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Quando Rowling virá ao Brasil?

Por que J.K. Rowling ainda não fez uma grande visita ao Brasil? O país é grande, Harry Potter é muito popular por aqui, o clima é agradável… Realmente, é uma lástima que ainda não pudemos olhar ‘Tia Jo’ com nossos próprios olhos e dizer “obrigado(a) por tudo”.

Márcio Oliveira, novo colunista do Potterish, inicia aqui uma campanha bem imaginativa para trazer Rowling para cá, com direito a roteiro de viagem e atividades. Afinal, alguém como ela não pode ser recebida de qualquer maneira. Portanto, leia a coluna desta segunda e deixe seu grito: “Venha, Jo”!

por Márcio Oliveira

Não há de ser nova a ideia de Rowling vir à terra de Machado de Assis: certamente já ocorreu a alguns dos leitores brasileiros de Harry Potter: somos seis milhões; e se não é nova a ideia, talvez o leitor do Potterish se sinta meio burlado por ler um texto sobre ela. Sim, burlado: Este colunista decide, na sua estreia, apresentar um escrito que trata de um tema sobre o qual poderia o próprio leitor discorrer, de modo que lhe seja possível pensar: “Eu poderia ter escrito algo sobre esse assunto, se tivesse conseguido tempo.” Mas, por ora, deixemos de lado essa frustração e perguntemos: Como seria a vinda de Rowling a este país? Por que viria? E para quê? Que circunstâncias a trariam? Que motivos poderiam persuadi-la de que vale a pena vir?

Em 2008, a autora foi à universidade de Harvard, nos E.U.A., onde fez um discurso aos formandos; e, a não ser que eu esteja muito enganado (e posso estar), naquele país já participou de sessões de leitura com Stephen King (acho que isso não aconteceria aqui, embora Rowling saiba um pouco de português; mas, se acontecesse, Paulo Coelho participaria?); em 2009, ela também esteve em França, onde recebeu do então presidente Nicolas Sarkozy a insígnia de Cavaleiro da Ordem da Legião da Honra. A estada da mãe de Harry Potter naqueles países é um derivado do sucesso: leitores não lhe faltam — leitores admiradores — leitores ávidos por prestigiá-la mais de perto, com cartazes, e de viva voz. Assim é no exterior, assim é no Brasil.

Contudo, não deveria a vinda de J.K. Rowling ser como uma mera visita de celebridade. Escritoras, mesmo quando famosas, são diferentes de outros artistas: elas não têm status semelhante ao de astros do rock e atores de cinema: estes não são necessariamente intelectuais. Além disso, Rowling, uma artista da palavra, fez uma geração gostar de ler — e como responsável por tal feito, deveria ser recebida com todas as honras, e não apenas com fãs ardorosos. Afinal, o Brasil lê mais graças a ela (e a Lia Wyler, que traduziu os livros de Harry Potter para o português).

Acho que estou realmente burlando o leitor: ainda não respondi às perguntas do primeiro parágrafo. Pensemos, então, no que traria a contadora de histórias. (Naturalmente, não devemos pensar em pó de flu – até porque são poucas as casas com lareira aqui-, nem em chaves de portal, nem em vassouras, nem no ato de aparatar. Não somos como os Dursleys, mas nossos devaneios não precisam de ser surrealistas.) Formulem-se as hipóteses seguintes:

1ª: Para divulgar o novo livro no exterior, Rowling decide visitar países cuja língua oficial é o português;
2ª: Supondo que o mundo está observando o Brasil por causa das Olimpíadas e da Copa do Mundo, a UNESCO decide fazer uma reunião aqui com Rowling e todos os tradutores de Harry Potter;
3ª: O Ministério da Cultura, num rasgo de bom senso tão raro como a astúcia de Rabicho ao sequestrar Berta Jorkins, convida a autora para lhe dar um prêmio em Brasília;
4º: Uma escola de samba do Rio decide ter por tema as aventuras de Harry; Rowling recebe um convite e vem assistir ao desfile de carnaval;
5º: A autora, cansada do frio, decide passar férias no período do nosso verão: primeiro vai à cidade do Rio; depois, às do Nordeste.

Não são defensáveis as duas últimas hipóteses. Uma vez que o Carnaval do Brasil é repleto de pornografia e exposição do corpo, o quarto devaneio tem de ser descartado. Quanto às férias, convenhamos: não deve ser alimentada a esperança de ver J.K. numa praia do Rio: a imprensa noticia muitos assaltos a banhistas e pedestres. Ficaríamos honrados pela preferência, mas ela ficaria intrigada ao ver as casas nos morros cariocas: lembrar-se-ia d’A Toca, e ficaria impressionada com o fato de as casas não caírem sem auxílio de magia. Mais: poderia sentir vontade de usar um feitiço-escudo em consequência dos tiroteios.

A primeira fantasia é ótima, a segunda, interessante — mas a terceira é a de que mais gosto. Se o Ministério da Cultura convidasse Rowling para lhe dar um prêmio, ela poderia conhecer Lia Wyler, que também receberia homenagens, e poderia também ficar um tempo no Rio com sua assessoria de imprensa. Imaginemos uma história assim:

O Ministério envia a ela um convite, que é imediatamente aceito. Vêm ela e seus assessores: escolhe passar alguns dias no Rio de Janeiro, no Copacabana Palace. E os fãs, naturamente, já estão de prontidão na calçada da Avenida Atlântica, onde passam a dormir. Ônibus cheios de admiradores saem de várias partes do Brasil. (Os jornais, a esta altura, já registram os fatos.) Depois de algum tempo, Rowling aparece na janela, de onde escuta os gritos e lê os cartazes (em português e inglês).

— Rowling! Rowling! Rowling! (gritam muitos em uníssono enquanto batem as mãos nos intervalos entre uma repetição de nome e a outra).
— Tia Jô: nós a adoramos!
— Aunt Jô, we love you! Please write eighth book!
— Muitoubruigada! (responde ela, acenando).

No dia seguinte, vai a Brasília (onde sente um fedor), e recebe do Ministro da Cultura e da presidente Dilma um prêmio. Dilma e Rowling conversam; em seguida, é a vez de Lia Wyler, que, depois de ser homenageada também, tem muito que conversar com a autora.

O leitor ainda está sendo burlado. Afinal, não respondi à seguinte pergunta: Quando J.K. Rowling virá ao Brasil? Quando nos concentrarmos em fazer com que isso aconteça. Se nos mobilizarmos, haverá chance. Podemos iniciar um movimento na Internet, fazer campanhas nas ruas e enviar mensagens ao governo e à própria J.K. Rowling. Que estamos esperando? Vamos nos unir. Façamos isto: mostremos ao governo que ela merece ser homenageada. Sei que conseguiremos vê-la no Brasil: será uma honra muito maior que o Hagrid. Que se cumpra a profecia (!).

Márcio Oliveira atua nas horas vagas como guia turístico.