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Pseudotradução e profundidade cultural em Os Contos de Beedle, o Bardo

Os Contos de Beedle, o Bardo é uma obra publicada, porém inteiramente inserida em Harry Potter. Foi, inclusive, importante para os desdobramentos da história no último livro, como todos os que leram necessariamente se lembrarão.

Na coluna coluna deste domingo, Natallie Alcantara prossegue a reflexão da semana passada e trata do aspecto da pseudotradução, a notável forma utilizada por J.K. Rowling para abordar esse trecho da série. Não deixe de ler e registrar seu comentário!

“Este livro [Os Contos de Beedle, o Bardo] é uma pequena amostra do que J.K. Rowling fez em sua obra inteira: a criação de um mundo completo com lugares, aspectos locais e nuances culturais próprios. Ela não só cria mitos e lendas, mas faz os personagens interagirem com eles”.

Por Natallie Alcantara

No artigo anterior, abordei a questão da pseudotradução no livro infantil bruxo Os Contos de Beedle, o bardo. Agora, meu enfoque será em como a pseudotradução transforma este pequeno livro em uma fonte de profundidade cultural para a toda a história de Harry Potter.

PSEUDOTRADUÇÃO E PROFUNDIDADE CULTURAL

Os Contos de Beedle originais foram escritos por um bruxo no século XV. Um clássico para as crianças bruxas, não se sabe muito mais sobre seu autor ou a data exata em que foi escrito. O que se sabe é que as histórias sofreram alterações ao longo dos tempos.

Este livro é uma amostra da seriedade com que a autora trata sua obra. Muito além de Animais fantásticos e onde habitam e Quadribol através dos séculos, livros didáticos dos bruxos que chegaram as nossas mãos graças a uma iniciativa do professor Dumbledore, o livro com os Contos de Beedle originais se tornaram acessíveis graças à tradução de Hermione Granger.

Este livro é uma pequena amostra do que J.K. Rowling fez em sua obra inteira: a criação de um mundo completo com lugares, aspectos locais e nuances culturais próprios. Ela não só cria mitos e lendas, mas faz os personagens interagirem com eles.

Esta interação é notada quando a autora faz com que um dos contos do livro, o Conto dos Três Irmãos, seja a peça fundamental para a conclusão da história, que fará com que Harry Potter consiga finalmente derrotar Voldermort. Mais tarde, quando ela resolve publicar o livro para nós, ela transforma uma de suas personagens na tradutora do livro, transformando seu livro em uma pseudotradução.

Ao escrever seu pequeno livro de contos como uma pseudotradução, cujas histórias e artefatos incluídos nela seriam decisivos para concluir o último livro da série, Rowling não se apresenta como tradutora, mas como editora desta coleção de pequenos textos antigos.

Apesar do público ter tomado conhecimento do livro como um todo após a conclusão da série, ainda assim eles servem de pressuposto à narrativa o tempo todo, e ajudam a sugerir séculos de tradição, tanto real quanto mítica, por trás da trama principal.

Em vários trechos do livro, Rowling resolveu incluir anotações de Alvo Dumbledore com as lições que o professor tirou de cada um dos contos, fator que contribuiu para a credibilidade destes. Ao inventar uma tradição para o seu mundo imaginário e dar a esta o caráter, quase objetivo, de roteiro principal que vai culminar na conclusão da história principal, ela fornece uma maior verossimilhança ao seu mundo bruxo.

J.K. Rowling não é a primeira autora a utilizar a pseudotradução como técnica de profundidade cultural. Essa vontade de dar maior credibilidade ao seu mundo só a torna mais genial, e faz com que cresça em seus fãs a vontade de fazer parte do mundo de Harry Potter.

Natallie Alcantara pretende usar a pseudotradução em alguns dos muitos livros que vai escrever