Magia do Cinema

Magia do Cinema: “La La Land – Cantando estações”

La La Land foi hoje indicado a 14 Oscars, um recorde ao lado de A Malvada e Titanic. Com 7 Globos de Ouro e muito burburinho, não passaria despercebido pela nossa coluna de filmes, a Magia do Cinema. Nosso colaborador Evandro Lira foi conferir o favorito da temporada cheio de expectativa e… não se decepcionou.

“O primor técnico de Chazelle fica evidente logo na primeira cena, onde um número musical de proporção grandiosa se dá em um dia comum – o que aqui significa ensolarado –, no meio do trânsito em um enorme viaduto de Los Angeles. Assistir a um grupo de pessoas saindo de seus carros, dançando e cantando suas aspirações é extasiante e responsável pelos olhos saltados do espectador, que se pega em um misto de encantamento e euforia.”

Para ler a crítica na íntegra, acesse a extensão deste post.

“La La Land – Cantando estações”
Crítica por Evandro Lira

O cenário perfeito para aspirantes a artistas; quatro estações que ironicamente não provocam diferença alguma neste cenário; uma história de amor tão simples quanto apaixonante; música e cinema representados nos protagonistas e reverenciados a cada quadro da projeção. É essa a receita perfeita do filme que tem arrancado suspiros e elogios por onde passa.

La La Land vem com a responsabilidade de ressuscitar um gênero que outrora foi um dos mais populares. Damien Chazelle, que também dirigiu o surpreendente Whiplash (2014), mostra ter colhido bem os frutos do seu último longa e, desta vez, entrega uma produção mais grandiosa, comercial, e cativante, capaz de agradar crítica, indústria e público dos mais variados. Ele é capaz de reprisar questões já tocadas em Whiplash, mas a partir de uma outra visão. Há a busca pela excelência, há as escolhas e as inevitáveis reações que elas provocam, e há a reflexão sobre o que fazemos e a quem conquistamos na jornada que traçamos até o nosso objetivo final – se é que ele existe.

É um musical excelente, que une com maestria o contemporâneo ao convencional. Destoa dos filmes do gênero lançados nos últimos anos, que ora têm uma linguagem mais próxima do teatro – como Caminhos da Floresta (2014) e Chicago (2004) –, ora se utilizam de uma aura pós-moderna – como Moulin Rouge (2001) –, ou até mesmo empregam canções de maneira mais naturalista, com direito a baladas pops e estrelas do meio da música – como A Escolha Perfeita (2012) e Mesmo Se Nada Der Certo (2013).

O primor técnico de Chazelle fica evidente logo na primeira cena, onde um número musical de proporção grandiosa se dá em um dia comum – o que aqui significa ensolarado –, no meio do trânsito em um enorme viaduto de Los Angeles. Assistir a um grupo de pessoas saindo de seus carros, dançando e cantando suas aspirações é extasiante e responsável pelos olhos saltados do espectador, que se pega em um misto de encantamento e euforia. É um primeiro momento que prepara bem para um segundo número igualmente contagiante: se aquele apresentava o espírito do filme, este revela um pouco de sua personagem principal, vivida por Emma Stone em um nível que chega a ser difícil diferenciar a personagem da atriz.

Mia é uma artista em início de carreira que trabalha em uma cafeteria nos estúdios da Warner Bros. Seu tempo é dividido entre maravilhar-se com as estrelas e os sets de filmagens e participar de audições sempre frustrantes – evidenciado o que os atores passam quando almejam o sonho de Hollywood.

Sebastian, interpretado por Ryan Gosling, também está à procura de mudanças na carreira. Falido após um golpe de um ex-sócio, toca piano, coleciona objetos pertencido a grandes músicos e sonha em montar um clube de jazz, salvá-lo do esquecimento.

Duas pessoas bem diferentes que se cruzam em busca do sucesso na carreira artística, que se apaixonam e vêem nisso a chegada de um novo desafio.

Depois de um momento musical emblemático que acontece à luz de um poste em uma rua deserta com vista para os montes de Hollywood, passamos a acompanhar as estações na vida do casal – uma analogia clara às fases de um relacionamento, mas que funciona perfeitamente para compor a graciosidade do filme.

Visualmente, La La Land consegue dar um show à parte. Movimentos de câmera impressionantes que voam para os rostos dos atores, deslizam suavemente aonde quer que vão, mas que se agitam quando algo em cena não está certo. Usa-se uma grande angular que arredonda as bordas do quadro e torna tudo ainda maior. Abusa-se de planos longos e efeitos de luz, frisando que não se pretende fazer o espectador se esquecer de que está diante de um musical, escapista por si só.

Há ainda as cores – uma das qualidades que mais chama atenção: vibrantes e uniformes, dos figurinos, das paredes das ruas e dos ambientes internos, dos quadros e decorações, das luzes de letreiros de cinemas e bares, à cor do céu californiano.

É inegável a competência técnica e estética de Chazelle, que aos poucos vai conduzindo o filme para os momentos mais dramáticos, deixando qualquer coreografia e cantoria de lado para estabelecer que estamos diante do grand finale. Todo o último ato de La La Land consegue injetar no espectador diferentes sensações súbitas: há a surpresa, a negação, o deslumbramento e, nos últimos segundos, a certeza de que, assim como Mia e Sebastian perceberam, valeu a pena chegar até lá.

Se todo o filme é uma grande homenagem a Hollywood e aos musicais, a sequência final de La La Land homenageia o cinema e sua liberdade de ser o que quiser, assim como nós mesmos e os sonhos que rumamos a perseguir juntos, ainda que nem sempre pelas mesmas estradas.

Direção e roteiro: Damien Chazelle.
Duração: 128 minutos.
Estreia: 19 de janeiro de 2017.

Evandro Lira é estudante de Cinema na Universidade Federal de Pernambuco e colaborador do Potterish.