Em recente entrevista à Playboy, Daniel Radcliffe falou um pouco sobre sua intimidade comentando temas como religiosidade, o seu legado como Harry Potter para próximas gerações e conflitos de sua adolescência durante as gravações dos filmes da série.
Quando perguntado sobre o que sentiu ao perceber que o papel de Harry o seguiria pelo resto de sua vida, Daniel foi categórico:
“No início, quando eu saía em bares e pubs, eu tentava fingir que poderia ter uma vida normal. Mas aí você percebe que as pessoas sabem quem você é, e quando você está em um bar elas já preparam as câmeras de seus celulares. Eventualmente você aceita que tem que adaptar a sua forma de viver.”
Apesar do astro se dizer ateu, Dan se identifica como judeu e foi questionado sobre a religião:
“A última coisa judaica que eu fiz foi visitar a minha avó. [risos] Isso conta? Minha mãe é judia; meu pai é protestante. Nós éramos péssimos judeus. Eu cresci com árvores de Natal. Comemos bacon. Minha avó segue as tradições judaicas, mas ela é educada antes de seguir as tradições.”
Sobre a maioria dos jovens atores serem considerados babacas devido a grande fama a sua volta, Daniel explica porque se sente diferente destes:
“Eu adorava estar em um estúdio. Eu adorava minhas horas lá. Eu adorava as pessoas. Adorava as coisas malucas e estranhas que eu tinha que fazer todos os dias. Atuação era o foco para mim, e eu não faria nada para prejudicar minha profissão de ator.”
Ao ser perguntando sobre a última coisa que procurou no Google, o ator brinca:
“Isto é meio constrangedor: procurei a altura mínima de um soldado da Marinha.”
Confiram a tradução da entrevista na íntegra no modo notícia completa!
20 Perguntas
PLAYBOY ~ Rob Tannenbaum
20 de outubro de 2015
Tradução: Bruna Lopes
Revisão: Luiza Miranda
Playboy [P]: Você tinha 12 anos quando o primeiro filme de Harry Potter foi lançado. Em que momento você percebeu que este papel te seguiria pelo resto de sua vida?
Daniel Radcliffe [DR]: Acho que ficou claro para mim somente nos últimos anos. Na sua cabeça, você pensa que tudo vai acabar quando a série terminar. No início, quando eu saía em bares e pubs, eu tentava fingir que poderia ter uma vida normal. Mas aí você percebe que as pessoas sabem quem você é, e quando você está em um bar elas já preparam as câmeras de seus celulares. Eventualmente você aceita que tem que adaptar a sua forma de viver.
P: A série Potter acabou. Toda a atenção foi embora?
DR: Parece que eu sou ainda mais reconhecido agora. Isto que é assustador: Se você tinha 14 anos quando o primeiro filme foi lançado, você deve estar agora nos seus 30 anos e pode muito bem ter um filho com 10 anos ou menos para quem você está apresentando Harry Potter. Já estamos chegando na próxima geração. Isto é muito bizarro. Nunca vai acabar.
P: Por que a atração não diminuiu?
DR: Porque a história é ótima! Uma grande parte da nossa cultura atual é que se algo se torna bem-sucedido, gera uma repercussão negativa. Com Harry Potter não teve isto. Existem pessoas que não querem ler os livros, mas o número de pessoas que leram e não gostaram dele de verdade é muito baixo. Os livros são ótimos, e eles vieram no momento perfeito, quando havia um medo, por causa do crescimento dos jogos de computadores, de que a leitura ia se tornar algo do passado. Quando as crianças de repente encontraram estes livros, foi algo que todos puderam aproveitar como uma população global.
P: Você foi muito franco sobre o fato de que você bebeu demais entre seus 18 e 20 anos. Isto foi uma reação à pressão do público?
DR: Todas as vezes que eu saia para dançar, apareciam câmeras na minha frente. Isto me fez ficar muito inseguro, e qual a maneira mais fácil de se livrar da insegurança? O álcool é uma maneira rápida de fazer isto. Então ficou relacionado desta maneira. Alguns anos atrás havia uma propaganda de TV que mostrava um monte de inventores, inclusive um cara que inventou a câmera de celular. Ele estava sorrindo orgulhoso para a câmera, e eu só pensava “Vai se ferrar. O que foi que você fez?” [risos] Celular com câmera definitivamente não é minha coisa favorita.
