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Leia sobre a trajetória de ‘Harry Potter’ nos cinemas

O colunista Breno Ribeiro, do site de cinema PipocaCombo, escreveu um artigo acerca da trajetória da saga de Harry Potter nos cinemas, destacando os seus pontos positivos e negativos, até o esperado “Enigma do Príncipe”, que estréia próxima semana.
Sobre a série literária do menino-que-sobreviveu, o autor diz:

Os livros de J.K. Rowling sempre foram e sempre serão meramente infantis. Por mais que se tente negar isso, tendo em vista elementos mais obscuros e misteriosos em algumas das tramas, o final da saga assinado por ela, em 2007, comprovou o que já se sabia. Não que haja um julgamento de valor por trás da palavra ‘infantil’, pelo contrário, há apenas uma rotulação que, diga-se de passagem, já consagrou grandes escritores no passado. E isso Rowling é: uma grande escritora. […] Criou um dos mais maduros e sérios clássicos infantis dos últimos anos“.

O colunista continua a sua dissertação sobre os filmes da série, analisando o perfil de cada diretor em relação à adaptação pela qual foi responsável, e conclui falando sobre o sexto filme:

Dando uma breve olhada nos trailers e imagens liberadas pela Warner, há de se notar mais um passo além da infantilidade e em direção à seriedade que a franquia deve tomar. A fotografia obscura de Bruno Delbonnel e a direção segura de David Yates, provavelmente contribuirão para um maior amadurecimento da saga“.

Confira o artigo na íntegra em notícia completa ou clicando aqui

Faltam 8 dias para “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”!

FILMES DE HARRY POTTER
‘Bruxinho’? Onde?

Pipoca Combo ~ Breno Ribeiro
05 de julho de 2009

É comum ver em jornais, revistas ou mesmo em veículos de comunicação em áudio, como televisão, rádio ou os modernos podcasts, a seguinte definição: “Em sua nova aventura, o menino bruxo…” ou “Mais uma vez o bruxinho que conquistou platéias do mundo inteiro…”. Aliás, nem precisou ser explicitado o assunto sobre o qual as frases acima falam; mais profundamente, apenas a primeira palavra do título deste texto já deixa a questão mais do que resolvida. Gostando ou não, já está mais do que cristalizado na cabeça de qualquer seguidor do mundo pop atual que tais rótulos só poderiam ser dado a um personagem: Harry Potter. Mas será que os diminutivos e expressões infantis usadas nos storylines da maioria dos jornais em 2001, quando estreava o primeiro filme da saga do bruxinho, Harry Potter e a Pedra Filosofal, se encaixariam agora, oito anos depois?

Os livros de J.K. Rowling sempre foram e sempre serão meramente infantis. Por mais que se tente negar isso, tendo em vista elementos mais obscuros e misteriosos em algumas das tramas, o final da saga assinado por ela, em 2007, comprovou o que já se sabia. Não que haja um julgamento de valor por trás da palavra “infantil”, pelo contrário, há apenas uma rotulação que, diga-se de passagem, já consagrou grandes escritores no passado. E isso Rowling é: uma grande escritora. Ao mesclar elementos fantasiosos de diversas mitologias e ainda propor debates sérios e maduros sobre temas nem sempre tão pueris (como o preconceito e o poder da política e do dinheiro na formação do caráter e opinião das pessoas), a escritora inglesa criou um dos mais maduros e sérios clássicos infantis dos últimos anos.

Contudo, é difícil imaginar uma criança de 11 anos (idade de Harry durante o primeiro livro da septologia) discutindo abertamente e toda certa de si sobre política, por exemplo. E Rowling sabia disso. Logo, nem todos os elementos adultos da saga surgem desde seu início, embora sempre estejam ali, prontos para serem desvelados. Escritora habilidosa, Rowling deixa quase todos os maiores ‘problemas’ para serem enfrentados ou ruminados a partir dos terceiro e quarto livros (quando Harry, já adolescente, está com 13 e 14 anos, respectivamente). A partir daí, os piores medos e temores da vida do adolescente bruxo começam a germinar, como o aparecimento de criaturas cujo poder consiste em deixar as pessoas em um estado de depressão induzida e o presenciamento da morte de um colega de escola.

