As Relíquias da Morte ︎◆ Livros

GrandPre fala sobre RdM

“De alguma forma, GrandPre, está se despedindo de um amigo, assim como um desafio pessoal. Ela passou 10 anos ajudando Harry vir a vida para os leitores americanos.” Em tom de despedida a mágica ilustradora dos livros americanos – e brasileiros – de Harry Potter responde ao TwinCities.

Os encantos do seu estilo único que nos mergulham numa imensidão de possibilidades estão presentes nesta nova entrevista.

É fato que as capas produzidas por Mary GrandPre demostram não só o grau de excelência da profissional mas o quanto elas refletem a sintonia entre as páginas dos livros com o desenho.

Quais são os mistérios que as guardam? Como podemos deduzir tanto por uma simples pincelada? Respostas que apenas poderão ser descobertas em julho, mas que podemos ler em uma prévia da TwinCities, clicando aqui.

MARY GRANDPRE
TwinCities
11 de junho de 2007
Por: Molly Millett
Tradução: Paula e Virág
Ilustradora de Harry Potter se despede

 

Harry Potter e as crianças andam naturalmente juntas como magia e varinhas, mas isso não foi o caso no último inverno de Mary GrandPre e sua família.

“Meu marido e eu fomos para a China seis meses atrás e adotamos uma garotinha, e dois meses depois que voltamos, quando minha vida estava totalmente de cabeça para baixo, eu recebi o manuscrito do livro 7”, fala GrandPre, a ilustradora da versão americana da mágica série. “Aqui estava o maior trabalho de minha carreira, esperando por mim na mesa, e aqui estava a maior mudança de minha vida, na minha frente e eu queria era ter tempo para ela. E também queria fazer desse livro o meu melhor da série Harry Potter.”

(Bem vinda à maternidade, Mary.)

De alguma forma, GrandPre está se despedindo de um amigo, assim como falando sobre um desafio pessoal. Ela passou os últimos 10 anos ajudando Harry vir à vida para os leitores americanos.

A SORTE

Mas GrandPre teve que ser persuadida pela Scholastic para cuidar da ilustração da versão de um novo livro chamado “Harry Potter e a Pedra Filosofal” em 97, na época, a artista de St. Paul estava ocupada com outros trabalhos.

Desde então tem sido uma viagem mágica: GrandPre ilustrou todos os sete livros na versão americana da série de J.K Rowling, a sua ilustração de Harry Potter foi capa da revista “Time”, ela conheceu Rowling, e viajou pelo país, falando sobre seu trabalho. O mais legal do seu trabalho para a artista, no entanto, é como os fãs se debruçam sobre as suas ilustrações procurando pistas, já que as capas de Harry Potter são lançadas antes da publicação dos livros. A capa final de GrandPre foi revelada nessa primavera, as ilustrações internas continuam surpresas até o lançamento do livro em 21 de julho.

Apesar disso, GrandPre não parece ter desenvolvido um ego sobre seu papel na Harry Potter mania.

“Vejo isso tudo como uma sorte do destino”, diz GrandPre. “Aconteceu de eu ter sido convidada para fazer esse trabalho. Porque da escrita, não fiz nada, eu entrei numa experiência literária incrível e fui apenas a ilustradora.”

CRESCENDO COM HARRY

Sendo uma criança que cresceu em Bloomington, GrandPre lembra de uma fase de Salvador Dali, criando pinturas a óleo em uma pequena armação que seu pai tinha feito para ela. Mas a jovem artista, nascida em Dakota do Sul, não se apressou em ir para uma escola da arte. Ao invés disso, gastou grande parte dos seus anos 20 trabalhando como garçonete. O alerta de um companheiro do trabalho de garçonete em Perkins deu finalmente a GrandPre a confiança para registrar-se na Faculdade de Minneapolis de Arte e Design. O trajeto acidentalmente levou GrandPre para o mundo da ilustração dos livros infantis, mas seu talento artístico a levou para outras áreas também, incluindo a criação das paisagens para o filme de animação “Formiguinhaz.”

GrandPre, 53 anos, gosta de descrever seu estilo artístico como “geometria suave.” Suas ilustrações de Harry Potter têm aqueles ângulos suaves e foram descritas como divertida, impulsiva, melódica, mas GradPre tem sentimentos misturados quando olha para trás em seu trabalho para a série.

“A arte mudou tanto quanto Harry”, diz ela. “Cresci muito como artista e acho que a última capa é a minha melhor. Se eu pudesse, refaria as três ou quatro primeiras. Dar um pouco mais de realismo, dar um foco em Harry, adicionar mais drama, mas você tem que viver com o que fez.”

Quando perguntada especificamente para criticar seu trabalho, GrandPre diz: “As duas ou três primeiras capas, definitivamente eram figuras menores, eram mais como uma grande cena no livro. Posteriormente nós começamos a focar em Harry e começamos a lidar com comportamento e atmosfera. Para esse último, eu peguei as cortinas do primeiro livro e coloquei no último. Trouxe de volta alguns tons de cor preciosos mas mantive Harry com traços mais destacados.”

UMA MÃE COMUM

GrandPre se mudou para a Flórida aproximadamente quatro anos atrás porque seu marido, o também artista Tom Casmer, aceitou um cargo na Faculdade Ringling de Arte e Desing em Sarasota. Ela considera a Flórida sua casa agora, mas sendo de Minnesota, GrandPre mantém sua natureza pé-no-chão. Ela não se acha uma estrela por causa de Harry Potter. Ela nunca foi, nem no início de Harry Potter, quando ele estava se tornando uma celebridade.

