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Viagem pelo desconhecido

Você já se surpreendeu intrigado pelos mistérios do espaço? Pela forma como as coisas funcionam fora da Terra? Pela real dimensão do universo fantástico que nos cerca?

Nosso colunista Bruno Contesini é, como se sabe, um amante das letras e da física. E veio, na coluna de hoje, relacionar os mistérios dessa ciência tão complexa ao universo de Harry Potter. Não deixe de ler e refletir com o nosso colunista!

Por Bruno Contesini

Há anos venho pensando e projetando um texto que aborde a física e a “magia” trazida nas páginas de Harry Potter. A condição de professor desta ciência, permitam-me dizer, apaixonante, pode fazer parecer simples uma abordagem como a que proponho, mas ela é, na verdade, um extraordinário desafio didático e, principalmente ainda, científico.

Quem nunca sonhou com a capa da invisibilidade? Ou com o vira-tempo que foi tão útil a Hermione na sua ânsia em assistir todas as aulas? Será que tudo isso é somente possível na ficção? Alguns dos meus leitores talvez já tenham lido sobre projetos de capas da invisibilidade, mas, será que isso é tudo?

Se fosse perguntado a você quantas dimensões existem no “universo”? Provavelmente, a maior parcela de pessoas vai mencionar as três, com as quais estamos tão habituados no cotidiano e até nas telas de cinema 3D, altura, largura e profundidade.

Fato é, que Albert Einstein, em 1905, começou a mudar essa concepção, a famosa teoria da relatividade revelou que o tempo nada mais é do que a quarta dimensão do “universo”. Quando vamos marcar um encontro com um amigo que mora em um edifício, precisamos de seu endereço, do andar do apartamento, e também do horário em que pretendemos nos encontrar, ou seja, precisamos de orientações nas quatro dimensões do “universo”.

Todos somos capazes de caminhar em uma combinação infinita de direções nas três dimensões familiares. Somos capazes de nos movimentar para frente e para trás, para a esquerda e para a direita, para cima e para baixo, como também nas mais diversas diagonais! Porque então, não seria possível que nos transportemos para frente e para trás, ou melhor, para o passado e para o futuro no tempo?

Os mais familiarizados com a física moderna vão se lembrar, que a velocidade da luz é invariável e igual a aproximadamente trezentos mil quilômetros por segundo no vácuo. De acordo com a teoria de Einstein, quanto mais veloz é algo ou alguém, mais lentamente o tempo “passa”, levando esse raciocínio adiante, quando algo ou alguém atingisse a velocidade da luz citada, o tempo estaria parado!

Para caminhar no sentido contrário do tempo, ou seja, em direção ao passado, seria então necessário que atingíssemos velocidades maiores do que a velocidade da luz, o que é fisicamente impossível! Mas será que isso encerra a discussão sobre viagens no tempo?

O físico inglês Stephen Willian Hawking, conhecido por extraordinárias teorias, e também pela Esclerose Lateral Amiotrófica que lhe restringe movimentos e fala, foi um dos grandes responsáveis por avanços no nosso conhecimento sobre um tema absolutamente fascinante, os buracos negros.

Todo este campo de estudo é extremamente complexo, aqui, vou limitar-me a dizer que um buraco negro é uma região no espaço que “suga” tudo que passa suficientemente próximo dela, nem mesmo a luz que se aproxime desta região pode escapar e é “puxada” para o interior de um buraco de onde nunca poderá sair.

Hawking provou, posteriormente, que os buracos negros emitem sim uma pequena quantidade de energia, na verdade, então, os buracos negros vão perdendo massa e tendem, com o tempo a “evaporar”! Para onde vai então todo aquele material que o buraco negro “sugou” no decorrer dos anos? Isso nos traz ao conceito de buracos de minhoca.

Parece que o “universo” nos deu de presente alguns atalhos que nos permitem chegar mais rapidamente a regiões muito distantes do espaço, esses tais buracos de minhoca, são bem semelhantes aos buracos negros, e talvez, possam fazer com que peguemos atalhos não só no espaço, como também no tempo!

Mas então eu posso viajar ao passado e encontrar meu avô ainda criança? É preciso ter cautela com relação a isso! Os mais atentos talvez tenham notado que a palavra “universo” foi sempre colocada entre aspas, isso por uma razão simples, ao viajarmos no tempo por intermédio dos buracos de minhoca, estaríamos sendo destinados a um outro “universo” paralelo, de tal modo, que neste outro “universo” seu avô pode não ter nascido no mesmo dia que nasceu no “universo” que vivemos hoje! Assim, cria-se a noção de multiverso!

As portas da teoria física se abrem para que possamos viajar no passado e no futuro, bem mais próximos, do que muitos imaginariam, daquilo que acontece frequentemente no mundo mágico de Harry Potter!

Agora vamos falar sobre a capa da invisibilidade! Primeiro é preciso que se tenha noção de como e porque podemos enxergar um objeto, com este conceito fundamentado, tentaremos imaginar as condições de manipulá-lo conforme nossos interesses.

O processo da visão nada mais é do que um raio de luz que incide sobre um objeto, reflete e viaja em direção aos nossos olhos, o cristalino então forma a imagem que podemos ver daquele objeto! Assim, sendo, se fosse possível desviar os raios de luz, para que eles não incidissem sobre algo, ou mesmo sobre uma pessoa, eles não poderiam refletir, nem chegar aos olhos de outro observador, assim, a invisibilidade se faria presente.

É preciso recordar que a luz tem diversas frequências, das quais um número limitado delas é visível aos seres humanos, assim, para que não possamos ver qualquer tipo de corpo, não é preciso desviar dele toda a luz, apenas aquelas que o olho humano pode perceber.
Outro fato interessante é que Albert Einstein descreveu a luz não apenas como uma onda, como a maioria imagina, mas também, como sendo composta de uma infinidade de minúsculas partículas, chamadas fótons! O fóton é uma partícula de luz e, como toda partícula, ela tem suas propriedades, uma das mais curiosas é o fato do fóton não possuir massa! Se você já se perguntou qual a massa da luz, a resposta é nenhuma!

Um fenômeno físico chamado de refração, estabelece que, quando a luz passa do ar para a água, ela diminui sua velocidade e tem uma variação, um pequeno desvio em sua trajetória, isso ocorre, simplesmente, porque a água exerce maior resistência ao movimento do fóton do que o ar.

Se por um feliz acaso fosse descoberto um material composto de certas propriedades, tão incríveis, que possibilitasse com que suas partículas interagissem com os fótons da luz e os desviassem, o que aconteceria? A resposta é que um determinado corpo, quando coberto por este material, seria invisível aos olhos humanos!

Por fim, que material tão próximo do mundo mágico é esse? Será que ele já existe? Já foi descoberto e permanece em sigilo? Isso é tema de infindáveis imaginações! Mas, será que isso é real, ou está acontecendo só em minha cabeça? Sem dúvida está acontecendo em minha cabeça, mas porque isso significa que não é real?

Bruno Contesini, assim como Einstein no século passado, prometeu o prêmio Nobel de física a uma garota que também espera,
ansiosamente, sua carta de Hogwarts.

Bruno Contesini nos faz viajar a cada nova coluna que escreve.