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O 3D de “Relíquias da Morte: Parte 2” foi construtivo?

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 foi o primeiro filme da série a ser lançado totalmente em 3D, e isso levou os fãs a criar muita expectativa sobre o que veriam nos cinemas com essa tecnologia. Um artigo do Hero Complex explica qual foi a intenção principal de fazer esse último filme em 3D, revela o posicionamento de David Yates e da Warner Bros, e conta em quais cenas a tecnologia realmente se apresenta com maior intensidade.

Para David Yates, tudo gira em torno da história; era crucial que o 3-D apoiasse a trama e não soasse como mero atrativo sem ter nada a ver com o que estava acontecendo, cena a cena, plano a plano. Conversamos um tanto antes de começarmos. Os filmes de Harry Potter exigem que você acredite que essa versão mágica paralela à realidade é um mundo normal que simplesmente segue regras diferentes. Era essencial que o 3-D não fizesse isso desmoronar. Não é um filme de ficção cinetífica cheio de flashes e bangues. Não há truques ou espaços impossíveis. Se você percebe que está assistindo ao 3-D, o que acontece num monte de lançamentos recentes, você não consegue se perder na história e na narrativa ao mesmo tempo. Essa foi a instrução inicial de David… Simplesmente faça do 3-D uma forma mais rica de contar a história.

Confira a tradução completa do artigo na extensão! “Relíquias da Morte: Parte 2” está em cartaz no país inteiro e já arrecadou $1 bilhão ao redor do mundo.

HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE: PARTE 2
Harry Potter: o 3-D realmente tornou o filme mais mágico?

Hero Complex ~ Geoff Boucher
29 de julho de 2011
Tradução: Renan Lazzarin

Como Severo Snape, Hugh Murray teve um caráter ambíguo no universo de Harry Potter. Afinal, seria ele um herói inesperado – ou só mais um vilão do 3-D?

Hugh Murray, vice-presidente sênior das produções cinematográficas do IMAX, apelou para as artes das trevas ao estereografar Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2, coordenando e regulando o processo de conversão para o 3-D a pedido do diretor David Yates. A responsabilidade de Murray e Yates eram altíssimas; o último filme de uma série de oito adaptações do épico Potter de J.K. Rowling, a cargo da Warner Bros., foi o primeiro a ser lançado totalmente em 3-D, e as exigências históricas do mercado – sem contar os fãs trouxas ao redor do mundo – punham no time um bocado de pressão.

“Foi sempre interessante e assustador,” disse Murray, “esperar para ver o que o mundo achou.”

O mundo parece bem contente. O filme foi lançado em 15 de julho e já ultrapassou a marca dos 900 milhões de dólares de bilheteria mundial e foi adorado pelos críticos mais conceituados, muitos deles elogiando, em particular, o 3-D como “espetacular”, “sutil”, “o melhor que já vi” e “parte substancial e orgânica do filme”. É claro que nem todos concordam. Roger Ebert escreveu que o filme é devidamente “escuro, sombrio e repleto de sombras,” o que torna o 2D uma melhor opção, considerando que o escurecimento da imagem é um efeito colateral da conversão ao 3-D; Peter Travers, da Rolling Stone, ponderou o 3-D como simplesmente desnecessário dentre tantos grandes triunfos do filme.

Para Murray, um nativo da Escócia com mais de 20 anos no IMAX, essa não foi sua primeira vez em Hogwarts – anteriormente, ele trabalhara nos filmes de Potter que ofereciam segmentos isolados em 3-D, jamais o filme inteiro – mas essa foi sua visita mais intensa. O processo de conversão de Relíquias da Morte de película 2D para um imersivo lançamento em 3-D levou sete meses, o que sugere que os executivos da Warner Bros. lembram bem das ferorez críticas recebidas por seu Fúria de Titãs no ano passado, desagradável e visualmente incoeso graças a um trabalho apressado de conversão ao 3-D que durou dois meses para aproveitar os preços mais altos do 3-D após o sucesso de Avatar. Produtores e estúdios sabem que os espectadores estão cada vez mais céticos em relação ao 3-D em tempos de dura crise econômica e que o adeus a Potter tinha que ser mágico de verdade para conquistar o mundo.

“Para David Yates, tudo gira em torno da história; era crucial que o 3-D apoiasse a trama e não soasse como mero atrativo sem ter nada a ver com o que estava acontecendo, cena a cena, plano a plano,” disse Murray. “Conversamos um tanto antes de começarmos. Os filmes de Harry Potter exigem que você acredite que essa versão mágica paralela à realidade é um mundo normal que simplesmente segue regras diferentes. Era essencial que o 3-D não fizesse isso desmoronar. Não é um filme de ficção cinetífica cheio de flashes e bangues. Não há truques ou espaços impossíveis.”

A chave para o bom 3-D, segundo Murray, é fazer as pessoas esquecerem que há um óculos entre a tela e elas. “Se você percebe que está assistindo ao 3-D, o que acontece num monte de lançamentos recentes, você não consegue se perder na história e na narrativa ao mesmo tempo. Essa foi a instrução inicial de David… Simplesmente faça do 3-D uma forma mais rica de contar a história.”

