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[TRADUZIDO] Segundo capítulo de “Career of Evil”, de Robert Galbraith

“Career of Evil” é o terceiro livro escrito por J.K. Rowling sob pseudônimo de Robert Galbraith. Ontem (09) foi liberado os dois primeiros capítulos do livro. A tradução em português do primeiro nós já publicamos, agora é a hora do segundo!

Vale lembrar que esta não é a tradução oficial da obra, que será lançada no Brasil em 2016, mas foi feita por pessoas competentes e experientes na área. Não se esqueça de registrar o seu comentário logo após ler no modo notícia completa!

O terceiro livro da série “Cormoran Strike” será publicado em inglês no próximo dia 20 nos Estados Unidos e 22 no Reino Unido.

“A perna decepada de uma mulher havia sido enfiada à força dentro da caixa, os dedos do pé dobrados para que coubessem ali.”

Traduzido por: Luiza Miranda.
Revisado por: Pedro Martins.

Continue nos acompanhando para mais informações e para ler o segundo capítulo traduzido amanhã!

CAREER OF EVIL
Capítulo 2 publicado pelo Time

Traduzido por: Luiza Miranda.
Revisado por: Pedro Martins.

Uma rocha através de uma janela nunca vem com um beijo.
Blue Öyster Cult
Madness to the Method

Robin Ellacott tinha 26 anos e estava noiva há mais de um ano. Seu casamento deveria ter acontecido três meses antes, mas a morte inesperada de sua futura sogra levou ao adiamento da cerimônia. Muito aconteceu desde então. Será que ela e Matthew estariam se dando melhor se houvessem trocado votos?, ela se perguntava. Eles estariam discutindo menos se uma faixa dourada repousasse abaixo do anel de noivado de safira que se tornara ligeiramente largo no seu dedo?

Tentando passar pelos cascalhos da Tottenham Court Road na segunda-feira de manhã, Robin mentalmente reviveu a briga do dia anterior. As sementes foram plantadas antes mesmo de eles saírem de casa para o jogo de rugby. Parecia que, sempre que se encontravam com Sarah Shadlock e seu namorado Tom, Robin e Matthew acabavam se desentendendo – algo que Robin mencionou enquanto a discussão, que começou a tomar forma no jogo, arrastava-se pelas primeiras horas da manhã.

– A Sarah p-provocou, pelo amor de Deus, você não percebe? Foi ela quem ficou perguntando sobre ele, várias vezes, não fui eu que comecei…

As obras sem fim ao redor da estação Tottenham Court Road obstruíam o caminho para o trabalho de Robin desde que ela começara na agência de investigação particular na Denmark Street. Seu humor não melhorou quando ela tropeçou num pedaço enorme de cascalho; ela cambaleou por alguns metros antes de recuperar o equilíbrio. Uma enxurrada de assobios e comentários obscenos emergiu de um buraco profundo no meio da rua cheio de homens em capacetes e coletes fluorescentes. Sacudindo os cabelos louro-avermelhados para longe dos olhos, o rosto vermelho, ela os ignorou, involuntariamente voltando a pensar em Sarah Shadlock e suas perguntas dissimuladas e persistentes sobre o chefe de Robin.

– Ele é estranhamente bonito, não é? Um pouco surrado, mas eu nunca liguei para isso. Ele é sexy de verdade? É um cara grandão, não é?

Robin viu o maxilar de Matthew enrijecer conforme ela tentava responder calma e indiferente.

– São só vocês dois no escritório? Sério? Mais ninguém?

“Vadia”, pensou Robin, cujo bom humor natural nunca se estendeu a Sarah Shadlock. Ela sabia exatamente o que ela estava fazendo.

– É verdade que ele foi condecorado no Afeganistão? É? Uau, então estamos falando de um herói de guerra também?

Robin tentara com todas as suas forças terminar com o monólogo de apreciação de Sarah por Comoran Strike, mas sem sucesso: ao fim do jogo, uma frieza havia se instalado nas atitudes de Matthew para com a sua noiva. No entanto, seu desgosto não o impediu de rir e brincar com Sarah no caminho de volta do Vicarage Road, e Tom, que Robin sempre achou chato e estúpido, gargalhou junto, alheio a quaisquer entrelinhas.

