TRADUZIDO: J.K. Rowling discute “Career of Evil” e novos projetos em entrevista à BBC Radio 2
Por Donizete JuniorRecentemente, para a promoção do livro “Career of Evil”, J.K. Rowling deu duas entrevistas em nome de Robert Galbraith, seu pseudônimo autor de livros de mistério e suspense – a série “Cormoran Strike”.
Veja o que a autora diz sobre o novo livro:
“É definitivamente o mais obscuro da série até agora. É o único livro que escrevi que literalmente me deu pesadelos. E não foi tanto na escrita, mas eu fiz muita pesquisa. Li muitos relatórios policiais sobre assassinos em série e alguns dos pensamentos que se passam nas mentes dos meus assassinos em série fictícios, porque você sabe, alguns dos capítulos são contados da perspectiva do assassino… Obviamente, você não sabe qual dos suspeitos é… Mas eles foram inspirados nos relatórios de assassinos em série notórios. Embora o que eles estivessem pensando não seja claro, há algumas pessoas que fizeram essas coisas e falaram os seus motivos e sobre como eles se sentiam com relação às vítimas. Então, eu fiz muita pesquisa e foi isso que literalmente me deixou bastante perturbada.”
Uma das entrevistas foi dada para a rádio NPR e promovia o livro nos EUA, que já foi traduzida pela nossa equipe e e pode ser conferida neste link.
Nesta segunda entrevista, para a BBC Radio 2, J.K. Rowling não apenas falou sobre “Career of Evil”, mas também sobre os projetos paralelos no qual está trabalhando e um novo livro!
“Tenho planos de escrever como J.K. Rowling de novo. Não vou te dar uma data fixa porque as coisas vêm sendo fantásticas e eu estou escrevendo um roteiro para “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, que tem sido muito legal, então eu estou muito ocupada, mas definitivamente vou escrever mais romances como J.K. Rowling. E sim, romances no plural, eu tenho muitas ideias…”
Como prometido anteriormente, confiram a entrevista completa, transcrita e traduzida (com muita exaustão e carinho) pela equipe do Potterish, no modo notícia completa.
O áudio original pode ser escutado no site da BBC Radio 2
“Career of Evil” já está disponível para venda no formato brochura, capa dura e digital. A tradução e lançamento do livro em português está prevista para 2016, pela Editora Rocco.
Traduzido por: Pedro Martins, Aline Michel, Julianna Martins e Orley Lima.
Revisado por: Aline Michel e Pedro Martins.
Simon Mayo [SM]: Estamos apresentando o Clube do Livro da Radio 2 e, pela primeira vez, tem uma multidão de pessoas lá fora. Estamos honrados e isso é porque a nossa escolha para esse Clube do Livro foi Robert Galbraith, também conhecido como J.K. Rowling, autor de “Career of Evil”.
Jo Rowling, como você está?
J.K. Rowling [JKR]: Estou ótima, obrigada! E você?
SM: Estou bem, obrigado! 2000, acho que foi quando nós conversamos.
JKR: Foi.
SM: Como têm sido para você estes 15 anos?
JKR: Têm sido bom, Simon! Não tem sido ruim. A vida tem sido ótima!
SM: A nossa última escolha para o Clube do Livro, duas semanas atrás, foi “Cidade em Chamas” de Garth Risk Hallberg. Você viu o tamanho desse livro? Nós conversamos com Hallberg faz duas semanas.
JKR: É um livro clássico.
SM: Sim. Ele disse, no programa, que o escreveu desse tamanho por causa de você!
JKR: Peço desculpas.
SM: Ele cresceu lendo os seus livros e se acostumou a ler livros grandes, então sua influência está em todos os lugares.
JKR: Isso é fantástico! Estou muito honrada, de verdade.
SM: E “Cidades em Chamas” será um dos Livros do Ano, mas o novo do Robert Galbraith é o “Career of Evil”. Antes de começarmos, eu gostaria de falar sobre o título, porque este é o lugar para falar sobre ele.
JKR: Este é realmente o lugar para falar sobre o título.
SM: Por causa da banda Blue Öyster Cult e suas letras, elas estão por todo o livro. Você pode nos explicar o porquê desse título e de tanto Blue Öyster Cult aqui?
