Artigos

A importância dos personagens secundários

Muitas vezes nós não lhes damos a devida atenção, mas eles estão sempre ali. São os personagens secundários, muito presentes em Harry Potter, sobre os quais nos fala hoje a nossa colunista Nilsen Silva.

Indispensáveis para a conclusão satisfatória de determinadas passagens, ou mesmo do enredo todo de um livro, os não-protagonistas são fundamentais em toda grande história na literatura. Não deixe de ler a análise de nossa colunista e de registrar a sua impressão!

Por Nilsen Silva

Às vezes, eles têm papéis mais importantes em uma determinada cena que o próprio protagonista. Muitas vezes, eles são mais carismáticos e contribuem para que o livro mantenha o tom certo de humor durante o desenrolar da história. Eles sempre estão ali, dispostos a ajudar e a “dar uma mãozinha”, mas não é todo mundo que consegue enxergá-los.

Os personagens secundários, ou coadjuvantes, costumam ser vistos como aqueles que não têm tanta importância para o desenvolvimento da história. Taxados por muitos como uma mera presença para uma interação social pontual, esses personagens muitas vezes são erroneamente utilizados em uma cena para que ela não fique muito vazia, por exemplo. Mas será que é só para isso que eles servem? Eu acho – tenho certeza, na verdade – que não.

Esses personagens estão ali para dar plenitude a um enredo. Com a presença deles, a trama ganha uma riqueza de detalhes muito maior, e a falta dessa profundidade pode ser claramente sentida em livros que possuem personagens secundários fracos ou cujos papéis não foram devidamente delineados pelo autor, em seu planejamento. Um livro que carece de personagens secundários interessantes é um livro sem substância, superficial. O personagem principal é o destaque? É. Mas ele precisa dividir responsabilidades e, bom, a vida, com alguém. Seja esse alguém um amigo, um professor, um vizinho ou alguém da família.

Pense bem: um coadjuvante pode ser o responsável pela luz que falta ao pensamento do protagonista. Ele pode ser a pessoa que ajuda o protagonista a, por exemplo, finalizar o plano de ataque nas terras rivais. O que seria de Frodo Bolseiro sem Samwise Gimgi, em O Senhor dos Anéis? O que seria de Robert Langdon sem Sophie Neveu, em O Código da Vinci? Personagens secundários são necessários em qualquer gênero literário. Ou você acha que Holly Kennedy teria superado a morte de seu marido com mais facilidade sem Sharon e Denise, suas melhores amigas, em P.S., Eu Te Amo?

Em Harry Potter, vemos que a presença dos personagens secundários é tão necessária para a trama criada por J.K. Rowling quanto a do próprio Harry. Como protagonista, Harry obviamente tem uma importância fundamental, que é mais visível e destacada, mas outros personagens como Rony e Hermione não ficam para trás nesse quesito – e não é exagero algum dizer que Harry só chegou aonde chegou por causa da ajuda dos dois e de tantos outros. Acho até que Rony e Hermione podem ser classificados como co-protagonistas, mas não tenho certeza.

Na verdade, acredito que todos os personagens de Harry Potter foram criados com um propósito – o que é um grande mérito da autora. Não acho que nenhum deles tenha passado despercebido na hora de cumprir o seu papel, seja ele marcante, como Dumbledore e sua pesquisa incessante sobre o passado de Voldemort, ou efêmero, como o professor Quirrel, que serviu apenas para “emprestar” seu corpo para o Lorde das Trevas no primeiro livro da série. Lupin, que não é um dos personagens mais presentes (sua morte, inclusive, recebeu apenas uma breve menção em As Relíquias da Morte), é a pessoa que introduz Harry a Sirius Black. Ele também é quem lhe ensina o Feitiço do Patrono, tão útil em diversos momentos da história. Até a Rita Skeeter tem um papel a cumprir. De certo modo, ela serve como uma representação do jornalismo sensacionalista. Ela pode ser até uma crítica discreta, quem sabe.

Eu gosto muito de ver como alguns personagens secundários vão crescendo junto com a história. É o caso de Neville Longbottom e Luna Lovegood. Eu particularmente jamais imaginei, quando li pela primeira vez os livros, que Neville fosse se tornar um personagem tão forte. Ponto para a J.K. Rowling, que me surpreendeu mais uma vez.

Da próxima vez em que você começar a ler uma história, que tal prestar mais um pouco de atenção nos personagens que ficam de ladinho, esquecidos? Eu aposto que eles ainda vão te surpreender muito. Porque, além de servirem como ponte para os protagonistas e fornecerem o tão adorado alívio cômico na história, eles são donos de personalidades incríveis e que cativam qualquer um.

Nilsen Silva sempre soube que os Marotos não deveriam ser subestimados.