Magia do Cinema

Magia do Cinema: “Power Rangers”

Clássico que marcou gerações, o tão esperado Power Rangers chegou aos cinemas ontem, 23. Nosso colunista Evandro Lira foi conferir e traz agora suas impressões sobre o filme.

“O novo Power Rangers é um filme de origens, que tem em seus personagens o principal ponto positivo. Espera-se que os produtores reconheçam isso, já que este almeja ser o primeiro de uma longa série cinematográfica. Afinal, voltar aos cinemas apenas para ver robôs batalhando com monstros gigantes não é instigante. Queremos voltar pelos personagens, por suas histórias.”

Para ler a crítica na íntegra, acesse a extensão do post.

“Power Rangers”
Crítica por Evandro Lira

Ah, os anos 90… Convenhamos, tínhamos ali tudo o que precisávamos. Sim, precisávamos de jovens em uniformes coloridos lutando contra o mal, soltando faíscas a cada golpe e salvando o dia montados em um robô gigante. Era muito prazeroso assistir àquela mistura de drama adolescente, artes marciais e ameaça alienígena. Tínhamos heróis, e eles estavam logo ali, no sofá de casa.

Hoje, no entanto, as coisas estão bem diferentes. A dúvida acerca dessa necessidade paira em meio a tantas produções do subgênero “super-herói”, que nos últimos 20 anos se tornaram imensamente populares. É nesse contexto que a memorável equipe Power Rangers retorna com ares de atualização. Baseado na série americana de 1993, Mighty Morphin Power Rangers – que, por sua vez, foi inspirada na japonesa Kyōryū Sentai Zyuranger –, o novo Power Rangers traz de volta vários personagens icônicos da franquia.

Ao contrário de alguns lançamentos recentes, como os live-actions da Disney ou até mesmo os spin-offs Star Wars: O Despertar da Força e Animais Fantásticos e Onde Habitam, que ambicionam conquistar novos espectadores, a sensação ao assistir Power Rangers é que, apesar de o objetivo ser o mesmo, o esforço não foi suficiente. Há, sim, uma curiosidade naqueles jovens aprendendo a utilizar seus superpoderes e usufruindo de seu arsenal de robôs-dinossauro, mas tudo fica a cargo da nostalgia e do simbolismo, atrelado ao interesse do espectador de ver como aquilo se adequa à atualidade.

O roteiro de John Gatins satisfaz quando se esforça para estabelecer os cinco rangers – um grande desafio para qualquer um que tenha em mãos um filme de introdução com vários personagens principais. Mesmo depois que Jason, Billy, Kimberly, Zack e Trini são apresentados, o cuidado em reforçar quem são cada um deles continua.

Entre enfrentar a vilã Rita Repulsa e conseguir encontrar o equilíbrio de seus poderes, o segundo desafio é sem dúvidas o mais envolvente. Como equipe, o drama que mais funciona em tela não é a luta contra os Bonecos de Massa, nem contra o “ameaçador” monstro que cresce – todos feitos em um CGI ruim com base em um desenho nada inspirado –, mas sim a dificuldade em se transformar nos Power Rangers, algo que vai além de simplesmente gritar “hora de morfar”.

O filme enfraquece no último ato exatamente por esse ser o momento da ação, e a ameaça mortal representada pela vilã e seu monstro não serem suficientes para que haja qualquer comoção; a não ser, é claro, o fato de que estamos assistindo ao momento mais memorável da série: os Rangers utilizando seus zords para destruir o monstro. Claro que pode empolgar os mais saudosistas, mas não vai muito além.

É divertido observar que o próprio filme tem consciência de que, passado tantos anos, não dá mais para soar original. Sem intencionar esconder suas referências, elas são escancaradas nas menções a Homem de Ferro e a Transformers, inspirações óbvias do diretor Dean Israelite e de sua equipe.

Israelite, inclusive, falha à medida que tenta provocar alguma apreensão no espectador. Sim, já sabemos como o filme vai terminar. Mas aqui também sabemos como cada cena vai terminar. Já no início de cada sequência é fácil decifrar a função narrativa que a cena vai cumprir, seja ela de introdução, de estabelecimento, de ação ou de suspense. Isso exclui qualquer tensão e ainda causa impaciência no espectador.

Os veteranos Elizabeth Banks como a vilã Rita, Bryan Cranston como o mentor Zordon e Bill Harder como o robôzinho Alpha (com direito ao “Ai, ai, ai”) estão bem como sempre, mas não podem fazer muita coisa com seus personagens. Fica a cargo do elenco jovem segurar as rédeas das duas horas de projeção, e nisso eles são eficientes, ainda que, por conta do roteiro, uns se sobressaiam aos outros.

O novo Power Rangers é um filme de origens, que tem em seus personagens o principal ponto positivo. Espera-se que os produtores reconheçam isso, já que este almeja ser o primeiro de uma longa série cinematográfica. Afinal, voltar aos cinemas apenas para ver robôs batalhando com monstros gigantes não é instigante. Queremos voltar pelos personagens, por suas histórias.

Por ora, o resultado satisfaz. Resta saber se tem fôlego para sobreviver no grande mar de produtos parecidos que chegam às telas a cada ano.

Direção: Dean Israelite.
Roteiro: John Gatins.
Duração: 124 minutos.
Estreia: 23 de março de 2017.

Evandro Lira é estudante de Cinema na Universidade Federal de Pernambuco e colaborador do Potterish.