A Ordem da Fênix ︎◆ Filmes e peças

Explosões, Quadribol e HP5 com David Yates

David Yates, o diretor de Harry Potter e a Ordem da Fênix concedeu recentemente uma entrevista para o The Guardian, que a publicou em um interessante artigo. Como de costume ele comenta os seus sentimentos quanto a comandar a franquia de maior sucesso da história, toda a pressão dos críticos e as

cenas de grande importância do livro, que por sinal é o maior e mais complexo da série, em se tratando de assuntos políticos.

Confira abaixo alguns trechos e o artigo completo clicando aqui.

Harry Potter e a Espinha do Destino (OdF):
“A mágica em HP5 é, em parte, uma luta metafórica para lidar com o crescimento.”
Filme 6:
“Vamos começar a filmar dentro de oito ou dez semanas. No livro, pontes vão pelos ares. Quero explodir a ponte Millenium.” O que, você não gosta da ponte símbolo, de Norman Foster? “Eu adoro. Mas adoro a idéia de destruí-la.”
“Este filme é sobre rebelião adolescente. O próximo [Harry Potter e o Enigma do Príncipe] será sexo, drogas e rock’n’roll.”
Arr.. RdM?:
“Preciso ver se continuarei de pé após os seis.” Você sabe como o último volume termina? “Não. Eles não me enviaram uma cópia. Quero saber se Harry morrerá. Estou curioso.”

DAVID YATES
The Guardian ~ Stuart Jeffries
2 de julho de 2007
Tradução: Adriana

Conheça o Sr. Heyman


Num minuto ele estava caminhando pela Cornualha. No minuto seguinte, estava dirigindo Harry Potter. David Yates fala sobre sexo e Quadribol com Stuart Jeffries.

David Yates está passando quatro dias no purgatório. Está no seu contrato. A Warner Brothers reservou um andar inteiro do hotel Claridges, em Londres, para promover a 5ª adaptação cinematográfica da obra de J.K. Rowling, Harry Potter e a Ordem da Fênix. A companhia encheu os quartos com a talentosa equipe do filme, incluindo os jovens atores Daniel Radcliffe (Harry) e Emma Watson (Hermione). A cada minuto, eram enviados jornalistas, que faziam as mesmas perguntas. Quantas tomadas foram necessárias para o primeiro beijo de Harry? Línguas? Você pode me mostrar como fazer tal coisa com a varinha? Você pode justificar a ausência das cenas de quadribol, quando elas existem no livro, caramba?

A Warner não deixou ninguém sair até que o último blogueiro do Texas e o cinéfilo Tcheco saíssem felizes, sabendo o que motivou o Professor Dumbledore a adorar sua barba e quais foram as várias influências arquitetônicas que influenciaram na construção da Escola de Hogwarts. “Como está o tempo lá fora, amigo?” pergunta Yates. “Não dá pra ver daqui.”

A imprensa mundial tem uma pergunta à Yates: Quem diabos é você? Aqui vai a minha teoria: Me diga como um ‘Zé-Ninguém’ de St. Helens, com histórico de bons filmes de baixo orçamento para TV, como Ligações Perigosas (Stage of Play), de Paul Abbott – apesar dos Baftas – chegou à direção do quinto capítulo de uma franquia mundial, com orçamento em torno de 1,75 bilhões de libras? Sem ofensas. “Não se preocupe, amigo”, diz o homem de 43 anos e voz suave. “Passei muitas noites em claro, pensando De todos os filmes do mundo, por que estou fazendo logo este? Como isso foi acontecer?

Certamente você era fã dos livros, ou pelo menos, dos filmes anteriores? “Não. Não havia lido uma palavra. Não fazia parte do meu mundo,” diz Yates. Então, como isso aconteceu? “Eu estava caminhando pela Cornuália, quando recebi uma ligação. Eles me mandaram um roteiro e eu li 20 páginas e pensei Isso não vai dar certo. Este não sou eu.” Você hesitou? Sim. Pensei Isso poderia abrir as portas pra mim, depois, mas não se parece nem um pouco comigo

A hesitação de Yates me fez lembrar Daniel Craig, pensando se deveria se tornar 007. Não é apenas pelo fato de ter de responder às maçantes perguntas da mídia, mas correr o risco de nunca mais ser levado à sério como artista. “Não era exatamente a mesma coisa,” diz Yates. “O risco de ser estereotipado era mínimo.”