“Na época, meu pai estava muito doente, ele morreu em 1999, e minha mãe morreu três anos atrás, meus pais estiveram doentes por tantos anos que minha irmã e eu tínhamos que nos dedicar muito a eles, ajudando de alguma maneira”, diz GrandPre. “Quando você faz coisas assim, e agora como mãe, suas prioridades mudam. Você vê o que é importante. Colocando outras coisas em perspectiva.”

GrandPre viu o mesmo senso de perspectiva em Rowling quando a conheceu em Chicago num jantar, alguns anos atrás. Na época Rowling estava viajando pelos Estados Unidos numa turnê publicitária de “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”.

“Ela me pareceu como uma mãe comum”, disse GrandPre. “Ela trouxe sua filha e eu pensei que a babá estivesse com a gente também, mas a prioridade foi ter a certeza que a filha estivesse bem e tivesse tudo que precisasse. Nós tendemos a colocar pessoas famosas em um pedestal, não pensamos nelas com as famílias, então quando vemos, é como “oh sim, eles são como a gente.” E eu pensei “ela é como a gente”.

“NÃO SOU UMA MULHER RICA”

“É difícil dizer que como seria a vida se eu não tivesse sido parte de Harry Potter”, diz GrandPre. “Penso que ele abriu muitas portas para minha carreira, mas também penso que talvez eu fosse mais pessoal na arte ou outros projetos se não tivesse feito Harry Potter. Às vezes quando você está conectada com uma coisa tão popular, você pode ficar intimidada. Mas isso provavelmente não aconteceu tanto quanto pensei que poderia”.

Mas… Harry a tornou tão rica quanto fez com Rowling?

“Não, não, quem dera”, diz GrandPre rindo. “Ainda sem realezas. Apenas um apartamento. É um bom dinheiro, mas não sou uma mulher rica.”

O pagamento que deram para GrandPre pelos quarto primeiros livros foi ajustado no entanto, até o sétimo, quando comparado aos poucos livros que ela fez antes.

“Infelizmente, com o livro um ninguém sabia ainda (o quanto Harry seria um sucesso)”. GrandPre diz, “eu tinha assinado os contratos que não estavam no contrapeso com o que iria acontecer”.
Ela ganhou o suficiente de Harry, por exemplo, para sua filha de dois anos Julia ir a faculdade algum dia?

“Não”, afirma GrandPre.

“ELES ME PERGUNTAM QUEM MORRE”

Com o tempo, proteger o conteúdo de um livro de Harry Potter antes da publicação tem sido como uma operação da CIA. Alguns dizem que é marketing, mas Rowling e seus editores dizem que é uma maneira de proteger esse momento mágico em que o mundo lê o livro ao mesmo tempo. GrandPre tem seu próprio papel em manter os segredos de Harry.

“Só tem poucos de nós que já leram o livro 7”, diz GrandPre. “O manuscrito é me dado. Eu o mantenho em um cofre assim que recebo. Não falo com ninguém quando eu o começo ou onde o mantenho. Assino um documento prometendo que não falo nada. É tudo protegido por lei e tenho que assinar contratos de confidência. É um material muito sério. Porque se sumir, ou vazar, é algo enorme”.

“Eu fico nervosa”, diz ela. “Mas minha família, nós nem conversamos sobre isso. Meus amigos nem tocam no assunto. Recebo telefonemas de jornalistas ou pessoas que sabem que está próximo e me perguntam quem morre. É claro que não posso respondo. Eu não posso dizer nem que sei”.

Então o que ela pode dizer sobre o livro 7?

“Nada, basicamente”, diz ela rindo.

Mas…

“Eu realmente adorei o livro 7”, diz ela. “Eu adorei mesmo. Não que tenha sido fácil para ler. Tem umas passagens muito tristes nele, mas não posso dizer quais são. Mas acho que foi muito bem feito”.

“AGORA POSSO SEGUIR EM FRENTE”

Como ilustradora, GrandPre lê antecipadamente uma versão de Harry Potter, diferente de um fã de Harry Potter.

“Eu faço muitas anotações”, diz ela. “E destaco as partes que descrevem como os personagens se parecem. Penso que cenas poderiam fazer uma boa capa ou um destaque de capítulo. E tudo isso é discutido com o diretor de arte. Nós discutimos para ter idéias.”

Eles precisam ter um cuidado especial para não transformar a capa em um grande spoiler.

“Tenho que ter cuidado em não dar nada nem de perto do que vai acontecer”, diz GrandPre.

Enquanto ela cria o mundo de Harry, GrandPre primeiro faz rabiscos de lápis (desenhos em um papel esboço) e depois o meio da sua escolha, tons coloridos no papel.

Para o livro 7, o processo levou dois meses e meio. Como uma nova mãe, GrandPre conseguiu concluir o trabalho graças a assistência de sua família.

“Minha irmã me ajudou cuidando de Julia enquanto eu e meu marido, Tom, estávamos trabalhando. Foi uma salva-vidas”, diz GrandPre.

GrandPre pode então prestar atenção no seu trabalho.

“Meu foco era, “Como eu vou fazer justiça a esse último livro como ilustradora? O que posso fazer para o tornar especial? “Porque é o último”, diz GrandPre. “Eu espero que faça as palavras se tornarem vivas. Porque isso é o trabalho de uma ilustradora, essa é seu maior objetivo – trazer vida à escrita. Eu espero que tenha adicionado alguma mágica e vida para essa escrita maravilhosa”.

“Houve também um certo alívio quando acabou, por ter concluído essa parte da minha carreira”, diz GrandPre. “Agora posso seguir em frente”.