JKR: Bem. Eu nunca pretendi por as letras por todo o livro. O que aconteceu foi que quando planejei… Eu sempre planejo muito mais do que preciso nos personagens, então sabia que a mãe do meu detetive era uma fã que buscava interesse emocional/sexual com seus ídolos nos anos 70 e sabia que ela frequentava vários shows de bandas de garagem. E, antes de eu terminar o primeiro livro da série, soube que a paixão da sua vida era Blue Öyster Cult, porque eles tinham essa reputação de ser essa banda incrível que sempre tocava ao vivo, então óbvio que, para uma garota que vive por esse tipo de banda, ela escolheria a Blue Öyster Cult. Quando eu tive essa ideia, a de que eu iria usar as letras deles em algum momento, porque sabia que elas eram tão fora do padrão, simplesmente ótimas. E elas eram letras incríveis, as de Patti Smith, obviamente escritas para eles. Então, quando eu sentei para planejar este livro e comecei a olhar para o repertório deles, foi um presente perfeito que tantas letras serviam para a o meu enredo. As pessoas vão achar difícil de acreditar que eu não planejei o enredo em torno das músicas, mas juro para vocês que eu não fiz isso! Foi totalmente ao contrário: elas se encaixavam tão perfeitamente que eu acabei usando-as.
SM: Esta é a canção “Career of Evil”, de 1971 ou 1972, do Blue Oyster Cult. É bem Spinal Tap.
JKR: Eu amo Spinal Tap, então não acho que seja uma comparação ofensiva.
SM: Na verdade, eu estava checando a letra, porque pensei que talvez poderíamos tocar a música inteira, mas é uma canção bem desagradável.
JKR: Sim. É uma letra absolutamente bizarra, sim, mas uma dádiva para este livro.
SM: Então explique, este é um romance da série “Cormoran Strike”. Ele é seu detetive. Você poderia explicar quem ele é, onde ele está? Porque, evidentemente, você não deu muitas entrevistas sobre esse personagem…
JKR: Pois é, o Robert não sai muito de casa.
SM: Não, ele não sai. Então nos explique Cormoran Strike, o personagem dele e por que ele é desse jeito.
JKR: Strike é um veterano de guerra. Eu conheço muitos veteranos e ex-militares pessoalmente – o meu amigo mais velho era da força armada -, e eu estava muito interessada sobre o que acontece quando alguém deixa a carreira militar e vai fazer coisas diferentes. Alguns deles vão fazer trabalhos como o de Strike – detetive particular – ou segurança pessoal. Foi daí que a ideia veio. Eu também dei a ele uma história de vida pitoresca.
SM: Verdade!
JKR: Ele é o filho bastardo de um astro do rock, com quem ele se encontrou somente duas vezes na vida, e nós nunca lemos sobre isso, na verdade – isso ainda virá – e de uma mãe bem cênica, a qual ele amava. Então ele teve uma vida bastante peculiar… Sua infância foi muito cheia de escalas, mudanças, morando na Escócia, então ele fugiu para o exército, eficazmente. Depois ele presencia uma explosão, e aqui está ele como um detetive particular. Ele é muito inteligente e tem cicatrizes de coisas que aconteceram em sua vida – tanto metaforicamente quanto literalmente.
SM: E este livro, cujo primeiro capítulo você pode ler online, e assim que você o lê… Ele é bem obscuro.
JKR: É definitivamente o mais obscuro da série até agora. É o único livro que escrevi que literalmente me deu pesadelos. E não foi tanto na escrita, mas eu fiz muita pesquisa. Li muitos relatórios policiais sobre assassinos em série e alguns dos pensamentos que se passam nas mentes dos meus assassinos em série fictícios, porque você sabe, alguns dos capítulos são contados da perspectiva do assassino… Obviamente, você não sabe qual dos suspeitos é… Mas eles foram inspirados nos relatórios de assassinos em série notórios. Embora o que eles estivessem pensando não seja claro, há algumas pessoas que fizeram essas coisas e falaram os seus motivos e sobre como eles se sentiam com relação às vítimas. Então, eu fiz muita pesquisa e foi isso que literalmente me deixou bastante perturbada.
SM: Você consegue conectar tudo isso? Bem, no final do livro você diz que você nunca…
JKR: Nos meus agradecimentos
SM: Sim, nos agradecimentos, no final, você diz que nunca se divertiu tanto ao escrever um livro. Então você consegue conectar essas duas coisas?