Ele acabou sendo atraído pelo mundo mágico de Rowling. “O problema era que eu estava entrando no 5º filme. Então, tive que voltar e ler todos os livros anteriores e acabei me rendendo. Passei o ano seguinte trabalhando no roteiro”. O que, além do cheque sem precedentes, o atraiu? “Os personagens. Harry lutando contra quem ele é e os poderes que possui. E também me senti atraído pela Dolores Umbrige, que é professora má, mas aparentemente dócil [interpretada com primor por Imelda Staunton], que é enviada para espionar Dumbledore. Ela é sádica e autoritária. Existem crianças na platéia que já tiveram experiências terríveis com professores ou outros adultos. Então, elas irão se sentir ligadas à história. Se qualquer espião aparecer.” Oh, eles aparecerão.

“Outra coisa me chamou a atenção foi como o nosso mundo Trouxa está tão perto do mundo dos Bruxos. Está logo ali, mas não nos damos conta disso. Tem todas aquelas maravilhosas possibilidades.” Duas cenas do filme mostram muito bem isso: o terraço de uma casa, em Londres, se abre para revelar a casa onde Harry se junta aos membros da Ordem da Fênix; e a cabine de telefone vermelha, que leva ao Ministério da Magia, cujo átrio subterrâneo é ricamente decorado com 30000 ladrilhos pretos.

Mas por que Yates? David Hayman, produtor de todos os filmes de Harry Potter, diz que escolheu Yates pelo seu histórico: dramas políticos, como Sex Traffic, e por sua direção em The Way We Live Now, de Anthony Trollope’s. “David é um diretor de atores fantástico,” diz Heyman, graduado na Beaconsfield’s National Film and TV School.

Heyman também reconhece que Yates “tem mostrado que pode lidar com assuntos políticos de uma maneira descontraída. Este não é um filme político em si, mas os políticos do mundo mágico são retratados aqui. Acreditamos que David lidou com isso de modo brilhante.”

Isso não pode ser verdade, digo à Yates. Como pode uma pessoa com um passado televisivo, lidar com cenas envolvendo estranhos cavalos criados por computação gráfica, voando à noite sobre o rio Tâmisa, um gigante criado por “motion capture” (seja lá o que for isso), e com os últimos 20 minutos do filme, feitos em uma sala de bolas de cristal que se quebram? Isso sem mencionar os grandes nomes cinematográficos da Grã-Bretanha (Emma Thompson, Helena Bonham Carter, Michael Gambon, Robert Hardy etc)? Acrescente o fato de Harry e sua turma terem crescido em seus papeis e serem capazes de comer você no café da manhã? Não estaria a Warner arriscando um bom contrato colocando-o no comando deste bonde obscenamente lucrativo? Não os preocupou o fato de seu último filme ter sido The Tichborne Claimant, nove anos atrás, que, com todo o respeito, não teve nenhum dementador digital, nem uma cena magnífica de luta com varinhas entre Gary Oldman e Ralph Fiennes, nem mesmo uma única criança no mundo que quisesse assistir?

“Não é bem assim,” diz Yates. “Esta é uma história sobre crescer em um mundo dividido entre o bem e o mau. É mais sobre atores e roteiro do que grandes efeitos. Os efeitos são as partes mais fáceis. Sou conhecido pela intensidade e emoção, e acredito que contribui com isso. É mais ousado e natural do que muitos outros.” Isso é, se um filme de Potter pode ser cru ou ousado.

Yates cita o filme American Graffiti, de George Lucas de 1973, como influência. “Este é um dos meus favoritos, por tratar de angústias adolescentes e rebelião. Tudo é relevante para o meu filme.” Mas não há magia em American Graffiti. “A mágica em HP5 é, em parte, uma luta metafórica para lidar com o crescimento.”

