Magia do Cinema

Magia do Cinema: “Moana – Um mar de aventuras”

Na volta da coluna sobre filmes do Potterish, a Magia do Cinema, nosso webmaster Pedro Martins traz a crítica de Moana – Um mar de aventuras, primeira aposta do ano da produtora que mais lucrou em 2016.

“Inovação. Ainda que com ressalvas, essa é a palavra que melhor define Moana – Um mar de aventuras. O empoderamento feminino da Disney, iniciado aos engatinhos com Pocahontas (1995) e Mulan (1998), e que passou por evoluções recentes com Valente (2012) e Frozen (2013), renova-se em Moana.”

Para ler a crítica na íntegra, acesse a extensão deste post.

“Moana – Um mar de aventuras”
Crítica por Pedro Martins

Inovação. Ainda que com ressalvas, essa é a palavra que melhor define Moana – Um mar de aventuras. O empoderamento feminino da Disney, iniciado aos engatinhos com Pocahontas (1995) e Mulan (1998), e que passou por evoluções recentes com Valente (2012) e Frozen (2013), renova-se em Moana, primeira aposta do ano da produtora que mais lucrou em 2016.

Vivendo em uma belíssima ilha na Oceania – onde cada plano parece uma pintura –, com fartura de água, peixes e frutos, não há motivos aparentes para sair de uma tribo chefiada pelo próprio pai e ir além-mar. A não ser… sua própria vontade.

Desde bebê, Moana sente uma atração inexplicável pelo mundo das águas: é a escolhida do oceano para devolver a lendária pedra da deusa Te Fiti, roubada pelo semideus Maui, ao seu coração. O problema é que o pai nunca acreditou na lenda e, acima de tudo, aceitou a vontade da filha. Para ele, seu futuro sempre esteve muito claro: permanecer segura para um dia sucedê-lo. É uma metáfora para o sair de casa pelo qual todos um dia passamos, agravada pelo simples fato de Moana ser mulher e estar inserida em uma sociedade altamente patriarcal.

Com fortes inspirações em Ariel e em outras princesas da Disney, o roteiro é previsível. Peca também ao inserir algumas situações-problemas, como a dos cocos piratas, que nada acrescentam à história e truncam a fluidez da narrativa episódica – mesmo que isso seja resfriado pelo belíssimo trabalho de design e fotografia.

Há ainda a trilha sonora, que, além de deixar as transições do roteiro certeiras, encanta a todos – confesso, fui ao Spotify escutá-la, e você também vai, se assistir ao filme. Ainda que nem de longe o foco seja esse, importante também é o cenário em que a história se passa e toda a riqueza cultural que transmite ao espectador: há músicas cantadas no dialeto local, por exemplo.

Mas onde está a inovação, então?

Na própria Moana! Sua aparência e sua personalidade significam muito para uma geração que cresceu tendo como exemplo de vida princesas brancas, de cabelo liso, vestidos longos e sempre à procura de príncipes encantados para salvar suas vidas. Tão inegável quanto às inovações, porém, foi a cautela ao inovar: Moana não é branca, mas na cabeça do grande público a imagem passada é a do branco bronzeado; ela tem cabelos crespos, mas é um crespo cacheado.

Na trama, o Let it go (ponto de virada) se dá quando ela está se tornando adulta e a maldição da pedra roubada começa a agir intensamente sobre sua ilha, causando escassez de alimentos e pondo em risco a vida de todos que ali vivem. Se antes não havia motivos para ultrapassar os arrecifes, agora temos uma situação nova. Moana aproveita a deixa de estabelecer ordem à natureza e decide remar.

Se em Enrolados (2010) Rapunzel ainda precisava de um Flynn para guiá-la em sua jornada, Moana não. Resgatando Merida, de Valente, Moana é inclusive mais forte que os homens ao seu redor.

Maui, o semideus transmorfo que se intitula “herói do mundo”, diversas vezes se mostra covarde diante dos problemas. Apesar disso, tenta desencorajá-la: você veste saia, não tem força, não consegue, carrega animalzinho de estimaçãoHeihei, o melhor coadjuvante que você respeita. Mas nada a faz desistir, e a mensagem que isso passa para o público feminino é clara: você não é inferior; não é submissa. Você pode!

Ainda sobre a relação dos dois, a princípio é automático imaginar que haverá um interesse amoroso. Afinal, é a isso que estamos acostumados no cinema. Errado! Maui não assume o posto do típico príncipe encantado. No arco da história de Moana não há sequer menções a qualquer par romântico.

Por isso tudo, Moana é naturalmente uma grande inspiração para a nova geração. Inicia-se aqui – espero – um novo tipo de conto de fadas.

Direção e roteiro: John Musker e Ron Clements.
Duração: 103 minutos.
Estreia: 05 de janeiro de 2017.

Pedro Martins, viciado em livros e filmes, descobriu a magia por meio dos escritos de J.K. Rowling aos oito anos. Essa paixão o tornou webmaster do Potterish.com e o possibilitou escrever sobre literatura para diversos portais, incluindo o britânico The Guardian.