Artigos

Severo Snape

Em sua estréia como colunista do Potterish, Fernanda D’Elia começa escrevendo sobre um fascinante personagem: Snape. Odiado e amado por muitos, análises para o personagem é o que não falta.

Você pode conferir a coluna completa aqui.

Deixe seu comentário e feedback, é importante para nós e para o autor. Se quiser, sinta-se livre para comentar a mesma em nosso Fórum.

Severo Snape
Por Fernanda D’Elia

Severo Snape é, com certeza, um dos personagens mais interessantes do universo potteriano. Ame-o ou odeie-o, é impossível ficar indiferente ao ex-professor de Poções, (ou, também, de Defesa contra as Artes das Trevas) de Hogwarts. Num contexto onde sempre fica bem claro para o leitor quem é “do bem”, ou “do mal”, mesmo havendo nuances, ele é o único cujo verdadeiro caráter é um mistério. Sua personalidade é capaz de conter uma imensa gama de cinzas, meio-tons. Sua vida pregressa é cheia de mistérios, suas motivações não são fáceis de se deduzir. Ele tem o charme ambíguo de agente duplo, do anti-herói, do herói de caráter duvidoso. Impressão que é reforçada quando descobrimos que ele é, na verdade, um agente duplo,
servindo a Dumbledore e a Voldemort.

O que sabemos sobre ele depois de seis livros e quatro filmes?

Nascido em 9 de janeiro de 1959 (ou 1960), seu pai era um trouxa chamado Tobias Snape, e sua mãe era bruxa, Eileen Prince. Sobre sua infância, temos um breve relance de um garotinho feio, magro, assustado e desajeitado (OF cap.6), criado por um pai abusivo. Aos poucos, descobrimos que ele é um ex-aluno da escola, tendo sido colega dos pais de Harry. Pertencia, quando aluno, à Sonserina, tornando-se, anos mais tarde, o diretor da Casa. Temos uma imagem da sua adolescência, também: “Snape adolescente tinha um ar pálido e estiolado, como uma planta mantida no escuro. Seus cabelos eram moles e oleosos e pendiam sobre a mesa, seu nariz aquilino a menos de cinco centímetros do pergaminho enquanto ele escrevia.” (OF cap.28).

Não parece a descrição de um garoto popular, com certeza… Mais do que isso, podemos perceber pelas suas lembranças que ele era um garoto aparentando dificuldades financeiras, vítima da implicância dos colegas mais populares, que o chamam de “Ranhoso” e lhe lançavam azarações ao menor descuido. Era menosprezado, ridicularizado. Uma adolescência muito dura para alguém como ele, tão orgulhoso. Sua aparência não parece ter mudado muito com os anos. Severo Snape começa a nossa saga como o detestável e temido professor de Poções de Hogwarts. Logo no início, ele é descrito como “um professor de cabelos negros e oleosos, nariz de gancho e pele macilenta.” (PF cap.7) Seus olhos “eram negros como os de Hagrid, mas não tinham o calor dos de Hagrid. Eram frios e vazios e lembravam túneis escuros.” (PF cap.8).

Sempre vestido todo de preto, longos cabelos negros na altura dos ombros, sombrio e sarcástico, parece um vampiro. Parece tanto, que JKR foi obrigada a negar o boato (WBD). Desde o início, parece alguém digno de desconfiança e suspeita. Snape parece na verdade, o perfeito vilão: sinistro, frio.

E a convivência só confirma a impressão inicial. Severo Snape se comporta sempre como um professor terrível: exigente, rigoroso, sádico, injusto, irônico e sarcástico, sempre protegendo a sua Casa (Sonserina) em detrimento das outras, e quase sempre abusando do seu poder como professor. A maioria dos alunos da escola concordaria que ele é uma pessoa bem desagradável. Mesmo entre seus colegas professores ele não é exatamente uma figura popular. Solitário, sombrio, mau-humorado, vingativo.
Por outro lado, vamos ao mesmo tempo descobrindo que ele é um bruxo que possui um grande número de qualidades especiais. É um dos bruxos mais inteligentes e talentosos que existem. Excelente no preparo das Poções, que considera uma arte e uma ciência, sendo professor da matéria em Hogwarts por 15 anos.

