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A Magia nas coisas simples

Os anos passarão e poucos personagens da literatura continuarão exercendo o mesmo fascínio de Alvo Dumbledore. O diretor é uma peça-chave na obra de J.K. Rowling, e sua participação foi crucial nos momentos mais importantes.

Débora Jacintho não se abstém de incluí-lo em uma análise. Na coluna deste domingo ela aborda justamente um dos pontos mais marcantes de Alvo Dumbledore: a simplicidade com que via o mundo.

Por Débora Jacintho

Desde 2001, quando li a Pedra Filosofal pela primeira vez, sempre me lembro de Alvo Dumbledore ao ver sorvete de limão. No meio da conversa com Minerva McGonagall, Dumbledore tira sorvetes de limão da capa, dizendo ser um doce dos trouxas no qual aprecia muito, e começa a comê-los. E isso não tira seu foco e sua concentração da conversa, espantando Minerva, que não achava “que o momento pedia sorvetes de limão”. Esta é uma passagem do livro passada despercebida por muitos, mas que mostra a primeira marca da simplicidade de caráter e espírito do diretor de Hogwarts. Percebemos, ao longo da obra, que Dumbledore procura sempre tratar os assuntos sérios com uma pitada de leveza.

Das coisas simples (e bobas, até certo ponto), podemos destacar que as senhas para a gárgula que dá acesso ao seu escritório são sempre nomes de doces (Gota de limão!, na Câmara Secreta). Além disso, a sua facilidade de contar piadas e criar momentos de descontração, como no trecho: “Não, Sr. Weasley, eu não estou brincando, embora durante as férias, eu tenha ouvido uma excelente piada sobre um Trasgo, uma bruxa má, e uma Leprechaum que se encontram num bar e…” (Em O Cálice de Fogo, antes de ser interrompido por um pigarro de McGonagall).

Dessa forma, é o conjunto dessas coisas simples que o torna esse homem tão extraordinário, admirado e respeitado (além de temido por alguns).

“Pateta! Chorão! Desbocado! Beliscão! Obrigado.” Maluco? Não, sábio. E essa sabedoria possui um grau elevado, pois não é associado apenas ao conhecimento e a verdade, mas à forma de passá-los aos outros, e de compreender a realidade. O sábio não é aquele que se distancia e se coloca em um pedestal, onde se acha o único detentor da verdade, mas sim aquele que se aproxima de todos. Dumbledore, com gestos simples, consegue se aproximar das pessoas, e transmitir um pouco de suas experiências.

Dumbledore, assim, é retratado como uma pessoa que aprecia o cotidiano, que dá importância aos feriados e comemorações, que aprecia doces e conta piadas. Ao longo dos sete livros, sutilmente essa personalidade é criada e transmitida, mostrando que o poder não é autossuficiente para moldar um homem, mas que existe todo um conjunto de valores que deve ser levado em conta. O amor é o valor e sentimento mais ressaltado em toda a obra e, nas entrelinhas, está associado à simplicidade. O amor é puro e simples, leve e sereno.

Dessa forma, a simplicidade, juntamente com o amor, é uma das características menos compreendidas pelos seguidores das Artes das Trevas. A busca desenfreada por cada vez mais poder deixa-os cegos para esta parte leve da vida. A calma e serenidade de Dumbledore conseguem desestabilizar seus oponentes, mostrando que a falta desses valores, sobrepujados pela sede do poder, pode ser sim uma fraqueza. Assim, não é só o poder de Dumbledore, mas o conjunto dessas marcas de sua personalidade que o faz ser considerado o maior bruxo de todos os tempos.

Débora Jacintho escreveu essa coluna comendo um sorvete de limão.