P: Você disse que era um “bêbado irritante, barulhento, inconveniente e bagunceiro”. Você pode nos dizer de que maneiras era bagunceiro?
DR: Não, não, não. Já disse demais. Se torna doloroso quando você vê seus problemas pessoais, que você tentou tratar de forma sincera, se tornando um alimento para os programas de fofocas da TV. Eu fui franco sobre este assunto, como você disse, mas uma vez que você começa a falar sobre isto, você não fala mais sobre outra coisa. Posso dizer muitas coisas com a melhor das intenções – por que isto aconteceu e como eu parei – por três horas, e a manchete seria BÊBADO NO ESTÚDIO DE HARRY POTTER. Então eu não falo muito sobre isto agora.
P: No novo filme Victor Frankenstein, você interpretou o assistente corcunda Igor. Como um ator, qual a atração em atuar como alguém malformado?
DR: Não é tipo “Ah, ótimo, como será que eu posso ter uma terrível dor nas costas pelos próximos meses?” É mais um acolhimento ao desafio físico. Se você faz algo que te faz sentir um pouco de dor, você sente como se estivesse trabalhando um pouco mais do que você geralmente faz como ator. Eu atuei na peça The Cripple of Inishmaanpor quatro meses em Londres e nunca tive nenhum problema físico. Fazer o que fiz em Frankenstein por três semanas foi ferrado. Tem uma câimbra no meu pescoço que eu não tinha antes.
P: Você é um cara pequeno. O seu tamanho restringe os papeis que você pode interpretar?
DR: Eu acho que não. Dustin Hoffman e Tom Cruise têm carreiras bem diferentes, e ambos têm mais ou menos a mesma altura que eu. Eu poderia interpretar um soldado. A altura mínima para um soldado da Marinha é 1,5m, e eu sou bem mais alto que isto. Se está perguntando “Você consegue interpretar uma pessoa grande pra caramba?” Não, claro que não. [risos] Posso interpretar um cara negro? Por razões semelhantes, não. Não posso interpretar algo que eu não pudesse me levar à sério. Não conseguiria me levar a sério como um zagueiro num filme de futebol, o que é minha única queixa de verdade. Eu adoraria estar em um filme de futebol. O único papel que eu pegaria é o de agente.
P: Você disse que sua atuação em Harry Potter e a Ordem da Fênix, o quinto filme da série, foi a sua melhor, mas você odeia assistir você mesmo no sexto filme, O Enigma do Príncipe. Como sua melhor e pior atuação vieram tão seguidas?
DR: Em todos os filmes até o sexto, dá para ver um grande passo à frente na minha atuação. Mas isto parou, ou regrediu talvez, no sexto filme. Eu realmente adorei minha atuação no quinto – parte disto graças o quanto trabalhei com pessoas como Gary Oldman e David Thewlis. No sexto, eu me lembro de estar assistindo e pensando “Nossa, não teve crescimento nenhum”. Você assiste a um erro que você fez todos os dias por 11 meses – esta é a maneira que eu vejo isto. Eu tinha o pensamento de que Harry era um soldado traumatizado pela guerra, e como resultado disto, ele se fecha emocionalmente. Isto não é uma má ideia, mas não é a coisa mais interessante de se assistir durante duas horas e meia.
P: Você conheceu sua namorada, Erin Darke, quando vocês estavam ambos no filme Versos de um Crime. Há uma cena em que a personagem dela faz um boquete no seu personagem na biblioteca. Vocês já estavam namorando neste momento?
DR: Não. Este é um ótimo registro da gente se paquerando pela primeira vez. Aquilo não era atuação – não da minha parte, pelo menos. Tem um momento que ela me faz rir, e eu estou rindo como eu mesmo, e não como meu personagem. Ela era incrivelmente engraçada e inteligente. Eu sabia que estava em apuros.
P: Como foi que o pai dela acabou falando para a imprensa que você não estava noivo da filha dele?
