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Folha de S. Paulo publica matéria sobre “The Casual Vacancy

O jornal brasileiro Folha de S. Paulo publicou nesta segunda-feira, dia 24, uma matéria escrita pela jornalista Decca Aitenhead ao The Guardian, algumas façanhas conquistadas pela série “Harry Potter” e informações sobre chegada de “The Casual Vacancy” em território nacional, pela editora Nova Fronteira.

A matéria, escrita com base na entrevista de J.K. Rowling ao The Guardian, fala sobre o novo livro da escritora (com spoilers), a sua vida e a série “Harry Potter”.

Rowling cresceu numa comunidade similar a Pagford. “Lembro como foi ser adolescente, e não foi uma época feliz. Nada que você pudesse me dar me convenceria a ser adolescente de novo. Odiei. Não era boa em ser jovem.”

Na entrevista Jo também falou sobre alguns momentos difíceis que viveu, como o diagnóstico que sua mãe recebeu durante sua adolescência, e dez anos depois a doença causou seu falecimento, e seu relacionamento com seu pai.

Ela tinha 15 anos quando a mãe recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla. Ela e sua irmã mais nova, Dianne, tinham um relacionamento difícil com o pai, e Rowling “não via a hora de sair de lá”.

Além da matéria, a publicação também contou com curiosidades relacionadas às conquistas da série, tanto literária quanto cinematográfica, como os mais de 450 milhões de livros vendidos, e uma nota sobre o lançamento da edição brasileira do novo romance de J.K. pela Nova Fronteira, que está planejado para o dia 12 de dezembro.

Você pode ler o artigo completo em notícia completa!

THE CASUAL VACANCY
J.K. Rowling para adultos

The Guardian ~ Decca Aitenhead
27 de setembro de 2012
Tradução: Clara Allain

O novo romance de J.K. Rowling chega com a pompa e o segredo de Estado de um nascimento na família real. A data de lançamento foi anunciada em fevereiro, e em abril o nome do livro, “The Casual Vacancy” (A vaga acidental), virou notícia internacional.

A rede de livrarias Waterstones prevê que será a ficção mais vendida do ano. Críticos escrevem sobre o que acham que vão pensar de um livro que ainda não leram.

Preciso assinar mais documentos do que aqueles necessários para comprar uma casa antes de ler a obra, sob segurança rígida, na sede da Little, Brown em Londres.

Sou instruída a jamais revelar a localização do escritório de Rowling em Edimburgo, na Escócia.

A simples perspectiva da entrevista assume a aura de uma audiência com a rainha – mas, como se sabe, Rowling é muito mais rica que ela.

Nos 15 anos desde o primeiro “Harry Potter”, Rowling passou de uma ruiva desarrumada que escrevia em cafés a uma loira elegante, irreconhecível por trás de um brilho de riqueza e controle.

US$ 1 BILHÃO EM LIVROS

Ex-mãe solteira e sem dinheiro, ela foi a primeira pessoa a ganhar US$ 1 bilhão com livros, mas suas aparições sugerem frieza e distância. Lembram menos a Cinderela e mais a Rainha da Neve.

Muitas vezes, pareceu não gostar do seu conto de fadas, tendo contratado advogados mais de 50 vezes para defender sua privacidade e processado um fã por criar uma enciclopédia de “Harry Potter”.

Quem tem fama de controlador em geral é megalomaníaco ou busca proteção. Descubro em qual categoria Rowling se enquadra quando sua agente liga uma hora antes do encontro.

Uma exigência de última hora? Não: Rowling está em sua sala há horas e quer mudar de ares. Eu as encontro no saguão de um hotel.

Calorosa e animada, bate papo tão livremente que a assessora lhe pede para abaixar a voz. “Não posso ficar animada e cochicar!”, diz.

Quando comento que adorei o livro, ela ergue os braços. “Estou tão feliz! Isso é incrível. Obrigada!” Qualquer um que a ouvisse a tomaria por uma escritora iniciante encontrando seu primeiro fã.

De certo modo, é. Ela vendeu mais de 450 milhões de cópias de “Harry Potter”, mas seu primeiro romance para adultos é diferente em tudo – a não ser que se considere o lugar onde teve a ideia. “Preciso estar num veículo para ter uma ideia decente”, ela ri. Tendo idealizado Harry Potter num trem, “desta vez estava num avião. E pensei: eleição local! Tive aquela reação física que vocês tem diante de uma ideia que sabe que funcionará.”

MORTE

A história começa com a morte de um membro da Câmara do vilarejo de Pagford, na Inglaterra. Barry passara a infância no conjunto habitacional The Fields, gueto rural decadente com o qual a radicional classe média de Pagford perdeu a paciência.

Se ela conseguir pôr na vaga de Barry m vereador que também rejeite o conjunto habitacional, conseguirá uma maioria de votos para transferi-lo ao município vizinho.

