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Coluna conjunta de Natal: amigo secreto

Olhe lá fora. O céu está cinzento, o lago congelou e mais de meio metro de neve quase invade a sua janela. Sim: este ano, você vai comemorar sua véspera de Natal conosco, em Hogwarts. Vamos trocar presentes, encher a barriga de peru e suco de abóbora e soltar bombinhas Weasley.

O que está esperando? Acesse a coluna conjunta especial de Natal na versão “amigo secreto” e corra para garantir seu lugar na mesa! Só evite sentar ao lado de Sibila…

Para conferir o texto de cada colunista na íntegra, clique aqui!

Crédito da fanart: http://artdungeon.net


O Salão Principal está levemente diferente. As mesas das quatro casas estão encostadas nas paredes, liberando espaço no centro do recinto para uma única mesa, retangular, pouco mais comprida, onde estão sentados todos os convidados. Bruxos e colunistas gargalham entre respingos de bebida e migalhas de panetone até Minerva pedir atenção com o tilintar de seu cálice.

É Dumbledore quem toma a palavra:

—É hora do amigo-secreto! Quem gostaria de começar?

— Eu começo!

— Você não está participando da brincadeira, Fred.

— Então eu começo!

— Nem você, Jorge!

— Eu quero começar — Mariana Nascimento se adianta —, porque faço questão que meu amigo-secreto seja o primeiro. Os últimos, meu querido Neville — dá uma piscadinha —, serão os primeiros.

Neville se aventura na Floresta Proibida para pesquisar toda a sua diversidade de plantas. Até que um dia ele encontra uma planta muito rara, cujas propriedades haviam sido pouco exploradas pelos pesquisadores bruxos. Depois de muitos estudos ele descobre que, acrescentando essa planta a certa poção, é possível obter uma mistura capaz de gerar longos momentos de lucidez em uma mente bruxa devastada por feitiços.

Com essa descoberta, Neville não só é reconhecido por toda a sociedade bruxa, como conquista a possibilidade de curar seus pais – algo que para ele é mais importante do que qualquer outra coisa.

— Então só os colunistas participam?

— Sim, Fred.

— E os bruxos não?

— Não, Jorge.

— Tem certeza de que o nome técnico disso é “amigo-secreto”?

Igor Silva segue o sinal de McGonagall para ignorar os gêmeos e se levanta.

— Meu amigo-secreto é o mais especial para mim. Lutei muito para poder lhe dar o meu presente, e continuaria lutando, para sempre! Ele é o meu personagem, embora eu tenha que admitir que… ele seja um elfo livre, meu senhor.

Já que é época de trocarmos presentes, não lhe darei o clichê das meias. Não, eu farei mais por você: vou lhe dar um propósito. A informação com a qual lhe presenteio é que você não está sozinho. Existem 400 milhões de aspirantes a bruxos que lutarão ao seu lado; que iluminarão com seus sorrisos quando o caminho for trevoso demais; que o tomarão em seu colo quando a confiança se esvair e só restar a tristeza; que correrão contigo e estarão junto a ti quando o momento derradeiro, onde sua coragem será posta a prova, chegar.

— Não sei como os trouxas costumam jogar essa brincadeira…

— … mas aqui quem recebe um presente também dá…

— … assim se forma um círculo em que todo mundo se tira…

— … e todo mundo recebe um presente, entenderam?

— Estou bem certa de que brincamos do mesmo jeito — ri-se Sheila Vieira —, e de que agora estamos brincando certo. Vai fazer vocês acreditarem mais se eu disser que meu amigo-secreto é um Weasley?

Os gêmeos arregalaram os olhos, ansiosos.

— Mas é o Rony — Sheila ri mais.

Eu estava um pouco nervosa para saber o que dar de presente a ele. Para não errar, decidi pesquisar o que ele já tinha ganhado antes, principalmente nos anos que ele estava na escola. Hermione se lembrava de um “planejador de lições de casa” que ela havia dado no quinto ano de Hogwarts. Mas isso não seria muito útil agora, não é? Por sua vez, Harry me disse que o presente de Natal que Rony mais gostou foi um chapéu do Chudley Cannons. Então o meu presente escolhido foi um ingresso que dava direito a ver todos os jogos do time na temporada!

—Isso foi cruel.

— Você realmente nos deu esperanças.

— Daí veio e pá!, partiu nossos corações.

— Dói, sabia?