Portanto, não é complicado entender o porquê da Warner Bros. ter contratado o diretor Chris Columbus para adaptar os dois primeiros (e menos complexos) livros da série. Famoso por dirigir filmes para crianças ou filmes-família, como Esqueceram de Mim (os dois primeiros) e Nove Meses, Columbus se mostrava uma escolha acertada na época justamente por sua experiência na direção de filmes leves e de censura livre. De uma certa forma muito peculiar e que até hoje é causa de controversas discussões, o diretor teve um importante papel na história cinematográfica da série ao estabelecer todas as bases que seriam usadas dali para frente.

Assim sendo, o primeiro longa da série é também o mais infantil de todos. Mais uma vez, não há julgamento nenhum por trás da palavra ‘infantil’, apenas uma constatação. Dito por vários fãs como o “mais fiel” de todos os filmes em termos adaptativos (algo que se deve, principalmente, à extensão diminuta do primeiro livro em relação aos seguintes), Harry Potter e a Pedra Filosofal deu o passo inicial da série e é, até a presente data, o filme com maior bilheteria da saga com quase 1 bilhão de dólares em vendas de ingressos. Entretanto, a falta de apuro técnico, mesmo para aquela época, assim como a fraca atuação de grande parte do elenco de crianças do longa em contraste com grandes nomes do cinema britânico, como Alan Rickman, Richard Harris, Maggie Smith e Robbie Coltrane, foi alvo de críticas e serviu ainda mais para categorizar o filme como ‘infantil’ (agora sim com um julgamento de valor). Ainda, foi chamado para a composição da trilha sonora do filme o famoso compositor John Williams. Diferente de outros trabalhos invejáveis, Williams não realizou nada de magnânimo. Apesar disso, seu ‘Edwiges’ Theme’ seria padronizado como música-tema da saga em todas as futuras trilhas.

Apesar da abordagem simplista, Columbus ficaria mais um ano à frente da saga e, em 2002, lançaria Harry Potter e a Câmara Secreta. Com uma temática um pouco mais misteriosa e uma história que remete a um pseudo-thriller, o livro é mais obscuro que seu antecessor, algo que não aparece muito na transposição para as telas. A não tão bem feita adaptação continuava por fazer a narrativa soar “infantil” e, ainda com efeitos fracos, a saga continuaria a ser vista como “filme de criança” sobre um “menino bruxo”. Porém, tudo mudaria em 2004.

Diante da clara guinada de complexidade narrativa entre o segundo e terceiro livros, tornava-se claro também que a presença de Columbus acabaria por deixar a imaturidade dos longas viva por mais tempo. Logo, frente ao crescimento moral e psicológico de Harry como pessoa e à evolução do personagem de criança a adolescente, seria mais do que inteligente a contratação de um diretor que possuísse a percepção necessária para acompanhar esse crescimento dos personagens principais e mantivesse o ritmo sombrio que a história pedia. Tendo sido premiado e aplaudido pelo mundo em 2001 pelo filme E Sua Mãe Também, o diretor mexicano Alfonso Cuarón foi contratado para dirigir o terceiro filme da série, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban.

A mesma crítica especializada que outrora maldissera os primeiros filmes da franquia, em 2004, com Cuarón na direção, aplaudiu o terceiro capítulo da, até então, septologia cinematográfica. Por outro lado, assim como a opinião dos críticos foi para um lado diametralmente oposto em relação aos longas anteriores, também mudou a opinião dos fãs da série. Apesar do apuro técnico (tendo até mesmo sido indicado a um Oscar de Efeitos Especiais), das longas tomadas e do clima extremamente dark criado por Cuarón, os fãs não pouparam críticas à péssima adaptação que, pela primeira vez, decepcionara muitos deles. A conclusão sem explicações, o corte de partes preferidas de alguns leitores, o apagamento de grande parte das subtramas e, principalmente, a ignorância em relação ao fato de que nem sempre quem dirige um filme é a mesma pessoa que o escreve fizeram com que a grande parte dos pottermaníacos saíssem bufando das sessões, decepcionados com Cuarón. Nada disso, porém, pode diminuir o fato de que, enquanto Columbus criou a base de toda a franquia, Cuarón foi o responsável pelo amadurecimento da série em termos cinematográficos e pelos filmes como os conhecemos hoje.