DR: Quando eu visitei a casa dela no Natal, houve uma tempestade na mídia de Michigan. Estávamos sentados na sala de estar do pai dela, e aí o telefone tocou. Ele disse “Bem, é do Detroit Free Press”. Eles estavam ligando para falar sobre um boato de que estávamos lá para nos casar nas margens do Lago Michigan. O engraçado é que eles conseguiram o número dele porque ele era assinante. [risos] De repente eu tive aquele momento de “Oh, minha vida estranha está começando a afetar a sua”. Eu me senti muito mal. Ainda bem que eles acharam engraçado. Tenho que dizer, normalmente eu não leio notícias sobre mim, mas eu li todas as de lá porque eles foram tão legais. “Ele comeu no Bob Evans! Ele comprou uma camiseta na Flint do centro!” Estes jornalistas de Michigan eram tão alegres que eu realmente gostei de lá. Normalmente tenho que lidar com os tabloides britânicos, então esta foi a história de imprensa mais agradável que já aconteceu comigo.
P: Gary Oldman deu uma entrevista à Playboy no ano passado em que disse “Daniel Radcliffe, agora é ele quem tem dinheiro de filho da mãe.” Você já sentiu ressentimento nos estúdios sobre seu sucesso?
DR: Gary me apresentou esta frase. Quando eu fiz meu primeiro filme sem ser Potter, Um Verão Para Toda Vida, eu fiz bastante amizade com os times da maquiagem e cabelo. Depois de algumas semanas, eu disse “Então, honestamente, o que vocês estavam esperando quando descobriram que iriam ser responsáveis por mim?” E elas disseram “Achávamos que você seria um filho da mãe”, porque esta é a impressão que as pessoas têm em suas cabeças de crianças famosas. As pessoas supõem que eu seja um grande babaca. E quando eu não sou, isto conta a meu favor.
P: As pessoas imaginam que crianças famosas são babacas porque muitas delas realmente são. O que foi diferente na sua experiência?
DR: Eu e os produtores de Potter tivemos sorte de uma forma que ninguém esperava: eu gostava pra caramba daquele trabalho. Vi crianças nos estúdios que estavam entediadas, e eu ficava tipo “Que você está fazendo? Este é o melhor lugar da Terra”. Eu amei tudo aquilo desde o momento em que disseram “ação”. Eu adorava estar em um estúdio. Eu adorava minhas horas lá. Eu adorava as pessoas. Adorava as coisas malucas e estranhas que eu tinha que fazer todos os dias. Atuação era o foco para mim, e eu não faria nada para prejudicar minha profissão de ator.
P: Você deu foco principalmente à filmes independentes e de baixo orçamento desde que fez Potter. Algum dia as pessoas vão parar de te ver como Harry?
DR: Um dos subprodutos positivos da cultura de celebridades para atores como eu, que ficaram presos a um personagem por muito tempo, é a oportunidade das pessoas me conhecerem. Não acho que Mark Hamill, por exemplo, teve a mesma oportunidade de as pessoas poderem conhecê-lo. Quando fui no programa de Jimmy Fallon e cantei o rap da música Blackalicious, eu consegui um emprego a partir disto – interpretar Sam Houser em Game Changer, o filme sobre Grand Theft Auto. Isso fez com que o cara responsável pensasse “Bem, ele tem interesse em hip-hop. Ele não é só um típico garoto branco metido.
P: Qual foi a última coisa que procurou no Google?
DR: Isto é meio constrangedor, porque eu me referi a isto antes na nossa conversa, e parecia um pedaço de informação que eu já conhecia: a altura mínima de um soldado da Marinha. Eu estava lendo um roteiro em que eu interpretaria alguém que diz que é um cara da Marinha, então eu pensei “Ah, vou pesquisar”. A maioria das minhas pesquisas e do meu tempo na internet é gasto no NFL.com, Deadspin e outros sites esportivos. Eu passei isto para minha namorada, e agora quando eu estou longe, se ela der uma olhada no Deadspin isso a ajuda a não sentir muito minha falta.
P: Você passou toda a sua adolescência fazendo os filmes de Harry Potter. Para a maioria dos meninos adolescentes, a vida se resume em achar um tempo para se masturbar. Havia tempo para isto num estúdio cinematográfico?