Murray tem trabalhado na maioria dos filmes em 3-D que o IMAX tem produzido diretamente nas últimas duas décadas, tendo co-escrito e produzido Cyberworld, que transformou a animação de computação gráfica da época em 3-D “de verdade” e deu o primeiro passo para o lançamento em IMAX 3-D de O Expresso Polar, o filme de Robert Zemeckis que colocou Murray na vanguarda do processo estereoscópico. Em 2004, esse filme de fantasia deu o primeiro fomento à era moderna do 3-D, um formato que alcançou patamares inéditos com o lançamento do Avatar de James Cameron no final de 2009. Há certo receio e debates em relação à abordagem estereoscópica. Cineastas como Christopher Nolan têm resistido à pressão da indústria para ceder à mania do 3-D citando as limitações e desvantagens da tecnologia no momento, e tem havido algumas indicações fiscais alarmantes em relação ao formato (dentre as quais, destacam-se a estreia anêmica de Shrek Para Sempre e, mais recentemente, as más notícias para os sócios do IMAX e RealD).

Nesse momento, Hollywood sabe que o 3-D é uma ótima maneira de ganhar mais dinheiro – mas é também uma forma de levar uma pancada na cara. Murray tem assistido com fascinação à novela do formato na indústria e conclui que, quando o assunto é 3-D, menos é mais. “Um dos erros que costumam acontecer na conversão para 3-D é que as pessoas forçam a terceira dimensão onde ela não deveria estar e, no fim, coisas que deveriam parecer muito grandes se tornam meio que minuaturas,” disse Murray. “Pensar grande e manter a grandeza” foi a filosofia que o guiou, mas Murray ainda temia que a mudança na opinião do público pudesse lançar um mau feitiço sobre o filme-clímax de Potter.

“Com todas as críticas recentes ao 3-D, todos estávamos bem cientes dessa possibilidade,” afirmou Murray. “Estávamos bem nervosos a princípio, perguntando-nos se conseguiríamos dar um jeito. Nesse caso, tivemos sorte de que a Warner Bros. também quisesse verdadeiramente não apenas um filme em 3-D, mas também um filme em 3-D muito bom… De fato, o 3-D acrescenta para os espaços e a apreciação do filme sem nunca distrair da diversão.” Já que as gravações não foram feitas com câmeras 3-D, “não havia planos feitos óbvia e especificamente para fazer os tipo de truque comum ao 3-D. Não jogamos lanças nas pessoas… E se você tem um dragão grandalhão, ele deve parecer enorme. Você não deve adicionar o 3-D e acabar com a escala. Hogwarts é um lugar bem grande e sempre deveria parecer como tal. Tínhamos como determinação que jamais deveríamos fazer nada que tirasse o público dos trilhos e tornasse o filme menor.”

Para esse fim, Yates queria uma abordagem conservadora do 3-D em cenas conduzidas por personagens e diálogos e, em essência, queria que as pessoas se estirassem para frente durante momentos de emoção ao invés de se afastar por causa da invasão e distração do 3-D. “Nunca quisemos que a dimensionalidade quebrasse essa ligação entre o público e esse mundo com o qual tanto se importam,” declarou Yates às vésperas da estreia. Em geral, Relíquias da Morte – Parte 2 usa o efeito estereoscópico para empurrar elementos para dentro da tela – criando um efeito de profundidade ou, de certa forma, de teatro de sombras – em detrimento de criar a ilusão de que objetos (ou a magia) voasse constantemente da tela para atingir os espectadores. Há alguns momentos, no entanto, em que o mundo mágico parece adentrar o auditório.

(ALERTA DE SPOILER: O RESTO DO TEXTO REVELA PONTOS-CHAVE DA TRAMA)
“Num plano em que um dragão foge quebrando o chão do Banco de Gringotes usamos um pouco do espaço do cinema, mas não exageramos… [e durante] ápices e pontos dramáticos na história, David não queria que as pessoas pensassem, ‘Poxa, isso é bacana, se eu estender minha mão, vou conseguir alcançar,” disse Murray. “Em comparação com os outros filmes de Potter, há uma série de cenas de batalha e, nos vários momentos em que deixamos o 3-D irromper, gostamos do resultado. Mas sempre com a intenção de deixá-lo natural. Tem um enquadramento perto do final do filme depois de Harry vencer Voldemort em que Voldemort se desintegra em pedaços, que foi o plano pensado para tirar uma vantagem real da imagem em 3-D. Quando isso acontece, pedaços deles em flocos grandes vêm em direção à câmera e permitimos que elas invadissem o espaço do cinema. Meio que brincamos entre nós dizendo que queríamos levar um pedaço de Voldemort para casa.”

Na tela, o mal é derrotado, mas mesmo com seu sucesso, Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 pode ser usado como exemplo de ambos os lados do debate atual sobre o 3-D. O filme teve, mundialmente, a maior bilheria de semana de estreia da história de Hollywood (embora o recorde não se sustente numa briga com grandes clássicos de eras passadas se a quantia for reajustada à inflação), mas caiu 72% no segundo fim de semana, o que pode sugerir que os ingressos 3-D mais custosos tenham desencorajado as revisões múltiplas, comuns entre os fãs mais empolgados da saga.