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Magia do Cinema: “Aquarius”

“Aquarius” é o segundo longa-metragem de Kleber Mendonça Filho. Pernambucano e crítico de cinema, seu primeiro longa, “O Som ao Redor” (2012), ganhou destaque internacional ao levar diversos prêmios em festivais consagrados e chegou até a representar o Brasil no Oscar. Havia, portanto, muita expectativa para seu mais novo filme. Surpreendeu. Para o bem ou para o mal?

“‘Aquarius’, apesar de também ter esse aspecto [da urbanização], leva para um ponto mais subjetivo: o da memória e o da preservação. É certo que novos condomínios mudam a cara da cidade, mas há muito foco em como isso afeta a vida das pessoas. Antes de Clara, sua tia morou no Aquarius. Clara criou seus filhos no seu apartamento. Como abrir mão de algo sempre tão presente?”

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“Aquarius”
Crítica cinematográfica por Marina Anderi

O enredo de “Aquarius” gira em torno de Clara (Braga), uma mulher em seus 60 anos que mora sozinha em seu apartamento na Avenida Boa Viagem, em Recife. Cercada por prédios cada vez mais luxuosos, o problema começa quando querem demolir o seu para construir um mais moderno. Sendo a única pessoa que ainda reside no prédio Aquarius, está em suas mãos o futuro do novo empreendimento. Vender ou não vender?

Quem viu “O Som ao Redor” sabe que a trama gira em torno de um bairro e, logo, é muito evidente a questão da urbanização de Recife. “Aquarius”, apesar de também ter esse aspecto, leva para um ponto mais subjetivo: o da memória e o da preservação. É certo que novos condomínios mudam a cara da cidade, mas há muito foco em como isso afeta a vida das pessoas. Antes de Clara, sua tia morou no Aquarius. Clara criou seus filhos no seu apartamento. Como abrir mão de algo sempre tão presente?

Clara, em si, é uma personagem incrível. Escritora, viúva, mãe de três filhos, apaixonada por música. Há um representação da mulher idosa que falta muito no Brasil, principalmente na mídia. Ela é vó? Sim. Não está morta. Tem suas ambições e desejos, inclusive sexuais, como todo mundo. E está determinada a não ser deixada para trás, independente do que os mais jovens à sua volta digam.

Sonia Braga encara Clara e sua vida de forma cética, porém bem-humorada. O filme em si é muito engraçado e transita muito bem da comédia para o drama sem sacrificar nenhum de seus elementos. Não apenas se vê, mas também se sente claramente o que está passando na tela. Kleber sabe provocar, puramente pelos enquadramentos escolhidos, tensão, risada, raiva e dor. Se ele é considerado um dos grandes cineastas dessa fase do cinema brasileiro… É merecidíssimo.

P.S.: Algo muito interessante é que o filme começa com uma sequência que se passa nos anos 80, que é praticamente uma síntese do que está por vir. Os pontos tocados no início são os mesmos que serão explorados a fundo mais tarde. Vale prestar atenção nisso.

Direção: Kleber Mendonça Filho.
Roteiro:Kleber Mendonça Filho.
Duração: 145 minutos.
Estreia: 01 de setembro de 2016.

Marina Anderi é estudante de Cinema na Universidade Federal de Pernambuco e Webmistress do Potterish.