A Ordem da Fênix ︎◆ Filmes e peças

Entrevista com o diretor de efeitos especiais de OdF

Entrevista com o diretor de efeitos especiais de OdFEntrevista com o diretor de efeitos especiais de OdF

O diretor dos efeitos técnicos do filme Harry Potter e a Ordem da Fênix falou como conseguiu o cargo, os vários truques utilizados no seu trabalho e a reação de sua família ao saber que ele ia trabalhar na franquia, numa recente entrevista exclusiva ao site Harry Potter LA.

Quais histórias ou piadas você pode nos contar sobre trabalhar nesse filme? Algum detalhe que foi perdido?
Não muito, apesar do fato de nosso supervisor de efeitos quase morrer em um incêndio no set, ou que a cena onde Harry vê Voldemort em King’s Cross o corpo de Voldemort foi filmado em Londres e o rosto foi filmado em outro país e então foram postas juntas (o ator teve conflitos de horários)…

Recomendamos a leitura da entrevista na íntegra a todos aqueles que tem um fascínio por efeitos especiais e pelo cinema como um todo. Para tanto, cliquem em notícia completa!

Gracias, Harry Potter LA.

HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX
Entrevista com o diretor de efeitos técnicos Luis Pages

HarryPotter LA
09 de março de 2008
Tradução: Daniel Mählmann, Victor Martz e Érika Zemuner

Nascido em Caracas, Venezuela, em 24 de dezembro de 1980, Luis Page é uma das poucas pessoas hispânicos envolvidas em fazer os filmes de Harry Potter.

Como acabou trabalhando em Harry Potter e a Ordem da Fênix?
Depois de terminar “A Era do Gelo 2”, eu comecei a trabalhar no curta-metragem “No Time for Nuts”, que foi incluído no DVD do filme. Uma vez que o projeto estava feito, eu comecei a trabalhar em “Horton Hears a Who” por seis meses, e então fui convidado pela The Moving Picture Company para trabalhar em Londres no próximo filme Harry Potter.
Eles haviam visitado meu website e estavam muito interessados no meu trabalho de partículas infra-vermelho, então eu aceitei o convite e moro em Londres há um ano e meio.

O que você fez em Harry Potter e a Ordem da Fênix?
Eu estive envolvido na criação do dragão de fogos de artifício no escritório da Umbridge, o tornado de areia no qual Voldemort desaparece e outros efeitos pequenos no decorrer do filme.

Você é um fã de Harry Potter? Leu todos os livros?
Eu sempre fui um grande fã da história e, como tal, eu vi todos os filmes anteriores. Mas, para ser honesto, eu não gosto muito de ler.

Alguém da sua família enlouqueceu quando eles descobriram que você iria trabalhar nos filmes de Harry Potter?
Claro! Harry Potter é tão grande ao redor do mundo que não houve um membro da minha família e amigos de trabalho que não pulou de empolgação ao ficar sabendo que eu iria trabalhar no próximo filme.

Para todos os fãs que não tem a mínima idéia, você poderia nos explicar um pouco sobre o processo de produção de efeitos visuais para um filme? O que você faz e quanto tempo leva para completar uma cena?
O processo é bem longo e tedioso na maioria dos casos. Dependendo da cena, começamos com ilustrações que vem do departamento de arte ou com vídeos filmados nos sets com os atores.

No caso do dragão, comecei trabalhando com alguns desenhos e comentários do diretor. Com toda essa informação, começamos a experimentar diferentes técnicas para obter em 3D tudo que começamos com um rascunho.

Em outros casos, como o tornado de areia, iniciei com um vídeo vindo do set com os atores. Nesse vídeo, inserimos nossos efeitos e os apresentamos ao diretor, que fez uma tonelada de comentários, revisões e trocas. Após várias tentativas e milhões de partículas, nós conseguimos finalizar a cena.

Meus efeitos para a cena do dragão apareceram na tela por menos que um minuto e tiraram de mim quase cinco meses para serem feitos. Assim como a cena do tornado de areia.

Qual a cena mais difícil desenvolvida?
Eu não estou certo sobre a situação dos outros estúdios que fizeram os outros efeitos para esse filme, mas posso dizer que as extensões nos sets para o Ministério da Magia e as escadarias da escola foram as mais complicadas para terminar. Elas passaram por um grande número de revisões e ajustes para se administrar à luz correta.

Você se consultou com JK Rowling para a criação de certas criaturas e lugares? (como o patrono, o véu, Monstro)
Certamente. O fase de projeção é algo que envolve não apenas a autora, mas os diretores também, e dezenas de outros artitas e produtores. É uma enorme colaboração, as opiniões de pessoas e da autora são muito importantes.

