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Nada de papel de trouxa

O meio social impõe a todos nós papéis a exercer. O local onde nascemos, nossas condições financeiras e até mesmo as características físicas são capazes de determinar a função que teremos a exercer na sociedade, que às vezes pode ser modificada, não sem sorte e, talvez, algum grau de esforço.

Na coluna de hoje, Bruno Barros aborda esses papéis inseridos em Harry Potter, e se aprofunda nessa temática. Não deixe de ler e registrar o seu comentário!

“A verdadeira magia é a capacidade de transformação, escondida dentro de todo ser, apenas esperando para agir e possibilitar a alternância de papéis. “.

Por Bruno Barros

“Você é um bruxo, Harry”. Não é todo dia que o gigante Hagrid aparece em sua porta e o surpreende com ver relações sobre o seu passado que nem você mesmo sabia. Essas poucas palavras mudam a vida de um garoto, morador do armário sob a escada e com uma estranha cicatriz na testa, completamente. Harry Potter, uma criança que sobreviveu a uma grande provação, passa por um conflito durante sua adolescência ao descobrir que não é um menino comum. Antes tratado como escória pelos tios, é, agora, motivo de orgulho para a “sociedade bruxa”, pois inicia sua vida acadêmica na maior e melhor escolha de magia e bruxaria do Reino Unido: Hogwarts.

Segundo o texto “O papel do professor e do professor alfabetizador”, da educadora Cristiane Vargas, “o tipo de papel que uma pessoa pode desenvolver, frente a uma determinada situação, será definido pela combinação das suas características de personalidade e pelas expectativas de papel que o ambiente psicossocial que a circunda tem em relação ao papel que a pessoa deve desempenhar”. A reação do menino de 11 anos, protagonista da famosa série de livros (1998-2007) que leva seu nome – escrita pela inglesa J. K. Rowling -, foi negar a realidade apresentada. Pelo fato de ele se sentir um simples órfão – era tratado como escória pelos tios que o criaram – jamais sonhou que grandes coisas pudessem acontecer com ele. Ele não tinha grandes esperanças, desde pequeno serviu de empregado para os tios e saco de pancadas para o primo. Estava apenas exercendo seu “papel de órfão”, que poderia trazer, em si, insegurança, medo desespero, falta de confiança e fé.

Após o choque imediato e compreensão da situação, Harry deixa-se levar, acreditando em uma vida diferente, longe dos tios e de toda a humilhação que passou. Seu papel agora é outro: ele é um bruxo e precisará agir como um para enfrentar todas as aventuras que o esperam. Na história, possuir habilidades mágicas é uma dádiva. São chamados “trouxas” aqueles que não possuem a capacidade de fazer um objeto levitar ou transformar em rum um copo de água. As crianças são educadas e crescem em ambientes em que outros bruxos utilizam a magia para realizar toda tarefa.

Analisando a situação do menino sob a luz do texto de outra educadora, Ana Cavalcante, “Técnicas de psicodrama aplicadas à educação”, entendemos os papéis de Harry “como um conjunto caleidoscópico de expressão das várias possibilidades identificatórias”. Compreende-se que a magia de Harry Potter é muito mais do que um poder utilizado para tornar real a fantasia. A verdadeira magia é a capacidade de transformação, escondida dentro de todo ser, apenas esperando para agir e possibilitar a alternância de papéis. Amigo, afilhado, namorado, pai: ao longo de sua vida – e dos sete livros da série -, ele desempenhará tantos papéis quantos forem precisos. Todos eles, porém, são herança da decisão de querer ser um bruxo e deixar de lado seu papel de “trouxa”.

No papel de colunista do Potterish, Bruno Barros se sente honrado em escrever colunas.