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Deus salve as rainhas!

Como, infelizmente, o número de autoras mundialmente reconhecidas ainda é pequeno em relação aos homens, é normal que sejam estabelecidas algumas comparações entre escritoras, principalmente se elas são do mesmo país.

Uma das maiores romancistas da história, Agatha Christie teria influenciado J.K. Rowling? Quais elementos da cultura britânica existem nas histórias policiais e mágicas das duas? Leia a coluna de Orlando Louzada e deixe seu comentário!

por Orlando Louzada

Você já parou pra pensar por que gosta tanto do mundo de J. K. Rowling? Certamente cada um daria uma resposta, mas ainda mais certo que isso, uma resposta em comum à maioria seria a magia. Não a magia como Wingardium Leviosa, mas sim a magia criada pela autora para nos prender a leitura. Não, ela não enfeitiçou os livros para que não os largássemos mais, afinal ela não é uma bruxa (apesar de eu ter certas desconfianças quanto a isso). Quero falar sobre o modo que ela usou para escrever.

Quantos autores começaram uma obra de sete livros com a frase (magnífica frase, devo dizer), “O Sr. e a Sra. Dursley, da Rua dos Alfeneiros, nº 4, se orgulhavam de dizer que eram perfeitamente normais, muito bem obrigado”. Em minha opinião “muito bem, obrigado” tem um papel muito importante nessa frase, afinal é típico dos britânicos dizer “muito bem, obrigado”. Essa frase me faz lembrar das velhotas solteironas que moram em pequenas vilas na Inglaterra, e que tomam chá às cinco da tarde. Se você tem um pouco mais de idade, e gosta muito de ler, já se deparou com Agatha Christie, e sua personagem Miss Jane Marple, uma velhota solteirona que mora em uma pequena vila na Inglaterra, bebe chá às cinco da tarde, e que com toda certeza, diz “muito bem, obrigado”.

Agatha é mundialmente famosa por seus livros (Por favor, diga-me o que esses britânicos tomam pra ser tão famosos… Talvez seja o chá!), que são, em sua maioria, romances policiais. Mas não estou aqui para lhe contar a biografia de Agatha, mas sim de fatos curiosos em sua obra.

Tão certo quanto um bufador de chifre enrugado é um bufador de chifre enrugado, você pensaria em Harry Potter se visse as iniciais HP em algum lugar. Bom, pelo menos foi o que eu pensei quando, lendo uma das versões de “Assassinato no expresso do oriente”, deparai-me com uma mala de viagem com tais iniciais. Mas tratava-se de Hercule Poirot, o personagem mais famoso de Agatha Christie, seguido pela velhota Miss Marple. Ambos são detetives, embora cada um tenha seus singulares modos de investigar e solucionar um caso. Harry seria um auror, posteriormente, ou seja, seu objetivo seria por atrás das grades de Azkaban qualquer um que fizesse mal aos outros e não cumprisse as leis. Assim como os dois detetives, que tentam solucionar casos, que vão desde assassinatos até roubos de pudim (Luna Lovegood é de outra história, gente), para que os culpados sejam punidos.

Em outra história, o “Assassinato na casa do pastor”, um dos casos de Miss Jane Marple, o velho rico senhor Protheroe é assassinado, como o próprio nome do livro diz, na casa do pastor. Os suspeitos vão de sua filha, Letice, um garota baixa, loira, desligada do mundo, com olhos sonhadores, e que anda deslizando (Eu já disse, Luna Lovegood é de outra história), até uma nova moradora da vila, uma mulher de rosto muito branco, e cabelos desgrenhados de sobrenome Lestrange (lê-se “Eu matei Sirius Black”, e não Lestrange). Bom não vou contar o final, caso alguém tenha se interessado e vá procurar pelo livro.

Agatha é considerada a Rainha do crime devido ao grande sucesso de suas histórias no mundo todo. Consideramos Jo como nossa rainha. E a Inglaterra ainda tem a rainha Elizabeth II. É um pais de rainhas. Isso sem mencionar Jane Austen, considerada a rainha do romance.

Não me entenda mal: eu não quis dizer que J.K. copiou os nomes de outros autores. Eu quis dizer que é impossível não associar uma coisa a outra, afinal as duas são britânicas, que escreveram histórias britânicas, ou seja, são nomes reais incorporados a trama dos livros, que redundantemente, sem querer ser redundante, também são britânicos. Lembro-me ainda qual foi minha reação ao me deparar com a senhorita Mary Hermione Debenhan, também de “O assassinato no expresso do oriente”.

Esse ar britânico é o que nos prende. Os cafés, os bondinhos, a pontualidade, a literatura, a realeza, o frio, e até a música. Muitos leitores da saga Harry Potter passaram a ouvir Beatles, simplesmente por se identificarem com esse “ar britânico”. Quem nunca ouviu falar de Shakespeare, Adele, Amy Winehouse… Que lance o primeiro feitiço quem não quer visitar Londres algum dia.

Caso alguém queira ser da realeza, a Rainha Jo estará dando um chá, hoje as cinco em ponto. Em ponto!

Orlando Louzada foi enfeitiçado por Londres.