Seu talento nessa matéria foi tão precoce, que, ainda aluno, conseguiu descobrir alternativas melhores para as instruções do livro-texto de Poções, tornando o seu preparo mais fácil e o resultado melhor. Talentoso também nos Feitiços, desde cedo já era também capaz de inventar seus próprios feitiços.

Mas sua maior ambição conhecida sempre foi ser professor de Defesa contra as Artes das Trevas. A matéria sempre o atraiu, desde os tempos de escola. Tornou-se, então, um dos maiores conhecedores das Artes das Trevas, não só sobre a Defesa contra elas. Era uma questão de tempo para que acabasse se tornando um Comensal da Morte, um seguidor do maior bruxo das Trevas de todos os tempos. Segundo Sirius, “Snape sempre foi fascinado pelas Artes das Trevas, ele era famoso por isso na escola… Snape sabia mais azarações quando entrou na escola do que metade dos garotos no Sétimo ano…” (CF cap. 25).

Mas o seu talento mais intrigante é ser o mais poderoso oclumente entre os bruxos, ou seja, o bruxo capaz de esconder mais habilmente os seus pensamentos, emoções, lembranças e intenções, bloqueando sua mente contra invasões. Uma característica importante, que faz dele o perfeito agente duplo, e extremamente útil para os dois lados. Os muitos lados de Severo Snape são difíceis de interpretar. Dumbledore confia nele acima de qualquer suspeita. Voldemort também confia nele, segundo Narcisa Malfoy ele é “o favorito do Lorde das Trevas, seu conselheiro da maior confiança”(EPM cap.2).

Mas, afinal, quem é realmente Severo Snape?
Traçar um perfil de Snape para responder essa pergunta inclui, inevitavelmente, tomar algum partido na história. Cada leitor, cada fã da saga de Harry Potter tem uma teoria diferente sobre as suas verdadeiras motivações, sua emoções e sentimentos, sua personalidade. Existem vários ensaios na internet, alguns brilhantes, tentando decifrar esse enigma. Por enquanto, a única pessoa que sabe a resposta é JK Rowling. Enquanto o sétimo livro não sai, podemos aproveitar tudo o que a autora já espalhou de informação ao longo dos outros seis`, e de entrevistas que deu, para arriscar um palpite.

Uma análise um pouco mais cuidadosa da infância e adolescência pode nos dar alguma dica. Snape, como Sirius, não parece vir de um ambiente familiar muito feliz. O pouco que vimos do seu pai mostra um homem dominador e possivelmente violento, e um pequeno Severo assistindo às brigas dos pais. Qualquer criança numa situação como essa cresce se sentindo insegura e triste. Poderia criar nele, também, uma grande aversão ao pai. Sendo ele um trouxa, podemos até extrapolar, e imaginar que venha daí um certo preconceito anti-trouxa. Mais tarde, nós o vemos como o garotinho que não consegue montar na vassoura e é ridicularizado por outras crianças. Provavelmente, aos onze anos, idade em que Severo foi para Hogwarts, ele já era um menino solitário, complexado, inadequado socialmente. Mas sabemos também de mais uma coisa, pelo que Sirius diz a Harry: ele entrou na escola já sabendo mais azarações do que muito aluno do último ano. Isso pode significar duas coisas: mesmo pequeno, magro e desengonçado, ele parece ser vingativo e genioso. E também pode sugerir que sua mãe tenha lhe ensinado essas coisas. Será que Eileen era uma bruxa talentosa? Será que foi ela quem despertou no filho o interesse pelas Artes das Trevas? Não temos como saber ainda, mas eu apostaria que sim.

