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O anti-herói: Heroísmo nos moldes da realidade

O conceito de anti-herói é muito disseminado na literatura. Nossa colunista Amanda Bomfim nos traz hoje uma coluna sobre essa temática, inserida, é claro, no universo de Harry Potter.

Amanda expõe seu ponto de vista sobre o anti-heroísmo de um dos mais controversos personagens da saga: Severo Snape. Você concorda com a exposição da nossa colunista? Não deixe de ler e registrar seu comentário.

Por Amanda Bomfim

É indispensável em toda história que se preze a presença de um anti-herói. Aquela personagem de conduta duvidosa, cujas ações dúbias nunca permitem que se saiba realmente quais são suas verdadeiras intenções. O anti-herói, de características geralmente pouco atraentes, tem, no entanto, o dom de conquistar simpatizantes justamente por sua personalidade complexa. Esse tipo de personagem possui motivações diferentes e menos altruístas que as de um herói comum, porém acaba por praticar o bem, distanciando-se da qualidade de vilão.

Para os grandes fãs de Harry Potter, a definição de anti-herói resume-se a duas palavras: Severo Snape. Afinal, o professor de poções reúne em si todos os paradoxos de uma mente em que o bem e o mal estão sempre em conflito. Particularmente, sempre gostei de anti-heróis. Para mim, no mundo da fantasia em que todos parecem ter tanta certeza sobre si mesmos, os anti-heróis são aqueles que mais se aproximam daquilo que nós, pessoas do mundo real, somos: confusos, muitas vezes inseguros, imperfeitos e divididos entre o bem e o mal, o certo e o errado. A maioria das personagens criadas por Rowling tem, de fato, essa aproximação com a realidade, essa junção de defeitos e qualidades que os fazem tão especiais. Talvez seja essa uma das razões que tornaram a série o sucesso que é hoje. Independente de quem você seja, onde você more ou com o que você sonhe, é possível se identificar com o mundo de Harry.

Dentre todas as personagens da saga, nosso anti-herói Snape, sem dúvida, representa melhor os conflitos de caráter pelos quais todos passamos em algum momento de nossas vidas. Ele pode não ser o preferido de todos (com certeza é o meu!), mas o leitor potteriano que disser nunca ter se questionado sobre as intenções de Snape, ou nunca ter se surpreendido com suas ações ao longo da saga, certamente estará mentindo.

Por trás de uma fachada de indiferença e frieza, Snape era bastante passional. Os sentimentos mais fortes nele, aqueles que governavam os motivos por trás de suas ações, não eram de todo nobres… Havia ódio, muito rancor e desejo de vingança. Porém, acima de tudo isso, ele era capaz de amar. Amar louca e ardentemente, amar por completo, de uma forma que é ainda mais rara do que se imagina. O amor que sentiu por Lílian mudou completamente os rumos de sua vida, então como não admirar alguém que é capaz de nutrir pelo outro um sentimento tão forte? Eis o que faz de Snape nosso anti-herói.

Ainda que partes de seu passado e de seu coração tenham sido reveladas no último livro da série, Snape será sempre misterioso. Resta-nos apenas divagar. Muitos fãs o tomam como um mártir. Discordo. Snape tinha muitos defeitos para encaixar em tal papel. Mártir, não. Herói? Sem dúvida. Vamos tirar o “anti” dessa definição. Snape era um herói, um herói humano e falho, porém, creio eu, exatamente o tipo do qual precisamos. Alguém que, apesar de todos os defeitos, é capaz de viver e morrer por quem ama. Se pensarmos bem, é bastante possível encontrar heróis como Snape no mundo real. O Snape da vida real pode ser um pai, uma mãe, um amigo, um amante… Ou até você.

Amanda Bomfim se auto-apelida de “princesa mestiça”.