A Ordem da Fênix ︎◆ Filmes e peças

Resenha da trilha sonora da OdF

Resenhas de filmes a parte, agora chegou a vez de sabermos a opinião do Filmtracks sobre a trilha sonora da Ordem da Fênix. O texto completo comenta quase todas as músicas, então os interessados podem ler clicando aqui. A opinião geral, você confere abaixo.

Para algumas cenas individuais, a música de Hooper é suficiente. Às vezes, é ótima. Mas falha ao promover continuidade com seus próprios limites ou com as outras músicas da franquia como um todo. O fato do álbum estar fora de sequência e longo demais, às vezes (comparado com os álbuns de Harry Potter anteriores) só contribui para o desânimo.

Thanks, Filmtracks.

Ordem da Fênix
~ Filmetrack ~
Tradução: Adriana

Harry Potter e a Ordem da Fênix: (Nicholas Hooper) Franquias oferecem um enlouquecedor conjunto de circunstânicas para tanto fãs dos filmes quanto colecionadores, sem mencionar os grupos que se esforçam para alcançar suas expectativas. Especialmente para fãs de trilhas sonoras, os filmes de Harry Potter pegaram a amada série de livros e estabeleceram seus sons com ninguém mais que John Williams, o maior compositor dos últimos trinta anos de cinema. Para qualquer compositor depois dele, a tarefa de suprir as expectativas em uma situação como essa seria algo assustador. Excitante, mas ainda assim assustador. Após a nominação de John Williams para o Oscar pelo primeiro e pelo terceiro filmes, notou-se um esforço de adaptação ainda maior por William Ross para a Câmara Secreta, o compositor escocês Patrick Doyle fez um esforço memorável com o Cálice de Fogo em 2005. Como fora predito pela maioria, Doyle foi criticado por tirar a trilha sonora dos tons familiares de Williams (e da maioria dos seus temas) e infundir o filme com uma variante mais sombria de seu próprio estilo composicional. Fãs da enormidade de temas de Williams, assim como de seu estilo mais rebuscado para a franquia, freqüentemente refreavam seu entusiasmo pela marca de Doyle, a despeito de suas características próprias admiráveis. Os mesmos problemas enfrenta Nicholas Hooper, cujo nome suscitou ainda mais controvéria quando foi apontado pela Warner Brothers para escrever a trilha de Harry Potter e a Ordem da Fênix em 2007. A franquia tem sido uma porta giratória para diretores, e desde que Willians anunciou que abandonaria a série em 2004, o diretor de cada filme em particular ficou inclinado, naturalmente, a escalar seus colaboradores pessoais de sempre para escrever a música para os filmes. Em relação ao diretor David Yates, sua parceria com Hooper pode render para a Warner; a carreira de Hooper (embora ganhador do BAFTA) nunca incluiu a trilha de um blockbuster hollywoodiano. Hooper e Yates juntaram pedaços de seus trabalhos, conjuraram algumas idéias originais para a Ordem da Fênix, especificamente, e convenceram o estúdio que Hooper estava pronto para a tarefa. Alguma dessas idéias poderiam fazer a diferença na gravação final.

