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A conflituosa amizade de Harry e Rony

A conflituosa amizade de Harry e RonyA conflituosa amizade de Harry e Rony

Quando Harry e Rony dividiram a cabine do Expresso de Hogwarts em 1991, não sabiam que repetiriam o ato em todos os anos seguintes. A amizade entre os dois sem dúvida foi a mais bonita da série — ainda que cheia de brigas e turbulências. Talvez o sétimo livro seja o ápice das desavenças da dupla inseparável.

Mas como ela será representada no próximo filme? Será que ela receberá a devida importância que tem para o enredo? Afinal, qual é essa importância? Sheila Vieira propoõe as perguntas e as responde aqui, mas, se você tiver outras respostas, pode colocá-las nos comentários.

Por Sheila Vieira

Temos muitas expectativas em relação a RdM. A cena dos sete Potters, o casamento, Godric’s Hollow e outros momentos marcantes não serão tão emocionantes quanto nos livros (nunca são). Mas é sempre interessante notar o que o roteiro privilegia ou torna secundário. Pessoalmente, o que mais me interessa é saber como se dará o conflito entre Harry e Rony nesse filme. Se o rapaz mais novo dos Weasley será tratado como um amigo chato e chiliquento ou alguém que, como Neville, teve coragem para enfrentar os próprios amigos.

Para quem não relê RdM há algum tempo, os problemas entre Rony e Harry começam com um descontentamento do ruivo em relação à falta de comida. Conversas de canto com Hermione levantam suspeitas na cabeça de Harry. Até o momento em que Rony interrompe a acalorada discussão sobre qual seria a última Horcrux e destrói com palavras toda a empolgação dos amigos:

“- Não é que eu não esteja me divertindo a valer aqui – replicou Rony. – Sabem, com esse braço aleijado e nada para comer, e o rabo congelando toda noite. Eu só esperava, entende, depois de ficar andando em círculos algumas semanas, que a gente tivesse conseguido alguma coisa”. Depois da discussão, antes de deixá-los, Rony ainda revela outro ressentimento, ao jogar na cara de Hermione que ela preferiu permanecer ao lado de Harry.

A revolta pode ser vista como surpreendente, afinal, ele sempre foi o que menos levou as coisas a sério. Mas alguns traços de sua personalidade já demonstravam que sempre houve um conflito de visões de mundo entre os dois amigos. Primeiramente, pelas origens de cada um. Enquanto Rony foi criado em um ambiente familiar pobre, mas afetivo e harmonioso, Harry foi tratado como lixo descartável até os 11 anos de idade.

Um sempre foi envolvido pela segurança e a estabilidade do lar, enquanto o outro teve que aprender a se virar sozinho e a esperar sempre o que há de pior nas pessoas. Por outro lado, isso trouxe uma certa autoconfiança a Harry, que nunca precisou de muita aprovação dos outros. Já Rony sempre mostrou um certo ressentimento por não ser o mais brilhante dos Weasley em nada, nem em inteligência, tampouco em esperteza.

Esse contraste fica claro no momento do Espelho de Ojesed, quando Harry vê o que não tem (uma família) e Rony vê o que não é (um rapaz bonito e popular, capitão do time de Quadribol). Ao mesmo tempo em que Rony se sente enciumado e tem um pouco de inveja do amigo, ele também não entende a importância que Harry dá a certos assuntos. As longas conversas sobre quem está escondendo segredos, onde as coisas estão escondidas, os planos de ir até um lugar buscar qualquer relíquia, todas essas coisas não têm o mesmo significado para o ruivo. Enquanto Potter busca as aventuras e os riscos, como uma forma de preencher o vazio de não ter um porto seguro (família), Weasley quer desfrutar dos momentos de diversão, como as brincadeiras na Sala Comunal e as refeições.

Porém, como em toda grande amizade, os conflitos de personalidade entre os dois são superados. Amigos, por mais diferentes que sejam, sempre têm algo em comum que tenha motivado uma aproximação inicial. No caso de Harry e Rony, naquele trem que pegaram juntos no primeiro ano, ambos se descobriram outsiders. Com o tempo e a convivência, as diferenças ficaram mais evidentes e resultaram em conflito. Mas, por mais brega que isso soe, nada despedaça um sentimento de companheirismo tão forte. Rony voltou e foi fundamental para o objetivo de Harry (destruir as Horcruxes).

A respeito de Hermione, era uma questão de insegurança e ciúme. No fundo, Rony sabia que sempre fora ele quem ocupara o coração dela. Ao abandoná-los, Rony conseguiu o que queria: deixar claro para ela o quanto ele era especial e fazia falta. Muito mais do que um amigo meramente engraçado, Weasley se mostrou muito esperto e atento às relações internas do trio. Tomara que essa história seja bem explorada no filme e dê oportunidade para que Rupert Grint nos ofereça uma bela performance.

Sheila Vieira diz que é estudante, mas na verdade é analista de relacionamentos.