De qualquer maneira, Snape parece ter chegado a Hogwarts como um garoto problemático, presa fácil de gangues como a da Sonserina de sua época. De fato, embora fosse um garoto inteligente, um jovem bruxo talentoso, o fato de ser feioso desengonçado, tímido, arredio, não ajudou em nada na escola. Assim, sua fuga de uma situação familiar infeliz para Hogwarts não parece ter trazido para Snape muito alívio: ele saiu de uma existência miserável para outra. Só restava para ele seguir as únicas pessoas que lhe davam um sentido de fazer parte do grupo: a sua gangue de Sonserinos obcecados com as Artes das Trevas. Só assim ele conseguiu provavelmente o tipo de respeito que ele buscava. Era o caminho natural que ele se tornasse um Comensal da Morte como os seus amigos. Mas, além disso, sendo Voldemort um homem inteligente e manipulador, deve ter percebido rapidamente como seria fácil mantê-lo sob seu controle, seu fascínio, e como o jovem Severo poderia ser útil. A sua inteligência, seu talento como bruxo e sua ambição devem tê-lo levado rapidamente para uma posição privilegiada entre os seguidores do Lorde das Trevas, logo depois de sua formatura em Hogwarts. E por isso era ele quem tinha sido destacado para espionar Dumbledore, estando no Cabeça de Javali naquela noite fatídica de 1980. Sobre essa noite, e todos os seus desdobramentos na vida de Snape, pretendo falar mais adiante.

Mas, mesmo com esse passado negro que aos poucos fomos descobrindo, não dá para afirmar, de maneira categórica, que ele seja uma pessoa “do Mal”, como Harry acredita. Ou pior, confirmar que ele ainda seja um seguidor leal de Lord Voldemort, um Comensal da Morte. Durante o período de escola até agora, apesar das pequenas maldades, implicâncias e injustiças… apesar do seu mal humor… sempre houve um tipo de padrão de comportamento que o redimia ao final de cada ano. Sempre suspeito, mas nunca o vilão. Por exemplo: apesar do seu comportamento ambíguo (reforçado pelos diálogos ouvidos por Harry), ele impediu Quirrell de roubar a Pedra Filosofal, e salvou a vida de Harry, pelo menos 2 vezes, no primeiro ano. No terceiro ano, apesar de não gostar de Lupin desde os tempos de escola, e de querer o cargo de Professor de Defesa contra as Artes das Trevas, ele passou o ano todo preparando a Poção do Acônito para que Lupin tivesse uma transformação segura a cada Lua Cheia (podia ter envenenado Remo tranquilamente…).

Tentou salvar todo mundo quando foi até a Casa dos Gritos no terceiro ano (tudo bem, meteu os pés pelas mãos, mas por não saber a verdade sobre Sirius, e pela animosidade histórica entre eles…). Perdeu o controle diante de todos por achar que Sirius era culpado dos crimes de que era acusado (como de resto todo mundo achava também…). No quarto ano, grande
mostra de lealdade a Dumbledore: tomou a iniciativa de mostrar a Fudge a Marca Negra bem pronunciada, para reforçar o que Harry e Dumbledore afirmavam: Voldemort estava de volta. Com isso, ele se expôs, correndo o risco de ser mal-visto, por relembrar a todos o seu passado de Comensal da Morte. E, logo depois, sai, a pedido de Dumbledore, quase certamente para se
encontrar com o Lorde das Trevas, reassumindo seu papel de agente duplo. Logo no início do quinto ano, ficamos sabendo que ele faz parte da Ordem da Fênix. Sabemos que ele está sempre “trabalhando muito por ela”, como dizem os adultos, sem entrar em detalhes, e que “tem feito relatórios importantes para a Ordem” (apesar de não perder nenhuma oportunidade de atazanar a vida
de Sirius no Largo Grimmauld). Na escola, forneceu Veritaserum adulterado para a Umbridge usar em Harry, alertou o resto dos membros da Ordem quando Harry deu o alarme (infelizmente falso…) de que Sirius era prisioneiro de Lord Voldemort… até tentou ensinar Oclumência a Harry!

OK, ele não é flor que se cheire. Mas em nenhum dos anos passados ele resultou no vilão esperado. E, como Sirius mesmo disse a Harry, “o mundo não se divide entre os bons e os Comensais da Morte”. Confuso, não é mesmo? Será que Snape era, o tempo todo, um vilão de verdade, um espião de Voldemort? Será que Dumbledore, uma pessoa de inteligência rara e excepcional, incrível Legilimente, de “palpites que nunca estão muito longe da verdade”, e que foi inúmeras vezes questionado, até mesmo alertado
contra Snape, se deixaria enganar assim?

