J. K. Rowling

J.K. Rowling fala à Radio Times sobre o programa WDYTYA?

Conforme divulgamos anteriormente, J.K. Rowling vai aparecer em um episódio da oitava temporada do programa “Who Do You Think You Are?“, da BBC, cujo objetivo é pesquisar e mostrar o antepassado de alguma celebridade. A revista Radio Times teve a oportunidade de conversar com a autora sobre o programa. Confira um trecho abaixo:

A história foi tanto o que eu estava e não estava esperando. É inevitavelmente uma experiência muito emocionante. Eu não consigo explicar porque o que aconteceu com nossos ancestrais importa tanto para nós, mas eu me encontrei tão envolvida em suas histórias, e tão preocupada com eles, apesar deles estarem além da minha ajuda agora. É tão humilhante se ver como uma pequena parte de uma gigantesca árvore genealógica – mas é também estranhamente reconfortante.

A matéria conta que, ao contrário do que se acreditava, o bisavô de Jo não ganhou uma das mais elevadas condecorações francesas, a Légion d’honneur, por sua bravura. A autora também descobriu que há três gerações de mulheres solteiras em sua família, cuja semelhança com sua própria história não pôde deixar de notar.

Confira a tradução completa na extensão e os scans da matéria através desse link. O programa será exibido na quarta-feira e nós o traremos legendado logo que possível.

J.K. ROWLING
A Vida Antes de Harry

Radio Times ~ Vincent Graff
Agosto de 2011
Tradução: Camila Guedes, Juliana Torres e Raquel Silva

JK Rowling fala exclusivamente com a RT sobre o choque de descobrir segredos familiares – e o paralelo extraordinário com seus ancestrais

O que você sabe sobre JK Rowling? Provavelmente não muito. Que ela foi durante um tempo uma mãe solteira que vivia com ajuda do governo; que ela escreveu o primeiro Harry Potter num café para escapar de seu apartamento frio e asqueroso; que ela é agora absurdamente rica (sua riqueza pessoal está estimada em meio bilhão de libras).

O que a JK Rowling sabe sobre a JK Rowling? Tudo isso citado acima e um pouquinho mais, é claro. Que sua falecida mãe era um quarto francesa. Que seu bisavô foi um herói na Primeira Guerra Mundial e que ele ganhou uma das mais elevadas condecorações francesas, a Légion d’honneur, por sua bravura. Que sua tia guarda uma de suas medalhas em casa.

Pelo menos, ela achava que sabia isso tudo. Porém, durante a gravação de um episódio emotivo de “Who do you think you are?” (para ser lançado como parte de uma série que estréia essa semana), JK – “Jo” para quem a conhece – descobriu que algumas das verdades que ela e sua família vinham carregando por décadas eram tão fictícias quanto a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. “Eu esperava algumas surpresas,” disse Rowling, 46, em meias-palavras, “E eu certamente recebi várias.”

É bem extraordinário a autora ter aceitado participar desse programa, pra começar – e em responder a algumas perguntas da RT sobre sua experiência. Notavelmente ela deu poucas entrevistas sobre sua vida, dizendo que gosta de ser “privada”. Os jornais, talvez por ela não revelar suas emoções mais profundas, chamam-na de “reclusa”. Então por que ela concordou em fazer parte do programa?

A resposta está na sua mãe, Anne, que morreu, com 45 anos, em 1990. Com apenas 20 anos de diferença entre elas, Jo e Anne eram extremamente próximas. Mas Anne, que sofreu de esclerose múltipla, morreu sem nunca saber o que o futuro de sua filha reservava.

“Mamãe morreu quando eu estava começando a escrever Harry Potter. É um grande arrependimento nunca ter mencionado isso para ela, ela morreu sem saber nada sobre algo tão gigante,” Rowling explica no programa. Sua mãe “era muito interessada nas raízes francesas da família, mas nunca teve uma chance de explorá-las. Então uma grande motivação para olhar o histórico da minha família foi a minha mãe. Isso está intimamente ligado com essa perda.”

Rowling fala pra RT: “Provavelmente me senti como qualquer um se sente quando aceita participar de um programa no qual se é o assunto: excitada, apreensiva, muito curiosa, definitivamente nervosa… acho que chorei em três situações diferentes – não sei se quebrei um record.” Um momento emocionante apareceu cedo na sua jornada – quando Rowling tenta traçar os detalhes da Légion d’honneur de seu bisavô, Louis Volant. Numa coincidência surpreendente, a própria Rowling ganhou uma Légion d’honneur, em 2009, por seus serviços em literatura. Ela ganhou a medalha do presidente francês Nicolas Sarkozy, e as reportagens nos jornais da época mostraram o quão orgulhosa ela estava de seus ancestrais ilustres.