Isso não é tão estranho quanto parece. Minha cena preferida é quando Harry diz “Sinto tanta raiva. Como se estivesse me tornando mau.” De repente, há uma ligação entre a iminente sexualidade de Potter e a mágica luta maniqueísta. Poderia ser legal ter mais um pouco disso. Então, Potter está ficando mau? Não, são apenas seus hormônios em ebulição, fazendo-o pensar assim.

O que nos leva ao Primeiro Beijo do Potter. Quanta responsabilidade! “Eu sei. A primeira coisa que fiz foi esvaziar o local. Por outro lado, o pessoal do apoio, todo mundo, virou para dar uma olhada. Deixei Daniel e Katie [Katie Leung, intérprete de Cho Chang] falarem sobre seu primeiro beijo. Você tem que fazer isso para criar um clima. Contei à eles sobre o meu e eles me contaram sobre o deles. Foi para que eles se envolvessem, esquecessem que estavam em um set de filmagens.” O casal se beija em uma sala mágica, que percebe o que um sente pelo outro e faz surgir um azevinho sobre eles. Pessoalmente, isso me faria ir embora, mas pareceu funcionar bem para Harry e Cho, e para as pessoal que soluçavam baixinho ao meu lado, na prévia.

A cena precisou de 30 tomadas. E, presumo, muito batom. O beijo me lembrou o que Lauren Bacall disse para Humphrey Bogart após ele abraçá-la em À beira do Abismo (The Big Sleep): “Gostei. Adoraria um pouco mais.” Mas não há mais. Harry e Cho nunca conseguem ficar sozinhos nos longos 138 minutos de filme. “Haverá mais no próximo Harry Potter,” diz Yates. “Este filme é sobre rebelião adolescente. O próximo [Harry Potter e o Enigma do Príncipe] será sexo, drogas e rock’n’roll.”

Yates irá dirigir o próximo filme também, o que mostra que a Warner ficou contente com a prévia de HP5. “Sim, fiquei surpreso por eles terem gostado do que fiz. Pensei que fossem dizer ‘Mudem isso, mudem isso,’ mas eles foram legais. Em oito meses de gravação, eles apareceram apenas uma vez. Deram algumas sugestões e foram embora no jato da Warner.” Como você.

Yates ainda está pensando em como irá adaptar o Enigma do Príncipe. “Vamos começar a filmar dentro de oito ou dez semanas. No livro, pontes vão pelos ares. Quero explodir a ponte Millenium.” O que, você não gosta da ponte símbolo, de Norman Foster? “Eu adoro. Mas adoro a idéia de destruí-la.”

E quanto ao último livro, Harry Potter & a Manopla do Matador? Desculpe, quis dizer Harry Potter e a Espinha do Destino. Não, também não é esse. Harry Potter e o Trompete Agourento, Harry Potter e a Garrafa da Perdição? Ok, na verdade ele se chama Harry Potter e as Relíquias da Morte, e será lançado dia 20 (21??) de julho. Yates almeja dirigi-lo? “Preciso ver se continuarei de pé após os seis.” Você sabe como o último volume termina? “Não. Eles não me enviaram uma cópia. Quero saber se Harry morrerá. Estou curioso.”

Para terminar, por que Yates demorou tanto para ter um grande momento? “Porque recebi roteiros medíocres. Por que iria querer fazer filmes medíocres, quando poderia trabalhar em um tranqüilo e perfeito thriller de Paul Abbott, mesmo que para a TV? Foi apenas com HP5 que fiquei realmente tentado.”

Deixo Yates no purgatório. Caramba, esqueci de fazer a grande pergunta. Por que nada de quadribol? “Uma palavra,” posso imaginá-lo respondendo com seu sotaque debochado, de Merseyside, “Cha-to. Quantas partidas de quadribol você precisa ver nos filmes? Sem ofensas, amigo.” Essa teria sido uma boa resposta.