A Criança Amaldiçoada

Anthony Boyle: “Ele tem um coração tão grande”

Na semana passada, o ator Anthony Boyle, que interpreta Escórpio Malfoy na peça “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”, concedeu uma entrevista ao jornal inglês The Times.

Na entrevista, o jovem ator falou sobre fama, relacionamentos, sua infância, inspirações, futuro e sobre a primeira vez que leu o roteiro da peça, afirmando que

“Eu não podia virar as páginas rápido o suficiente; eu fiquei tão conectado emocionalmente ao personagem de maneira tão rápida. Ele é um garoto incrível, tem um coração tão grande, sabe?”

A entrevista completa já foi traduzida por nossa equipe e pode ser lida clicando em notícia completa. Lembramos que a notícia pode conter spoilers de “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada”.

Anthony Boyle
The Times – Sam Marlowe

Traduzido por Rodrigo Cavalheiro em 05/09/2016
Revisado por Helena Santos em 06/09/2016

Foi amor à primeira vista para Anthony Boyle quando ele leu o papel de Escórpio Malfoy na peça de Harry Potter

Boyle se transforma em Escórpio Malfoy com a ajuda de uma peruca loira e cola (Ki Price para o The Times)

Boyle se transforma em Escórpio Malfoy com a ajuda de uma peruca loira e cola (Ki Price para o The Times)

Ele é a cria inquieta e platinada do malvado Draco Malfoy, o arqui-inimigo de Harry Potter em Hogwarts. E para Anthony Boyle, o ator que interpreta Escórpio Malfoy no palco no Palace Theatre, em Londres, ele representa a maior chance que o novato de 22 anos poderia ter imaginado.

Até trouxas já sabem que Harry Potter e a Criança Amaldiçoada é um sucesso monstruoso. Os ingressos são tão difíceis de encontrar quanto uma dose de Poção Polissuco; a recepção foi arrebatadora pelos críticos e Potterheads ansiosos, com fãs peregrinando de todo o mundo para o show. “Mantenha os Segredos” foi pedido para alegres membros do público enquanto eles emergem de mais de cinco horas de teatro magicamente inventivo e emocionalmente épico – e a maioria parece ter obedecido. Uma das maiores e melhores surpresas da peça e uma que podemos contar sem medo de sermos taxados de Rabicho é a performance excepcional de Boyle. Se os filmes dos livros de JK Rowling levaram Daniel Radcliffe ao estrelado, então a peça, co-escrita por Rowling e Jack Thorne e dirigida por John Tiffany, parece certamente fazer o mesmo por Boyle. Como o estranho e inesperado melhor amigo do adolescente Alvo Severo de Sam Clemmett – cujo pai, Harry, é agora um perturbado empregado do Ministério da Magia – ele está atraindo o tipo de atenção pela qual muitos atores esperam por todas as suas carreiras.

De um elenco que inclui talentos tão aclamados como Noma Dumezweni como Hermione Granger e Jamie Parker como Harry, os críticos têm repetidamente apontado Boyle como um ladrão de holofote. Boyle, entretanto, insiste que faz o melhor para evitar as notícias. “Meu pai me liga todo dia, falando ‘você ouviu o que falaram de você?’ Mas eu estou tentando ficar longe disso”. Ele sorri timidamente. “Eu não sei se isso é bom para você”.

Anthony Boyle e Sam Clemmett interpretam os improváveis melhores amigos em Harry Potter e a Criança Amaldiçoada (Manuel Harlan)

Anthony Boyle e Sam Clemmett interpretam os improváveis melhores amigos em Harry Potter e a Criança Amaldiçoada (Manuel Harlan)

O que chama mais a atenção em Boyle pessoalmente, além de seu sotaque do norte da Irlanda, é como ele é fisicamente distante de Malfoy Jr. A cabeleira linhosa é uma peruca – colocá-la e tirá-la é um pesadelo que envolve grampos e cola. “Eu me ofereci para pintar meu próprio cabelo, mas eles me disseram que eu ficaria careca em algumas semanas”. Suas madeixas naturais são escuras e onduladas, e embora ele seja magro, ele é muito mais musculoso que a figura magra e araneiforme que transparece no palco. É uma transformação que ele aprecia, e quando ele fala sobre Escórpio, seu corpo parece mudar de figura. “Eu amo juntar tudo – a peruca, as calças esquisitas e apertadas, o sapato desajeitado. Você pode se sentir mudando. Mas [ele ri] tudo se esvai com o figurino. Eu não o levo para casa comigo, eu aprendi na escola de teatro a não ser Aquele Cara. Eu acho que isso tornaria insuportável trabalhar comigo”.

A escola de teatro em questão é a Royal Welsh College of Music and Drama, em Cardiff, onde ele recebeu um treinamento que incluía “dias fingindo ser uma árvore ou um macaco, sabe, a coisa toda”, assim como trabalho vocal rigoroso. Isso o colocou em boa forma para Escórpio, cujos tons comprimidos e agudos são resultado de uma pesquisa cuidadosa. “Eu mexi bastante com a voz. Eu me lembro de ver esse garoto inglês muito elegante no metrô com sua mãe. Eu fiquei fascinado, então eu troquei de lugar e fui sentar perto dele para poder ouvir. E eu vi documentários sobre garotos da Eton e outras escolas metidas e particulares, e peguei familiaridade com aquele tom, a ressonância e o jeito que eles modulam a voz”.

