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Fêmea, feminilidade, feminismo… mulher

No que você pensa quando ouve falar de feminismo? Mulheres enraivecidas queimando sutiãs, uma moça bem vestida chefiando uma equipe de trabalho, uma mãe que cria bem seus filhos? Um ser superior capaz de executar todas essas tarefas? [meio-2] Confira aqui a resenha de Sheila Vieira sobre “A mulher independente”, um livro que reúne os principais trechos de “O segundo sexo”, obra-prima de Simone de Beauvoir, uma polêmica autora francesa, que desafiou a visão dos homens sobre as mulheres, mas também a visão delas sobre si mesmas.

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“A mulher independente”, de Simone de Beauvoir

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“Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no meio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto entre o macho e o castrado que qualificam de feminino”. Mais do que lançar as bases do feminismo na segunda metade do século XX, Simone de Beauvoir, através de suas teorias, questiona os conceitos de liberdade, felicidade e trabalho. Não se trata de um panfleto por uma causa, mas sim de pura Filosofia.

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As mulheres hoje têm praticamente os mesmos direitos na lei que os homens. A grande questão que ainda explicita as diferenças entre elas e eles são os salários completamente desproporcionais. Atualmente, o termo feminismo não é muito bem visto por muitos, pois pressupõe um estereótipo de mulher ressentida e revoltada. Valorizadas são as ‘perfeitas’ mães, profissionais, atraentes, inteligentes, carinhosas, simpáticas, em forma, ou seja, praticamente máquinas. Se há uma autora que nos permite entender o caminho que o “segundo sexo” percorreu desde os tempos de extrema desigualdade até hoje, ela se chama Simone de Beauvoir.

“A mulher independente” é um livro que traz o capítulo mais marcante de “O segundo sexo”, além da introdução e da conclusão da obra principal da escritora, lançada em 1949. Nesse momento, todas as pessoas do gênero feminino tinham suas vidas traçadas desde que nasciam. É a supressão da individualidade. Beauvoir afirma que a primeira maneira de romper esse ciclo é a busca pela autonomia intelectual. Através do conhecimento, trabalhar e sustentar-se financeiramente.

Segundo a autora, as mulheres deviam reconhecer que a tal feminilidade, um estado de espírito diferenciado, só existe sociologicamente. Para Beauvoir, a diferença inicial para um homem era estritamente biológica, ou seja, o que difere um macho de uma fêmea. Qualquer outra característica é fruto de uma civilização que rotula, como fez com judeus e negros, por exemplo, tratando-os como naturalmente inferiores.

No entanto, quando a mulher conquista autonomia intelectual e financeira, não é possível saber exatamente quais são seus ganhos em termos de felicidade. Uma operária é mais realizada do que uma dona de casa? Não necessariamente. Mesmo as mulheres “modernas” e “bem-sucedidas” ainda nutrem um forte desejo de constituir família, em grande parte. “Ela deseja continuar uma verdadeira mulher para sua satisfação. Só consegue aprovar-se através do presente e do passado, acumulando a vida que fez por si com o destino de sua mãe, que seus jogos infantis e seus fantasmas da adolescência lhe prepararam”, diz Beauvoir.

Como fazer com que as mulheres tenham auto-estima? Que saibam não se contentar em ser apenas “a melhor do meu sexo em algo”, mas a melhor pessoa? Deixar de se verem como vítimas, como pessoas que sofrem com as ações do mundo e entenderem-se como donas de seu destino? “A disputa durará enquanto os homens e as mulheres não se reconhecerem como semelhantes, isto é, enquanto se perpetuar a feminilidade como tal; quem, dentre eles, mais se obstina em a manter?”. A dúvida que Beavoir deixa é se as próprias mulheres desejam sair da aura de proteção que foi criada em torno delas.

Resenhado por Sheila Vieira

144 páginas, Editora PocketOuro, publicado em 2008.
*A edição original é um excerto do livro “O segundo sexo” (Le Deuxième Sexe). Publicado originalmente em 1949.