Você teve que ler algumas partes do livro para se inspirar e conferir as descrições de certas coisas, ou você baseou tudo no roteiro e/ou na sua própria imaginação?
Nós lemos o livro, e graças à popularidade dele não houve nenhum problema para os artistas no estúdio. Ou ao menos foi a desculpa deles para ter uma cópia do livro por perto.

Qual é a diferença desse filme e os outros filmes de Harry Potter no que diz respeito aos efeitos visuais? Quais novos métodos e programas foram usados?
Para esse filme houve muitas novas técnicas e programas. Por exemplo, foi a primeira vez que não houve um modelo das escadarias de Hogwarts. Nesse caso, elas foram 100% digitais. Nós usamos pela primeiríssima vez um software chamado Flowline para a criação da prisão de água que envolve Voldemort. Nós também o usamos para a cobra em chamas no Ministério. Várias mudanças foram feitas pelo programa Realflow para montar os efeitos no duelo entre Voldemort e Dumbledore. Também houve um novo sistema desenvolvido pela The Moving Picture Company para calcular grandes quantidades de “corpos rígidos” para a seqüência onde todas as profecias de cristal são quebradas no Ministério.

No geral, é uma indústria que muda muito rapidamente e todo estúdio investe grande quantidade de dinheiro e tempo para aperfeiçoar suas ferramentas e técnicas e garantir que os resultados continuem melhores com cada produção.

Essa é a primeira vez nos filmes de Harry Potter que um set foi criado inteiramente por computador. Esse set foi o Departamento de Mistérios. Nessa cena há muita ação e destruição de bolas de cristais, que provavelmente seria uma coisa complicada e cara de se fazer na realidade. O que você pode nos dizer dessa cena?
Essa cena foi desenvolvida pelo Double Negative, em Londres. Ela é, definitivamente, uma das minhas partes favoritas do filme.

O personagem de Grope foi criado com um novo tipo de animação que permite um computador copiar a performance de um ator real para um personagem no computador. O que você pode nos contar sobre isso? É como os efeitos usados em “Senhor dos Anéis” para animar Gollum ou como o rosto de Marlon Brando foi animado de sua atual seqüência para o filme Super-Homem, estreado em 2006?
Para filmes como Harry Potter, vários estúdios ao redor do mundo são usados. É isso, então nós podemos completar o maior quantia de efeitos num pequeno espaço de tempo. Grope foi desenvolvido pela Double Negative, em Londres. A técnica que foi utilizada é muito parecida àquela que a ILM incorporou ao personagem de Davy Jones em Piratas do Caribe.

Essa foi a mesma técnica usada para o personagem de Monstro.

Houve um coreógrafo especial no set para ensinar os atores a se movimentarem de uma maneira especial de acordo com a personalidade de seus personagens, quando lançam um feitiço (por exemplo, Lúcio Malfoy é muito rígido e Sirius tem um estilo mais urbano para duelar), você seguiu esse conceito para criar a maneira que os feitiços iriam ficar e sair da varinha dependendo de cada personagem?
Sim, para esse filme houve muitas variações dos feitiços, que foram então salvadas em bibliotecas e utilizadas nas cenas dependendo do contexto da cena, do personagem, tipo de feitiço, etc.

Qual foi sua cena favorita para trabalhar? Qual foi o seu produto final favorito? (cena, efeito, etc.)
Falando de forma generalizada, a experiência de trabalhar nesse filme foi muito interessante e se eu tivesse que escolher entre meus efeitos eu teria de falar que é o tornado de areia no qual Voldemort desaparece. Esse foi o resultado que eu mais gostei. Houve três tomadas que me tomaram alguns meses para completar, e algumas delas passaram por mais de 30 mudanças. Eu terminei com mais de 40 milhões de partículas em uma cena. Até hoje é um efeito que eu continuo assistindo por causa de como é interessante as partículas se movimentando.

Quais histórias ou piadas você pode nos contar sobre trabalhar nesse filme? Algum detalhe que foi perdido?
Não muito, apesar do fato de nosso supervisor de efeitos quase morrer em um incêndio no set, ou que a cena onde Harry vê Voldemort em King’s Cross o corpo de Voldemort foi filmado em Londres e o rosto foi filmado em outro país e então foram postas juntas (o ator teve conflitos de horários), ou o fato de que 100% dos fogos de artifício são digitais e em 3-D. Depois de 10 meses e quase 120 milhões de partículas, eu posso dizer que contrubuí com quase 2 minutos de cena no total para esse filme.