— No fundo da alma.

— Bem no fundo alma.

— Eu tirei um Weasley — a voz tímida vem da outra ponta da mesa. Todas as cabeças se viram de uma vez para encontrar Débora Jacintho, se levantando com o presente.

— Certeza que não são dois?

— Na verdade, uma Weasley… a quem eu — e acho que posso dizer a família toda — admiramos muito. A Molly, lógico!

— É, ela vale por dois… — Fred conclui pouco antes de receber um tapa na orelha.

Eu gostaria de desejar um Feliz Natal à Sra. Weasley, mãe super cuidadosa e apegada à sua família. Queria presenteá-la com nada menos do que suéteres bem quentinhos, que a farão se sentir sempre bem próxima de seus filhos. Acredito que a principal idéia de Molly Weasley ao tricotar suéteres para sua família era para que eles sempre sentissem que a mamãe estaria cuidando deles, mesmo estando longe; para que sempre sentissem o aconchego e o colo da Sra. Weasley. E que todos neste Natal se sintam amados, como todos os Weasley se sentem!

— Vá, querida, vá, é a sua vez — os tapinhas de Minerva empurram para frente a menina no assento logo ao seu lado.

— Não posso — justifica Brunna Cassales —, meu amigo-secreto ainda não —

Clack, de repente as portas principais se abrem e surgem dois pinheiros ambulantes — ou melhor, carregados por Rúbeo Hagrid.

— Desculpem pelo atraso! Estava escolhendo a árvore de Natal. Ainda sobrou comida?

— HAGRID! — o meio-gigante demora a perceber o pingo de gente — ou melhor, Brunna Cassales — que carinhosamente se perde num abraço entre sua barba.

— Você viu, Fred? Isso significa “empatia”.

— Então o Natal ainda existe neste Salão Principal, quem diria!

O que seria simbólico o suficiente para presenteá-lo? Como ainda não recebi minha carta – o que talvez seja culpa de Errol -, eu encomendaria uma pintura repleta de ornamentos, na qual haveria um menino muito maior do que o pai com ele ao seu lado, ambos sorrindo no centro, e um filhote de dragão fêmeo norueguês, um cachorro preto, enorme e covarde, um cão de três cabeças, uma acromântula e um hipogrifo ao redor. Junto ao quadro, colocaria um cartão de Natal convidando Hagrid a vir ao Brasil conhecer a nossa fauna e tomar chá na casa dessa fã que muito o admira.

— Você, Luna. Você vai nos entender!

— O que você acha deles chamarem isso tudo de “amigo-secreto”, um nome que está visivelmente errado?

— Não sei do que estão reclamando tanto — ela responde, aérea — Esse jeito parece tão mais divertido.

— Ai, Luna! — exclama Mariana Elesbão, animada — É por isso que eu te escolhi pra ganhar o meu presente!

— Disponha!

— Traduzi! É um mapa para localizar os últimos Bufadores de Chifre Enrugado — Disse, para espanto de Rony e Hermione.

— Como você sabe que é verdadeiro?

Luna apontou para a assinatura no canto: Potterish, como se garantisse a autenticidade do mapa.
— Estão em Shangri-La!

Luna perguntou casualmente para Rony e Hermione:

— O que farão nas férias?

— Seu pai vai ter que visitar os Dursley — Disse Harry, rindo.

Luna achou que nunca tinha se sentido tão feliz. Precisava correr para chamar Neville e Gina.

— Aaaaah… então não teve nenhum sorteio!

— Vocês deliberadamente escolheram seus “amigos…” — os dedos de Fred fazendo as aspas — “… secretos”!

— Não é verdade — Luiz Guilherme Boneto tenta se defender.

— Ah, não?

— Quem é sua personagem preferida?

— Hermione.

— E quem você tirou?

—A… ham… na verdade, foi… ééé… a Hermione…

Hoje, como se sabe, você é uma mãe de família, com uma bela carreira profissional e um próspero futuro diante de si. Mas achei que, neste Natal, você merecia ganhar algo que lhe fizesse relembrar passagens importantes de sua vida. Acima de tudo, com este álbum tão especial, que produzi com todo carinho, espero que você se lembre de que estas pessoas, assim como você, serão lembradas pelos bruxos, e até por alguns trouxas, para todo o sempre.

— Bom, meu amigo-secreto é uma pessoa muito inteli —

— É o Lupin.

— PRÓXIMO!

