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A magia se perdeu?

Desde o lançamento de Harry Potter e as Relíquias da Morte, em 2007, todos nós nos sentimos um pouco órfãos. Novos livros e séries vieram e se foram, mas nutrimos o sentimento de que, no fim das contas, nenhuma obra é como Harry Potter.

Nosso novo colunista Joaquim Rodrigues estreia hoje no Potterish com uma análise contundente a respeito da maneira como as séries que chegaram após Harry Potter não conseguiram fazer sucesso parecido. Você concorda com ele? Leia e deixe seu comentário!

“Em meio a toda essa modernidade vejo tudo parecer tão superficial… Não, não estou falando de Harry Potter. Estou falando da literatura pós J. K. Rowlling. Olho para o trabalho de nossa querida autora e vejo o fim de uma era. Parece que a literatura fantástica entrou em crise”

Por Joaquim Rodrigues

Um livro novo era anunciado e os leitores iam à loucura. Havia revistas e mais revistas trazendo novidades e várias teorias sobre quem seria “Você-Sabe-Quem“, o que aconteceria no próximo volume, qual a importância de cada novo personagem.

E havia os álbuns de figurinha. Os jogos, pôsteres, até brinquedos (aquela varinha… Aquela varinha!).

E sonhávamos em ir para Hogwarts, tentávamos decorar os nomes dos feitiços, e sonhávamos mais ainda quando um filme novo era lançado, nos dando uma nova visão de tudo que já tinha sido lido e relido…

E aquela energia… Céus! É impossível descrever em palavras. Mas havia uma sensação, um sabor, um aroma… Éramos felizes e não sabíamos.

Se você faz parte da primeira geração de leitores de Harry Potter, sabe exatamente do que estou falando e deve estar sentindo a mesma nostalgia que eu estou sentindo enquanto escrevo. E é sobre isso que gostaria de convidá-lo (independente da geração que faça parte) a refletir comigo. Será que perdemos isso?

A evolução dos anos 2010 nos trouxe inúmeras novidades. A internet possibilitou conexões que antes eram totalmente impossíveis. Descobrimos novos horizontes, foram revelados novos talentos…

O acesso à informação ficou mais fácil, o conhecimento, disponível, e todo um mundo a ser descoberto, explorado… E também novas formas de mídias, como os e-books, já que estamos conversando sobre literatura.

Mas junto, vejo a comodidade.

Em meio a toda essa modernidade vejo tudo parecer tão superficial… Não, não estou falando de Harry Potter. Estou falando da literatura pós J. K. Rowlling. Olho para o trabalho de nossa querida autora e vejo o fim de uma era. Parece que a literatura fantástica entrou em crise.

Vejo dezenas de novas sagas sendo iniciadas e concluídas em poucos anos. Filmes lançados um atrás do outro, milhares de conteúdos a respeito, dezenas de comunidades, fãs, produtos… E então tudo é esquecido quando uma nova saga nasce, repetindo o mesmo ciclo.

Temos grandes obras da literatura infanto-juvenil no mercado. Embora eu em particular não seja um fã de fato, Jogos Vorazes é um bom exemplo. É uma história muito profunda, muito bem construída, com mensagem, é arte… Mas por que nada dessa área da literatura conseguiu se destacar como Harry Potter?

A impressão que tenho é que tudo é tratado como descartável, não pelos fãs fiéis de cada obra em individual, mas numa visão geral. Vejo muitos autores, editoras e estúdios parecendo estar simplesmente criando algo com esse objetivo. Que seja descartável. De rápido consumo. Para que possa ser esquecido e substituído, alimentando um mercado milionário num ciclo vicioso.

Ler se tornou moda, se tornou bonito, se tornou um estilo de vida muito popular, algo que estava longe de ser nos anos 80 e 90. Ser nerd era motivo de chacota, amar a leitura, uma vergonha, éramos uma minoria, mas uma minoria fiel e trazendo todo um lindo universo de sonhos em nossos corações.

E não consigo encontrar isso hoje.

Com todo um novo horizonte aberto, com o mercado literário em alta, com o reconhecimento, com tudo o que temos hoje, não deveria ser o contrário? Não deveríamos ter atingido, autores e leitores, um novo patamar ainda mais encantador?

Mas não. Estamos estagnados nessa roda de hamster.

Vejo carinho e dedicação na obra de J. K., consigo sentir sua luta, seus sonhos, cada gota de suor e imaginação dedicados em anos de trabalho para criar um mundo que hoje é tão verdadeiro quanto a própria realidade. Um mundo que nós não deixamos morrer, que continua a existir e ser expandido. Temos o Pottermore afinal. Mas por que ele existe? Porque Harry Potter é eterno. E por que não encontro essa mesma eternidade em mais nada?

Acredito que qualquer forma de arte possui um tripé. Inspirar, Embelezar e Educar. E não vejo mais isso. Num sentido geral (por favor, se és grande fã de uma obra da atualidade não se ofenda, estou falando num sentido geral, não de nenhum trabalho em especial. Estou falando da energia atual. Do mercado, do público.), não encontro essa trindade em nada.

Vejo histórias, vejo bons personagens, mundos com todas as características necessárias para se tornarem eternos, mas assim como flores não regadas, eles murcham. E então são pisoteadas por uma nova com corrente pré-destinada ao mesmo destino. Aldeias de fãs são criadas. Leitores que amarão estas obras para sempre. Mas nenhuma destas culturas se torna um Reino.

Foi uma das coisas que me levou à escrita. Sim, sou escritor. E meu objetivo é justamente resgatar a magia do passado. É escrever histórias com toda a força de meu coração. Escrever devagar, escrever com minha alma. Meu sonho é um dia trazer de volta aquele encanto tão lindo de minha infância.

Não para substituir J.K., pois é até hilário pensar que se pode substituí-la. Mas por mais utópico e impossível que possa parecer, meu sonho é um dia ter criado um mundo mágico como o de Harry Potter. Como Nárnia. Como LOTR. É garantir que todo o esforço de seus donos, que toda a trilha deixada por estes forjadores de sonhos não se perca. Não seja esquecida.

Onde está aquela “coisa”? Aquela sensação que nos levava à sonhar tanto? Aquele sabor…

Seriam os culpados o mercado ou nós, leitores?

É algo que eu gostaria que todos nos puséssemos a nós refletir…

Joaquim Rodrigues decidiu começar a fazer a diferença aqui no Potterish.