No final, você não sabe quem são os verdadeiros bruxos 😉

Dessa vez o efeito da cabeça de Sirius na lareira foi mudado. Agora o rosto pode ser visto refletido nas chamas, ao invés de seu rosto ser feito de pedaços de madeira na lareira como nós vimos no quarto filme. Os fãs não gostaram de como tinha ficado. Foi essa a razão de parecer diferente agora?
Exatamente, para “A Ordem da Fênix” o diretor decidiu mudar a aparência do efeito devido ao comentário feito depois do filme anterior. Desenvolver a nova aparência foi muito difícil e eu me lembro ser o único efeito que demorou do começo do filme até o fim para ser completado. Isso porque não há uma idéia clara de como deveria parecer, então nós tentamos várias idéias que tomaram forma pouco a pouco até você ver o que você vê no produto final para a cena.

O nariz do ator Ralph Fiennes foi removido digitalmente de seu rosto para dar a ele a aparência de cobra sem precisar de maquiagem. O que você pode nos contar sobre esse efeito?
Essa parte do projeto foi uma das mais difíceis que nós fizemos. Isso envolvia uma enorme equipe do estúdio graças ao número de tomadas que eram necessárias, quão mais perto a câmera estava do ator e, em alguns casos, o nível de realismo que era necessário para obter uma aparência verdadeira. Essa foi uma colaboração entre as equipes em rotoscoping, animação, modelagem, sombreamento, iluminação e composição. Eu acho que o resultado é maravilhoso.

Falando em efeitos especiais faciais, nós descobrimos que no quarto filme havia uma grande necessidade de tirar digitalmente marcas de espinhas e manchas dos atores adolescentes. Isso foi feito novamente no quinto filme? E você acha que isso é realmente necessário pra esse filme?
Eu não estou completamente ciente do “airbushing”, mas aproximadamente 100% precisa passar por um processo de limpeza, cor, correção, etc. Em alguns casos, é impressionante a diferença entre o que foi filmado no set e o produto final após o tratamento digital. Isto é realmente necessário e hoje alguns diretores contam com esse tipo de ferramenta com mais freqüência. Isto dá a eles mais flexibilidade em seu trabalho e os custos da produção são muito reduzidos.

Como você se sente sendo um dos poucos espanhóis trabalhando em Harry Potter? Até agora sabemos apenas sobre Alfonso Cuarón e você. Há alguém mais sobre quem não sabemos?
Eu estou muito orgulhoso. Eu fico muito feliz em ser um dos representantes da América Latina nesta indústria. Infelizmente, eu não tive chance de conhecer outros latino-americanos em Harry Potter, mas eu sei que existem muitos outros. Espero que com o tempo nós sejamos mais e mais. Esta é uma indústria muito competitiva, mas com grandes esforços isso é possível.

O que você recomenda às crianças estudarem na escola se elas estiverem interessadas em trabalhar com efeitos especiais cinematográficos como você?
Isso é relativo. Como eu disse antes, comecei a aprender a trabalhar no 3D por conta própria. Acho que mais importante do que onde você estuda é o desejo de querer ir muito longe e a perseverança; traçar um objetivo e não descansar até você alcançá-lo. Esta indústria requer muita dedicação e, como tudo relacionado à tecnologia, muda constantemente. Eu não acho que haverá um dia em que nós pararemos de aprender.

Falando em termos gerais, para ser um bom FX TD, você precisa ter um extenso conhecimento de programas 3D, como Maya, Houdini, Max, Realflow, etc. Algum conhecimento também sobre MEL, C++, Python, UNIX ajuda muito. A chave é ter um equilíbrio entre aspectos técnicos e criativos. Tirar vantagem de cada recurso disponível, prestar atenção ao comportamento de coisas simples ao seu redor, como uma gota de água escorrendo num copo, etc.

Você precisa de conhecimento em diferentes áreas do 3D antes de fazer uma decisão. Isto te permitirá não apenas escolher qual área em que você deseja se especializar, como também é essencial numa comunicação bem sucedida entre artistas, não importa em qual departamento você trabalhe. Não tenha medo de fazer perguntas, especialmente em fóruns como CGTalk, highend3d, etc. Lá tem gente de sobra que deseja ajudar.

Há ainda 2 filmes de Harry Potter a serem feitos. Você estará de volta para algum deles? Se sim, pode contar a nós algo sobre eles?
Eu sei que os efeitos especiais para o próximo filme já começaram. Pessoalmente eu não farei parte desse filme porque decidi dar um tempo em Londres e explorar outras possibilidades. Ainda não decidi nada sobre o último filme, então veremos o que acontece no próximo ano.

Quais são seus próximos planos? Em que você está trabalhando agora, quais seus outros projetos?
Nos próximos dias vou me mudar para Wellington, Nova Zelândia, onde vou trabalhar em um filme chamado “The Day the Earth Stood Still”, que será lançado em dezembro deste ano, e em outro chamado “Avatar”, que estará nos cinemas em dezembro de 2009. Isto é o que eu planejei para o próximo ano e meio.