JKR: Concordo com você que essas duas afirmações parecem irreconciliáveis, mas acho que nunca me diverti tanto ao escrever um livro. Eu estabeleci um grande desafio técnico a mim mesma com esse livro, o que foi bastante consciente. O campo de suspeitos é bastante limitado. Essa é uma característica bastante difícil de desenvolver e manter o suspense. Eu também queria entrar na mente do assassino e, obviamente, sem revelar quem era ele era. Então isso foi um grande desafio e eu gostei. Amei a elaboração deste livro. Não o assunto em si.
Também devo dizer que há uma história maior acontecendo nesta série sobre o relacionamento de Strike com sua assistente acidental, Robin, uma mulher que está se tornando cada vez mais importante. Estou realmente gostando de escrever sobre o relacionamento deles, que é platônico, apesar de eu achar que, depois que as pessoas lerem este livro, entenderão que nenhum dos dois está em uma situação platônica com relação ao outro, mas eles ainda não fizeram nada a respeito disso.
SM: Quero perguntar mais sobre Robin daqui a pouco porque ela é uma personagem muito interessante. Eu gosto de prestar atenção nela. Ela é uma personagem interessante e notável. Matt, você quer ir primeiro? O que você achou de “Career of Evil”? Você recebeu uma cópia antes.
Matt [MA]: Eu recebi.
SM: Explique por que…
MA: Eu o li alguns meses atrás. Um produtor que me contou, porque a cópia que recebi não tinha o seu nome ou o de Galbraith, era somente cópia branca encadernada, mas cada página tinha um número de série.
JKR: Para que pudéssemos te encontrar e te matar.
MA: Absolutamente!
JKR: Nós temos também o seu tipo sanguíneo em algum lugar? [Risos] Isso é horrível! Terrível!
MA: Eu estava com medo de esquecê-lo no metrô, a capa ficava caindo… Mas de qualquer maneira, foi muito bom.
JKR: Obrigada!
MA: Para mim este livro, Jô, é exatamente como um suspense deve ser. E muitos suspenses não são daquele tipo que você diz “Só vou ler mais um capítulo e depois vou para a cama”.
JKR: Isso é o que eu esperava ouvir!
MA: Eu o li muito rapidamente. E tomarei muito cuidado com o que direi agora porque se eu estivesse ouvindo isso, não gostaria que alguém me dissesse o que acontece. Mas com vinte páginas restantes eu tinha 100% de certeza absoluta de quem havia feito tudo.
JKR: Você estava certo?
MA: Eu estava errado! Estava absolutamente errado! E eu amei, acho que…
BH: Isso não te irritou?
MA: Sim, mas isso vai até a raiz do porquê amamos esse tipo de livro. Nós amamos história de detetives porque amamos que nos provem que estamos errados. Para mim é como um truque de ilusão. As pistas estão todas lá. Todas as pistas estão no livro se você olhar no lugar certo. E eu claramente estava olhando no lugar errado através dessas pistas falsas, esses truques de ilusão. Eu me pergunto como você revisa quando você escreve esse tipo de livro.
JKR: Bem, eu acho que li… Truques de ilusão é um resumo perfeito do que você está fazendo. Como leitora, eu sempre gostei de quem fez isso e eu amo fazer também. Há regras, são parte desse gênero. Certa vez, um crítico muito estúpido disse que Agatha Christie embaralhava as cartas diversas vezes, como um embaralhador de cartas profissional, e ainda assim você errava. Você achava que tinha visto e ainda assim estava errado. Ela era profissional. Então truques de ilusão são absolutamente certos, mas você deve acertar no uso! Você tem que dar ao leitor todas as informações que ele precisa para resolver o quebra-cabeça. Esse é o talento: fazer com o que o leitor olhe para trás e pense: “Ah, claro! ABCDE, se eu tivesse seguido todos…” Elas têm que estar lá e elas devem ser claras! Você não pode trapacear. Acho que simplesmente amo o desenvolvimento delas, realmente me diverti com o enredo disto e, claro, para torná-lo prazeroso, você tem que ter personagens completos, senão ninguém vai querer continuar lendo. Não podem ser personagens vazios. Então você me deixou bastante feliz dizendo coisas que eu realmente gostaria que as pessoas dissessem sobre o livro.
MA: No passado você tramou sete livros. Quantos tramou para este?