DR: Sim, eu era igual todos os outros adolescentes neste sentido. Minha frase favorita sobre masturbação é de Louis C.K., algo como “descobri isto quando eu tinha 11 anos, e eu nunca pulei um dia”. Eu acho que comecei bem cedo – antes da minha adolescência. Mas não quando eu estava nos estúdios. Eu não ficava pensando “Quando é que Alan Rickman vai arrebentar nessa cena para eu poder voltar pro meu camarote?” Existe um outro medo, de novo perfeitamente descrito por Louis C.K.: o medo de que logo depois de se masturbar todo mundo vai saber o que você fez. Seria muito constrangedor voltar para o estúdio e olhar nos olhos as personalidades da realeza britânica de atuação, sabendo o que acabei de fazer.
P: Você é ateu, mas também se identifica como judeu. Qual foi a última coisa judaica que você fez?
DR: A última coisa judaica que eu fiz foi visitar a minha avó. [risos] Isso conta? Minha mãe é judia; meu pai é protestante. Nós éramos péssimos judeus. Eu cresci com árvores de Natal. Comemos bacon. Minha avó segue as tradições judaicas, mas ela é educada antes de seguir as tradições. Se ela for na casa de alguém e eles cozinharem bacon, ela vai pensar “Eu não quero causar nenhum transtorno”. Talvez ela não seja educada – talvez ela só queira secretamente comer bacon.
P: Quando você estava fazendo Equus na Broadway, você estava nu durante grande parte da peça. Você fez alguma carícia?
DR: Cara, não existia oportunidade para carícias. Eu estava no palco o espetáculo inteiro, e eu corria pelo palco pelado por 10 minutos em uma cena sobre falha no sexo e cegamento de cavalos. Mas ouvi histórias de atores que colocavam tiras elásticas em seu pênis. Se você se masturba e coloca um elástico na base do pênis, isto mantem o sangue ali, e aí você tira o elástico e vai para o palco. Eu teria que fazer isto uma hora e meia antes de começar. Tenho certeza que eu teria me castrado. Eu era bem medroso e tinha 17 anos quando fiz Equus, que é a idade em que você está mais inseguro. E eu tinha consciência que uma certa porcentagem da audiência estava ali para ver meu pênis todas as noites. Olhando para o passado, isso foi loucura. Eu tenho muito respeito por mim mesmo por ter tido colhões para fazer isso, digamos assim.
P: Você é filho único, e você disse que você quer ter muitos filhos. Sua infância foi solitária?
DR: Nem um pouco. Você amadurece muito mais rápido – eu fiquei muito bom em me divertir comigo mesmo. Por razões egoístas, eu gosto da ideia de ter vários filhos. Eu quero tipo um “Onze Homens e Um Segredo” de filhos.
P: Eles vão roubar um cassino?
DR: E o asiático vai ser flexível e um ótimo ginasta. [risos] Seria ótimo se eu pudesse criar crianças suficientes para fazer isto. Você provavelmente pode fazer isto com menos de 11 se você começar o treinamento deles bem cedo.
P: Você tem 26 anos, o que significa que você é famoso por mais da metade de sua vida. Pessoas desconhecidas acham que te conhecem desde sua infância?
DR: Ser reconhecido nas ruas te ensina que a maioria das pessoas são educadas e legais e só querem uma rápida foto. De vez em quando você topa com um idiota. Normalmente eles estão bêbados. Os idiotas também querem uma foto, mas eles querem ser idiotas quando estão tirando a foto com você. Eles começam falando “Só para você saber, eu nunca gostei de verdade dos filmes de Harry Potter”. Obrigada, seu imbecil; isto são 10 anos da minha vida. Uma vez, uma menina chegou até mim e disse “Posso tirar uma foto?” Eu disse “Sim, claro, se você quiser.” E ela diz “Bem, eu não teria perguntado se eu não quisesse”. Que diabos? [risos] E é claro, eu sendo eu, só respondi “Desculpa, foi besteira minha”. Aí ela se afasta e Erin me diz “aquela garota foi uma idiota com você. Você não precisa ser legal com pessoas rudes”. Mas sou melhor em falar não do que [o co-estrela de Potter] Rupert Grint. Ele acabou indo para a casa de uma fã porque ele não conseguiu falar não para nada que elas dissessem. Aí é quando a coisa chega longe demais.