Hooper pode ter levado a Orquestra de Câmara de Londres, com seus 90 membros, para gravar nos Estúdios Abbey Road, com uma impressionante coleção de engenheiros, mixers, orquestradores e condutores para ajudá-lo. Os méritos técnicos dessa gravação podem ser louvados imediatamente; Hooper empregou uma enorme variedade de instrumentos suaves em seu conjunto, muitas vezes junto com alguns mais poderosos, e cada participante na contagem é claro como cristal a cada momento. Quanto à substância da música em si, Hooper fez uma pequena mudança para satisfazer todos os inevitáveis ouvintes com seu esforço. Como Doyle fez antes dele, A Ordem da Fênix incorpora o próprio estilo de escrita do compositor, oferecendo apenas algumas referências aos tons de Williams. Mas esse estilo tão diverso da composição de William está para a maioria das pessoas perdido no Ordem da Fênix, isso sem mencionar que Hooper não fez mais conexões discerníveis ajudar Doyle. Um lembrete deve ser feito de que o álbum comercial tem apenas 53 minutos de duração, e dadas as quase duas horas de músicas gravadas para A Ordem da Fênix, pode haver reverências a Williams e Doyle no material oculto em trechos não substanciais que não estão disponíveis no álbum. Para fãs muito preocupados com a incorporação dos temas anteriores no filme, o álbum pode desapontar, pois contém apenas traços do que foi feito anteriormente. Hooper e Yates mantiveram seus esforços centrados em adaptar o pivotante “Tema de Edwiges” de Williams em diversos momentos chaves do filme, mas nenhuma outra idéia foi diretamente reutilizada. A espetacular variante B de Williams sobre esse tema (para Hogwarts… a audaciosa fanfarra de metais) se baseia ligeiramente em fragmentos. Os demais temas de Williams para Quadribol e Voldemort se foram, e nem os memoráveis temas de Doyle para o Cálice de Fogo foram mantidos, incluindo seu maravilhoso tema familiar. Toda a variedade dos motivos curtos feitos por Williams, freqüentemente compilados de suas suítes para o álbum do primeiro filme, não foram utilizados. Talvez o mais frustrante para fãs dos três álbuns superiores de Williams e Ross seja o fato de que Hooper nunca oferece verdadeiras declarações sobre os temas de Edwiges A ou B. Embora plenos em referências, às vezes sutilmente adaptados em momentos tranqüilos ou tensos, esses temas foram consideravelmente mutilados por Hooper.

Três novos temas foram oferecidos por Hooper. O primeiro é para a Professora Umbridge. Sua intenção declarada com esse tema era se dirigir ao lado “insistente e irritante” da personagem, mascarado por sua aparência fofinha. Ele alcança seu intento, com o tema ascendendo com superioridade animada sobre um ritmo fresco e semelhante a valsa. As seções intermediárias de sua faixa lembram um pouco mais o estilo de Williams (e sua faixa para Hook, especificamente), mas sem o mesmo recheio. É um tema adaptado, e dá para ouvir, a despeito de sua capacidade proposital de ser levemente cansativo. Mas na faixa e em “Umbridge Spoils a Beautiful Morning” (Umbridge estraga uma bela manhã, em português), as duas aparições do tema no álbum, ele falha ao unir o ódio e o aborrecimento que a personagem exala. É tocado com xilofones, chimes, clarinetas e cordas agudas… sendo que as últimas em instrumentação leve, descuidada. Esses tons parecem convir desagradavelmente apenas para o aspecto miserável da mulher na história, e portanto são curiosamente falhos. O segundo tema escrito pro Hooper para a Ordem da Fênix é mais nebuloso. Ouvido completamente em “Possession” e apropriadamente na cena de “The Sirius Deception”, este tema para a lenta possessão de Voldemort sobre Potter é difícil de alcançar, em parte por causa de suas progressões inerentemente graduais, mas também por ser pontuado por uma grande quantidade de dissonância. Há poucos golpes neste tema, e enquanto suas qualidades de adágio garantem rápidos momentos atraentes (especialmente quando entra um refrão), sua confiança nas camadas de dissonâncias causadas pelas cordas fazem faltar a mesma impressão que existe no tema de Voldemort de Williams (que se anuncia melhor com a ajuda de Ross na segunda contagem). Um terceiro tema é desenvolvido para a Armada de Dumbledore, e partes desse tema podem carregar o contexto da Ordem da Fênix. Este tema, ouvido com mais freqüência que os outros em seus ritmos espirituosos e otimistas, representa o comportamento rebelde dos alunos. As nuances de sua influência vêm até o tema de Umbridge em “The Room of Requirements”, talvez a melhor faixa do álbum. A união de ritmos dessa faixa é completamente descuidada e, com a ajuda da gama de instrumentos, provoca a verdadeira sensação de magia que o filme exige.