Um ano e meio depois, em novembro de 2005, estrearia o quarto longa da série, Harry Potter e o Cálice de Fogo, dessa vez sob a direção de Mike Newell, o primeiro britânico a dirigir um filme da série. Assim como o antecessor, o quarto filme da franquia foi um sucesso de crítica e é considerado, até a presente data ao lado do terceiro filme, o melhor filme da série. Ao contrário do anterior, que pecava pela falta de um final mais redondo, este pode ser considerado também o melhor trabalho do roteirista Steve Kloves na saga até agora, justamente por entender exatamente quais subtramas deveriam ser cortadas e quais passagens poderiam ser adaptadas para um fluxo mais natural da trama principal. Mesclando momentos de tensão e cenas cômicas, Newell conseguiu trazer toda a atmosfera misteriosa que circunda a história às telas sem, ao mesmo tempo, deixar passar parte do processo de amadurecimento dos personagens, como o crescente interessante de Harry, Rony e Hermione pelo sexo oposto.

Há quase dois anos, estreava, então, o quinto longa da saga, Harry Potter e a Ordem da Fênix. Dirigido pelo quarto diretor diferente na série, o britânico David Yates, o filme tinha uma missão à primeira vista difícil: adaptar mais de 700 páginas da trama altamente política e complexa do maior livro, em quilos de árvore destruídas, da septologia. Steve Kloves, roteirista dos quatro anteriores, sairia da franquia para se dedicar a outros projetos e daria espaço para Michael Goldenberg, que à época da pré-produção d’A Pedra Filosofal chegara a escrever poucas páginas do roteiro daquele filme. O resultado: um roteiro episódico, porém conciso e coeso dentro da proposta do original.

O resultado, no geral, agradou a maior parte dos fãs (alguns considerando este o melhor de todos os longas até a presente data) e também agradou a crítica que elogiou principalmente a direção segura e madura do novo diretor e os recursos usados por Yates e Goldenberg para dar maior fluidez a uma estória por si só densa, como por exemplo as manchetes do jornal bruxo, o Profeta Diário. Há, ainda, pequenas dicas sobre os filmes seguintes, algo que, ao final da série, dará a ela um formato mais redondo. Todos esses aspectos, em conjunto com a trama política presente em boa parte do filme, ajudam a distanciar o adolescente Potter do menino bruxo de anos atrás.

Dando uma breve olhada nos trailers e imagens liberadas pela Warner, há de se notar mais um passo além da infantilidade e em direção à seriedade que a franquia deve tomar no prestes a ser lançado Harry Potter e o Enigma do Príncipe. A fotografia obscura de Bruno Delbonnel e a direção segura de David Yates (que continuará na direção da série até seu fim, em meados de 2011) provavelmente contribuirão para um maior amadurecimento da saga.

Por mais que seja natural manter um rótulo consagrado mesmo que ele não se aplique mais a fim de se obter um rápido entendimento do interlocutor (algo brevemente testado no início deste texto), é bom ter entendimento de que o mesmo não mais faz jus ao que define. E não só críticos e fãs pensam assim, uma vez que a própria indústria cinematográfica como um todo credita à série valores menos inocentes, tendo em vista que a censura aos filmes só faz crescer. O amadurecimento da franquia, portanto, além de previsto pelo próprio crescimento do personagem e dos livros, vem se mostrando cada vez mais eficaz e independente do veículo em que se baseia, deixando que a linguagem do cinema fale por si só e conte, à sua às vezes torta maneira, a grande saga do menino que sobreviveu.