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Crítica: Voldemort – Origens do Herdeiro

Voldemort: Origens do Herdeiro despertou interesse dos fãs assim que teve seu trailer divulgado, em junho de 2017. Com a promessa de explorar o passado de Lorde Voldemort — um déficit gigante das adaptações de Harry Potter para os cinemas –, o média-metragem italiano produzido sem dedos da Warner Bros. é tão cheio de méritos que se sobressai às suas falhas.

Já na primeira sequência, a qualidade da fotografia surpreende. Elegante em suas cores frias e nos movimentos de câmera, poderia facilmente ser confundida com frames dos últimos filmes da franquia Harry Potter. Ao mesmo tempo, percebe-se também que a direção de arte e os efeitos visuais são caprichados para um orçamento de 15 mil euros.

Gianmaria Pezzato, diretora e roteirista, escolhe uma maneira não muito original para contar a história, mas que se torna uma solução justa e inteligente, uma vez que o excesso de diálogos expositivos diminui a necessidade de produzir muitas cenas. Tudo é contado a partir de um interrogatório, quando a auror britânica Grisha McLaggen (seria uma parente de Córmaco?) é capturada em terras soviéticas pelo bruxo General Makarov, que possui um certo diário já conhecido dos fãs. Sob efeito da poção Veritaserum, Grisha revela sua ligação com Tom Riddle junto a um grupo de amigos ligados por serem herdeiros dos fundadores de Hogwarts — o que se aproxima tanto de uma fanfic quanto àquela lançada como história oficial.

Tom Riddle já é um personagem brilhante vindo das mãos de J.K. Rowling. Não foi preciso inventar nada para que o rapaz inteligente e ambicioso se mostrasse ainda mais complexo, o que torna o filme muito mais uma ilustração da origem de Voldemort do que uma exploração de seu passado.

É exatamente quando mostra passagens já conhecidas pelos fãs dos livros, como o encontro de Riddle com Hepzibá Smith, que a produção tem seus melhores momentos. Muito bem pensada, fotografia e montagem trabalham para tornar a cena impactante e tensa, especialmente quando o filme mostra o medalhão de Slytherin, visto logo no início do filme, e o olhar faminto de Riddle a partir daí.

É inegável que as atuações exageradas, junto à dublagem ainda mais exagerada (e mal sincronizada), prejudicam a imersão do espectador. O excesso de dramaticidade nos diálogos traz, ao mesmo tempo, falas bastante ruins e boas sacadas, como quando Riddle cria analogias a partir de um jogo de quadribol e as motivações de personagens.

Se quase tudo em Origens do Herdeiro emula os filmes oficiais da série, nada fica mais evidente do que a trilha sonora. Permeando toda a produção, a trilha assinada por Matthew Steed é muito familiar e resgata perfeitamente o clima de Harry Potter. O mesmo se aplica aos figurinos, que, no entanto, parecem apenas cosplays de estudantes de Hogwarts, devido à falta de criatividade.

O que mais chama atenção são os efeitos visuais, que quase nada ficam devendo aos de produções de orçamento mais robusto.

Ainda que tenha deslizes óbvios, é difícil olhar para uma produção como a de Origens do Herdeiro sem sentir admiração. Seja produzindo um site ou um canal no YouTube para fãs, organizando eventos ou escrevendo fanfics, cada fã expressa seu amor por Harry Potter de maneiras distintas. Tudo isso é válido, e o retorno, por vezes, é nada menos que a grande admiração de outros fãs.

Reconhecer um trabalho tão eficiente e único como este filme, que com certeza ficará marcado na história do fandom, é de grande importância. É preciso celebrar uma conquista unicamente de fãs, que abre um leque de oportunidades não apenas para aqueles artistas, mas também para outros que possam ter ideias tão incríveis quanto ou até melhores. Voldemort: Origens do Herdeiro, por fim, comprova o patamar altíssimo de dedicação que a comunidade de fãs de Harry Potter tem no mundo todo.

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