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A busca pela vida eterna, muito antes de Voldemort

A busca pela vida eterna, muito antes de VoldemortA busca pela vida eterna, muito antes de Voldemort
A busca pela imortalidade acompanha o atormentado ser humano desde sua origem. Voldemort não é o primeiro neste sedutor caminho. Qin, que deu nome à China, construiu uma cidade inteira no subsolo, assim como os egípcios construíram suas pirâmides, morada temporária dos faraós mortos, prontos para a ressurreição.
Nesta sua coluna de estréia, Rodrigo S. Bruno nos explica a dinâmica da imortalidade egípcia.

O texto completo, você pode ler na extensão deste post. Deixe seus comentários para que o escritor tenha o privilégio do aprimoramento.

Ainda esta semana, você confere trechos dos textos que Breno Alvarenga e Rodrigo Scalfo enviaram para avaliação e que redundaram na sua integração à equipe.


por Rodrigo S. Bruno

Quando no primeiro livro da série Harry Poter, em 1997, fomos apresentados à lendária Pedra Filosofal, produzida pelo grande alquimista Nicolau Flamel, todos pensamos: Nossa, uma pedra capaz de produzir o Elixir da Vida; substância que torna quem o bebe imortal… Imortal… Viver para sempre… Nunca morrer. Era algo maravilhoso e inédito para todos. Não foi à toa que a pedra virou alvo de procura do poderoso e cruel Lord Voldemort, bruxo número um na lista dos Bruxos das Trevas Mais Famosos de Todos os Tempos, lugar antes pertencente a Gerardo Grindelwald, sobrinho-neto de Batilda Bagshot, e antigo amor do maior diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts: Alvo Dumbledore.
Usando o corpo do frágil professor Quirrell, Voldemort invadiu as dependências da escola a fim de apoderar-se da pedra filosofal e garantir sua imortalidade, fato este que só não aconteceu devido à coragem e astúcia do então calouro em bruxaria, Harry Potter. Mas essa não foi a primeira vez que Voldemort buscou meios para assegurar sua vida eterna; vários anos antes da ocorrência desse evento, o bruxo já tinha se precavido e criado suas sete Horcruxes, cada uma guardando um pedaço de sua alma; as quais – como sabemos – foram todas destruídas, mais uma vez pelos esforços de Harry Potter e seus fiéis amigos.
No sétimo e ultimo livro da série, fomos apresentados a mais uma forma de conquistar a vida eterna, a qual consistia em juntar todas as Relíquias da Morte: três objetos mágicos que, juntos, tornavam seu dono Senhor da Morte. “Senhor. Conquistador. Vencedor. O termo que você preferir” – como disse Xenofílio para Rony, durante a breve visita que recebeu em sua estranhíssima casa no alto de um morro, no sétimo livro.
Mesmo tendo à sua disposição três formas de driblar a morte, Voldemort não conseguiu alcançar seu objetivo. Na primeira delas, porque a Pedra Filosofal foi destruída. Na segunda, porque as Horcruxes também foram destruídas. E na terceira, pelo simples fato de não ter conhecimento sobre as Relíquias da Morte, e sim, apenas sobre a Varinha das Varinhas.
Até aqui nenhuma novidade, ok? Pois é… mas o que muitos não sabem é que Voldemort não foi o primeiro a ansiar desesperadamente pela vida eterna. Milhares de anos atrás, muito antes de o pobre garoto Tom Riddle nascer no precário orfanato e atormentar seus pequenos colegas, uma antiga sociedade já realizava esse sonho: a egípcia.

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Para entender isso é necessário conhecer um pouco das crenças religiosas dos antigos egípcios. Para eles, quatro elementos formavam o ser humano: O ba (a alma), o khu (centelha do fogo divino), o ka (réplica imaterial do corpo), e o kat (o corpo em si). Como acreditavam em vida após a morte, pensavam que esses quatro elementos precisavam manter-se intactos após o falecimento. Os elementos espirituais eram preservados através de orações. O corpo devia ser conservado e protegido; e isto era função das pirâmides, assegurar a devida proteção e integridade do corpo no seu interior, para garantir sua imortalidade. Com o tempo, os egípcios foram desenvolvendo novas técnicas de construções de túmulos cada vez mais sofisticados, para que o espírito do morto desfrutasse da melhor forma seu novo estado de vida, que começaria depois do julgamento do deus Osíris (deus das trevas), que pesava suas virtudes e pecados, e a partir daí sentenciava a vida eterna renovada ou uma segunda e definitiva morte.
Para proteger os restos mortais do cadáver, permitindo assim que o espírito do morto habitasse seu corpo, os egípcios realizavam uma complexa técnica de embalsamamento que poderia durar até setenta dias, dependendo da classe social da pessoa. O de um pobre durava um ou dois dias no máximo. Nesta técnica usavam compostos de sais especiais e resinas que preservavam e secavam o corpo, transformando-o em uma múmia enrugada.
De forma geral o processo decorria assim: Primeiro era extraído o cérebro pelas narinas, com um gancho de ferro – mas apenas uma parte dele; o resto era deslocado com o auxílio de drogas. Em seguida, usando uma pedra cortante faziam uma incisão (talho) ao longo do flanco e retiravam os órgãos do morto (os olhos também eram retirados). Na parte interna, já limpa, passavam vinho de palmeira e pulverizavam substâncias aromáticas; depois enchiam o ventre com mirra triturada, cássia e outros aromas conhecidos; e voltavam então a cosê-lo (costurá-lo). Impregnavam o cadáver de sal e mergulhavam-no em natrão durante setenta dias. Passado esse período, lavavam a múmia e envolviam-na em tiras finas de linho, embebidas em uma goma que os egípcios usam como alternativa à cola. A medida em que as faixas iam sendo enroladas, jóias e amuletos iam sendo adicionados às ataduras (o que fez com que muitas múmias fossem desenfaixadas pelos saqueadores à procura de jóias).
O coração também era mumificado e devolvido ao seu lugar de origem antes do enfaixamento do cadáver. Os outros órgãos, após serem tratados, eram depositados em vasos conópicos (vasos onde se guardavam as vísceras, cuja as tampas eram entalhadas com um rosto) estocados na câmara funerária.
Após todo esse processo, o corpo era entregue à família do morto, e a múmia era submetida à cerimônia de “abertura da boca”. Assim, preparada para comer, beber e falar, ela estava finalmente pronta para ser levada a sua sepultura e morada eterna: a pirâmide.

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Bom depois de escrever tudo isso eu fiquei pensando, acho que Voldemort não chegou a estudar a historia egípcia, caso contrário não desperdiçaria essa quarta e última chance de viver eternamente. Todas as suas buscas e esforços resultaram em nada no final da história; e para felicidade geral da comunidade, tanto bruxa quanto trouxa, ele foi derrotado no derradeiro duelo contra Harry Potter, ocorrido no Salão Principal de Hogwarts -e mais: pelo seu próprio feitiço. A verdadeira exibição do ditado: O feitiço virou contra o feiticeiro.
Agora, cá entre nós, você consegue imaginar Lúcio Malfoy e outros Comensais da Morte embalsamando o corpo frio de Voldemort?
Nem eu…

Rodrigo S. Bruno é