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As várias faces da morte

Qual é o tema mais importante de Harry Potter? Você pode dizer que é a amizade, o amor, o poder. Que tal a morte? Foi ela que motivou todas as ações de Voldemort e que definiu para sempre o destino de Harry. Cada personagem da série lidou com a morte de uma maneira diferente e isso diz muito sobre suas personalidades.

A motivação a as escolhas de Lilian, Sirius, Cedrico e Dumbledore foram diferentes, mas a coragem demonstrada por eles diante da morte foi a mesma. Confira a coluna de estreia de Bianca Farias e reflita: como você encara a morte? Não se esqueçam de lhe dar as boas vindas nos comentários.



As várias faces da morte

por Bianca Farias

Ao longo de toda a saga, presenciamos diversas mortes. Ora morrem pessoas por nós queridas, ora aqueles de quem não gostamos. A morte é um tema retratado de diversas maneiras, tanto em Harry Potter quanto em nossas próprias vidas. Se ela é um inimigo, um fato natural ou até mesmo um amigo, depende de quem morre.

Como exemplo, temos Cedrico Diggory. Ao morrer, ele deixa um enorme peso em todos os que estão ao seu redor. Seus pais sentem um enorme sofrimento com isso, Hogwarts inteira se comove, Cho não consegue seguir adiante e Harry tem a absoluta certeza de que a culpa disso é toda sua. Mas será que Cedrico vê a morte de maneira tão ruim? O modo como ele morre, parecendo um herói, nos dá de entender que ele não teme seu destino. Para mim, ele parece com o tipo de pessoa que encara a morte como um fato natural da vida.

Há as pessoas que possuem extrema coragem e não se importam em morrer se for defendendo o que consideram certo. Os pais de Harry são bons exemplos disso. Eles morrem defendendo o seu filho. Lílian poderia ter vivido, mas considerou que seu filho era mais importante do que sua própria vida. Ela considerou que teria tido uma vida miserável sem seu filho e se sacrificou para que ele sobrevivesse. E seu amor foi maior que o temor pela morte, o que protegeu Harry durante muito tempo.

Um exemplo do exato oposto disso é Lord Voldemort. Seu maior medo é a morte, mesmo que ele possa tentar não demonstrar isso. Voldemort a considera um inimigo a ser vencido e faz de tudo para derrotá-la. Acredita que a morte é para os fracos, os perdedores, e como tudo o que quer e sempre quis é ser o mais poderoso, não pode simplesmente perder para ela. Sendo assim, ele tenta de todas as maneiras possíveis achar um jeito de liquidá-la – até as maneiras mais terríveis, o que apenas enfraqueceu sua alma.

Já Dumbledore sabia que ia morrer, mas prefere ser assassinado por um amigo do que por uma maneira que considera humilhante. Ele está para morrer porque tinha um enorme desejo de achar as Relíquias da Morte, e isso trouxe a pior conseqüência: a própria morte.

Esses dois últimos exemplos mostram que a tentativa de ser mais poderoso do que a morte às vezes nos aproxima dela. Isso pode ser claramente visto no “Conto dos três irmãos”: ao tentarem possuir poder para derrotar a todos e reverter e humilhar a Morte, os dois primeiros irmãos apenas a atraem. A busca de ser o melhor bruxo causa inúmeras tragédias, como podemos ver na continuação da história da Varinha das Varinhas, enquanto o eterno desejo de estar com quem já se foi causa a morte do segundo irmão. Eles também viram na morte um inimigo, e então ela veio como se fosse isso mesmo.

Já o terceiro irmão, sendo mais esperto do que os outros, também procura um jeito de escapar da Morte, mas não de um jeito que a humilhe ou que o torne mais poderoso. Ele sabe que ela virá mais cedo ou mais tarde, e compreende que simplesmente não há meios de despistá-la para sempre. Como ele a aceita, os dois vão embora juntos, “como velhos amigos”.

Harry, na hora em que sabe que deve morrer, se entrega de braços abertos. Teme sim a morte, mas não ao ponto de fugir dela. Ele percebe que todos têm sua hora e que talvez aquela fosse a sua (embora todos saibam que não era). E então ela veio, “mais rápida do que adormecer”, como disse Sirius. A morte o atinge gentilmente e, a exemplo de seus pais, ele morre para defender a todos os inocentes. Percebe mais uma vez que existem coisas mais importantes e que morrer com seus valores é muito melhor do que continuar vivendo sem valor algum.

Isso é um ensinamento que precisamos praticar. Não devemos viver como Voldemort, que deixou seu temor pela morte ser mais forte do que as virtudes (embora ele não possua virtudes). É bom levarmos conosco o exemplo de Sirius, Lupin, Tiago e Lílian e muitos outros que morreram defendendo seus ideais. Devemos pensar neles ao nos encontrarmos em situações em que não sabemos o que é mais importante. Eles preferiram o que é certo a sua própria vida. Eles viram a morte como uma escolha: agir corretamente e encará-la ou trair tudo em que acreditam e escapar dela.

A morte é o jeito que você a encara. Se acha que é ela é boa, ela vem de um jeito bom; se acha ruim, ela também aparece de uma forma ruim.

Bianca Farias não teme a morte nem os leitores do Ish.