Como descobrir o que se passa na cabeça (e no coração) de Snape? J. K. Rowling tem o costume de, muitas vezes, dar algumas pistas sobre o personagem, ao escolher o seu nome (como Sirius Black, que quando animago se transforma num cachorro preto, ou o lobisomem Remo Lupin). Vale uma olhada melhor no significado do nome dele, então… Severo, primeiro nome do professor de Poções de Hogwarts, tem uma conotação óbvia de severidade, sisudez. Mas também existe pelo menos um santo da Igreja Católica com esse nome, São Severo, nascido na Gália e missionário na Inglaterra. Santo, hein? Interessante… Quanto ao sobrenome, JKR declarou em uma entrevista que “Snape é uma vila na Inglaterra”. Mas “Snape” pode ser também um verbo em inglês, e encontramos a seguinte tradução (etymonline): ser duro com, repreender, desprezar, tratar friamente, receber mal. Uau!
Isso lembra alguma coisa? Na minha opinião, uma outra pista que a autora nos dá, às vezes, é a data de nascimento dos personagens. Ao nos deixar saber a data de nascimento do personagem ( 9 de janeiro), a autora nos dá a chance de descobrir o seu signo astrológico. Como eu considero que (quase) nada é casual nos livros de Harry Potter, a escolha do signo solar de cada personagem pode estar ligada a características importantes da personalidade dele que a autora queira ressaltar. Assim, nada melhor do que fazer do professor Snape um orgulhoso capricorniano, de Hermione a estudiosa e perfeccionista virginiana, de Remo Lupin um pisciano retraído, gentil, inseguro de si, ligado à influência
lunar.

Faz sentido, não é?
Então, vale a pena uma conferida na descrição mais detalahda das características dos capricornianos, para conhecer melhor Severo Snape (o grifo é meu):
“Capricórnio: Simboliza a retração, a dureza, o recolhimento, a frialdade. Trabalho e seriedade são os atributos básicos do capricorniano. Seus ganhos e sucessos são frutos de sua atitude, altamente direcionada e planejada. A ambição é a força motriz de seu comportamento. Eles almejam destacar-se, chegar ao cume; e dedicarão o máximo de si na busca deste ideal. Renunciarão a todo luxo e conforto, enquanto não atingirem sua meta. São bastante tradicionalistas e conservadores. Têm dentro de si um senso forte de hierarquia, o qual não quebrarão por nada no mundo. Irão assumir postos secundários sem reclamar, ainda que abaixo de sua capacitação, sabendo que lealdade e determinação são por fim reconhecidas. Gostam da solidão como poucos. Nela restabelecem-se e reordenam os pensamentos. Mas nela também se refugiam e se entregam à melancolia e ao pessimismo. Não conhecem muito da alegria. Parece-lhes que a alegria é um mito, com o qual gente séria não deve perder muito tempo.
O capricorniano tende a ser muito rígido com os outros e consigo mesmo. A disciplina é um elemento indispensável para indivíduos tão tenazes assim. O capricorniano se mantém forte e impassível, e não desiste, custe o que custar. Pode tornar-se um avarenta insuportável, ou uma pessoa viciada em trabalho, esquecendo por completo dos cuidados com a própria saúde, ou da atenção aos seus entes mais próximos.

Esta frieza certamente só lhes é possível sob uma repressão descomunal de suas emoções. Um capricorniano evita falar de seus sentimentos, mesmo perante seus (poucos) amigos mais próximos. Se possível, o capricorniano finge que o sentimento não existe, pois quando pensam neles ficam menos objetivos. Quando a emoção lhes aflora, eles assustam-se e encolhem-se como uma criança medrosa…” (fonte: Estrela Guia)

Que tal? Quero ver alguém duvidar da minha teoria sobre a correlação das características dos personagens com as dos seus signos solares depois de ler isso aí… É o próprio Snape, não é? É claro que a descrição deixa margem para dúvidas exatamente sobre os mistérios que envolvem o personagem:
1) Snape é um capricorniano ambicioso típico, não desiste e renunciará “a todo luxo e conforto, enquanto não atingir sua meta.” Fica a dúvida, é claro: qual será essa meta, a de Dumbledore e a Ordem da Fênix ou a de Voldemort e seus Comensais da Morte?

2)Snape, como todo típico capricorniano, ” tem dentro de si um senso forte de hierarquia, o qual não quebrará por nada no mundo. Irá assumir postos secundários sem reclamar, ainda que abaixo de sua capacitação, sabendo que lealdade e determinação são por fim reconhecidas.” Mas lealdade a quem? A Dumbledore? A Voldemort?