Empurrada por pedestres que também tentavam passar pelas trincheiras na rua, Robin finalmente chegou à calçada oposta, passando pela sombra do obelisco de concreto quadriculado que era o Centre Point e se enraivecendo novamente ao lembrar o que Matthew havia lhe dito à meia-noite, quando a briga voltara à vida.

– Você não consegue calar a boca sobre ele, consegue? Eu ouvi você para a Sarah…

– Eu não comecei a falar sobre ele de novo, foi ela, você nem estava ouvindo…

Mas Matthew a havia imitado, usando a voz genérica que representava todas as mulheres, aguda e imbecil:

– Oh, o cabelo dele é tão atraente…

– Pelo amor de Deus, você é completamente paranoico! – Robin gritara. – Sarah estava enlouquecendo pela merda do cabelo de Jacques Burger, não pelo do Cormoran, e eu só falei…

– “Não pelo do Cormoran” – ele repetiu naquele guinchado estúpido.

Enquanto fazia a curva para entrar na Denmark Street, Robin se sentiu tão furiosa quanto estava oito horas atrás, quando saíra do quarto batendo os pés e fora dormir no sofá.

Sarah Shadlock, maldita Sarah Shadlock, que tinha frequentado a universidade com Matthew e tentado com todas as forças roubá-lo de Robin, a garota que ele deixou para trás em Yorkshire… Se Robin tivesse certeza de que jamais veria Sarah novamente, estaria satisfeita, mas Sarah estaria no casamento deles em julho, e Sarah sem sombra de dúvidas continuaria a atormentar sua vida de casados, e quem sabe um dia ela tentaria se esgueirar para dentro do escritório de Robin para conhecer Strike, se seu interesse fosse genuíno e não uma mera manobra de semear a discórdia entre Robin e Matthew.

“Eu jamais vou apresentá-la a Cormoran”, pensou Robin com selvageria quando se aproximou do carteiro que estava do lado de fora da porta do escritório. Ele tinha uma prancheta em uma mão enluvada e um pacote retangular comprido na outra.

– É para Ellacott? – perguntou Robin assim que chegou perto o suficiente para ser ouvida.

Ela estava aguardando um pedido de câmeras descartáveis de papelão branco que seriam lembrancinhas do seu casamento. Suas horas de trabalho estavam tão irregulares ultimamente que ela achou mais fácil endereçar os pedidos feitos pela internet direto para o escritório ao invés do apartamento.

O carteiro assentiu e estendeu a prancheta sem retirar seu capacete de moto. Robin assinou e recolheu o pacote grande, que era muito mais pesado do que ela esperava; parecia que um único objeto grande deslizou dentro dele quando ela colocou o pacote debaixo do braço.

– Obrigada – ela disse, mas o mensageiro já havia virado as costas e lançado uma perna sobre a moto. Ela o ouviu dirigir para longe enquanto entrava no prédio.

Ela subia pelas escadas de metal que ecoavam ao redor do elevador quebrado em forma de gaiola, os saltos batendo no metal. A porta de vidro brilhou enquanto ela a destrancava e abria, e a legenda gravada – C. B. STRIKE, DETETIVE PARTICULAR – se destacava, escura.

Ela chegara propositalmente cedo. Eles estavam abarrotados de casos no momento e ela queria se atualizar com a papelada antes de voltar à sua vigilância diária de uma jovem dançarina russa.

Pelo som das passadas pesadas logo acima, ela deduziu que Strike ainda estava em seu apartamento.

Robin deixou o seu pacote grande na mesa, tirou o casaco e o pendurou juntamente com a bolsa em um gancho atrás da porta, acendeu as luzes, encheu a chaleira e a colocou para ferver, então alcançou o afiado abridor de cartas na mesa. Lembrando da recusa categórica de Matthew em acreditar que era o cabelo ondulado do flanqueador Jacques Burger que ela estivera admirando, e não o cabelo curto e – francamente – com cara de pelos púbicos de Strike, ela apunhalou a ponta do pacote com raiva, abriu-o e desmontou a caixa.

A perna decepada de uma mulher havia sido enfiada à força dentro da caixa, os dedos do pé dobrados para que coubessem ali.