir uma transposição para as telas de uma linguagem que jamais se fundirá por completo ao cinema. Vamos entender que este é o papel de uma adaptação: recriar um universo baseado em um que já existe, mas respeitando suas limitações e expondo suas capacidades de ir além em outros quesitos. Se optar pela segunda opção, o entretenimento será bem melhor.