3)”Irão assumir postos secundários sem reclamar, ainda que abaixo de sua capacitação, sabendo que lealdade e determinação são por fim reconhecidas.” Essa parece ser a descrição perfeita da situação de Snape em Hogwarts, relegado a ensinar uma matéria que para ele parece ser muito menos importante e abaixo das suas qualificações como exímio conhecedor das Artes das Trevas esperando a sua chance chegar, assistindo, sem conseguir disfarçar muito bem a irritação e o desprezo, bruxos muito menos qualificados ocupando o cargo que almeja.

4)Enigma dos enigmas: será Snape tão capricorniano a ponto de demonstrar essa frieza e cinismo às custas de “uma repressão descomunal de suas emoções.” ? Que emoções serão essas afinal? O que significam, na verdade, aquelas lembranças todas que ele escondia de Harry na Penseira antes das aulas de Oclumência?

5)Sabemos, pelo sermão que ele dá em Harry nas aulas de Oclumência, que ele acha que a falta de controle sobre as emoções é um péssimo sinal de fraqueza, mas a explosão que ele teve quando Harry viu a sua lembrança na Penseira mostrou que “quando a emoção lhes aflora, eles assustam-se e encolhem-se como uma criança medrosa.” ? Mas que emoção foi essa, afinal? Bem, partindo dessas pistas, vamos agora buscar alguma pista nas coisas sobre ele ditas pela autora nas suas entrevistas. Depois de ler o que JKRowling já falou sobre Snape, a primeira conclusão que se chega é a de que ela não é nada lisonjeira com ele. Ela já afirmou que ele é uma pessoa profundamente horrível, e é por isso que ela acha divertido escrever sobre ele ( Family Education, 1999) Disse também em outra ocasião que o personagem foi baseado em parte em um professor muito sádico que ela teve aos 9 anos de idade, em Tutshill, sul do país de Gales.(WBUR interview, 1999). E ainda reforça: na sua opinião, a pior, a coisa mais vergonhosa e injusta que um professor pode fazer é usar a sua posição para intimidar as crianças.(Conversations with JK Rowling, p.21).

Mas se é assim, por que Dumbledore permite que o Professor Snape seja tão malvado, tão mesquinho com os alunos (especialmente com Harry, Hermione e Neville)? JKR responde: “Porque Dumbledore acredita que há todo o tipo de lições na vida… professores horríveis como Snape são uma delas!”. Hmmm…
Confuso. Será Dumbledore ou JKR que acredita nisso?
De todo modo, com certeza em todas as suas declarações a autora tem se esforçado por manter Severo Snape envolto em mistério, mas mais do que isso, numa aparente aura de maldade. Em uma entrevista ainda em 1999, ela disse: ” todo mundo deveria ficar de olho em Snape, eu só vou dizer isso, porque há muito mais nele do que parece à primeira vista.”(WBUR interview, 1999). E em 2003, volta a chamar a atenção, agora tentando reforçar a suspeita de vilão: “Vocês não deveriam pensar muito bem dele. Deixa só eu dizer isso. Vale a pena ficar de olho no velho Severo Snape, definitivamente.”(Royal Albert Hall, 2003) Desencorajadora, essa, não? Para aqueles que acreditam que ele é realmente um vilão, um Comensal da Morte traiçoeiro que conseguiu ludibriar o bom coração de Dumbledore, esse parece ser o argumento definitivo… Mas seria tudo tão óbvio assim, não é? Ele era um Comensal da Morte, sempre gostou das Artes das Trevas. Odiava Thiago Potter. Correu para Dumbledore
fingindo arrependimento, depois de ter contado a profecia a Voldemort e de saber como o Lorde das Trevas a interpretou. Dumbledore, ingenuamente acreditou nele e o protegeu durante todos esses anos. Um belo dia, muitos anos depois, o Lorde das Trevas reaparece e Snape retoma seu cargo de espião e Comensal, chegando ao ponto de assassinar seu protetor, Dumbledore.

