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Os bastidores da trilha sonora de As Relíquias da Morte – Parte 2

O compositor das trilhas sonoras das duas partes de Harry Potter e as Reliquias da Morte, Alexandre Desplat, foi entrevistado pelo POTTERISH em comemoração ao lançamento do filme.

Ao longo da conversa, que teve a participação de repórteres de fã sites norte-americanos, o músico revelou que utiliza instrumentos brasileiros nas composições. Leia a seguir:

Você era fã de Harry Potter antes de receber o convite para compor as trilhas sonoras?
Sim! Uma das minhas filhas é fã desde criança. Eu assisti todos os filmes e li todos os livros, porque queria me conectar com a paixão que ela sente por Harry Potter. Se não tivesse lido, teria sido um péssimo pai! E foi um prazer, porque eles são escritos de maneira muito criativa e inteligente. J. K. Rowling é genial. Além disso, como sou fã de John Williams, [que compôs as trilhas sonoras dos três primeiros Harry Potter], eu comprava as trilhas sonoras assim que chegavam às lojas.

Você compôs a trilha sonora da Parte 2 como uma continuação da Parte 1 ou separadamente?
Quando me convidaram para compor a Parte 1, eu ainda não sabia se faria a Parte 2, então infelizmente não pude compor pensando nas duas partes. Mas ainda assim há alguns elementos da Parte 1 que permaneceram ou evoluíram na Parte 2. Então há uma certa continuação.

As Partes 1 e 2 foram filmadas ao mesmo tempo. Como isto influenciou sua composição?
O processo de escrever e compôr levou cerca de quatro meses para ambos os filmes. Durante as filmagens, você pode gravar todas as cenas que se passam no mesmo cenário de uma vez. É bem diferente quando se trata de trilha sonora. Eu tive que esperar até assistir à Parte 2 editada para começar a organizar as idéias e encontrar um arco dramático para o filme. Houve tempo suficiente, mas o trabalho foi pesado. Havia uma expectativa enorme, porque esta é a maior franquia cinematográfica da última década, então você tem que ser bastante cuidadoso, checar duas, três vezes que cada nota que escreveu está correta. Eu quis me desafiar a pelo menos me aproximar do talento de mestre do John Williams.

Quais referências às trilhas sonoras anteriores aparecerão neste filme?
Há um tema que se tornou icônico – Tema de Edwiges (Hedwig’s Theme), por John Williams. É crucial para o sucesso da história e seria desrespeitoso e estúpido não usá-la em momentos em que precisássemos nos referir a esses dez anos de amizade que tivemos com os personagens. Usei mais na Parte 1, cujo tema principal era a perda da inocência, mas na Parte 2 estamos de volta em Hogwarts, onde acontece a batalha, e todos os amigos estão lá, então fazia sentido usá-la novamente. Também usei no fim do filme, quando damos adeus a essas três crianças que viraram adultos e esperam por uma nova vida. É uma das músicas mais incríveis já escritas para um filme, então foi um prazer trabalhar com ela.

Haverá muitas mortes neste filme. Como você compôs as trilhas destas cenas?
Morte é um tema muito presente em Harry Potter. Conta a história de um órfão, afinal. A dor da perda e o processo de luto estão muito presente nesta trilha sonora. O filme começa ao som do Tema de Lílian (Lily’s Theme), que ressoa por todo o filme e nos guia do começo ao fim. Para esta faixa, meu objetivo foi encontrar algo tão tenro, doce e amável quanto uma canção de ninar, mas com um toque de culpa. Encontramos uma cantora que tem uma voz muito pura, quase como ouro líquido.

Qual é sua faixa favorita da Parte 2?
Acho que o Tema de Lílian (Lily’s Theme), porque tem a doçura e o mistério que precisamos sentir quando o filme começa, mesmo que nada tenha sido explicado ainda sobre como Lílian influenciou o destino de Harry e dos outros personagens. Esta é a música que eu mais gostei de compor e cuido com muito carinho.

E qual cena foi mais difícil de transcrever em música?
Uma das mais difíceis foi a batalha final entre Voldemort e Harry, momento pelo qual esperávamos há mais de uma década. Foi difícil encontrar o balanço entre perigo e ação sem perder a emoção e sem soar igual aos tantos outros duelos.

Por falar em batalha, como você compôs as trilhas destas cenas?
Já existem muitos filmes com cenas de batalhas, então eu quis encontrar uma voz original para esta história. Procurei um equilíbrio entre ação e emoção, alternando com peças mais líricas e dramáticas. Em alguns momentos, é bom sentir a adrenalina da batalha; em outros, é bom ter uma visão panorâmica e contemplar aquilo à distância. Com a visão panorâmica, você pode criar momentos de profunda emoção.

De que maneira o diretor David Yates se envolve na composição da trilha sonora?
David é muito envolvido. Eu o via todos os dias, em meu escritório em Londres, e mostrava o que já tinha composto. Eu componho demonstrações eletrônicas, que são muito parecidas com o produto final; só precisam de uma orquestra para ficar realmente boas. Desta maneira, ele realmente conseguia sentir as canções e dar pitacos. Passamos muito tempo fazendo ajustes no estúdio e enquanto gravávamos com a orquestra.

Durante uma entrevista você revelou ter usado instrumentos brasileiros para a trilha sonora da Parte 1. Você poderia nos contar quais instrumentos foram utilizados e em quais faixas?
Essa é difícil. Não consigo lembrar agora. Eu sempre utilizo elementos brasileiros em minhas composições. Já toquei bastante bossa nova. Eu tinha uma banda durante a adolescência e nós tocávamos as músicas de Vinicius [de Moraes], Tom Jobim, Gilberto [Gil], Chico Buarque; portanto sempre usei ritmos ou instrumentos brasileiros. Em uma faixa de Relíquias da Morte há um pouco de samba, mas não dá para perceber porque é tocado por uma orquestra. Se não estou enganado, devo ter usado tamborim e pandeiro na Parte 1 e acho que os usei novamente na Parte 2, intercalados com outros tambores. Eu usei instrumentos de percussão tipicamente brasileiros.

Colaboraram: Marina Anderi e Flávio Júnior (tradução)