Há um profissionalismo sossegado em Boyle, parcialmente, talvez, devido ao seu início prematuro. Ele conseguiu um pequeno papel com ação como um guarda em Game of Thrones no fim de sua primeira semana na escola de teatro; Escórpio chegou quando ele ainda estava no seu último ano. Depois de algumas reuniões iniciais onde foi pedido que ele atuasse trechos dos roteiros dos filmes de Harry Potter, ele recebeu a nova peça de Rowling e Thorne – numa sala guardada por seguranças. E no momento que ele encontrou Escórpio foi, como ele diz, amor à primeira vista. “Eu não conseguia virar as páginas rápido o suficiente; eu fiquei tão conectado emocionalmente ao personagem de uma maneira tão rápida. Ele é um garoto incrível, tem um coração tão grande, sabe?”.

Alguns fãs especularam que Boyle pode não ser o único adorar de Escórpio, e que seu relacionamento com Alvo pode ser mais carnal do que uma amizade adolescente. Afinal de contas, eles usam juntos um feitiço chamado Engorgio. A ideia diverte Boyle, embora ele seja rápido para desfazê-la. “A amizade é puramente platônica”, ele ri. “Eu acho que eles se amam – isso é evidente no que eles fazem e dizem. Mas não é um amor sexual ou romântico”.

Sem surpresa alguma, entretanto, é o fato de Boyle ser o alvo de algumas paixonites ardentes (admiradores ficarão desapontados ao ouvir que ele está em um relacionamento, embora minhas tentativas gentis ganhem um educado “eu prefiro não falar sobre isso”). Fãs se juntam  na stage door às centenas depois de todas as apresentações. “É uma loucura. Todas essas pessoas lá gritando e tal. Mas faz parte. É brilhante que as pessoas amem a peça, elas amam Harry Potter e o mundo e os personagens que estamos interpretando. Mas eu não acho que seja Lindsay Lohan ou alguém”. Entretanto, ele é parado na rua às vezes agora. “Escórpio é tão diferente da minha aparência e do jeito que eu ando e me comporto, então não acontece muito. Mas eu sempre vou dar um autógrafo se me pedirem. É gentil”.

É muito diferente do que ele descreve como uma infância “muito normal” em Belfast. Não há atores na família, embora seu avô fosse chegado a recitar rajadas improvisadas de Shakespeare na mesa do café-da-manhã. Boyle teve dificuldades na escola, em grande parte por sua dislexia, algo que ele não descobriu até que um professor do Royal Welsh College percebeu que ele tinha problemas para ler música. Ele sabia que tinha uma veia artística, no entanto. “Eu sempre quis criar – de bater em potes e panelas para fazer pequenos personagens pela casa. Meus pais sempre apoiaram aquilo sem saber bem o que era”.

Anthony Boyle, Sam Clemmett, JK Rowling e Poppy Miller (Getty Images) )

Anthony Boyle, Sam Clemmett, JK Rowling e Poppy Miller (Getty Images)

Ele começou a olhar na internet para audições locais ainda adolescente, e ele estudava o trabalho de pessoas que ele admirava. Ken Loach, Shane MEadows, Gary Oldman, Daniel Day-Lewis. “Eu não vi muito teatro crescendo em Belfast, então eu acho que cinema é minha primeira paixão de verdade. Eu lembro de assistir Tom Hardy em Bronson, e nós estávamos roubando a internet do vizinho. Eu tinha esse notebook, e o filme carregava um pouquinho, e eu tinha que começar de novo. Levou umas sete horas pra assistir o filme Mas eu via um pedacinho e então ia no espelho e copiava exatamente o que ele tinha feito”. Boyle faz um pouco de sua imitação de Hardy – que é surpreendentemente assustadora – antes de abrir um grande sorriso. Eu gosto de histórias assim, sobre forasteiros, pessoas nas margens da sociedade. Pessoas mal-entendidas”.

Antes de Potter, ele achou tempo para abocanhar alguns dramas políticos: The Party, um curta duro na queda de Andrea Harkin que se passa em Belfast no auge d’O Problema, e The Journey, a ser lançado neste ano – filme de Nick Hamm sobre o relacionamento de Ian Paisley (interpretado por Timothy Spall) e Martin McGuinness (Colm Meaney). Boyle interpreta o jovem Paisley – apenas um dia de filmagem, mas ele conversou com Spall no trailer de maquiagem.

E por agora, enquanto Escórpio o mantêm na linha (ele descansa do ritmo frenético do show com yoga, moderação na bebida e muitas horas de sono), ele está absorvendo inspiração. Ele viu a aclamada Yerma de Billie Piper no Young Vic (“incrível pra c***lho”), o Hamlet de Paapa Essiedu para a Royal Shakespeare Company, e foi um choque quando conheceu Mark Rylance (“Ele foi muito cortês”). Além de Potter – e sem contar musicais (“Eu nunca vou fazer Les Mis. Você jamais verá meu Javert”) – ele mantém suas opções abertas. “Eu só quero trabalhar com boas pessoas”, ele diz, dando os ombros. Parece ser o mínimo que ele espera.

Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, Palace Theatre, Londres. Telefone (0844 4829676). Ingressos para dezembro de 2017.