Vocês não acham tudo isso meio…forçado? Forçado para parecer real à primeira vista? E JKR avisou: há mais nele do que à primeira vista… Alguns pequenos mistérios, apontados pela própria autora, sobre Snape falam a favor de alguma coisa além: saber qual é o Patrono e o seu bicho-papão seria uma dica muito grande sobre ele.( World Book Day, 2004) Mais, em 2004, ela dá uma dica preciosa, na minha opinião. Ao ser perguntada porque Dumbledore confia em Snape, ela responde: “Essa é uma excelente
questão, e outra que eu não posso responder. Eu posso dizer que Snape contou a Dumbledore sua história e acreditou nela.” Ela não disse apenas que Dumbledore acreditou que ele se arrependeu, eu vou ressaltar a sutileza, ela disse que não podia responder, mas que Dumbledore ouviu a história dele e acreditou nela. Quer dizer que tem mais coisa nessa história, com certeza! Alguma coisa capaz de fazer um bruxo inteligente como Dumbledore acreditar e confiar numa pessoa duvidosa como Severo Snape, sem titubear até o fim…

Outra informação muito interessante vinda das entrevistas da autora é a questão amorosa de Snape. Primeiro, ela disse em uma ocasião que ela achava que a idéia de que Snape estivesse apaixonado é “uma idéia muito horrível” e ficou surpresa que alguém ficasse imaginando se Snape iria se apaixonar em algum momento. E que nós ” vamos descobrir porque no livro 7″ (WBUR interview, 1999) Já em 2005, ela deixa escapar que Snape já foi amado por alguém (the Leaky Cauldron, 2005) Pelo que se sabe, ele não é nem nunca foi casado. Não tem filhos, ou pelo menos, segundo informação dada no site oficial de JKR , ele com certeza não tem nenhuma filha. Mas dá para imaginar que existe alguma coisa importante no passado amoroso de Snape, que
nos será revelada no livro 7. Isso dá um novo olhar para a figura soturna do Professor, cá entre nós…

Agora, uma interpretação muito boa sobre Snape foi dada por Alan Rickman, o ator que interpreta esse papel nos filmes da saga: ” Eu acho que no fundo Snape é basicamente uma pessoa insegura, ele está sempre ansiando por ser alguma coisa diferente que as pessoas realmente respeitem, como um mago negro e não apenas um professor de escola. É por isso que ele inveja os garotos mais populares e de sucesso, como Harry. Ele tem um lado positivo porém, mesmo Harry sendo uma fonte de aborrecimento para ele, ele não deixa que isso o preocupe demais. “Harry’s a thorn in his side he doesn’t let it worry him too much.” ( Unreel.com, not dated).

Preocupado, enfurecido, aborrecido, ou não, o fato é que o antagonismo entre Harry-Snape chega, depois do livro 6, a um limite máximo, tornando-se uma questão pessoal entre os dois, mais até do que com o próprio Voldemort. E, de propósito, JKR deixa várias questões sobre ele para serem respondidas no último livro, tais como: Onde estava Snape quando Voldemort atacou os Potters?

Quando Snape descobriu que Pedro Pettigrew era um Comensal também?

Qual o motivo da implicância tão grande, que faz com que ele agrida ainda mais do que os outros, contra Harry e Neville?

O que, afinal, fez Snape se decidir a ser um agente duplo para a Ordem da Fênix e Voldemort? E como ele conseguiu convencer um bruxo inteligente como Dumbledore a confiar nele, apesar dos avisos e recriminações de todos os outros membros da Ordem? Qual é a sua relação com a família Malfoy? E, a maior de todas as questões: de que lado ele está, afinal?

Por enquanto, só existem especulações a esse respeito, baseadas no que sabemos até agora sobre ele. JKR se recusa a dar uma pista maior a esse respeito, para não atrapalhar, mas garante que essas respostas vão ter um enorme impacto no que vai acontecer quando Harry e Snape se encontrarem de novo.

Eu tenho uma teoria… Na próxima, eu conto pra vocês. Quero analisar a questão da confiança inabalável que Dumbledore depositava em Snape, apesar de montes de evidências para fazer todo mundo duvidar dele. Quem quiser, mande sua teoria para mim, discutiremos isso na próxima coluna. Afinal, eu também, como JKR confessou, “adoro as teorias” (the Leaky Cauldron, 2005)

Fontes de algumas informações:
Citações de JKRowling: Madam Scoop’s Index to J.K.Rowling Interviews Detalhes sobre Snape (datas, linha do tempo, características, citações): HP-Lexicon