JKR: Bem, o que é legal nos livros de Strike é que eu não tenho um final em mente, não acho que esteja tão determinada quanto estava com os livros de Potter, então eu provavelmente posso chegar a dez ou até mais, não sei, pois tenho um certo número de histórias. Acho que, ultimamente, o que os limitará é o relacionamento entre Strike e Robin. Essa é claramente a linha limitante. Esse é o fio no qual todas essas histórias estão penduradas. Acho que quando chegar o momento em que eu não quiser mais escrever sobre eles, provavelmente será o momento em que Robert irá parar de escrever esta série, mas certamente não estou nem perto disso ainda.
MA: Rebecca, o que você achou de “Career of Evil” de Robert Galbraith?
Rebecca [RE]: Eu achei bastante arrepiante! Cometi o erro de ler bem antes de ir dormir durante toda a semana passada e eu não conseguia dormir.
JKR: Sinto muito!
RE: Não! Não é sua culpa! Como um mistério de assassinato direto é muito interessante, há muitos detalhes. Eu acho que ele realmente torna-se real porque você criou esses dois personagens principais que possuem passados fascinantes e isso os torna muito verossímeis. E você realmente se importa com o que acontece com eles, se ilude com essa coisa de: eles irão ou não ter um relacionamento? Para mim isso é simplesmente ótimo! E eu adoro a determinação de Robin e o cinismo de Cormoran e o fato dele estar sempre de ressaca. Mas ele é muito bom em seu trabalho. Eu me interessei pelo tema fama na introdução com Cormoran e eu me pergunto por que você deu tanta importância a isso?
JKR: Bem, obviamente, quando eu comecei a escrever esses livros, ninguém sabia que Robert Galbraith era, na verdade, uma pessoa famosa. Então foi uma máscara estranha, mas o que eu gosto de escrever e de explorar com Strike é que ele não é um autor de biografia, ele não é eu. Ele não era conhecido quando os livros começaram. Ele está começando a ficar conhecido agora, mas eu gostei de olhar para as premissas que as pessoas fazem sobre você ou sobre sua família porque eles acreditam conhecer parte de sua história. Claro que as pessoas que realmente pagam por isso são aquelas que se conectam com a pessoa famosa. Eles pagam mais pela pessoa famosa. Você sabe, as pessoas assumem que elas sabem muito sobre você. Elas podem estar certas ou erradas, mas a suposição está lá. E foi bastante libertador o tempo relativamente curto que eu tive antes de ser desmascarada. Pude explorar isso através de Strike. Foi bastante agradável.
BH: Você gostaria de ter ficado anônima por mais tempo?
JKR: Como Robert?
BH: Sim.
JKR: Definitivamente!
BH: Por quanto tempo?
JKR: Bem, olhando para trás eu acho que era provavelmente irrealista. Eu tinha essa ideia de que talvez pudesse ter sido por três livros. Mas, obviamente, a ideia era surreal… Eu sabia que se os livros tivessem sucesso, as chances de eu conseguir manter o segredo diminuíram proporcionalmente, pois as pessoas começariam a perguntar por que esse cara nunca dá entrevistas. Se ele começasse a vender bem o suficiente, ele certamente começaria a dar entrevistas. Eu sabia disso, mas foi um pouco prematuro, eu fiquei desapontada.
BH: Conversaremos mais com Jo Rowling em alguns minutos. Tocaremos Blue Öyster Cut. E havia uma piada mais cedo de que, se você não sabe nada sobre Blue Öyster Cut, você certamente conhece “Don’t fear the reaper”.
JKR: Com certeza! Todo mundo conhece “Don’t fear the reaper”, que, a propósito, é uma ótima música! Eu adoro!
SM: Você é fã do Stephen King?
JKR: Eu sou muito fã do Stephen King. Fiz um evento com ele e John Irving em Nova Iorque alguns anos atrás e foi uma das melhores coisas que já fiz. Eu simplesmente amei! Os dois são pessoas memoráveis.
SM: O livro de Robert Galbraith é o “Career of Evil”. A coisa sobre o Clube do Livro, Jo, é que as pessoas se cadastram online e não sabem o que vão receber, e você obviamente não sabe o que eles vão pensar. Eles enviam mensagens e fizemos uma seleção aleatória:
Tracy Oakley: “Eu não sou uma grande fã de romances policiais, mas gostei de ‘Career Of Evil’ quando me aprofundei. Eu gostei de como é atual, gostei das locações – todas me são familiar -.”
