J. K. Rowling

J.K. Rowling dá dicas de escrita

J.K. Rowling publicou em seu website dicas de escrita. No texto, publicado em duas partes na sessão de perguntas e respostas, a autora diz que não existe fórmula exata para o sucesso e, por isso, abomina listas de exigências. Mas ela recomenda o que NÃO fazer.

Por J.K. Rowling

Leitura

Isso é especialmente para os jovens escritores. Você não vai ser um bom escritor se não for um leitor voraz. Ler é o melhor jeito de analisar o que faz um livro ser bom. Perceba o que funciona e o que não funciona, o que você gostou e o porquê. No início, você provavelmente vai imitar seus autores preferidos, mas esse é um bom jeito de aprender. Depois de um tempo, você vai econtrar sua própria voz.

Disciplina

Momentos de pura inspiração são gloriosos, mas a maior parte da vida de um escritor é, para adaptar o velho clichê, esforço, em vez de inspiração. Às vezes você tem que escrever mesmo quando a musa [inspiradora] não está cooperando.

Resistência e humildade

Essas duas andam juntas, porque rejeição e críticas fazem parte da vida de um escritor. Uma crítica bem construída é útil e necessária, mas alguns dos maiores autores foram rejeitados diversas vezes. Ser capaz de levantar-se e continuar andando são habilidades indispensáveis se você quiser sobreviver ao ter seu trabalho julgado em público. A crítica mais dura geralmente está dentro de sua cabeça. Hoje eu consigo acalmar essa crítica específica dando uma bolacha e um descanso a ela, mas no começo eu chegava a precisar de uma semana de descanso até que ela passasse a olhar com mais generosidade para o que eu estava escrevendo. Um dos motivos para eu ter demorado sete anos entre a ideia e a publicação de A Pedra Filosofal é que eu chegava a esconder o manuscrito por meses, convencida de que não prestava.

Coragem

Medo de falhar é o motivo mais triste deste mundo para não fazer o que você nasceu para fazer. Eu finalmente tive coragem de começar a mandar meu primeiro livro para agentes e editoras em uma época em que eu me sentia fracassada. Foi só então que eu decidi que tentaria fazer o que eu sempre achei que fôsse capaz e, se não desse certo, pelo menos eu teria enfrentado e sobrevivido ao meu pior medo.

No fim das contas, você prefere ser a pessoa que terminou o projeto dos seus sonhos ou a que fala “do que sempre quis fazer”?

Independência

Com isso, eu quero dizer resistir à pressão de achar que você tem que seguir religiosamente todas as Melhores Dez Dicas, o que ultimamente já não é apenas listas online, mas livros que prometem revelar como escrever um best-seller, o que você DEVE fazer para ser publicado ou como se tornar milionário escrevendo.

Eu costumava indicar um website chamado Writer Beware para escritores novos e aspirantes. É uma fonte maravilhosa para quem está tentando decidir o que pode ser útil, o que vale à pena pagar e o que deve ser evitado a todo custo. Infelizmente, existem muitos tipos de golpes por aí que não existiam quando eu comecei, especialmente online.

No fim das contas, tanto na escrita quanto na vida, seu trabalho é fazer o melhor que você pode, melhorando suas próprias limitações onde for possível, aprendendo tanto quanto puder e aceitando que obras de arte perfeitas são simplesmente mais raras do que seres humanos perfeitos. Muitas vezes, eu me conforto com as palavras de Robert Benchley: “Levei cinquenta anos para descobrir que eu não tinha nenhum talento para escrever, mas eu não podia desistir, porque quando me dei conta já era famoso demais.”

Perguntas

O que você mais ama na vida de escritora?
Não consigo responder isso sem soar melodramática. A verdade é que eu realmente não consigo separar a “vida de escritora” da “vida”. É mais uma necessidade do que um amor. Eu provavelmente passo a maior parte da minha vida em mundos fictícios, o que algumas pessoas podem achar triste, como se faltasse algo na minha vida. Mas não é! Sou uma pessoa feliz, de maneira geral, com uma família que eu amo e alguns afazeres que adoro. Só que eu tenho alguns outros mundos em minha mente de onde entro e saio com frequência, e eu não sei direito como seria viver de outra maneira.

Como é ter seu trabalho analisado minuciosamente?
Ter seu trabalho analisado é algo inevitável para um escritor profissional. Nunca sonhei que haveria um fandom tão grande de Harry Potter dissecando os livros. É atordoante e maravilhoso e, considerando que eu mesma sou levemente obsessiva, são sentimentos correspondentes.

Eu literalmente poderia ter passado toda hora de todos os dias discutindo personagens, plot twists e teorias de Harry Potter com os fãs nos últimos dez anos, mas, como quero trabalhar em coisas novas, eu não cedo à essa tentação com tanta frequência.

Sinto falta da época em que eventos e sessões de leituras eram mais moderados. Não estou reclamando, mas quando seu público aumenta você obviamente não consegue responder a todos que querem te fazer uma pergunta. Ser capaz de interagir com as pessoas no Twitter resolve isso de certa maneira. É surpreendente que as pessoas ainda estejam tão interessadas nesses livros, e duvido que eu vá parar de interagir enquanto houver leitores que conhecem este mundo tão bem.

Estou em uma nova fase com os fãs neste momento, porque estou trabalhando dentro do Mundo Bruxo novamente, com Animais Fantásticos. Mais uma vez, estou ponderando a interação com os fãs, por não ser capaz de responder a algumas perguntas na integra, porque só fizemos dois de uma série de cinco filmes. Mas é um problema legal de ter.

Traduzido por Rodrigo Cavalheiro e Aline Michel. Revisado por Caroline Dorigon e Pedro Martins.