Pondo de lado os três primeiros temas, a faixa de Hooper parece tocar como um estilo de “fluxo de consciência”. Há um número considerável de faixas atmosféricas, criadas para preencher harmonicamente um fundo silencioso. Muitas dessas faixas são quase indistinguìveis do silêncio. Em “The Kiss”, “The Sacking of Trelawnei” e “Love Ones & Leaving”, Hooper provoca uma música extremamente conservadora e minimalista. É encantador no último momento, com o xilofone e os chimes sempre presentes para o apelo trêmulo ao coração, mas a harmonia simplista e a falta de crescendos interessantes deixaram muitas dessas faixas virarem uma inclusão desnecessária no álbum. As faixas de ação são similarmente impossíveis de serem descritas fora de suas construções técnicas. O tambor japonês taiko para os baixos ribombares das faixas de suspense é recoberto como um instrumento solo, e em muitas das faixas mais sombrias, o ouvinte tem que confiar nas ocasionais oscilações da orquestra para conseguir manter seu interesse. Durante a sequência do ataque do Dementador, ele se manifesta em uma explosão de três notas de magnífica harmonia com o refrão. Ritmos selvagens alavancados pelas cordas baixas e paradas de timpani quebram o silêncio durante alguns minutos em “The Hall of Prophecies”, alardeando barulho significativo sem realmente declarar algum tema em particular. A técnica poderia ser repetida em “The Death of Sirius”, com os ritmos finalmente quebrando uma comprida seqüência de dissonâncias que mal podem ser registradas pelos ouvidos do público. Um pouco mais consistente é a urgência das ondulações de cordas e explosões dos rudes metais em “Darkness Takes Over”. Sem dúvida, as seqüências de ação e suspense na Ordem da Fênix carecem de continuidade e força genuínas, obrigando as contagens a confiar demais em sua maioridade fofinha. Essa maioridade tem alguns momentos singularmente expressivos, entretanto. Em “The Ministry of Magic”, os ritmos dançantes e a instrumentação leve de Hooper fazerm justiça à atmosfera impressionante da cena. Uma variante militar do tema rebelde para a Armada e a Ordem soa com imensa determinação em “Flight of the Order of the Phoenix”. A conclusão é bonita, especialmente com o contraponto da flauta com influências irlandesas.

A faixa mais estranha e memorável é “Fireworks”, um jig com influências irlandesas que acompanha o momento mais divertido da história. Enquanto os gêmeos Weasley esparramam destruição pelo castelo e voam em direção ao glorioso poente, o jig conduz a uma guitarra elétrica desenfreada, gemendo sem levar em conta as regras do castelo. Este talvez seja o melhor momento de Hooper em toda a obra, perfeitamente metendo o dedo no sistema com o tom correto da rebelião adolescente. Ele certamente não teve medo de temperar a faixa com uma instrumentação ímpar. Seu uso de sitetizadores prorroga as batidas sampleadas de fundo da orquestra, e a instrumentação do jig pode incluir um acorde com o fim de “A Journey to Hogwarts”. Sua confiança no incessante tilintar do xilofone e dos chimes para a maioria das faixas pode definitivamente irritar alguns ouvintes, especialmente dado que Williams cuidava de incorporar aqueles tons tremidos com grande balanço. Outros ouvintes ficarão aborrecidos pela natureza simplista de muitas das progressões com cordas de Hooper; Ordem da Fênix é um álbum mais à frente. Outros poderão até mesmo ficar aborrecidos com seus tons suaves em ocasiões talvez inapropriadas. Pondo de lado essas dúvidas sobre a fluidez do tema de Umbridge, uma faixa como “The Sirius Deception” apresenta Potter em modo de pânico, e enquanto a nobre e estritamente positiva harmonia do tema Armada/Ordem varia na última metade da faixa, pode parecer apropriado sua falta de qualquer dissonância sombria que poderia logicamente acompanhar tal situação terrível. Muitas vezes, o álbum de Hooper vira para a esquerda quando se espera que ele vá virar para a direita. De certa forma, essa abordagem é refrescante. Mas com a franquia já firmemente estabelecida musicalmente e as histórias sendo tão bem conhecidas, algumas de suas escolhas parecem desarios. Desmontar os dois temas de Edwiges de Williams pode parecer uma boa idéia para um mundo de magia que está com problemas, mas pode insatisfazer os ouvintes. O estilo complexo da obra de Williams é uma memória lânguida e a imprudente morbidez e direção pesada de Doyle foram completamente abandonadas. Para algumas cenas individuais, a música de Hooper é suficiente. Às vezes, é ótima. Mas falha ao promover continuidade com seus próprios limites ou com as outras músicas da franquia como um todo. O fato do álbum estar fora de sequência e longo demais, às vezes (comparado com os álbuns de Harry Potter anteriores) só contribui para o desânimo.