“Eu nao posso dizer que eu realmente mereço isso, mas a Légion d´honneur tem um significado particular e pessoal,” ela declarou no seu discurso de agradecimento. “Eu gosto de acreditar que Louis ficaria feliz em saber que existe uma segunda Légion d´hounneur na nossa família.” A-há, se há uma coisa que os telespectadores regulares da WDYTYA? sabem bem – mesmo que as celebridades que vem ao programa pareçam ignorá-los – é que as “histórias” de família passadas de geração em geração geralmente revelam-se não gravadas em ferro, mas em ouro de tolo.

Rowling fez uma descoberta fantástica no programa. Existiu, de fato, um homem chamado Louis Volant que ganhou a Légion d´hounneur por um ato de bravura durante a guerra. Mas esse Louis tinha o aniversário errado, a caligrafia errada, as lesões erradas – e não era relacionado a Rowling.

Então qual era a explicação para o distintivo de lapela de ouro com o nome de Louis no centro e inscrito com as palavras “étoile d’honneur” (“estrela de honra”) – um tesouro guardado pela tia de Rowling, que cuidava há anos em nome da família? Isso não tinha nada a ver com a Légion d’honneur, mas com um laurel – provavelmente um daqueles de dez centanos – do sindicato de Louis. (O bisavô de Rowling foi um garçom de vinhos)

Somente naquele momento do programa Rowling se permitiu utilizar um tom de dúvida sobre a autenticidade do distintivo. “Eu ganhei a Légiond’honneur”, diz ela, “e não tenho nada assim.”

A revelação de que sua família tem passado “mitos” de geração a geração foi um baque para Rowling, como o diretor de WDTTYA?, Leo Burley, lembra nos bastidores. “Ela ficou muito preocupada – esta era uma história de família que tinha sido contada não apenas por sua mãe, mas por todos. Ela achou isso embaraçoso e estava preocupada acerca de como as coisas iriam terminar”.

Um erro inocente? Ou um engano deliberado de Louis? Há uma reviravolta fascinante para essa história – e nós da RT não vamos estragar o final revelando-o. Nem divulgando a história e as experiências da família durante a guerra franco-prussiana em 1870.

Tem outro aspecto fascinante das investigações de Rowling. A pesquisa de Rowling a levou a encontrar sua bisavó Lizzie, sua tataravó Salomé e a mãe de sua tataravó, Christine.

Todas as três eram, por uma razão ou outra, mães solteiras. O marido de Christine, Jacques, morreu quando ela estava grávida de seu sétimo filho; Salomé, uma humilde dona-de-casa parisiense, era uma mãe solteira de quatro filhos; e Lizzie teve de criar o avô de Rowling sozinha após seu marido, Louis (o indivíduo que não ganhou a Légion d’honneur), divorciou-se dela e voltou para sua França nativa.

O que nos leva de volta a Rowling, é claro – talvez uma das mães solteiras mais famosas no país. Ela está agora felizmente casada com Neil Murray, um médico, com quem teve um filho, David, oito, e uma filha, Mackenzie, seis, mas quando ela estava escrevendo o primeiro livro de Harry Potter naquele acolhedor Café em Edimburgo, ela tinha retornado recentemente de Portugal – o local de um primeiro casamento curto e infeliz, quando ela tinha 27 anos, com o jornalista de TV Jorge Arantes, que concebeu sua amada filha Jessica (agora com 18).

“Houve um ponto em que eu realmente sentia que tinha ‘mãe sozinha divorciada sem um centavo’ tatuado na minha cabeça”, ela disse uma vez. No programa Rowling reflete: “O que eu estou realmente surpresa é de quantas mães solteiras eu descendo nessa linha da família. Tem definitivamente um paralelo aqui. Vinte anos atrás, eu estava dando aulas e escrevendo no meu tempo livre e era muito pobre. E não muito tempo depois, eu me tornei uma mãe solteira, então senti a conexão.”

Você pode notar o poder que esta descoberta teve sobre ela. Conhecer seus antepassados – mesmo através do filtro de registros escritos e explicação de historiadores sociais – foi claramente uma experiência intensa para a escritora. “Tiveram muitas grandes surpresas, algumas ótimas e uma um tanto enraivecedora,” Rowling diz a RT. “Entretanto, eu fui até o programa querendo a verdade, não importando o que ela fosse, porque eu sabia muito pouco da minha ancestralidade francesa, e eu não me arrependo nem por um momento disso. Eu amei toda a experiência.

“A história foi tanto o que eu estava e não estava esperando,” ela adicionou. “É inevitavelmente uma experiência muito emocionante. Eu não consigo explicar porque o que aconteceu com nossos ancestrais importa tanto para nós, mas eu me encontrei tão envolvida em suas histórias, e tão preocupada com eles, apesar deles estarem além da minha ajuda agora.”

“É tão humilhante se ver como uma pequena parte de uma gigantesca árvore genealógica – mas é também estranhamente reconfortante.”