Artigos

Reflexões de mundo e felicidade

O que é a felicidade? Qual é a razão da nossa existência? O que fazemos aqui? A filosofia se debruça sobre perguntas como essas já há uns bons séculos, e apesar de o debate nunca cessar, não há uma resposta apropriada, que se adeque a todas as pessoas.

Filosofando e refletindo, Bruno Contesini encerra o seu domingo com um ensaio sobre toda essa discussão, e suas implicações em Harry Potter. Leia a coluna desta semana, e se ela te deixar mais feliz, não deixe de comentar ao final de sua leitura.

Por Bruno Contesini

Qual o seu objetivo de vida? A sua motivação? Pelo que você e eu efetivamente lutamos? O que de fato queremos conquistar? Indo um pouco além na nobre filosofia, o que é o homem, enquanto espécie biológica?

Para o último dos questionamentos anteriores, que na realidade é um dos maiores dilemas existenciais já proclamados, existem muitas definições, entretanto, o brilhante poeta Fernando Pessoa nos lembra de que somos cadáveres adiados! Tenho uma triste notícia, que pode parecer satírica, para dar a todos, mas Pessoa não nos permite esquecer que somos mortais, e vamos morrer!

Como um grande apreciador de perguntas (lembrando que a função da filosofia é exatamente trazer questionamentos), vou permitir-me acrescentar mais uma: qual a definição de MORTALIDADE? Com algum tempo absorto em pensamento, alguns podem perceber que o ser humano é o único animal que é mortal! É isso mesmo! Mais uma vez, como afirma o filósofo, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Mário Sérgio Cortella, embora todos os animais morram, nós, humanos, somos os únicos que, além de morrer, sabe que vai morrer.
Aqui, então, torna-se fácil perceber que a morte deixa de ser algo digno de nossa preocupação, porque ela é um fato, diante do qual é absolutamente inútil resistir, devemos nos preocupar sim, com o que fazemos de nossas vidas, o que nos traz de volta à pergunta do que queremos para elas?

Alguns diriam que estudam para ter um bom emprego, talvez (porque não?) para obter o maior número de NOM’s possíveis, mas em ultima análise, tudo isso só se aplica, porque no íntimo acreditamos que essas conquistas vão nos conduzir na trilha da FELICIDADE!
Ser FELIZ é o grande objetivo! Não há mais nada além disso! Todas as demais metas que traçamos para nossa vida são ocorrências episódicas do nosso ideal transitório de felicidade! Acho que todos, neste ponto, concordam que tudo se reduziu a uma pergunta: o que é felicidade para você? Sinceramente, esta resposta é extremamente pessoal, mas espero que poucos respondam que é estar segurando um par de grossas meias de lã!

Ser o capitão do time da escola de quadribol, ter ganhado a taça das casas e estar apertando a mão de Dumbeldore, ter a pedra filosofal em sua posse, ser rico, famoso ou importante, ter sua família com você eternamente, seja qual for o seu conceito de felicidade, a única verdade é que ela é episódica!

A felicidade é um sentimento de prazer momentâneo, uma ocorrência eventual e episódica, se fosse diferente, ela não existiria, ou pelo menos, nós não a perceberíamos! Você, caro leitor, só percebe que está feliz porque isso não é um estado constante, você não está feliz todo o tempo! Que bom, porque outra forma de dizer que está feliz sempre, seria dizer que nunca está feliz! De um modo ou de outro, isso seria terrível!

A série Harry Potter nos mostra, com clareza, que a visão de felicidade depende da edificação da personalidade e do caráter de cada personagem, isso se traduz com impressionante realismo, no espelho de Ojesed.

“Não mostro o seu rosto, mas o desejo em seu coração”.

Quando Harry pergunta se o espelho nos mostra o que queremos, o extraordinário professor Dumbledore faz da antítese uma resposta, no mínimo, interessante: “Sim e não”! O espelho traduz para cada um de nós o que é a nossa felicidade, e acaba, indiretamente, como já mencionado, sendo um teste de caráter, símbolo da vaidade e do egoísmo, ideia explícita no livro “O mundo mágico de Harry Potter” de David Colbert.

Há uma última reflexão interessante para a qual a filosofia também nos conduz. Durante muitos anos, ouvi milhares de fãs dizerem que Harry Potter jamais desejou ser importante! Pessoalmente, acredito que ele jamais teve a fama como sua ambição, mas ser importante, sempre foi o principal de seus planos.

Importante é todo aquele que é carregado por alguém com especial recordação, é todo aquele que é lembrado por algo que tenha feito ao mundo, é todo aquele que prova ser capaz de transformar sua vida em algo grandioso, merecedor de estórias que se tornem best-sellers da magnitude de Harry Potter.

Ser famoso é meramente ter feito algo de impacto para um grande número de indivíduos naquele momento, no entanto, esta fama é muitas vezes passageira, gradualmente desinteressante no impiedoso curso do tempo, como disse Lockhart: “A fama é uma amiga infiel, a celebridade é aquilo que ela faz”!

Percebe-se, claramente, que muitas pessoas podem e são famosas sem serem de fato importantes! Isso pode ser explicado por duas características inerentes ao ser humano: o medo, e a ausência de objetivos, excesso de sonhos.

“Não vale a pena viver sonhando, Harry, e se esquecer de viver!”.

Sonhar só é efetivamente relevante quando nós somos capazes de transformá-los em objetivos, isto é, quando deixamos de temer a busca dos meios que tornem realidade nossos anseios.

A diferença entre sonhar e realizar é a coragem de tentar!

Bruno Contesini fez de Harry Potter uma de suas muitas razões de viver.