SM: A maioria das locações são apenas alguns quarteirões de distância de onde estamos.
JKR: Sim!
Chris: “Coberto de partes e problemas terríveis, mas nada diferente do que lemos nos jornais hoje em dia. Os diferentes lados da história e suspeitos me deixaram em dúvida e eu fui incapaz de descobrir quem era o assassino, o que é um reflexo do como o autor é um bom contador de histórias.”
Steve Mintley: “Eu e meus filhos somos enormes fãs de ‘Harry Potter’, então eu tenho acompanhado o trabalho da Jo há muitos anos. Eu li e adorei os primeiros livros de Robert Galbraith, são realmente uma ótima leitura. Com os dois anteriores, este livro é outro romance policial que eu fui incapaz de largar. Eu amo como o relacionamento entre Strike e Robin é desenvolvido nesse livro. E eu realmente não consegui descobrir quem era o assassino. Galbraith mostra uma lado sombrio de Londres com personagens assustadores, que deve ter despertado a inveja em muitos autores sobre crimes. Eu o li muito rápido e eu provavelmente vou o ler outra vez. Eu o recomendo muito para os fãs de romances policiais, mesmo se você ainda não leu os livros de Robert Galbraith.”
JKR: Uau!
SM: O que achou disso? Mostra um lado sombrio de Londres?
JKR: Bom, eu amo Londres. Uma das atrações para mim nessa série foi que eu teria que fazer muitas pesquisas em Londres e simplesmente amo isso. Eu devo isso ao meu marido, na verdade, porque tem lugares que eu obviamente não posso ir, e ele vai lá e checa as locações por mim, e ai eu sei se os lugares são grotescos o suficiente pra Strike ir até lá e manter as coisas realistas.
Danny Doors [DD]: “Esse foi o primeiro livro que li de Robert Galbraith e também o primeiro da J.K. Rowling, mas eu me prendi na primeira página e li o livro inteiro em duas sentadas, demorei dois dias. Este livro pertence aos altos escalões, tem personagens fortes – Stike e Robin principalmente – e um enredo rápido e várias voltas. Deixou-me na dúvida até o final.”
SM: Ele tem uma dúvida sobre as questões policiais, diz que trabalhou na policia por 30 anos.
DD: “Strike parece nominar o detetive que cuida das investigações baseado na relação antiga que eles têm. Eu servi na policia por 30 anos e acho essa situação um pouco difícil de acontecer.”
JKR: Eu concordo com ele. Acho que temos que deixar nossas crenças de lado um pouco. Não quero dizer muito por causa das pessoas que ainda não leram o livro. É uma conveniência grande que, se você está trabalhando com um detetive particular, ele terá certos contatos na polícia. E torna os livros mais prazerosos de ler se você não tem um policial diferente em cada caso, se você começa a ver as relações. Eu concordo com ele, acho que isso não aconteceria na vida real, penso que temos que deixar um pouco de lado a realidade nesse caso.
Susan Thompson: “Eu ainda não tinha lido nenhum livro de Robert Galbraith. Quando comecei, não consegui parar. Personagens realmente fantásticos! Vários suspeitos parecem culpados, o que dá muita emoção na história e me deixou na duvida. Eu particularmente gosto da história entre Strike e Robin e na forma como eles trabalham juntos.”
SM: Eu quero te perguntar sobre a Robin. As pessoas gostam muito dela. Ela poderia ter sido a personagem principal? Obviamente, do jeito que os personagens aparecem na sua cabeça, tinha que ser o Cormoran…
JKR: Na verdade, eu realmente vejo os dois como personagens principais. Eu tive a ideia para estes livros antes de terminar Potter, e da forma como eu vi esses dois se conhecendo, que acontece no primeiro livro – “O Chamado do Cuco”… Não vou dar spoilers porque isso acontece logo nas primeiras páginas… Ele quase a mata. Ele está saindo as pressas do seu escritório e o leitor conhece a Robin antes de conhecer o Strike. Você a vê andando até o escritório desse detetive sem saber o que vai encontrar. Eu o vi correndo para fora do seu escritório e ele quase a mata no encontro naquela escada de metal. E como ele se sente culpado por isso, ele concorda com que ela fique. Ele não pode bancar o serviço dela, ela foi mandada para lá por um engano. Então, para mim, foi sempre uma dupla de protagonistas, mas eu estou explorando isso… Eles são pessoas como todos nós… Nós todos temos nossos passados, todos nós saímos de um lugar obscuro. Eles tem problemas bem diferentes que precisam resolver, mas têm personalidades que se completam.
