Recordam-se do artigo científico publicado pela revista “Current Science Magazine”? Fizemos a tradução do artigo e para ler basta clicar aqui.
Lembrando que o artigo fala sobre as possibilidades genéticas de uma criança nascer bruxa.
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Capa, Parte I, Parte II
Bruxo ou trouxa – poderiam as chances de ser um estar nos genes de uma pessoa?
Tradução: Letícia Vitória
No mundo de Harry Potter,bruxos nascem assim,não são feitos.Olhe para o Harry. Ele foi criado desde da infância por dois trouxas (normais, pessoas não mágicas), Tio Válter e Tia Petúnia Dursley. Eles não conseguiam tirar um coelho de um chapéu, sem falar em usar um feitiço de alegria, para trazer alguma felicidade para suas vidinhas malvadas.
Se Harry não pegou suas habilidades mágicas dos adultos que o criaram, de onde seus poderes vieram? De seus pais, é claro, a bruxa Lily Evans e o bruxo Tiago Potter. Da mesma maneira que crianças altas tendem a ter pais altos, as crianças bruxas na ficção de JK Rowling tendem a ter pais bruxos.
Esse não é o caso de Hermione Granger, no entanto. Ambos os seus pais são trouxas, mas ainda assim, ela é uma das melhores alunas da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Se as crianças herdam seus poderes mágicos dos seus pais, de onde a magia de Hermione vem? Há alguma lógica no mundo dos bruxos?
Sim, dizem pesquisadores genéticos da Austrália. No último verão, eles publicaram uma carta no jornal de ciência Nature que falava que bruxaria poderia ter uma base genética. A teoria é tão imaginária tanto quanto voar em uma vassoura, mas o mundo de Harry ainda pode nos ensinar algo sobre como as pessoas herdam diferentes características, diz Jeff Craig, estudioso genético do Royal Children’s Hospital, em Melbourne, Austrália.
GENÉTICA INIBIDORA
Estudiosos genéticos chamam as características que herdamos de nossos pais de traços. Traços como a cor dos olhos e dos cabelos, são determinados por longas hélices de DNA chamadas de genes. Cada pessoa tem duas versões de cada gene, uma herdada do pai e uma da mãe.
Às vezes as duas versões são idênticas. Às vezes são diferentes e são chamados de alelos. Dois irmãos podem ter cores dos olhos diferentes porque cada irmão herdou um diferente par de alelos dos seus pais.
O que há mais, alguns alelos, chamados de alelos dominantes, tem um efeito mais forte nos traços do que outros, e alelos mais fracos, que são chamados de alelos recessivos. Craig compara a situação à um pátio de escola.”O alelo dominante é um inibidor”, ele diz, “e se tem um inibidor por perto, os recessivos são colocados no lugar. Mas quando não tem ninguém ali para implicar com eles, quando não há um inibidor por ali, os recessivos podem se expressar”
HARRY, HERMIONE, HERANÇA.
Craig, junto com pesquisadores educacionais Renne Dow e Mary Anne, sugerem que a bruxaria vem de um alelo recessivo (w), que dá às pessoas os poderes mágicos. A versão trouxa (M) do mesmo gene é um alelo dominante. Apenas uma criança que herdar um alelo bruxo de cada pai (ww) pode virar um bruxo. Se a criança herdar dois alelos trouxas (MM), ele ou ela não poderá ter poderes mágicos.
Por os dois pais de Harry terem poderes mágicos, cada um deve ter dois alelos recessivos (ww). Eles podem ter passado adiante apenas genes recessivos para Harry, destinando que ele se transformasse em um bruxo.
A herança de Hermione é mais complexa, porque os dois pais dela são trouxas. Craig diz que os pais da Hermione devem ambos ser portadores de um alelo bruxo. A carreira tem um alelo recessivo e um alelo dominante – nesse caso, um w e um M. Cada um dos pais de Hermione ainda seriam trouxas porque ‘trouxismo’ é dominante e sobrepõe o ‘bruxismo’.
Mas os Grangers poderiam ter uma criança mágica passando adiante os dois alelos recessivos para seu filho.
Na vida real, algumas doenças, como a fibrose cística, são herdadas de uma maneira similar. Fibrose cística é uma doença que causa massa grossa de muco nos pulmões que leva à problemas respiratórios. É pior quando uma criança herda dois alelos recessivos, um de cada um dos pais.
HOGWARTS OU HOGWASH? (?)
Um mês após a carta de Craig aparecer, Nature publicou uma resposta de um trio de pesquisadores em plantas genéticas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Eles discordaram com a noção do time australiano. “Nós acreditamos que assumir que bruxaria tem uma base genética é determinista e sem apoio por evidências disponíveis”, eles escreveram.
O grupo de Cambridge reclama que se bruxaria é determinada por alelos recessivos, deveria então ter aparecido mais no pedigree da família Granger – a linha ancestral da família. “Como os fãs de Rowling poderiam apontar”, os pesquisadores de Cambridge escreveram, “Os pais de Hermione eram trouxas dentistas que não tem nenhuma história de magia na família”.
Mas Craig diz que pesquisadores nem sempre encontram um histórico de doenças na família nas condições médicas reais que vem de dois alelos recessivos. “Em muitos dos pedigrees, os ancestrais não mostram um caso sequer”, ele diz. “Dois alelos recessivos diferentes simplesmente aparecem juntos em uma geração em particular”. Os alelos não são apenas recessivos mas também raros.
Os pesquisadores de Cambridge também têm uma reclamação mais geral. Eles acham que a idéia de Craig é determinista – que custa um cuidado complexo com a bruxaria e assume sem evidência alguma que deve ter uma explicação genética simples. Talvez a bruxaria venha da interação de vários genes e várias influências de ambiente.
“Eu acho que isso é um ponto válido”, Craig fala. “Nós temos que tomar cuidado com a atitude de determinismo. Mas eu acho que isso depende de quão a sério você quer levar isso. Nós achamos que eles estão sendo muito sérios com isso”.
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Os quadrados cruzados são usados para as possíveis heranças padrões. Os alelos de cada pai estão no topo e no lado do quadrado. Cada quadradinho representa um possível cruzamento de alelos em uma criança. Para Hermione Granger ser uma bruxa, os pais dela deveriam ter esse quadro:
Cada criança de dois pais Mw tem uma chance igual de ter um alelo trouxa e um alelo bruxo de cada pai. Mas pelo fato do alelo trouxa ser o dominante, há três chances de produzir um alelo trouxa e uma de produzir um alelo bruxo. Então, na média, apenas uma a cada quatro crianças (ou 25%) pode ser bruxo.