O presidente do conselho presume que a vaga ficará com seu filho. Opõem-se a ele um frio clínico geral e um vice-diretor de escola paralisado pela ambivalência em relação ao filho, cuja subversão consiste em contar a verdade. O adolescente fica fascinado por The Fields e sua família mais notória, a Weedon.

Terri Weedon é uma prostituta que tenta se livrar do vício em drogas para não perder os benefícios sociais do filho de três anos.

A maior parte dos cuidados ao menino cabem à filha adolescente de Terri, Krystal. Esta só teve um aliado adulto na vida, Barry, e fica à deriva com a morte dele.

Quando mensagens anônimas surgem no site da Câmara, Pagford mergulha num misto de paranoia e tragédia.

Os aspectos cômicos de Pagford servem como parábola sobre a política nacional.

“Acho interessante a pressa da sociedade em julgar”, diz Rowling. “Todos conhecemos a injeção de ânimo do ato de condenar. No curto prazo, satisfaz, não?” Mas exige olhos fechados para os horrores sofridos pelos Weedon, e o livro satiriza as elites que supõem saber o que é melhor para todos.

“Quantos de nós conseguimos abrir nossas mentes para além de nossa experiência? A ideia de que outros possam ter experiências tão diferentes da nossa que suas escolhas sejam também diferentes é algo que gente inteligente não consegue entender. Pobres são avaliados como se fossem uma massa homogênea, um mingau.”

“Tem havido uma mudança de ares horrivelmente familiar [desde a eleição de 2010 no Reino Unido], como no início dos anos 1990, quando houve redistribuição de benefícios e famílias de mãe e pai solteiros ficaram em situação um pouco pior. Mas, quando se está nessa situação, mesmo dez libras semanais fazem diferença.”

Como tantos romances britânicos, “The Casual Vacancy” é sobre classes sociais. “Somos uma sociedade esnobe”, Rowling diz, “e isso é um aspecto rico. A classe média é engraçada; é a classe que conheço melhor e na qual vemos mais pretensão.”

O livro é tão divertido que só se percebe na metade dele que cada personagem é monstruoso.

Escrito desde vários pontos de vista, convida o leitor a entrar na cabeça de cada um deles, esclarecendo coisas que, vistas de fora, parecem indesculpáveis.

PASSADO

Rowling cresceu numa comunidade similar a Pagford. “Lembro como foi ser adolescente, e não foi uma época feliz. Nada que você pudesse me dar me convenceria a ser adolescente de novo. Odiei. Não era boa em ser jovem.”

Ela tinha 15 anos quando a mãe recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla. Ela e sua irmã mais nova, Dianne, tinham um relacionamento difícil com o pai, e Rowling “não via a hora de sair de lá”.

Estudou francês e letras na Universidade de Exeter, foi trabalhar na Anistia Internacional em Londres, perdeu a mãe aos 25 e foi dar aulas de inglês no exterior, voltando aos 28 com uma filha de seis meses após um casamento catastrófico com um jornalista português.

Sem dinheiro, com ideias suicidas, mudou-se para Edimburgo e sobreviveu de benefícios sociais enquanto escreveu o primeiro “Harry Potter”. Após rejeições, o manuscrito foi comprado pela Bloomsbury por 2.500 libras (cerca de R$ 8.200).

Um documentário de 2007 a mostra dez anos mais tarde, com riqueza e fama inimagináveis. Há uma tensão em seu rosto e um tom irônico-agressivo em suas falas.

Nada disso é perceptível hoje. Pergunto a ela se foi preciso tempo para o DNA emocional de sua juventude passar pela mutação para corresponder a sua nova vida.

“Durante anos me senti numa esteira ergométrica psicológica, tentando correr para alcançar o lugar em que estava. Não conhecia ninguém para quem perguntar ‘como você fez?’. Era desorientador.”

Além da terapia, quem a ajudou foi Neil Murray, médico com quem casuo em 2001 e com quem tem dois filhos.

Para ela, hoje seu mundo emocional está conciliado com a realidade. “Sou a autora mais livre do mundo.”

Cito palavras dela de uma entrevista de 2005: “A primeira coisa que escrever pós-‘Harry’ pode ser horrível, mas as pessoas vão comprar. Então você fica com essa insegurança.” Rowling concorda com a cabeça. “Esse era meu pior pesadelo. Haveria uma guerra de lances pelo livro, e eu ficaria com quem tivesse a carteira maior, que compraria o livro pelo fato de eu ter escrito ‘Harry Potter’.”

“Mas tive sorte com isso, porque encontrei David Shelley, meu editor agora, sem que ele soubesse que havia um livro. Mencionei o que eu talvez tivesse, sem dizer que estava quase concluído. Não houve leilão. Foi uma ótima maneira de achar um editor.”

Rowling teria algo artístico a comprovar? Alguns críticos desdenharam “Harry Potter” – “Em uma única página do primeiro livro”, Harold Bloom lamentou, “conto sete clichês”. Pergunto se Rowling escreveu o livro adulto para provar a esses críticos. Ela suspira. “Acho que não conseguiria fisicamente escrever um romance por esse motivo.”