SM: Você ainda acha libertador escrever como Robert Galbraith? Digo, eu entendia no primeiro, mas agora é o terceiro. Todos nós já sabemos quem é você.
JKR: Todos já sabem quem é Robert, mas eu realmente acho libertador. O melhor foi que eu escrevi “O Chamado do Cuco” ao mesmo tempo em que escrevia “Morte Súbita”. Então, a razão pela qual meu editor pegou “Morte Súbita” foi porque ele gostou muito de Robert. E o negócio foi que, mesmo que a história acabasse, embora eu soubesse que a história continuaria por mais um tempo… Digo, Robert não faz publicidade, mas a J.K. faz. Eu estou aqui agora e estou adorando, mas gostaria que a carreira de escritor de Robert tivesse menos expectativa do público e menos campanhas publicitárias, porque eu fiz tanto isso com Potter. Agradeço muito por tudo isso, mas a verdade é que eu sou aquela autora que gosta de ficar sozinha na sala escrevendo na maior parte do tempo, embora isso aqui seja divertido. Então Robert tem uma vida mais pacata do que a minha, então eu sinto que, embora as pessoas saibam que sou eu, a vida fica mais tranquila.
SM: E agora, o fato de que no final de semana começaram as vendas para “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”, a oitava história, dezenove anos depois, de acordo com seu site… Então isso tudo meio que está acontecendo de novo.
JKR: É… Bem…
SM: Isso deve ser emocionante.
JKR: Sim. Muito emocionante. Eu sempre disse que nunca diria nunca porque eu… Tinham certas coisas na minha cabeça que eu queria que acontecesse dezenove anos depois e eu não queria escrever como um romance por razões que se tornarão claras quando as pessoas verem a peça, mas vou apenas dizer que essa peça nunca teria acontecido se essa equipe em especial não tivesse chegado até mim, pois eles são extraordinário… Acho que, juntos, nós vamos fazer uma experiência fantástica para as pessoas. Mas eu não fui atrás deles. Eles vieram atrás de mim.
SM: Você vai escrever como J.K. Rowling de novo?
JKR: Sim, claro. Tenho planos de escrever como J.K. Rowling de novo. Não vou te dar uma data fixa porque as coisas vêm sendo fantásticas e eu estou escrevendo um roteiro para “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, que tem sido muito legal, então eu estou muito ocupada, mas definitivamente vou escrever mais romances como J.K. Rowling. E sim, romances no plural, eu tenho muitas ideias…
SM: Infantil ou…?
JKR: Tenho uma ideia para um livro infantil. Na verdade, já escrevi uma história infantil que eu amei e é certo que vou finalizar ela. E também tive mais ideias para livros adultos, então…
SM: Quantas historias você tem na sua cabeça neste momento?
JKR: Muitas. Na verdade, eu, às vezes, me preocupo que morra antes que consiga escrever todas elas. Essa é minha crise de meia idade: que eu deixe a Terra antes de escrever tudo que quero.
SM: Pretende escrever sob algum outro nome?
JKR: Não. Eu acho que tentar escrever sob mais de um nome é muita falsidade. Eu gostaria que Robert tivesse durado mais, pois foi muito divertido, mas…
SM: Só uma última pergunta sobre sua família. Você mencionou que agradece seus filhos sempre que está escrevendo…
JKR: Eles são maravilhosos.
SM: Como é isso?
JKR: Bem, eu sou muito boa em pegar meu notebook, colocar no meu joelho enquanto tem desenhos passando ao fundo e as crianças estão falando comigo. Eu peço um minuto porque acabei de pensar numa frase, pego o notebook, escrevo as frases e fecho o notebook para voltar para a conversa. Eles são tão tolerantes quanto a isso. É como se eu tivesse um problema para resolver. Vou, resolvo e então volto para a sala como a Mamãe.
SM: O novo romance de Robert Galbraith é o “Career of Evil”. Jo,é prazer ter você no programa.
JKR: É um prazer estar de volta. Obrigado.
SM: Só não espere 15 anos para o próximo. J.K. Rowling, muito obrigado.
JKR: Eu que agradeço.