— Ei! — Mariana Rezende se revolta — Como assim vocês sabiam?!

— Digamos que o “eternamente apaixonada por Remo Lupin” na sua descrição de colunista foi uma boa dica.

— PRÓXIMO!

Quero aproveitar para dizer que encontrei o seu presente de Natal. É um castelo. O Castelo. Talvez você tenha ouvido falar do Professor Dumbledore, o novo diretor de Hogwarts. Um dia, depois da aula, eu conversei com ele sobre o seu caso e ele prometeu que vai entrar em contato com os seus pais! Incrível, não?! Você sempre sonhou em embarcar na locomotiva vermelha, então não consegui pensar num presente mais apropriado. Espere só até você conhecer o Salão Comunal da Grifinória, é fantástico.

— E se eu disser que essa teoria de vocês é furada?

— Impossível!

— Por que vocês dariam presentes pra quem não gostam?

— Porque todos merecem, oras.

— Merecemos?

— Quer dizer, merecem?

—Nós devemos muito a cada um de vocês —completa Bruna Moreno, a voz baixa.

Não vou ser hipócrita para falar que a minha simpatia é das maiores. Seu jeito divertido (aquele sorriso de quem consegue achar graça num feijãozinho-de-todos-os-sabores com gosto de cera de ouvido) continua me irritando. Por isso que estendo o pacote com meu presente dessa maneira displicente e mal o encaro nos olhos.

— Abra antes que derreta.

Embarco no trem de volta para casa sem olhar para trás, para não correr o risco de ver Albus Dumbledore se lambuzando saudosamente com o sorvete de limão.

— Entenderam? — agora é Yuri Rigon quem se levanta — Só nós estamos dando presentes agora porque vocês já nos deram o nosso: vocês mudaram nossas vidas.

— Não é lindo, Fred?

— Meu coração não vai aguentar, Jorge — fingindo lágrimas.

— Mas vocês não podem estar falando sério.

— Nem todos mudaram suas vidas.

— Snape, por exemplo.

— O que ele fez de bom?

— Tudo, eu diria — ri Yuri.

— Dez pontos para a Grifinória — Snape se manifesta, os braços cruzados, sem levantar o olhar —, para manter o espírito natalino.

É fácil dar presentes, o difícil mesmo é agradar pessoas. Principalmente quando se trata de Severo Snape. Mas este ano, por ele, voltaremos um pouquinho ao passado usando o Vira-Tempo de Hermione e daremos a ele, com muito gosto, um Natal ao lado de Lílian, sem que Tiago possa chegar, de repente, e pendurá-lo na árvore como enfeite.

— E quando dizemos que todos merecem, são todos mesmo.

— É? Quem você escolheu?

— Não posso dizer.

Sem precisar explicar, Rodrigo Bruno tira um papelzinho do bolso, rabisca um nome e entrega nas mãos de Fred.

— Ah. Você literalmente não pode dizer.

— Oh-oh.

De repente, os cálices começam a tremer na mesa. Logo, são os pratos, as colheres, os garfos, os bules, toda a louça vibrando num uníssono que faz uma má predição: Lorde Voldemort surge de seu véu negro da aparatação.

Mas é Natal, época de paz e calmaria, e, como eu já disse, nessa época tendemos a enxergar o lado bom das pessoas. Eu enxergo o seu. Por isso, enderecei essa carta a Tom Riddle e não a Voldemort — mesmo que na teoria, e somente nela, vocês dois sejam a mesma pessoa. Tom era uma pessoa boa; ainda que praticasse algumas maldades, não era alguém cruel; apenas refletia a pouca sorte que a vida lhe oferecera antes mesmo de nascer. Já Voldemort não sabe o que é bondade, amor…

Coincidência ou não, todos vão embora.

— Parece que estamos sozinhos, Fred.

— Mais ou menos, Jorge — ele ainda aponta para o Lorde das Trevas, que se acomoda num dos assentos recém-vazios.

— Tudo bem. Ele não parece comer muito.

— Tem razão. Acho que essa comida dá pra nós três.

Os gêmeos se dirigem até o bruxo e, ainda que educadamente, não podem deixar passar a piada:

— Peru, Voldie?

Mais do que um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo, a equipe de colunistas do Potterish gostaria de oferecer esta coluna conjunta como presente a você, caro leitor, nosso e de Harry, que permaneceu, com ele e conosco, até o final.